Muito se discute sobre os famosos “clubes de vinhos”, essas
assinaturas que aderimos para receber rótulos sem sair de casa, no conforto de
seu lar. A polêmica mora nas desvantagens e vantagens que se duelam de forma
intensa, sobretudo, é claro, na mente do simples e humilde enófilo de plantão e
também na diversidade, na percepção do que pode ser considerado ou não como
vantagem ou desvantagem, afinal, essas variantes mudam de acordo com cada
pessoa.
Para alguns é uma desvantagem quando alguém, por mais qualificado
e capaz que seja, escolhe o rótulo e você fica naquela expectativa para receber
a nova seleção do mês e quando os rótulos chegam: Não era que eu esperava! Ou
pior: quando fica apenas naquelas regiões e países de sempre ou ainda as castas
de sempre e você não consegue diversificar a sua adega, tornando-se padronizada
demasiadamente.
Para os iniciantes do universo do vinho pode ser uma grande
alternativa para conhecer novos rótulos, novas regiões, novas castas etc. Varia
muito do perfil do cliente, dos anseios e necessidades de cada enófilo e não
podemos pontuar os benefícios e malefícios desse “produto”, o mais importante,
porém, é ponderar o que é bom para você e também tendo como princípio o que você
espera do conteúdo da sua adega, que vai das propostas dos vinhos, até as
regiões e castas.
Confesso que aderi, um pouco tardiamente, aos “clubes de
vinhos”, talvez por questões financeiras e por falta de opções, não sei dizer
exatamente o motivo, mas o fato é que tive o contato com esses clubes
recentemente e depois de algum tempo no universo do vinho. Claro que por mais
que apreciemos a poesia líquida há algum tempo, temos muito a explorar, mas
quando aderi a esses grupos de vinhos, eu fiquei pouco tempo cancelando-os e, depois
desses “insucessos” decidi de forma taxativa: Não farei mais adesões a esses
clubes.
Até que um dia vi a oferta de um clube de vinho que admito
ter me chamado muita a atenção. Fiquei curioso em ter maiores informações sobre
os dois rótulos que estavam sendo ofertados. Um rótulo era um francês do Côte
de Rhone, emblemática na França que não degustava um rótulo há muito tempo e
outro um argentino de Mendoza (até aí, neste caso, normal), mas um corte, um
blend bem inusitado para mim e isso era uma novidade. Decidi retroceder da
minha decisão anterior de não aderir à esses clubes e os comprei. Quem sabe um
desses vinhos me surpreende afinal ser enófilo também é correr riscos.
A minha curiosidade suscitou, em tempo recorde, abrir um
desses rótulos e o argentino foi a bola da vez. E, mesmo com outros exemplares
de cortes dos Hermanos, esse, em especial, será a minha primeira experiência
com blends argentinos! Incrível! Outro detalhe importante que eu havia
percebido somente agora depois de algumas décadas degustando vinhos. Ah esse
fará história e espero que faça história no que ele entregará. Desarrolhado, o
vinho inundou a taça, as percepções iniciais foram as melhores possíveis e
quando o derradeiro momento da degustação aconteceu, eis que aquele famoso arrebatamento
me tomou de assalto quando vinho te surpreende e entregar muito além do que
você esperava. O vinho que degustei e gostei veio de Mendoza, Argentina, e se
chama Progreso Blend Selection, um corte das castas Malbec (60%) e Syrah (40%)
da safra 2018.
Outro detalhe bem interessante para mim foi o rótulo que,
para alguns pode parecer muito simples e até juvenil demais para os
conservadores aristocráticos do mundo do vinho. Explico! Há uma coruja com um
olhar intenso e enigmático que traz a impressão de algo relacionado a cartoons ou coisas do tipo e não a
austeridade que se espera. Mas eu gostei! Achei interessante a simplicidade e o
design e fui a busca da razão de ser da coruja e a história, curta, sim, porém
significativa para o vinho e o terroir da qual é concebido.
A palavra do produtor:
“A coruja esteve sempre
presente como guardiã dos vinhedos e é identificada como símbolo de sabedoria e
segurança. Progreso fala dessa mesma natureza, buscando expressar nosso
conhecimento, visão e os cuidados que tomamos para o desenvolvimento de nossos
vinhos”.
Ah esse vinho, produzido pela gigante Fecovita, uma
cooperativa que conta com 29 produtores na Argentina, foi concebido para ganhar
o mercado externo, sobretudo ao promissor, diria, estabelecido mercado chinês
que hoje é ávido por vinhos, mas que ainda não se estabeleceu como um
tradicional mercado.
E já que foi dada uma palhinha do vinho, falemos finalmente
do Progreso Blend Selection:
Na taça um lindo vermelho intenso, escuro, diria, com alguns
entornos violáceos e que traz um brilho ao vinho, com uma profusão de lágrimas
finas.
No nariz se faz a explosão aromática com o protagonismo das
frutas vermelhas e pretas, onde se destacam cereja, framboesa e ameixa, com
pitadas de especiarias, talvez pimenta, graças a Syrah, baunilha, couro, a
madeira discreta.
Na boca é macio e equilibrado, de corpo leve a médio, revela
um bom volume de boca, com a fruta dominando, mas sem soar enjoativo, com
taninos domados e acidez equilibrada que traz a agradável sensação de frescor e
jovialidade do vinho. O aporte da madeira, cerca de 30% do lote da Malbec
passou 12 meses por barricas, confere notas de pimenta e chocolate. Tem um
final frutado, com inusitado adocicado.
Um vinho oriundo de “clubes de vinhos” que, embora
desacreditado por mim, ou melhor, que já não atende aos meus anseios, me
surpreendeu. Um vinho que personifica o potencial, a expressão, a personalidade
de um vinho argentino: Um vinho marcante, mas saboroso, a expressão frutada
garantida pelas duas castas, porém com a estrutura e a versatilidade que elas
conferem também. Um vinho equilibrado, intenso, elegante, robusto e que
harmoniza com carnes gordas ou massas condimentas ou apenas degustando na
companhia de grandes amigos com uma agradável conversa. Um vinho que consegue,
com maestria, trafegar entre a complexidade e a simplicidade da degustação,
atingindo a vários paladares, dos iniciantes aos mais exigentes e apurados.
Grata surpresa! Ah e sobre o clube de vinhos, lamentavelmente não segui com a
assinatura, mas, pelo curto espaço de tempo, fui agraciado com esse belo e
especial rótulo. Tem 13% de teor alcoólico.
Sobre a Fecovita Cooperativa Ltda:
A Federação das Cooperativas Argentinas de Vinho (FeCoVitA
Coop Ltda.), fundada em 1980, é o segundo maior grupo de vinhos da Argentina,
composto por 5000 produtores de uvas e 29 cooperativas de vinificação e, como
resultado, é engarrafado mais de 20.000.000 litros por mês e estão localizadas
em Mendoza e San Juan (no norte de Mendoza).
Além disso, a Fecovita administra o mercado interno com 12
filiais localizadas em cidades estratégicas da Argentina, liderando esse
mercado há mais de 15 anos. Atualmente, a empresa exporta diferentes marcas de
vinhos para 30 países em todo o mundo, com excelente desempenho em todos os
mercados.
Nas vinícolas, são produzidos então vinhos das seguintes
variedades Malbec, Cabernet, Merlot, Syrah, Chardonnay, Sauvignon Blanc e
Torrontés, tendo como principais marcas: Bodega Estancia Mendoza, Buenos Aires
e Dilema.
Mais informações acesse:
http://www.fecovita.com/index.html