Mostrando postagens com marcador Carménère. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Carménère. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Koyle Gran Reserva Carménère 2019

 



Vinho: Koyle Gran Reserva

Safra: 2019

Casta: Carménère

Região: Vale de Colchagua

País: Chile

Produtor: Viña Koyle

Adquirido: Sonoma Market

Valor: R$ 64,90

Teor Alcoólico: 14%

 

Análise:

Visual: apresenta uma cor rubi intensa, escura, intransponível, com tonalidades granada e lágrimas finas, lentas, abundantes e com viscosidade, que mancha as bordas da taça.

Nariz: aromas de frutas pretas e vermelhas maduras, com destaque para ameixa e cereja, com toques amadeirados, que aporta couro, tabaco, carvalho, sutil chocolate, além de especiarias, como pimenta.

Boca: tem personalidade, persistência, alguma estrutura, porém é macio e sedoso, com as notas frutadas evidentes, que corrobora frescor, além de notas amadeiradas, de chocolate meio amargo, baunilha. Tem taninos marcados, presentes, mas redondos, bela acidez e um final longo.

 

 

Produtor:

https://koyle.cl/en/

 

Koyle: O nome “Koyle” vem de uma planta nativa chilena que cresce ao lado de florestas de carvalho, produzindo uma bela flor roxa e frutos apetitosos.


segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Echeverria Gran Reserva Carménère 2019

 



Vinho: Echeverria Gran Reserva

Safra: 2019

Casta: Carménère

Região: Valle de Curicó

País: Chile

Produtor: Viña Echeverria

Adquirido: Evino

Valor: R$ 54,90

Teor Alcoólico: 14%

Estágio: 10 a 12 meses em barris de carvalho francês.

 

Análise:

Visual: revela-se em um rubi intenso, escuro, fechado, mas brilhante, com reflexos violáceos, com alguma viscosidade que mancha as bordas da taça, com profusão em lágrimas finas, grossas, coloridas e lentas.

Nariz: aromas complexos a frutas negras maduras, com destaque para ameixa, com notas discretas herbáceas, com a evidência da pimenta preta, até mesmo pimentão, com o aporte da madeira entregando carvalho, baunilha e algo relacionado a chocolate e tosta.

Boca: é muito equilibrado, mostrando estrutura, personalidade e maciez e elegância ao mesmo tempo. É untuoso, saboroso, frutado, com os taninos vivos, presentes, mas domados, com uma acidez média que ainda entrega frescor. É amadeirado, mas integrado ao conjunto do vinho, com notas de cacau, coco queimado, caramelo e baunilha. Final longo e cheio.

 

Produtor:

http://www.echewine.com/


segunda-feira, 6 de maio de 2024

Balduzzi Grand Reserve Cabernet Sauvignon 2017

 



Vinho: Balduzzi Grand Reserve

Casta: Cabernet Sauvignon (85%), Carménère (10%) e Merlot (5%)

Safra: 2017

Região: Vale do Maulle

País: Chile

Produtor: Viña Balduzzi

Teor Alcoólico: 14%

Adquirido: Site Lovino

Valor: R$ 70,00

Estágio: 16 meses em barricas de carvalho francês e 12 meses em garrafa

 

Análise:

Visual: apresenta um rubi profundo, escuro, com halos granada, com lágrimas grossas, lentas e em profusão.

Nariz: aroma agradável de frutas pretas, com destaque para cereja preta, ameixa, um toque floral é sentido, bem como as especiarias, algo herbáceo, bem como as evidentes notas amadeiradas, além da baunilha, do tostado, do chocolate.

Boca: é macio, elegante, porém estruturado, com bom volume de boca, com toques minerais, replica-se a fruta preta madura, com taninos presentes, porém maduros, amadeirado evidente que entrega chocolate, baunilha, menta, com acidez média e um final prolongado e retrogosto macio.

 

Produtor:

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Adobe Carmènére 2015

 




Vinho: Adobe

Casta: Carmènére (80%), Syrah (8%), Cabernet Franc (4%) e Merlot (3%)

Safra: 2015

Região: Valle de Colchagua

País: Chile

Produtor: Vinícola Emiliana

Teor Alcoólico: 13,7%

Estágio: 6 meses, sendo 80% em tanques de inox e 20% em barricas de carvalho francês

Adquirido: Supermercado Sam’s Club

Valor: R$ 56,90

 

Análise:

Visual: vermelho intenso, com halos arroxeados e lágrimas finas e em profusão.

Nariz: intenso e frutado, onde se destaca aromas de ameixa e groselha, alguns toques tostados e de cassis.

Boca: redondo e elegante, se mostra fresco e de média estrutura, com toques discretos da madeira, taninos dóceis e acidez destacada. Tem final persistente.

 

Produtor:

https://www.emiliana.cl/pt/


segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Perez Cruz C&M 2019

 




Vinho: Perez Cruz C&M

Safra: 2019

Casta: Carménère (50%) e Malbec (50%)

Região: Valle del Maipo

País: Chile

Produtor: Perez Cruz

Teor Alcoólico: 14%

 

Análise:

Visual: cor rubi intensa, escuro, com lágrimas finas, lentas e com abundância.

Nariz: aromas intensos de frutas pretas maduras, com destaque para ameixa e notas de carvalho bem integradas ao conjunto do vinho, além de baunilha e chocolate meio amargo.

Boca: tem boa estrutura, cheio, mas macio, com taninos elegantes, porém presentes, notas de carpete, couro, terra e boa acidez, com final persistente.

 

Produtor:

https://www.perezcruz.com/


sábado, 20 de maio de 2023

Fabian Reserva Carménère 2018

 

Quando falamos da casta Carménère lembramos imediatamente do Chile e seus terroirs. A cepa ajudou a impulsionar a vitivinicultura daquele país e hoje ostenta uma posição de destaque entre os países do Novo Mundo do vinho.

