Até o início dos anos 2000, a classificação dos vinhos na
Espanha era relativamente simples, pois focava apenas no tempo de
envelhecimento das bebidas. Nos rótulos eram estampados Vinho Crianza, Reserva
ou Gran Reserva. Seguindo as normativas da União Europeia e uma tendência
mundial, novas leis foram estabelecidas. Então, vamos conhecer melhor o que
compramos?
Regulamentação Europeia dos vinhos
A Espanha não é o maior produtor de vinhos, mas é o país com
maior área plantada de vinhas no mundo. Rioja é a região mais famosa e em 1933
foi a primeira a ter uma Denominação de Origem no país.
Ao lado de França e Itália, o país tem um protagonismo no
cenário da vitivinicultura tradicional. No entanto, mesmo sendo vizinhos, esses
países têm suas peculiaridades e, às vezes, visões diferentes sobre os vinhos.
Na França, por exemplo, o terroir é o elemento principal e a ligação com a
terra um pressuposto para os bons vinhos. Essa ótica tem influenciado países do
mundo todo desde o começo do século passado, mas na Espanha, além da
denominação de origem, o envelhecimento do vinho ganha destaque.
Não temos hoje – e talvez nunca teremos – regras mundiais de
classificação do vinho, porém, desde a criação da União Europeia, existe um
esforço para uma normatização que garanta as características de cada país.
Antes de 2011, os selos de classificação adotados pela UE
eram: VQPRD (Vinho de Qualidade Produzido em uma Região Específica) e Vinhos de
Mesa. Sob esse guarda-chuva abrigava as muitas denominações de cada país. As
regras mudaram e atualmente são: DOP (Denominação de Origem Protegida) e IGP
(Indicação Geográfica Protegida). Essa mudança ocorreu principalmente para que
o selo pudesse ser usado para outros produtos além do vinho e tirar a conotação
negativa das palavras “vinhos de mesa”.
A seguir os Selos da União Europeia para classificação dos vinhos.
Classificação do vinho espanhol
Até 2003 a Espanha classificava seus vinhos, principalmente,
pelo seu envelhecimento nas barricas e garrafas. A primeira é chamada de
maturação oxidativa (que permite uma micro-oxigenação pelas barricas de
carvalho) e depois de engarrafados, a redutiva (evolução de aromas dentro da
garrafa). As denominações de envelhecimento são:
Artigo 3. Indicações sobre as características dos vinhos.
Para fins de proteção, e sem prejuízo dos poderes que as
comunidades autônomas possam ter em termos de denominações de origem, são
estabelecidas as seguintes indicações sobre categorias de envelhecimento
(extraídas da Lei 24/2003, de 10 de julho, sobre Vinha e Vinho):
a) Indicações comuns para vinhos de mesa com direito à menção
tradicional "vinho local" e para vinhos de qualidade produzidos em
determinadas regiões (a seguir, vqprd):
1º "Noble", que pode utilizar vinhos sujeitos a um
período mínimo de envelhecimento de 18 meses no total, em recipiente de madeira
de carvalho com capacidade máxima de 600 litros ou em garrafa.
2º "Añejo", que pode utilizar vinhos sujeitos a um
período mínimo de envelhecimento de 24 meses no total, em recipiente de madeira
de carvalho com capacidade máxima de 600 litros ou em garrafa.
3º "Antigo", que pode utilizar vinhos sujeitos a um
período mínimo de 36 meses, quando este envelhecimento é marcadamente oxidativo
devido à ação da luz, oxigênio, calor ou todos esses fatores.
b) Indicações específicas para os vqprd Além das indicações
regulamentadas no parágrafo anterior, os vqprd podem utilizar o seguinte:
1º "Crianza", que pode utilizar vqprd com um
período mínimo de envelhecimento de 24 meses, dos quais pelo menos seis
permanecerão em barricas de carvalho com uma capacidade máxima de 330 litros; e
os vqprd com um período mínimo de 18 meses, dos quais pelo menos seis serão
conservados em barricas de carvalho com a mesma capacidade máxima.
2ª "Reserva", que pode utilizar os vqprd com um
período mínimo de 36 meses, dos quais pelo menos 12 estarão em barris de
madeira de carvalho com capacidade máxima de 330 litros e o restante referido
período; os vqprd com um período de envelhecimento mínimo de 24 meses, dos
quais pelo menos seis terão sido em barris de carvalho com a mesma capacidade
máxima e em garrafa o resto do referido período.
3ª "Gran reserva", que pode utilizar os vqprd com
um período mínimo de 60 meses, dos quais pelo menos 18 permanecerão em barris
de carvalho com capacidade máxima de 330 litros e o restante na garrafa do
referido período; os vqprd com um período de envelhecimento mínimo de 48 meses,
dos quais pelo menos seis estarão em barris de carvalho com a mesma capacidade
máxima e em garrafa durante o resto desse período.
c) Indicações específicas para vinhos espumantes de
qualidade. Os vinhos espumantes de qualidade podem utilizar as seguintes
indicações:
1º "Premium" e "reserva", que podem
utilizar vinhos espumantes de qualidade definidos na regulamentação comunitária
e vinhos espumantes de qualidade produzidos numa determinada região (vqprd).
2ª "Gran reserva", que pode ser utilizada pelos
vinhos espumantes de qualidade cobertos pela Denominação Cava, com um período
de envelhecimento mínimo de 30 meses, desde a corrida até a repugnância.
Com a reformulação da Lei da Vinha e do Vinho de 2003, a
classificação ficou mais complexa. Para entender os rótulos, além das
denominações de envelhecimento, temos outras que são divididas em:
DOCa (Denominación de Origen Calificada) – é o nível mais
alto da classificação junto com a VP (Vino de Pago). O termo Calificada
significa que os vinhos são de alta qualidade e garantidos. Têm este selo
apenas as regiões de Rioja e Priorat.
DO (Denominación de Origen) – além de sua origem geográfica,
essa denominação indica que o vinho possui um estilo que segue regras de
produção. Inclui uma gestão das vinhas (castas permitidas, rendimento por
planta, etc) e técnicas de vinificação.
VP (Vino de Pago) – São vinhos de alta qualidade, muitas
vezes de vanguarda, mas que não se enquadram na DO. Isso pode acontecer de duas
formas: se a vinícola estiver fora de uma indicação geográfica, a propriedade
ganhará o título de Vino de Pago; outro caso é quando o vinho é elaborado fora
das regras de produção, mas possui excelente qualidade, então será Vino de Pago
Calificado.
VC (Vino de Calidad con Indicación Geográfica) – essa pode
ser compreendida como uma categoria de transição. São vinícolas que estão em
ascensão para níveis mais altos de qualidade, mas que ainda não podem ser
considerados DO.
VT (Vino de la Tierra) – nessa denominação, o vinho é visto
apenas pela ótica da terra de origem, e não pela qualidade e processos
produtivos. É um termo mais genérico e flexível, que não restringe castas, mas
que determina limitações sobre o rendimento das vinhas.
Fontes: VinumDay, em: http://blog.vinumday.com.br/vinho-espanhol-crianza-reserva-gran-reserva-e-outras-classificacoes/
Lei 24/2003, de 10 de julho, sobre Vinha e Vinho, em: https://www.boe.es/buscar/doc.php?id=BOE-A-2003-13864&fbclid=IwAR1kajIcqg_WNV9XgLlshGenmguWo7a6gJRLqU1CAqsO9dy9i0w_To3yFTU