Com a chegada dos romanos, no século I d.C., a agricultura
intensificou-se, algo possibilitado pela rede de estradas e pelas numerosas
pontes que o Império construiu. A uva começou a adquirir maior importância,
existindo vilas agrárias dedicadas exclusivamente à produção de vinho, como foi
comprovado na estação arqueológica do Alto da Fonte do Milho, no Peso da Régua.
A região continuou sendo ocupada continuamente. A partir do
século V as terras do Douro foram os suevos e visigodos, que acabaram por se
unir e cristianizar. Seguiram-se então os muçulmanos, depois do século VIII.
Isso só deixou de acontecer após a implantação do reino português, a 5 de
outubro de 1143 pelo Tratado de Zamora, quando iniciou-se a construção da Sé de
Lamego, sob a proteção de D. Afonso Henriques (1109-1185), o primeiro rei
português, responsável pela independência deste país.
No século XIII, com a prosperidade comercial e econômica e ao
transporte para o Porto através do rio Douro, a produção destes néctares
continuou a se desenvolver. Em seguida veio o período das descobertas marítimas
(séculos XV e XVI) e houve um aumento da circulação no rio, uma vez que as
viagens requeriam grandes quantidades de vinhos fortes para saciar os
marinheiros.
Entre os séculos XVII e XIX, a Inglaterra passa a ser o
principal consumidor dos vinhos produzidos no Douro, o que resultou na
assinatura do Tratado de Methuen, em 1703. Nesse tratado, o Reino Unido
concedia direitos preferenciais aos vinhos portugueses, com a contrapartida de
Portugal permitir a entrada livre dos tecidos britânicos no mercado nacional.
Estimulada pela procura inglesa crescente e preços
altíssimos, a produção do Douro tenta se adaptar às novas exigências do
mercado. Mas, como acontece sempre que a demanda é muito grande, o negócio
rivaliza interesses, suscita fraudes e abusos. A qualidade dos vinhos cai por
conta de misturas inadequadas. Assim, a partir de meados do século XVIII as
exportações estagnam, enquanto a produção continua a crescer. Os preços caem e
os ingleses decidem não mais comprar vinhos, acusando os produtores de promover
adulterações.
Esta crise comercial conduzirá, por pressão dos interesses
dos grandes vinhateiros do Douro junto ao governo do futuro Marquês de Pombal,
à instituição da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, em 10
de Setembro de 1756. Com ela busca-se assegurar a qualidade do produto,
evitando adulterações, equilibrar a produção e o comércio e estabilizar os
preços. Também nesta época acontece a demarcação de terras, criando-se a
primeira região vinícola regulamentada do mundo. O Douro Vinhateiro é demarcado
por 335 marcos de granito com a designação de Feitoria, designação que
referendava o vinho da melhor qualidade, único que podia ser exportado para
Inglaterra.
O século XIX, no Douro, foi marcado pelas doenças que se
abateram sobre as vinhas, como o oídio e a filoxera, contribuindo para o
desenvolvimento da viticultura na região, devido a inovações biológicas e
químicas, como forma de evitar essas doenças. Ainda no mesmo século, iniciou-se
a construção das linhas ferroviárias, que facilitaram a ligação entre o Porto e
a fronteira da Espanha.
A paisagem atual da região do Douro, caracterizada pelos
socalcos (plataformas cortadas nos morros), foi construída durante a década de
70, com a aplicação de novas técnicas de plantio da vinha, em patamares, com
muros de xisto delimitando cada nível. Esta alteração da paisagem pela
atividade humana contribuiu para que o Alto Douro Vinhateiro fosse considerado
Patrimônio Mundial da Humanidade, pela UNESCO, em 2001.
A Região Demarcada do Douro situa-se no nordeste de Portugal,
na bacia hidrográfica do Douro e sua área é de 247.420 hectares, sendo que a
vinha ocupa 43.608 hectares, sendo que somente 26.000 hectares estão
autorizadas a produzir vinhos do Porto.
O rio que lhe deu o nome nasce no alto da Sierra de Urbion,
no interior da Espanha e se estende por 640 quilómetros até o seu encontro com
o oceano Atlântico, cruzando a Região do Douro de leste a oeste. As vinhas são
plantadas nas encostas em declive de 35° a 70° de inclinação, erguendo-se sobre
o rio Douro e seus afluentes Corgo,Tavora, Pinhão, Tua, Torto, Côa e Sabor.
Douro e seus afluentes
A serra do Marão, que se eleva a 1500 metros no extremo oeste
da região, assinala a mudança dos planaltos saturados pelo ar úmido e frio do
Atlântico para um clima mediterrâneo montanhoso, quente e seco.
Originando sempre produções muito pequenas, o solo também
permite uma maior longevidade da vinha e uma qualidade muito elevada dos mostos
devido à conservação de umidade, adquirindo as uvas um maior teor de açucares e
cor.