Apesar de a Carménère ter essa representatividade penso que ainda, sobretudo no Brasil, exista uma rejeição, onde alguns dizem que é um clone mal acabado da Merlot, ou uma casta inexpressiva e pouco gastronômica.

A história de como a cepa foi “descoberta” no Chile foi meio inusitada e tem uma relação com a Merlot realmente. Diz a história de que a Carménère estava, de forma intrusa, entre os vinhedos de Merlot e todos achavam que se tratava de Merlot. Após estudos científicos comprovou-se que havia Carménère entre os vinhedos de Merlot, isso em 1994.

Mas eu não queria falar da Carménère que ganhou sucesso no Chile, mas em rótulos desta casta que estão sendo produzidas no Brasil, acredite se quiser! Alguns produtores brasileiros estão se aventurando na concepção desta em nossos terroirs.

E eu tive o privilégio e a alegria de ter degustado um rótulo vinificado na região tradicional de São Roque, interior de São Paulo, da Adega Terra do Vinho e se chama Genuíno da safra 2018. As uvas vieram da Serra Gaúcha, outra emblemática região e foi vinificada em São Roque. Um momento único de degustação e que maravilhosamente entregou algumas das características marcantes da Carménère: frutas maduras, couro, carpete e um delicioso toque herbáceo.

E hoje a história se repetirá, com uma nova experiência com a Carménère brasileira, concebida na cidade de Nova Pádua, que fica na Serra Gaúcha, de uma vinícola, ainda pouco conhecida, mas que vem ganhando alguma projeção nos últimos anos, falo da Vinícola Fabian.

O vinho que degustei e gostei veio, portanto, da Serra Gaúcha, de Nova Pádua e se chama Fabian, um 100% Carménère, da safra 2018. Não preciso dizer da minha ansiedade, diria excitação para degustar um Carménère brasileiro! Jamais esperaria degustar um brasileiro, é no mínimo inusitado. Mas antes de falar deste rótulo que me surpreendeu por inteiro, não podemos deixar de falar das regiões, da Serra Gaúcha e Nova Pádua e da emblemática Carménère. Lá vamos nós!

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura.

Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

Nova Pádua

A colonização da região iniciou-se em 1886, com a chegada de imigrantes italianos do Vêneto, na Itália. No início de 1886, sete famílias do Vêneto chegaram ao Rio Grande do Sul para habitar a 16ª Légua do Campo dos Bugres, hoje Nova Pádua. Eram as famílias de Francisco Mantovani, comerciante; Carlos Mantovani, seu irmão e professor; João Zanini, ferreiro; Pedro Sartor, Francisco Menegat, Pascoal Pauletti e Pedro Menegat, estes agricultores. O nome do município foi dado em homenagem a cidade italiana de Pádua.

Já em 1890, todas as 307 colônias estavam tomadas por imigrantes que fugiam da miséria que assolava a pátria-mãe, a Itália. Todos provinham das várias cidades da província do Vêneto, e vinham para buscar o seu desenvolvimento, vinham para vencer. Em 2 de julho de 1888 tiveram a primeira missa, rezada pelo Padre Alexandre Pelegrini. Em 7 de junho de 1890 foi benta a imagem de Santo Antônio de Nova Pádua e, desde então, a 16ª Légua tomou o nome de Nova Pádua.

Em 27 de dezembro de 1892, Nova Pádua recebeu seu primeiro padre na pessoa do padre Giuseppe Candido Dalmazzi. Devido ao seu rápido desenvolvimento, Nova Pádua foi promovida a 4º Distrito de Caxias do Sul, no dia 13 de abril de 1904, pertencendo a esse município até 1926, quando foi incorporada ao novo município de Nova Trento, em Flores da Cunha.

Em 10 de novembro de 1991, a população de Nova Pádua decidiu se emancipar através de plebiscito. Sua criação como município foi decretada em 20 de março de 1992, pelo então governador Alceu Collares.

Localizada na Serra Gaúcha, Nova Pádua se orgulha de manter seus 2.557 habitantes (população estimada pelo IBGE em 2015) em harmonia com o trabalho e a natureza, marcas fortes do município. Com clima definido, as quatro estações do ano proporcionam farta produção agrícola, o que eleva a cidade como referência de hortifrutigranjeiros.

Nova Pádua

Sua economia é baseada na agricultura familiar, com destaque para o cultivo da uva, pêssego, maçã, cebola, alho e a criação de aves. A força do trabalho presente nas pequenas e grandes propriedades rurais gera uma atmosfera em que se visualiza crescimento e desenvolvimento.

O setor industrial ganha representatividade por meio das 27 vinícolas, que juntas produzem mais de 5,5 milhões de litros de vinho por ano. Aliada a isso tem a indústria moveleira, o comércio e as cooperativas, que empregam boa parte da mão-de-obra especializada.

Carménère

Originária de Bordeaux, na França, a Carménère foi uma das castas mais cultivadas até o começo do século XIX, principalmente nas regiões de Graves e Médoc. Contudo, na década de 1860, ela foi praticamente dizimada devido ao ataque do inseto chamado Filoxera, uma praga que devastou grande parte dos vinhedos da França e de outros países do continente europeu.

Filoxera

Durante muitos anos, acreditou-se que esta uva havia sido extinta e, só recentemente, nos anos 1990, reapareceu no Chile. Provavelmente a casta foi trazida para a América do Sul por imigrantes europeus, junto com outras variedades francesas, durante o século 19.

Em 1994, nos vales vinícolas chilenos, o enólogo francês Jean-Michel Boursiquot notou que algumas cepas de Merlot demoravam a atingir a maturidade e passou a estudá-las. Os resultados desses estudos identificaram que se tratava da “uva perdida de Bordeaux”, a Carménère, plantada no Chile como se fosse a uva Merlot.

Dessa época em diante, a casta passou a reinar em terras chilenas, sendo considerada como um verdadeiro presente da França para o país sul-americano. Apesar de não ser a uva tinta mais cultivada no país, ela é muito valorizada por ser quase uma “exclusividade” para o Chile.

