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sexta-feira, 28 de julho de 2023

Quinta de São João Reserva 2019

 

Nada melhor do que garimpar, buscar novas experiências sensoriais. Novas castas, novas regiões vitícolas. Tem sido maravilhoso viajar nessas novas percepções organolépticas e tenho feito de forma ávida, intensa, mas não podemos negligenciar os clássicos. Nunca!

Até porque os clássicos atingiram tal condição por serem exatamente especiais! A tradição e a credibilidade põem a mesa, na expressão literal da palavra. Os clássicos certamente construíram a minha predileção pela poesia líquida. 

Quem não começou a degustar um Merlot, Cabernet Sauvignon, Malbec e nunca se encantou? Quem não degustou um vinho de uma região emblemática e não gostou? Isso dada as devidas proporções, afinal nem tudo é sempre unânime.

E quando falamos de Portugal, não há como esquecer do quão tradicionais são as suas regiões! O que dizer de Alentejo, Porto, Madeira, Lisboa...? Não há como dissociar essas regiões de nosso imaginário e adega. E outra região lusitana, que eu não degustava um rótulo a exatamente um ano, volta a figurar em minha humilde taça: o Tejo.

Preciso degustar mais rótulos dessa clássica e importante região para a vitivinicultura portuguesa como o Tejo. Tenho a impressão de que a oferta de vinhos do Tejo não é tão grande, expansiva quanto regiões como Alentejo, Vinhos Verdes aqui em nossas terras, por exemplo. Mas há algumas boas dicas de rótulos e a preços competitivos, atraentes.

E esse produtor, a quem degustarei o primeiro vinho, tem um pouco do Brasil em sua história. Parte dos seus donos atuais são brasileiros e é gratificante ver apaixonados por vinhos investirem em terras lusitanas. Falo da Pinhal da Torre.

Todos os vinhos, de todas as propriedades do Pinhal da Torre são mantidos e trabalhados na Quinta de São João, uma adega histórica construída entre 1946 e 1947, sendo a única adega na região do Tejo pela sua construção moderna e estilo arquitetônico.

E o vinho que degustei e gostei carrega o nome da antiga e tradicional adega: Quinta de São João Reserva, em um blend com as castas Touriga Nacional (40%), Touriga Franca (30%), Tinta Roriz (20%) e Syrah (10%) da safra 2019. E para não perder o costume vamos de história, vamos de Tejo.

Tejo

Partilhada com vilas e olivais, a região do Tejo está localizada bem no coração de Portugal. Essencialmente ligada à produção de vinhos de elevada categoria, esta região é feita de apaixonados produtores, conhecidos por todos os cantos do país pela sua energia e determinação.

Homenageada pelo rio que marca a sua paisagem, a região foi, até 2009, conhecida como Ribatejo. Atualmente, a viticultura estabeleceu as suas raízes de vez e um conjunto de terroirs determinam a economia da região.

A história da Região do Tejo se confunde com a das suas Terras. Sob o comando do rio Tejo, influenciando economia, paisagem e clima, trata-se de uma das mais antigas regiões produtoras de vinhos de Portugal, cujo patrimônio remonta à presença Romana na antiga Lusitana.

A Região Vitivinícola do Tejo está localizada no centro de Portugal, a pouca distância de Lisboa. O rio não é o que separa, mas o que liga um território vitivinícola com 12.500 hectares de vinhas distribuídos por 21 municípios. Largo e imponente, o Tejo é o maior rio de Portugal. Como elemento primordial da paisagem, moldou a história dos que lá vivem, criam e trabalham, influenciando o clima e o terroir.

Tejo


História

A arte de produzir vinho, nesta região, remonta a 2000 a.C., quando os Tartessos iniciaram a plantação da vinha junto às margens do rio que lhe dá o nome. Reza a História que já Afonso Henriques fez referência aos vinhos da região no Foral de Santarém, datado de 1170, e que o Cartaxo teria exportado 500 navios com tonéis de vinho que, em apenas um ano, atingira o valor de 12.000 reis.

