O Brasil, apesar dos entraves burocráticos e tributários, segue
com esmeros a nos mostrar novos rótulos, nos produtores e novos terroirs para
os enófilos. E, graças aos eventos de degustação, que deveriam ser mais
democráticos, sobretudo no que tange aos valores dos ingressos, que conheci uma
vinícola e alguns dos seus principais rótulos. Lembro-me de como cheguei a
rótulo que nesta resenha apresentarei. Estava conversando com um participante
do evento e revelei que gostaria de comprar alguns vinhos brancos para
abastecer a adega. Ele prontamente me indicou um stand de uma vinícola
brasileira dizendo que, além da diversidade das opções, os valores estavam
atrativos. Segui, com curiosidade, até o local e era a Casa Venturini e de
fato, as opções de brancos tranquilos e espumantes eram muito boas, de valores
a propostas de rótulos. Mas um me chamou a atenção: um da casta Sauvignon
Blanc, um Sauvignon Blanc brasileiro! Até o momento nunca havia degustado um
brasileiro desta casta. Portanto, na hesitei, comprei.
Aos que achavam, como eu, que só existem bons vinhos dessa
casta no Chile, França e África do Sul, sim, temos ótimos Sauvignon Blanc
nacionais e esse Casa Venturini, da região de Campos de cima da Serra, em
Flores da Cunha, no Rio Grande do Sul, da safra 2015. Um vinho que
verdadeiramente degustei e gostei. Antes de falar do vinho, um breve histórico
da Região gaúcha de Flores da Cunha.
Flores da Cunha
Desde o ano de 1876, o território que compõe o atual
município de Flores da Cunha, passou a ser colonizado por imigrantes italianos,
oriundos especialmente do Norte da Itália. A maior leva de colonizadores
estabeleceu-se entre os anos de 1878 e 1890, época em que foi fundado o
primitivo povoado de São Pedro e, posteriormente, o de São José, que reunidos,
nos idos de 1885, formaram a vila de Nova Trento. Em 1890, por ocasião da
elevação da antiga Colônia Caxias a condição de município, Nova Trento
tornou-se a sede do 2º Distrito. Todavia, documentos afirmam que desde os
primeiros anos do século XX, uma comissão formada por lideranças comunitárias
locais, descontentes com a pouca atenção dada pelo município mãe, lutava
insistentemente pela emancipação do distrito, o que só foi possível ver concretizado
em 17 de maio de 1924. Pouco mais de nove anos depois, em 21 de dezembro de
1935, através de um Decreto Municipal assinado pelo então Prefeito Heitor
Curra, com autorização do Conselho Municipal, alterou a denominação do município
de Nova Trento para o de Flores da Cunha. Foi uma homenagem ao então governador do estado General José
Antônio Flores da Cunha, que, entre outras iniciativas beneficiou o município
com a instalação do telégrafo, do Laboratório Bromatológico e com estudos para
a construção de um ramal férreo entre Caxias do Sul e Nova Trento. Flores da
Cunha é conhecida como a "Terra do Galo". Tal alcunha advém de um
episódio ocorrido por volta do ano de 1934, quando um mágico teria passado pela
cidade e prometido, durante o espetáculo, que cortaria a cabeça de um galo, e
que com uma mágica, o faria cantar novamente. Porém, na hora da apresentação, o
mágico, tendo entre os presentes algumas autoridades, viu-se aos apuros e fugiu
deixando os presentes por algum tempo a esperá-lo de volta ao palco. O mágico
nunca mais foi visto e o povo foi para casa sem compreender o que havia
acontecido. Isso foi motivo de muita vergonha e deboches, advindos muitas vezes
de moradores do município vizinho. Somente na década de 1960 foi possível revisitar
o passado e recontar a história da vergonha como uma história de graça e de
alegria.
Agora o vinho!
Na taça tem um amarelo palha, com aspecto límpido e muito
brilhante.
No nariz traz um ataque aromático de frutas cítricas e
brancas, notas florais e herbáceas, com muito frescor e jovialidade.
Na taça se reproduz as impressões olfativas, com corpo
equilibrado, com acidez proeminente, instigante que lhe confere muito
refrescância e um final frutado e de média persistência.
Definitivamente os brancos nacionais são destaques e não se
enganem que está restrito aos espumantes. Um Sauvignon Blanc tipicamente
brasileiro, com tipicidade, com o nosso DNA, um vinho com frescor, de estilo
descompromissado e fácil de degustar. Harmoniza perfeitamente com carnes
brancas, frituras, queijos leves e macarrão ao alho e óleo. Tem 12% de teor
alcoólico.
Sobre a Casa Venturini:
Fundada em 1989, a história da vinícola é cercada por
tradição e conquistas. A trajetória começou por uma estrutura familiar antiga,
surgida na região nos anos 1970. No final dos anos 1980, uma joint-venture de
São Paulo juntamente com um enólogo gaúcho assume a vinícola. Com o passar dos
anos e a tecnologia chegando a todos os setores, a vinícola passou por uma
cuidadosa reestruturação, porém mantendo suas características originais. Tudo
de olho na qualidade, mas sem perder a herança cultural, fundamental para a
elaboração de bons vinhos. Em 1997, com nova mudança societária, a empresa
passa a chamar-se Góes & Venturini. Em 2001, começa a produção da linha de
vinhos finos, colocando no mercado produtos que posteriormente passariam a ser
premiados em todo o mundo. Em 2009, ao completar 20 anos, o empreendimento
inicia uma nova etapa abrindo o parque vitivinícola para visitação turística,
entrando para o rol do enoturismo no Brasil. Em 2019, a Casa Venturini renova
seu varejo fortalecendo e qualificando ainda mais o atendimento ao turista que
visita a vinícola, em Flores da Cunha. A Casa Venturini elabora com esmero
vinhos e espumantes de alto padrão a partir de uvas de excepcional qualidade,
cultivadas na Serra Gaúcha, Campanha Gaúcha e Campos de Cima da Serra. São uvas
cultivadas em terroir específico, reunindo assim um conjunto de fatores
propício para a produção de vinhos finos. Esta busca constante por uma
elaboração cada vez mais requintada é traduzida em premiações nacionais e
internacionais.
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Degustado em: 2017