Esta casta sobreviveu graças ao isolamento geográfico chileno. O país é cercado pela Cordilheira dos Andes a leste, do Pacífico a oeste, das areias do deserto de Atacama ao norte e das terras ermas da Antártica ao sul. As vinhas crescem com segurança, livres de pragas e de poluição. O Chile, por exemplo, nunca foi atacado pela praga Filoxera, responsável por dizimar a uva na França.

A origem do nome “Carménère” está relacionada à cor de sua pele, que exibe tonalidade forte de carmim, palavra francesa que, em português, significa um vermelho intenso. Essa coloração característica da uva é facilmente transferida para os vinhos elaborados com ela.

Os vinhos de Carménère apresentam uma combinação de aromas de frutas pretas e vermelhas maduras, terra molhada e pimenta preta. Em boca são suaves, com pouco tanino, baixa acidez e muito álcool. Veja outros aspectos do vinho em nossa seção de Análise Sensorial.

A Carménère precisa de certa atenção. Se não colhida na época exata, origina vinhos ásperos, com pouca expressão frutada e um herbáceo excessivo. A pirazina, substância existente na casca da uva, não completa seu processo químico e deixa aroma de pimentão no vinho. Isso também acontece muito com a Cabernet Sauvignon. 

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um rubi intenso, escuro e fechado, com alguma viscosidade que mancha o bojo, com lágrimas finas, lentas e em profusão.

No nariz não apresenta uma exuberância aromática, mas se mostra complexo, com uma bela combinação de frutas vermelhas e pretas bem maduras, em compota, com notas amadeiradas bem delicadas, graças aos 12 meses em barricas de carvalho, com toques de baunilha, leve tostado e chocolate. Traz especiarias, herbáceo, pimentão discreto, além de couro, tabaco, carpete e algo de terra molhada.

Na boca é elegante, macio, saboroso, o protagonismo das frutas, percebidos no olfato, entregam no paladar, com a madeira também evidente, mas muito discreta. Traz chocolate, tostado, baunilha, taninos amáveis, domados, com acidez baixa, típico da cepa, mostrando uma incrível qualidade no que tange a sua tipicidade. Tem um final de média persistência, de retrogosto frutado.

Com cinco anos de garrafa, está no ápice de sua condição: um vinho frutado, frutas maduras em compota, acidez saborosa, salivante e vivaz, com taninos presentes, mas macios e domados. Assim é o vinho: equilibrado, pois revela elegância, mas com austeridade e personalidade. O Brasil ainda está longe da produção da Carménère, mas não tenho dúvidas que a Serra Gaúcha se revelará forte na produção da casta em seu terroir. Espero que possa degustar um novo Carménère da Serra Gaúcha, do Brasil. Tem 13,1% de teor alcoólico.

Sobre a Vinhos Fabian:

A família imigrou da Itália para o Brasil no final do século dezenove. A tradição vitivinícola herdada dos ancestrais foi favorecida pelo clima encontrado na região dos Vinhos dos Altos Montes, no município de Nova Pádua, na Serra Gaúcha.

A localização entre colinas de 780m de altitude proporciona amplitude térmica, fator relacionado a uma boa formação de componentes que determinam a qualidade do vinho. A paixão pela produção de uvas e vinhos, fez com que a família elaborasse no ano de 1985, a primeira safra da vinícola.

A vinícola investe em tanques de aço inox, barricas de carvalho e equipamentos italianos. Aplica uma enologia moderna com o objetivo de extrair ao máximo as virtudes de cada variedade de uva a vinificar. A ascendência francesa traz consigo o símbolo da flor-de-lis que caracteriza a marca Fabian.

Mais informações acesse:

https://vinhosfabian.com.br/index.html

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA

“Prefeitura de Nova Pádua”: https://www.novapadua.rs.gov.br/secao.php?pagina=1

“Reserva 85”: https://reserva85.com.br/vinho/castas-uva-vitis-vinifera/carmenere/

“Vinho Blog”: http://blog.vinhosite.com.br/uva-carmenere-conheca-sobre-os-vinhos/







sábado, 28 de janeiro de 2023

Estampa Gran Reserva 2016

 

Arte, inspiração, poesia líquida etc. Alguns adjetivos parecem personificar o vinho. Ambos se enlaçam em uma convergência, a necessidade de um complementar o outro para entender, sentir as suas nuances, evocar os seus terroirs. Assim costumo enxergar, perceber o vinho, mesmo que por um aspecto lúdico.

Algumas vinícolas costumam imprimir essa filosofia aos seus vinhos, que vai desde a vinificação até na concepção estética de seus rótulos, por exemplo. É claro que traz todo um aspecto mercadológico por detrás dessa concepção, afinal aliar um rótulo, uma linha de vinhos a esses quesitos pode ser viável comercialmente, mas não é só a estética e o conceito, mas também como método de vinificação.

Quando descobri uma vinícola de nome “Estampa” eu logo me lembrei, ou melhor, associei à tecidos. Sim! Roupas, tecido, a arte de costurar roupas, criar uma vestimenta a partir de fragmentos de tecidos.

E acredito que seja isso mesmo, pequenos fragmentos que formam um todo! E “viajando” um pouco mais em seu site, com o intuito de buscar respostas para o que percebi, no que tange às propostas dos vinhos, observei que todos os vinhos do produtor ou que pelo menos estavam expostos no site, são cortes, formados por blends.

Creio que aí está a resposta: pequenos tecidos, estampas que juntas formam um todo, tendo como alicerce o terroir, as características das regiões onde se encontram as vinhas. Embora traga algo meio “romantizado”, na prática é perfeitamente concebível levando em conta a metodologia imposta pela vinícola.

As variedades (castas) são vinificadas separadamente, são vindimadas em datas distintas, tudo conspira para esse fato, para esta observação. E cada detalhe como esses inspira, requer competência e sensibilidade do enólogo que precisa para que o vinho entrega tipicidade, entregue qualidade.

