Quem nunca degustou um chileno do Central Valley que atira a
primeira taça, ou melhor, a primeira pedra. Gosto dessa região pela sua
diversidade, de vinhos simples, de proposta simples, de vinhos frutados, jovens
a vinhos mais estruturados e complexos. Sinto um pouco de preconceito, de uma
intolerância com a região. Não nos esqueçamos de que temos, como distritos, ou
micro regiões, ou ainda sub-regiões do Vale Central os emblemáticos Vale do
Maipo e outra pequena região que muito aprecio, o Maule.
E o rótulo que escolhi para degustar traz uma novidade: é a
primeira vez que degusto um Cabernet Sauvignon de uma jovem safra, com apenas
um ano de vida. Bem isso pode parecer uma coisa banal, sem importância,
sobretudo se o vinho for de proposta mais simples, de vinhos de entrada. Porém
esse me parece um vinho que pode entregar alguma estrutura, um pouco mais de
personalidade, fazendo jus aos Cabernets produzidos nesse pequeno, mais
significativo país vitivinícola. Ah e já que falei do Maipo, a mesma é uma das
grandes produtoras de Cabernet Sauvignon de todo o Chile. Pois é, acho que já é
meio caminho andado.
Também terei algumas “estreias”, pois será minha primeira
degustação dos vinhos das Casas del Toqui e, convenhamos, é sempre excitante
degustar novos rótulos, de novos produtores e dos pequenos e “undergrounds”
vinícolas, fugindo um pouco do “mainstream”, da grife dos vinhos famosos de produtores
renomados.
Então sem mais delongas façamos as apresentações: o vinho que
degustei e gostei, como já havia dito, vem do Vale Central, no Chile, e se
chama El Toqui Reserva Especial, da casta Cabernet Sauvignon da safra 2020. E,
para não perder o costume, vamos às histórias que também alimenta e fomenta a
celebração às degustações: Um pouco de Central Valley.
Valle Central: o centro vitivinícola do Chile
Valle Central, ou Central Valley como é conhecida, é uma
região vinícola do Chile, estando entre uma das mais importantes áreas
produtoras de vinho de toda a América do Sul, em termos de volume.
Além disso, o Central Valley é uma das regiões que mais se
destaca com relação a extensão, indo desde o Vale do Maipo até o final do Vale
do Maule. Uma ampla variedade de vinhos é produzida na região, elaborados a
partir de uvas cultivadas em diferentes terrenos. Tal exemplar vão desde vinhos
finos e elegantes, como os produzidos em Bordeaux, até os vinhedos mais velhos
e estabelecidos em Maule. A região do Valle Central é também lar de diversas
variedades de uvas, porém, as plantações são ocupadas pelas castas Cabernet
Sauvignon, Sauvignon Blanc, Merlot, Chardonnay e Syrah.
A uva ícone do Chile, a Carmenère, também é importante na
região, assim como a Malbec é referência em Mendoza, do outro lado dos Andes.
As áreas mais frias do Central Valley estão ganhando cada vez mais destaque
perante o mundo dos vinhos, onde são cultivadas as uvas Riesling, Viognier e
até mesmo a casta Gewürztraminer. O Central Valley é dividido em quatro
sub-regiões vinícolas, de norte a sul, cada qual com características e
diferenças marcantes.
O Maipo é a sub-região mais histórica do país, onde as vinhas
são cultivadas desde o século XVI, abrigando as videiras mais antigas
existentes na região. O Rapel Valley é lar das tradicionais sub-regiões
Cachapoal e Colchagua, enquanto Maule Valley é uma das sub-regiões vinícolas
mais prolíferas de toda a América do Sul. Por fim, a última sub-região Curico
Valley foi a pioneira no cultivo vinícola na década de 1970, onde Miguel Torres
deu início a vinicultura moderna.
Vale Central
A Cabernet Sauvignon pode ser cultivada com sucesso tanto no
Vale do Maipo quanto no Vale de Rapel, cada um por um motivo diferente. No Vale
de Rapel, a presença de um solo rochoso e com baixa atividade freática (pouca
disponibilidade hídrica) aliado à alta taxa de amplitude térmica (diferença
entre a maior e a menor temperatura nessa área em um dia) vai favorecer o grau
de maturação da Cabernet Sauvignon, aprofundando seu sabor.