A imensidão do xisto duriense é completada na sub-região do
Douro Superior com aflorações graníticas e no Baixo Corgo, com alguns solos de
aluvião, mais produtivos nesta sub-região.
Cerca de 95% de todo o Vinho do Porto é cultivado neste
xisto. Como existe apenas uma camada muito fina de terra argilosa, as vinhas
são plantadas partindo a pedra até uma profundidade de um metro, onde as
fissuras no xisto permitem que as raízes cheguem até 21 metros em busca de
água. O solo é muito ácido, devido a um nível alto de potássio, tem baixo nível
de cálcio e magnésio, apresenta excesso de alumínio, o que é tóxico para as
raízes.
O Terreno irregular, com altitudes, junto ao rio Douro que
podem atingir entre os 60 e os 140 m, e noutras zonas atingindo mais de 1000 m
e inclinações com mais de 30%, só podem ser preparadas para plantação através
do nivelamento de socalcos ou terraços, com ferramentas de ferro pontiagudas ou
dinamite e, mais recentemente, bulldozers e tratores.
Essas excepcionais adversidades tornam a Região Demarcada do
Douro numa das regiões mais caras e difíceis de trabalhar do mundo, mas é nessa
mesma adversidade que nasce um grande vinho.
O papel desempenhado pelo Homem foi fundamental na criação
dos socalcos, que são uma característica de toda a região. Antes da crise
filoxérica, praga que surgiu na região pela primeira vez em 1862, as plantações
eram feitas em pequenos terraços irregulares (geios), com 1-2 filas de
videiras, suportados por paredes de pedra. Os socalcos eram ‘ rasgados ‘ nas
encostas, de baixo para cima, as paredes eram construídas com as pedras tiradas
do terreno, a sua altura dependia da inclinação da parcela e a movimentação da
terra para preparar o solo para a plantação era pequena. A densidade de
plantação rondava as 3 000 – 3 500 plantas/ha. Estes pequenos terraços foram
posteriormente abandonados e constituem hoje os designados ‘mortórios’.
Mortórios
Após a filoxera, foram feitos novos terraços, mais largos e
inclinados, com ou sem paredes de suporte, permitindo maiores densidades de
plantação (cerca de 6 000 plantas/ha). Surge também nesta altura a vinha
plantada em declives naturais, segundo a inclinação do terreno. Nestes sistemas
a mecanização é impossível pois não existem ou são escassas as estradas de
acesso às vinhas e a inclinação lateral está associada a uma forte densidade de
plantação. Este facto, traduzido pelos custos elevados que implica em termos de
mão-de-obra, tem conduzido ao abandono gradual deste tipo de vinhas.
Socalcos
No fim dos anos 60 e início dos anos 70, um novo sistema
surgiu na região. Trata-se dos patamares horizontais com taludes em terra, com
1-2 linhas de videiras e com densidades de plantação baixas, na ordem de 3 000
– 3 500 plantas/ha. Dado que necessita de parcelas de grande dimensão para a
sua instalação, é um sistema que não está adequado a zonas de minifúndio.
Patamares
Mais recentemente, e como alternativa aos patamares, aparecem
as vinhas plantadas segundo as linhas de maior declive do terreno (‘ Vinha ao
Alto ‘). Com uma densidade de plantação semelhante à das vinhas tradicionais,
na ordem das 4 500 – 5 000 plantas/ha, este sistema apresenta uma boa adaptação
para pequenas parcelas, podendo ser o trabalho mecanizado pela utilização de
guinchos ou, até declives na ordem dos 40%, por tracção direta, com tratores de
rastos.
O micro-clima da Região Demarcada do Douro deve-se ao seu
natural enquadramento, a norte com a serra do Alvão e a sul com a Serra de
Montemuro, formando-se um anel com uma altitude média de 1000 m, que protegem
os vinhedos dos ventos úmidos do Atlântico e frios do norte.
A alta qualidade dos vinhos da região está diretamente
relacionada com as elevadas temperaturas do ar, moderada precipitação e
substancial percentagem de insolação direta no solo, graças à exposição a sul
das encostas: as videiras criadas junto à encosta do rio e afluentes sofrem uma
incidência de raios solares propícia à boa maturação das uvas; os solos
conservam menor umidade que em terrenos planos, adquirindo as uvas uma maior
concentração de açucares e de cor.
A Região demarcada do Douro estende-se desde Barqueiros até
Barca D Alva, quase na fronteira com Espanha, estando dividida em três
sub-regiões naturalmente distintas, não só por fatores climáticos como também
sócio – econômicos: a oeste o Baixo Corgo, no centro o Cima Corgo, coração da
região demarcada do Douro, e a leste o Douro Superior.
O total das vinhas implantadas na Região demarcada do Douro é
de 43.608 hectares, com a produção anual de 1,69 milhões de hectolitros, que
corresponde a 26% da totalidade dos vinhos produzidos em Portugal.