E com base nisso comprei um rótulo desse produtor que, além da inspiração, trouxe também o atrativo valor: na faixa dos R$58! E melhor: para um “Gran Reserva”! Decidi, claro, “assumir o risco” e comprar o rótulo.

Levei algum tempo para degusta-lo! Repousou calmamente na adega por pelo menos dois ou três anos! E hoje, no auge dos 7 anos, mostrou-se vivaz, pleno e altivo. O vinho que degustei e gostei veio da região chilena de Marchigue DO, no emblemático Vale do Colchágua, e se chama Estampa Gran Reserva com um corte das castas Carmènére (85%), Syrah (10%) e Cabernet Sauvignon (5%) da safra 2016.

Castas que ganharam destaque no Chile e que estão juntas oferecendo um arrebatamento sensorial, uma salutar experiência que só os chilenos podem proporcionar. Mas antes de entrar nos pormenores do vinho, nada mais relevante do que aflar um pouco do Vale do Colchágua.

Vale do Colchágua

O Vale do Colchágua está localizado à aproximadamente 180 km de Santiago no centro do país, exatamente entre a Cordilheira dos Andes e o Pacífico. É cortado pelas águas do rio Tinguiririca, suas principais cidades são San Fernando e Santa Cruz, e possui algumas regiões de grande valor histórico e turístico como Chimbarongo, Lolol ou Pichilemu. Colchágua significa na língua indígena “lugar de pequenas lagunas”.

Vale de Colchágua

A fertilidade de suas terras, a pouca ocorrência de chuva e constante variação de temperatura possibilita o cultivo de mais de 27 vinhas, que, com o manejo certo nos grandes vinhedos da região e padrões elevados no processo de produção, faz com que os vinhos produzidos no vale sejam conhecidos internacionalmente, com alto conceito de qualidade.

Clima estável e seco (que evita as pragas), no verão, muito sol e noites frias, solo alimentado pelo degelo dos Andes e pelos rios que desaguam no Pacífico, o Vale de Colchágua é de fato um paraíso para o cultivo de uvas tintas e produção de vinhos intensos.

Em Colchágua, predomina o clima temperado mediterrâneo, com temperaturas entre 12ºC como mínima e 28ºC, máxima no verão e 12ºC e 4ºC, no inverno. Com este clima estável é quase nenhuma variação de uma safra para a outra; e a ausência de chuva possibilita um amadurecimento total dos vários tipos de uvas cultivadas na região. Entre as principais variedades de uvas presentes no Vale de Colchágua estão as tintas Cabernet Sauvignon, Merlot, Carmenère, Syrah e Malbec, que representam grande parte da produção chilena.

O cultivo das variedades brancas, apesar de em plena ascensão, ainda se dá de forma bastante reduzida se comparada às tintas; as principais uvas brancas produzidas no vale são a Chardonnay e a Sauvignon Blanc. Ambas as variedades resultam vinhos premiados e cultuados por especialistas e amantes do vinho.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um intenso, quase negro, vermelho rubi, com contornos granada e uma linda profusão de lágrimas grossas e lentas que desenham as bordas do copo.

No nariz mostrou-se tímido no início, mas logo se revelou frutado, frutas negras maduras, como ameixa preta, amora e cereja em total sinergia com as perceptíveis notas amadeiradas, graças aos seus 14 meses em barricas de carvalho, com toques levemente tostados, de baunilha, com especiarias, com destaque para pimenta preta e um agradável herbáceo.

Na boca mostrou o destaque, entregando um vinho, aos sete anos de garrafa, muito elegante, com as notas frutadas em convergência com a madeira, replicando as impressões olfativas, mas ainda assim cheio, volumoso e saboroso. O carvalho traz também um delicioso chocolate meio amargo e torrefação. Os taninos estão macios e amáveis, com acidez discreta e uma persistência longa com retrogosto tentador que investe em mais e mais taças.

O conceito, a filosofia, o método, o terroir, o vinho. Quando costumamos falar da cultura de um povo que é expressada dentro de uma garrafa de vinho, é exatamente nesse preceito que a Vinícola Estampa se baseia para apresentar seus rótulos. Criação, inovação, inspiração enológica são nomes bem pertinentes para personificar o trabalho da Estampa em seus belos vinhos. A “versão” Gran Reserva, com a predominância da casta icônica do Chile, Carmènére, é bem preponderante para a qualidade dos rótulos. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Estampa:

Há mais de um século, Don Manuel González Dieguez, imigrante espanhol, comprou um moinho de trigo em Santiago, Chile, e nomeou-o, Estampa. O moinho de grãos original ainda está em operação, mas a última geração de descendentes de D. Manuel, a família González-Ortiz, iniciou uma nova expansão do negócio. Construíram a primeira vinícola no Chile, dedicada aos vinhos de “Assemblage” e a nomearam Estampa, mantendo a tradição familiar para honrar o avô, fundador da empresa.

A Viña Estampa foi fundada em 2001 pelo empresário e visionário Miguel González Ortiz, que descende de uma família que há cem anos dedica-se a indústria agroalimentar. Nascido no Chile, ele escolhe Palmilla, na Rota do Vinho do Vale do Colchagua para estabelecer esse magnífico projeto vitivinícola.

A arquitetura exuberante da sede já diz muito sobre a própria essência da empresa que tem como características a inovação, ousadia e o primor no que faz e produz nesse maravilhoso segmento do mundo dos vinhos. Tem capacidade de produção de 700 mil garrafas ao ano, possui uma sala de barrica com 700m2 e foram pioneiros na América Latina a utilizarem microvinificação com Ânforas.

Possuem cerca de 400 hectares divididos em três terroirs do Vale do Colchagua, Palmilha onde está a sua sede, e em Paredones e Marchigüe onde foi uma das pioneiras em plantação de vinhas com microclimas tão peculiares. Especializaram-se na produção de vinhos blends, e o que vemos é diversidade de inúmeras castas plantadas em cada vinhedo.