As histórias continuam pela cronologia fora, com o ano de 1765 a destacar-se pelo desaparecimento da vinha nos campos do Tejo, como consequência de uma ordem imposta por Marquês de Pombal.

O primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, tem uma ligação especial com os Vinhos do Tejo. Reza a história que o mesmo referiu estas produções na Foral de Santarém, que data de 1170. Mais tarde, no século XIII, dá-se o culminar do comércio das produções, com 30.000 pipas a serem enviadas apenas para a Inglaterra.

Muitos anos depois, em 1989, as produções passam a ser regulamentadas com as Indicações de Proveniência Regulamentada para vinhos da região e, em 1997, a Comissão Vitivinícola Regional do Ribatejo é fundada. Esta comissão é substituída, em 2008, pela Comissão Vitivinícola Regional do Tejo e seguiu-se da criação da Rota dos Vinhos do Tejo.

Muitas das quintas produtoras pertencem às famílias nobiliárquicas. Cada uma com a sua história, em comum têm o objetivo de produzir vinhos de qualidade, que expressem as caraterísticas da região. Como resultado, os vinhos incorporam tradições (o pisa pé, método de esmagar as uvas com os pés), o entusiasmo e empenho das suas gentes, a natureza que predomina nas terras ribatejanas e as mais modernas tecnologias.

A região do Tejo, nos dias de hoje, constitui cerca de 17 mil hectares de terreno, representando uma produção anual de 650 mil hectolitros, 10% da produção no país. Destes valores, 110 mil hectolitros são alvo de certificação, 90% dos mesmos estando distinguidos com a Indicação Geográfica Protegida (IGP), enquanto que 10% têm Denominação de Origem Controlada (DOC).

O Tejo tem alguns dos mais vibrantes e acessíveis vinhos de Portugal, oferecendo uma gama diversificada e diferenciada de estilos, para todos os gostos, orçamentos e ocasiões. A produção anual, que cresce safra após safra, atingiu, no último ano, 2021, cerca de 23,3 milhões de litros.

Características do terroir

Pelo clima moderado e a versatilidade dos solos, os terroirs do Tejo possuem um alto grau de adaptabilidade. Se por um lado os solos xistosos e as areias na margem esquerda do rio sofrem de fraca produtividade, os solos de aluvião e os argilo-calcários vieram salvar este panorama.

Devido às planícies que, periodicamente, são inundadas pelo rio, os solos de aluvião são extremamente férteis. Por outro lado, é nos solos argilo-calcários que se reúne a maior parte das vinhas e olivais da região devido à irregularidade dos campos, fruto da alternância entre montanhas e planícies.

Vamos tornar o assunto ainda mais interessante ao lhe confidenciar que a região se divide em três zonas dedicadas a diferentes tipos de produção: a Charneca, o Bairro e o Campo.

Charneca

Apesar desta zona não ser a mais produtiva, devido às características secas do seu solo e às temperaturas elevadas, estes terrenos ainda têm potencial na produção de vinhos brancos e tintos.

Localizados na margem esquerda do Tejo, com direção a sul estendendo-se até ao Alentejo, os solos são essencialmente arenosos, o que se reflete na complexidade das uvas e, consequentemente, dos vinhos.

Bairro

Este terroir distingue-se no cultivo de castas tintas e localiza-se a norte do rio Tejo. Pela sua divisão em solos argilo-calcários e xistosos, as videiras são capazes de estabelecer as suas raízes no terreno a um nível mais profundo.

Para além disso, as terras são consideradas altas, compostas tanto por colinas como por vastas planícies, o que confere uma riqueza inigualável aos solos que as constituem.

Campo

Exatamente nas margens do rio Tejo, estes terroirs são alvo de um clima mais marítimo que influencia na frescura e na acidez dos vinhos aqui produzidos. Porém, o que mais caracteriza estes solos são as inundações periódicas que lhes conferem um alto índice de fertilidade. Ideal para a produção de vinhos brancos, estes terrenos em planície exigem uma viticultura extremamente precisa.

As principais castas

Na Região do Tejo, a legislação permite a utilização de diversas castas, tanto nacionais como internacionais. As brancas mais comuns são Chardonnay e Sauvignon Blanc. Entre as tintas destacam-se as Cabernet Sauvignon e Merlot.