Sub-regiões do Douro
A grande diversidade de castas existentes no Douro,
adaptáveis a diferentes situações de clima, demonstra as excelentes condições
para a cultura da vinha existentes na região. Portugal é um dos países do mundo
com maior quantidade de castas autóctones (nativas) e, dentro de Portugal, o
Douro é a região com maior diversidade.
São uvas que só se encontram em território português – pelo
menos com os nomes que ali recebem. Entre as tintas, destacam-se Tinta Amarela,
Tinta Barroca, Tinta Roriz, Touriga Francesa, Touriga Nacional (a uva
emblemática de Portugal) e Tinto Cão. As castas brancas predominantes são
Malvasia Fina, Viosinho, Donzelinho e Gouveio.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um vermelho rubi intenso, quase escuro,
brilhante, com entornos violáceos, com lágrimas finas e de média persistência.
No nariz logo se percebe as notas de frutas vermelhas maduras
como groselha e cereja, uma leve tosta, baunilha e um toque herbáceo, vegetal,
de especiarias, diria também um discreto floral trazido pela Touriga Nacional.
Na boca traz certo protagonismo das frutas vermelhas maduras,
como no aspecto olfativo, algo de adocicado, talvez especiarias doces, que faz
dele suculento e até saboroso. Notas amadeiradas bem integradas, torrefação,
café, graças aos 8 meses de passagem por barricas de carvalho, algo de pimenta,
talvez. Taninos aveludados pelo tempo e acidez correta que ainda entrega algum
frescor ao vinho. Final médio.
Um típico vinho do Douro, um reserva especial, um vinho que
traz a marcante personalidade aliada a elegância, o refinamento conquistado
devido aos seus seis anos de vida, bem como as suas mais fiéis características
regionais, sim, é um típico vinho do Douro graças, sobretudo as suas castas, ao
seu famoso blend, ao seu famoso corte com as “Tourigas” e a Tempranillo
portuguesa, a Tinta Roriz. Um vinho redondo, versátil, gastronômico, saboroso,
volumoso, mas equilibrado e intenso. A história escrita, assinada em seu rótulo
entrega a tipicidade e o terroir do velho e eterno Douro. Tem 13,5% de teor
alcoólico.
Sobre a Quinta do Gradil (Parras Wines):
A Parras Vinhos de Luís Vieira nasce no ano de 2010,
atualmente com sede em Alcobaça, onde também está instalada a unidade de
engarrafamento do grupo. Cinco anos depois, com a empresa consolidada e voltada
para o mercado internacional, surge a necessidade de se fazer um
reposicionamento de marca e “vesti-la” de outra forma, mais atual. É assim que
no início de 2016 aparece a Parras Wines, mais jovem, mais flexível, e numa
linguagem universal para que possa ser facilmente compreendida por todos, mesmo
os que estão além-fronteiras.
Descendente de um pai e de um avô que sempre trabalharam com
vinho, Luís Vieira é o único dono deste projeto. Aos cinco anos caiu num
depósito de vinho e quase morreu afogado, não fosse um colaborador do avô na
altura, que atualmente é seu, tê-lo salvo. Hoje, recorda com graça esse
episódio e diz mesmo que simboliza o seu “batismo nestas andanças do vinho”. A
empresa começa então a formar-se com terra própria na Região Vitivinícola de
Lisboa, mais exatamente na freguesia do Vilar, Cadaval, com duzentos hectares
de propriedade em extensão, sendo que 120 são hoje de vinha plantada.
Na mesma região do país, um bocadinho mais acima, na zona de
Óbidos, a Parras Wines é também responsável pela exploração de 20 hectares de
vinha que dão origem aos vinhos Casa das Gaeiras. Com sede em Alcobaça, nas
antigas instalações de uma fábrica de faianças, deu-se início a uma nova área
de negócio – uma Unidade de Engarrafamento de Bebidas, que hoje serve também de
sede à Parras Wines e que se chama Goanvi. Cinco anos mais tarde, em 2010,
constitui-se então a Parras Vinhos, hoje Parras Wines. Para além de terra na
Região de Lisboa, o grupo começou paralelamente a produzir vinhos de outras
regiões do país. Através de parcerias com produtores locais, a empresa consegue
assim dar resposta às necessidades globais que iam surgindo do mercado,
produzindo vinhos do Douro, Vinhos Verdes, Dão, Lisboa, Tejo, Península de
Setúbal e Alentejo.
Mais informações acesse:
https://www.parras.wine/pt/
Referências:
“Enopira”: https://enopira.com.br/douro-2/
“Viva o Vinho”: https://www.vivaovinho.com.br/mundo-do-vinho/regioes-vinicolas/douro-produzindo-vinhos-ha-mais-de-2-mil-anos/