Mais informações acesse:

https://estampa.com/

Referências:

“Dayane Casal”: https://dayanecasal.com/vina-estampa-uma-expressao-do-espirito-de-inovacao-no-chile/

“Vinho Virtual”: https://www.vinhovirtual.com.br/vinicolas-1644-Estampa

“Clube dos Vinhos”: “Clube dos Vinhos” em: https://www.clubedosvinhos.com.br/um-passeio-pelo-vale-do-colchagua/


sábado, 12 de março de 2022

Genuíno Carménère 2017

 

O universo do vinho é vasto e inexplorado. Contudo mesmo que essa afirmação possa trazer a sensação incômoda de algo meio desolador, te impulsiona a explorá-lo mais e mais, a buscar novas experiências sensoriais.

Eu nunca pensei que, quando comecei a degustar vinhos, a quase 30 anos atrás, de que eu fosse desbravar, de forma tão intensa, os vinhos brasileiros. Desbravar regiões que jamais fosse chegar, que nunca esperei encontrar vinhos que atualmente não são polos de produção da bebida como o Rio Grande do Sul, por exemplo.

Como muitos, infelizmente, que adentra o mundo do vinho sempre, de forma pré-concebida, acha que o mundo do vinho brasileiro é limitado e incipiente, os rótulos e a história dizem o contrário e é uma forma de resistência que grita aos quatro cantos que o vinho nacional é válido e tem sim história.

Sempre ouvi dizer que São Paulo sempre foi uma região proeminente na produção de vinhos e mais, com certo protagonismo para a história vitivinícola brasileira. Mas nunca parei para pensar na dimensão dessa informação, na relevância disso tudo e consequentemente nunca me atentei para a possibilidade de degustar quaisquer vinhos das regiões contempladas pela natureza nas terras paulistas.

E o meu primeiro contato com os vinhos de São Paulo se deu de uma forma totalmente ocasional e despretensiosa. Estava eu acessando as minhas redes sociais e me deparei com uma publicação um tanto quanto atípica para mim e estava relacionado aos vinhos artesanais ou a vinhos produzidos por pequenas e médias vinícolas com baixa produção. Aquilo fora como se amor à primeira vista, dado o tamanho do interesse que me tomou como um arrebatamento.

Diante do tamanho do interesse decidi procurar detalhes sobre o vinho mencionado e como qualquer coisa que colocamos na grande rede para pesquisar, uma coisa vai puxando a outra, porém dentro do contexto. Até que cheguei a um site que vende vinhos de uma região famosa do interior de São Paulo conhecida como “a terra do vinho”, chamada São Roque! O site se chama “Pemarcano Vinhos”.

Os adquiri, mas não poderia parar e decidi desbravar a região de São Roque, em São Paulo, e descobri o quanto há de rótulos disponíveis, majoritariamente de pequenos e médios produtores e isso me excitou ainda mais. E as surpresas não pararam! Recebi, carinhosamente, do amigo Luciano, do site da Pemarcano Vinhos, um Carménère brasileiro! Sim! Foi o que vocês, caros leitores enófilos, leram: Um Carménère brasileiro! Os típicos vinhos chilenos com a sua casta que é o carro chefe sendo produzida em terras brasileiras!

Claro que a produção ainda é tímida por aqui, poucos são os produtores que vinificam a Carménère no Brasil, e isso traz o tempero para a minha efusiva animação em degustar esse rótulo de São Roque, o mais rápido possível. Então não hesitei muito e degustei logo este rótulo e em um misto de alegria, privilégio e ansiedade, me peguei a desarrolhá-lo e inundar a minha taça desse Carménère brasileiro. De cara já impressionou pela intensa cor vermelha escura, intransponível que logo explodiu em aromas de frutas vermelhas maduras, e aquele toque clássico de couro, de “carpete” da Carménère. Começamos bem! Quando o levei à boca...voilá!

O vinho que degustei e gostei veio da região de São Roque, em São Paulo, e se chama Genuíno da casta Carménère e a safra é de 2017. Não vou, ainda, entrar nos pormenores do vinho, em sua análise, falando antes da história da região de São Roque que personifica a história do vinho em nosso Brasil e que merece ser enaltecida inúmeras vezes. Vamos a terra do vinho!

São Roque: A terra do vinho!

 A cidade de São Roque foi fundada no dia 16 de agosto de 1657, mas começou como uma grande fazenda do capitão paulista Pedro Vaz de Barros, que pertencia a uma família de bandeirantes e sertanistas. Vaz de Barros também participou de diversas Bandeiras. O fundador da cidade, também conhecido como Vaz Guaçú, contava com aproximadamente 1.200 índios que trabalhavam em suas terras, onde eram cultivados trigo e uva. Alguns anos após a morte de Vaz de Barros, seu irmão, Fernão Paes de Barros, se estabeleceu na mesma região, onde construiu uma casa e uma capela, que foram restauradas em 1945 pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a pedido do escritor Mário de Andrade, dono da propriedade.

Na região de São Roque, podem-se identificar referências à vitivinicultura desde a sua fundação, por volta do final do século XVII. Conforme informações encontradas e divulgadas pelos moradores da cidade, através da tradição oral, ou mesmo citado pelo Professor Joaquim Silveira dos Santos em seu artigo para a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, volume XXXVII, nessa época toda a região pertencia a apenas três grandes proprietários de terras: Pedro Vaz de Barros, seu irmão Fernão Paes de Barros e o padre Guilherme Pompeu de Almeida, sendo que Pedro Vaz (tido como o fundador da cidade) se estabeleceu próximo da atual igreja Matriz, seu irmão mais ao norte, onde até hoje ainda se encontra a casa grande e capela Santo Antônio, e por fim a fazenda do padre Guilherme Pompeu se encontrava na hoje atual cidade de Araçariguama que faz divisa com Santana do Parnaíba.