Essa parte do vale, portanto, produz uvas com um sabor mais
profundo e maduro. Já a Cabernet Sauvignon que é cultivada no vale do Maipo (de
onde provém mais da metade da produção dessa cepa) conta com a influência
direta do Rio Maipo. Onde as águas do rio servem para regular a temperatura e
fornecer a irrigação dos vinhedos. E para não deixar de destacar a área a
sotavento da Cordilheira da Costa, o Vale do Curicó possui um clima quente e
úmido, já que todo o ar frio é impedido de passar pela barreira natural da
montanha.
Quem se beneficia com isso é a produção de Carménère, que por
tamanha perfeição em seu desabrochamento são conhecidos por todo o mundo, não
sendo surpresa o fato de que somente desse Vale derivem vinhos para mais de 70
países ao redor do mundo. Em outras palavras, o Vale Central se constitui como
uma mina de ouro de cepas premiadas e irrigadas com tradição centenária.
O Vale Central é uma área plana, localizada na Cordilheira
Litoral e Los Andes, caracterizada por seus interessantes solos de argila,
marga, silte e areia, que oferece ao produtor uma extraordinária variedade de
terroirs. Excepcionalmente adequada para a viticultura, o clima da região é
mediterrâneo e se traduz em dias de sol, sem nuvens, em um ambiente seco.
A coluna de 1400 km de vinhas é resfriada devido à influência
gelada da corrente de Humboldt, que se origina na Antártida e penetra no
interior de muito mais frio do que em águas da Califórnia. Outra importante
influência refrescante é a descida noturna do ar frio dos Andes.
E agora o vinho!
Na taça apresenta um vermelho rubi intenso e brilhante com
reflexos arroxeados, com lágrimas finas e abundantes.
No nariz é pouco aromático, mas percebem-se as notas de
frutas vermelhas e negras, como amora, ameixa e cereja, com toques de baunilha,
especiarias, como um discreto pimentão.
Na boca estrutura leve para média, com a fruta em evidência,
as notas amadeiradas, graças aos 8 meses em barricas de carvalho, são sentidas e em equilíbrio com a acidez, bem elevada,
talvez pelo curto tempo de vida do vinho e os taninos firmes, presentes, porém
sedosos. Um final de média persistência.
Independente de sua safra, do tempo de vida do vinho, ele
entregou o que eu verdadeiramente esperava de um Cabernet Sauvignon chileno,
aquele Cabernet Sauvignon que aprendi a gostar nos tempos de outrora das minhas
experiências de degustação: um vinho com alguma imponência, de marcante
personalidade, vivaz, jovem e pleno, mostrando-se frutado, as especiarias
protagonizando, aquele toque que gosto do pimentão, as notas amadeiradas em
sinergia com a fruta. Um vinho redondinho, bem feito e muito bom pelo que
valeu, entregando, inclusive, mais do que valia. Digam o que quiserem do Vale
Central, mas eu nunca rejeitarei seus vinhos. Tem 13% de teor alcoólico.
Sobre a Vinícola Casas del Toqui:
Com o objetivo de criar vinhos finos e de alta qualidade que
expressem o verdadeiro terroir chileno, a Casas del Toqui nasceu da união de
uma tradicional família de produtores do Chile e o Château Larose Trintauton,
uma grande propriedade vinícola de Bordeaux, na França, em 1994.
A soma de distintas experiências com vinhedos de alta
qualidade e uma adega dotada da mais alta tecnologia tornaram a empresa um
destaque constante na imprensa mundial, posicionando-a como uma das bodegas
mais respeitadas do Chile.
Em 2010, a Família comprou a “Estate and Winery”, logo após o
terremoto que a danificou severamente, e a modernizou. Hoje, sua principal
adega está localizada próxima de Totihue, Alto Cachapoal, cerca de 100 km ao
sul da capital Santiago.
Mais informações acesse:
https://www.casasdeltoqui.cl/index.html
Referências:
“Portal Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/regiao/valle-central
“Portal Winepedia”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/valle-central-chile/
“Portal Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/186-o-vale-central-no-chile-ponto-de-encontro-de-vinhos-reconhecidos-mundialmente