As castas tintas nativas do Tejo incluem a Touriga Nacional, a casta portuguesa por excelência, bem como a Trincadeira, Castelão e Aragonês. O aromático Fernão Pires e o Arinto produzem alguns dos vinhos brancos mais refrescantes da região.

Estas castas autóctones prosperaram em climas quentes e solos complexos da Região do Tejo, mantendo a elevada acidez natural, para produzir vinhos equilibrados com características de frutas ricas.

A Região dos Vinhos do Tejo é composta por um total de 17 mil hectares de terreno vinícola, que produzem anualmente cerca de 650 mil hectolitros, o que representa cerca de 10% do total de vinho produzido em Portugal. Destes cerca de 110 mil hectolitros são certificados, dos quais 90% são vinhos com Indicação Geográfica Protegida (IGP) e 10% são vinhos com Denominação de Origem Controlada (DOC).

E agora finalmente o vinho!

Na taça traz um rubi vivo, intenso, praticamente escuro, mas com um incomum brilho, além de uma viscosidade que mancha a taça, bem como lágrimas finas, lenta e em profusão, denotando personalidade e estrutura.

No nariz inicialmente se mostrou tímido, mas com o tempo foi evoluindo para frutas vermelhas e pretas maduras, com destaque para ameixas, amoras, framboesas, cerejas, com fortes notas de especiarias como noz-moscada, cravo, pimenta, além de um floral, cortesia da Touriga Nacional, bem como a madeira presente, mas bem integrada, graças a passagem de doze meses em barricas de carvalho.

Na boca se revelou complexo, como no olfato, entregando personalidade e alguma estrutura, bem como frutado, a fruta protagoniza também no paladar, fazendo do vinho saboroso e volumoso, cheio, com as notas amadeiradas mais presentes, trazendo algo de chocolate, caramelo, baunilha. As especiarias aparecem também e os taninos ainda presentes, vivos, consistentes, assim segue a acidez que goza de plenitude. Tem final persistente, longo.

Novidades, garimpos, propostas arrojadas, moderno e clássico. Todos os quesitos são consistentes quando falamos em vinho! Tudo é válido para quem ama a poesia líquida! Um vinho de traços modernos, mas que respeita o terroir do Tejo, trazendo o inquestionável quesito da tradição que construiu e ainda constrói a história dessa emblemática região. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Pinhal da Torre:

A exaltação da vinha e do vinho define as origens da Pinhal da Torre, uma empresa familiar detida pela família Saturnino Cunha, que há várias gerações se dedica exclusivamente à criação de vinhos exigentes e sofisticados.

A Pinhal da Torre é uma produtora de vinhos premium, de alta qualidade, caráter distintivo e artesanal. A paixão pelo vinho e a experiência adquirida ao longo de várias gerações, conduziu-nos à compreensão da singularidade de cada casta e do nosso terroir.

A Pinhal da Torre, tem, por isso, conquistado o reconhecimento internacional das suas marcas e alavancado a sua expansão global em cumprimento com os seus valores fundamentais:

1-      Compromisso da mais alta qualidade;

2-      Cumprimento de rigorosas práticas vitícolas e procedimentos de vinificação sustentáveis;

3-      Seleção exigente de fornecedores e distribuidores;

4-      Design e inovação no packaging, com utilização da linguagem Braille nos seus rótulos;

5-      Promoção de uma cultura de responsabilidade social corporativa.

Mais informações acesse:

https://pinhaldatorre.com/

Referências:

“Viva o Vinho”: https://www.vivaovinho.com.br/mundo-do-vinho/regioes-vinicolas/regiao-do-tejo-terra-de-vinhos-e-tradicao/

“Comissão Vitivinícola Regional do Tejo”: https://www.cvrtejo.pt/historia-do-vinho-e-da-regiao

“Conceito Português”: https://www.conceitoportugues.com.br/artigo/regiao-do-tejo

“Wines of Portugal”: https://winesofportugal.com/pt/descobrir/regioes-vitivinicolas/tejo/