Portanto realmente não se podem esperar grandes referências desse período da história, afinal o Brasil era apenas uma colônia e que existiam restrições da fabricação de qualquer tipo de produto em nosso solo, ou seja, em tese tudo deveria vir de Portugal, inclusive o vinho.

Outro fator que pode ter influenciado e não ter feito prosperar o cultivo da videira seria a prioridade da época de então, que era a descoberta de ouro, principalmente na região das Minas Gerais. Sabemos que São Paulo até então era somente um vilarejo sem grande importância econômica para a metrópole portuguesa, e se bem analisarmos a história da agricultura brasileira a uva e o vinho nunca foram tidos como principal interesse por parte de nossos colonizadores.

Após um período difícil, o povoado originado por Pedro Vaz foi elevado à categoria de Freguesia no dia 15 de agosto de 1768, recebendo o nome de São Roque do Carambeí. No dia 10 de julho de 1832, a Freguesia foi elevada à categoria de vila, mas o progresso do local só começou em 1838, quando começaram as lavouras de milho, algodão, arroz, mandioca e farinha de mandioca, cana de açúcar e derivados, legumes e verduras. Em março de 1846, seis anos após instalar-se na vila o destacamento da Guarda Nacional, Dom Pedro II e uma pequena comitiva permaneceram um dia na cidade de São Roque. Com a passagem de Dom Pedro II, Antônio Joaquim começou a se destacar no cenário político e, graças ao morador ilustre, São Roque foi elevada à categoria de cidade no dia 22 de abril de 1864.

Após esse longo período de estagnação, o primeiro registro oficial de plantação de uvas na região de São Roque se dá por volta de 1865, quando o Doutor Eusébio Stevaux inicia uma pequena plantação na sua fazenda em Pantojo. Pela mesma época, um colono italiano adquire uma pequena propriedade no bairro de Setúbal, alguns anos mais tarde um português na terra do então Sítio Samambaia forma um razoável vinhedo e inicia o processo de fabricação do vinho.

Doutor Eusébio Stevaux

Já em 1875 foi inaugurada a Estrada de Ferro Sorocabana, que ligou a cidade de São Paulo a São Roque e Sorocaba. Após alguns anos, em 1884, começou a grande chegada de imigrantes à cidade, fazendo com que as vinícolas aparecessem novamente e ganhassem força nos anos seguintes. Em 1924, a cidade já contava com 17.300 habitantes e foram produzidos 10 mil litros de vinho a cada ano, tendo doze produtores de vinhos, sendo cinco deles italianos.

O que possibilitou o retorno da cultura da uva e fabricação do vinho foi a importação de videiras oriundas dos Estados Unidos, pois estas eram mais resistentes ao clima brasileiro. Dentre as principais videiras trazidas estão inicialmente a “Izabel”, a “Seibel 2” (importada da França), curiosamente trazida por imigrantes italianos que se instalaram na região e posteriormente a “Niágara Branca”, oriunda da região do Alabama, EUA.

Portanto, a divisão do período da cultura vinícola de São Roque, desde a fundação da cidade até a época atual em quatro fases distintas:

1ª fase: 1657 – 1880: importação de videiras portuguesas, plantações domiciliares, sem qualquer cunho comercial, ou seja, somente para consumo próprio.

2ª fase: 1880 – 1900: Retomada da viticultura são-roquense, ainda que amadora, quase que familiar, continua voltada basicamente para o consumo e pequeno varejo. Já apresenta uma tendência a profissionalização graças às técnicas trazidas pelos imigrantes italianos e portugueses. Já se utiliza da videira americana que melhor se adaptou ao clima tropical brasileiro (talvez seja este um dos principais fatores de sucesso do cultivo da uva na região de São Roque);

3ª fase 1900 – até aproximadamente final da década de 1950: processo de industrialização e profissionalização da produção do vinho com aplicações de técnicas mais modernas permitindo assim obter resultados e desempenho melhores.

Podemos dividir esta fase primeiramente num período de início do processo de profissionalização e logo após (a partir da década de 1920), o período em que realmente a região investiu e desenvolveu as técnicas vinicultoras, durando até aproximadamente a década de 1950, onde após a massificação da produção entra num processo de decadência.

4ª fase década de 1960 – atual: esta fase engloba o processo de decadência da viticultura são-roquense. Por motivos econômicos e climáticos e até mesmo por falta de investimentos em pesquisas, que se reduziram sensivelmente tanto a qualidade como a quantidade de vinho produzido, levando ao fechamento de diversas adegas (isso principalmente a partir da década de 1980). São Roque permanecendo hoje somente com o título de “terra do vinho”, sendo que os poucos fabricantes que restaram (aproximadamente treze adegas) fabricam seu vinho não de uvas nativas de São Roque, mas sim oriundas de outras partes do Estado ou mesmo de outros estados (exemplo: Rio Grande do Sul).

Há atualmente um movimento para tentar a reversão dessa situação, porém continua bem modesto em relação a todo o histórico e números do passado no ápice do cultivo da videira em São Roque.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo vermelho profundo, escuro, mas reluzente, brilhante, com lágrimas finas e em média intensidade que marcam no bojo.

No nariz apresenta aromas intensos e vivazes de frutas vermelhas, se destacam framboesa, groselha e cereja, com notas de especiarias, como pimenta, couro, algo de terra molhada e herbáceo.

Na boca é seco, as frutas vermelhas bem como os toques especiados ganham protagonismo como no aspecto olfativo, tem médio corpo, bom volume de boca, alcoólico, mas sem desequilibrar o conjunto do vinho, que se mostra macio, equilibrado, baixa acidez e taninos médios, porém aveludados. Final de média persistência.

Vinho não é só poesia engarrafada como dizia aquele poeta, mas história engarrafada também. Degustamos história, degustamos cultura! É muito gratificante e especial degustarmos vinhos com essa carga histórica atrelada de forma tão veemente, tão latente. A história é viva e plena, não é algo estático. Degustar o Genuíno Carménère foi, mais uma vez, a confirmação de que, mesmo com todas as adversidades do tempo e da atualidade, degustar um vinho da região de São Roque é viver de forma ativa e intensa a sua história e perceber, ou melhor, sentir que a região ainda pulsa vinho, pulsa a sua história e ainda é possível sim degustar vinhos de qualidade, bem feitos e que pequenos e médios produtores se engradecem pelo simples fato de personificar em seus vinhos a tipicidade da região, o fazer de homens e mulheres abnegados pelo amor a essa bebida que catapultou o prestígio dessa cidade ao Brasil. O nome que carrega, “Genuíno” talvez corrobore essa condição e carrega essa nome não é à toa! Sinto-me privilegiado e honrado pelo presente do Luciano, da Pemarcano Vinhos, e por degustar um Carménère brasileiro com um vermelho rubi intenso, escuro, brilhante, frutado, aromático, saboroso e que entrega as características da cepa no âmago de sua essência. Que São Roque continue me proporcionando grandes novidades espero por todo sempre. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Adega Terra do Vinho:

Em meados de 1966, a família Oliveira Santos decidiu dedicar-se a sua grande paixão: o Mundo do Vinho e abriu a Cantina Vieira Santos.

Empenho, dedicação e amor eram palavras de ordem dos irmãos, especialmente para o Moacyr. A Cantina cresceu, mudou e hoje se chama Adega Terra do Vinho. Como patriarca, certamente o Moacyr não imaginou que seu trabalho chegaria tão longe com o mesmo espírito e garra.

Sr. Moacyr

A paixão pelos vinhos fez nascer a pequena Adega do Moacyr com seus vinhos artesanais. Hoje a adega cresceu, mas continua trazendo, em cada garrafa, a mesma paixão.






sábado, 18 de setembro de 2021

Novas Gran Reserva 2013

É significativo, é singular quando degustamos um vinho repleto de simbolismos e mensagens edificantes para a nossa vida, mas, sobretudo, claro, degustar um grande vinho que preencha todos os nossos anseios, que arrebate as nossas experiências sensoriais. Por isso que defenderei sempre e com urgência a necessidade quase que latente da busca incansável pela “identidade” cultural do vinho, o DNA do vinho com a sua história, a sua região, a filosofia e a marca que o produtor pretende entregar etc.

Atualmente temos testemunhado um avanço significativo de rótulos sustentáveis ou orgânicos, nomenclatura esta a mais difundida, em tempos da necessidade da discussão e da efetivação desse conceito na nossa sociedade, aonde a saúde humana vem sendo ceifada de forma latente, mas, por outro lado, silenciosamente, por uma percepção torta de qualidade de vida extremamente destrutiva.

A indústria do vinho, preocupada com o desenvolvimento sustentável, seja econômico, mercadológico e socioambiental, direciona as suas intenções, suas gestões e principalmente as suas produções para rótulos de cunho orgânico, mitigando o uso de agrotóxicos nos seus vinhedos entre outros produtos corrosivos na sua vinificação e produção.

O clima, a terra de onde nascem os vinhedos tem uma predominante participação no conceito de vinhos orgânicos. O discutido e tão falado conceito de terroir nunca teve tanta importância, o seu protagonismo é evidente, é latente. A valorização da terra, da cultura, as manifestações comportamentais nunca foram tão importantes para a consolidação dos vinhos orgânicos.

Toquei no assunto dos vinhos orgânicos porque embora a minha história com esses rótulos sejam curtas e não tenha aquela profusão de vinhos degustados, os poucos que tive experiência foram extremamente relevantes, especiais. São vinhos definitivamente com caráter, expressivos, especiais. Não sei dizer, confesso, se existe, no momento da degustação, diferença entre rótulos orgânicos e tradicionais, mas o fato é que os orgânicos traz personalidade, são marcantes.

E em 2017 participei de um evento de degustação na minha cidade, em Niterói, o Festival de Vinhos do Supermercado Real, e fui apresentado a um rótulo especial de uma das mais importantes, se não for a mais significativa vinícola da América Latina e do mundo, chamada Emiliana Organic Vineyards, que definitivamente me trouxe uma espécie de arrebatamento. Já conhecia a linha mais popular e conhecida deles chamada de “Adobe” e havia gostado muito, mas esse vinho elevou o conceito de complexidade e expressão máxima do terroir. Um vinho de muita tipicidade.

Quando o degustei e refleti de forma categoria, parecia que eu gritava para todos naquele evento: Vou comprar esse vinho. Semanas após esse evento, fui ao supermercado que organizou esse evento na esperança de encontrar esse rótulo que degustei e eis que choquei com ele e não hesitei, ainda mais com um preço muito convidativo. O levei!

Um momento especial também com relação ao tempo de safra: 8 anos de safra! Será que está bom? O que ele me reservará de bom? Dúvidas e perguntas que convenhamos anima, estimula ainda mais para a degustação! Deixei, propositalmente, evoluir na adega por longos 4 anos, até atingir seu ápice, o seu melhor momento, de um vinho austero, complexo. Será?

Saiu da adega cheio de expectativa, veio junto com ele tudo o que o enófilo espera dele: complexidade, estrutura, tipicidade. A rolha, delicadamente foi removida com aquele indescritível barulhinho que inaugura o ritual da degustação. O vinho desemboca na nossa taça, os sentidos começam a ser desafiados, ficam aguçados, a sedução inicia, o flerte entre o vinho e o enófilo fica mais evidente.

E voilá! O vinho que degustei e gostei veio da emblemática Vale do Colchágua, do Chile e se chama Novas Gran Reserva, com um corte igualmente emblemático do Chile de Carménère (85%) e Cabernet Sauvignon (15%) da safra 2013. Um vinho de 8 anos de vida, mas vivo, pleno, cheio de personalidade, intenso, mas austero e delicado, e com a estrutura que só a complexidade que a idade lhe confere. Então antes de tecer aqueles comentários maravilhosos do vinhos falemos um pouco do Colchágua Valley.

Vale do Colchágua

O Vale do Colchágua está localizado à aproximadamente 180 km de Santiago no centro do país, exatamente entre a Cordilheira dos Andes e o Pacífico. É cortado pelas águas do rio Tinguiririca, suas principais cidades são San Fernando e Santa Cruz, e possui algumas regiões de grande valor histórico e turístico como Chimbarongo, Lolol ou Pichilemu. Colchágua significa na língua indígena “lugar de pequenas lagunas”.

Vale do Colchagua

A fertilidade de suas terras, a pouca ocorrência de chuva e constante variação de temperatura possibilita o cultivo de mais de 27 vinhas, que, com o manejo certo nos grandes vinhedos da região e padrões elevados no processo de produção, faz com que os vinhos produzidos no vale sejam conhecidos internacionalmente, com alto conceito de qualidade.

Clima estável e seco (que evita as pragas), no verão, muito sol e noites frias, solo alimentado pelo degelo dos Andes e pelos rios que desaguam no Pacífico, o Vale de Colchágua é de fato um paraíso para o cultivo de uvas tintas e produção de vinhos intensos.

Em Colchágua, predomina o clima temperado mediterrâneo, com temperaturas entre 12ºC como mínima e 28ºC, máxima no verão e 12ºC e 4ºC, no inverno. Com este clima estável é quase nenhuma variação de uma safra para a outra; e a ausência de chuva possibilita um amadurecimento total dos vários tipos de uvas cultivadas na região. Entre as principais variedades de uvas presentes no Vale de Colchágua estão as tintas Cabernet Sauvignon, Merlot, Carmenère, Syrah e Malbec, que representam grande parte da produção chilena. 

O cultivo das variedades brancas, apesar de em plena ascensão, ainda se dá de forma bastante reduzida se comparada às tintas; as principais uvas brancas produzidas no vale são a Chardonnay e a Sauvignon Blanc. Ambas as variedades resultam vinhos premiados e cultuados por especialistas e amantes do vinho.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, profundo, escuro, mas com algum brilho e uma profusão de lágrimas grossas e lentas que desenham as paredes do copo.

No nariz traz a explosão, um mix de frutas vermelhas maduras e pretas, aonde se destacam morango, ameixa, amora e cereja, com notas amadeiradas, tostadas e de baunilhas com toques de especiarias, tais como pimenta.

Na boca é estruturado, mas elegante e equilibrado, ainda pleno com as frutas vermelhas maduras e pretas em franca evidência, apesar dos 8 anos de safra, com estrutura, bom volume de boca, alcoólico, complexidade. As notas amadeiradas, de torrefação e chocolate são perceptíveis, graças aos 70% do lote que passaram por barricas de carvalho por 12 meses e os outros 30% em tanques de aço inoxidável trazendo um equilíbrio entre as características do aporte da madeira com as essências da cepa. O toque de especiarias, de pimenta, tabaco e carpete são notados dando um pouco de rusticidade ao vinho, com taninos presentes e correta acidez e um persistente final.

Todos os detalhes contam todas as nuances são significativas e explodem na sua taça e deixa os seus sentidos, as suas experiências no ápice, em um estado de glória. É isso! Glória! Um momento de vitória, maravilhoso, um momento em que você se encontra com o vinho que se identifica, com a proposta que ele entrega. É uma espécie de conexão, de uma simbiose química, sim, um casamento químico, a melhor das harmonizações. O Novas Gran Reserva entrega o que de melhor há no vinho chileno: voluptuosidade, expressividade, caráter! Foram as primeiras palavras que pensei para descrever o vinho quando o degustei, pela primeira vez, naquele evento em minha cidade. O enlace de duas castas emblemáticas que escolheu o Chile como o seu porto seguro adquirindo características especiais fazendo deste vinho orgânico especial, singular, único. Estruturado, mas elegante, austero, mas fácil de degustar, complexo, mas redondo e equilibrado. Esse é o Novas Gran Reserva. Tem 14,5% de teor alcoólico.

Ah uma curiosidade sobre o nome e rótulo do vinho: O desenho do rótulo é a constelação de Orion e o nome escolhido, “Novas”, vem de uma palavra em latim, usada pelos antigos astrônomos, para dar nome ao nascimento de novas estrelas.

Sobre a Emiliana Organic Vineyards:

No final dos anos 90, Rafael e José Guilisasti, foram visionários após perceberem que o mercado estava começando a mudar e que o consumidor global estava começando a se tornar mais consciente dos produtos que estavam consumindo, não só por uma questão de saúde, mas também por seu efeito ambiental e social.

Foi assim que eles, juntamente com a visão enológica de Álvaro Espinoza, iniciaram o processo de conversão de uma vinícola chilena convencional em uma vinícola 100% orgânica e biodinâmica, com o firme objetivo de criar vinhos da mais alta qualidade com grande respeito pela natureza e pelas pessoas.

Depois de mais de duas décadas, o que começou como um sonho, hoje está corporizado em um portfólio completo, com grande reconhecimento nacional e internacional, e que está adaptado às novas necessidades dos consumidores.

Linha do tempo da Emiliana Organic Vineyards:

Com foco na produção de vinhos orgânicos de qualidade, na última década a Emiliana tornou-se uma das mais importantes vinícolas orgânicas e biodinâmicas do mundo. Hoje, presente nos mais importantes vales vinícolas do Chile, ela reflete a harmonia entre a mais alta qualidade de seus vinhos e o respeito ao meio ambiente e às pessoas.

1998

O desenvolvimento da agricultura orgânica e biodinâmica começou nos vinhedos da Emiliana.

2001

Primeira vinícola no Chile e sétima no mundo a obter a certificação ISO 14001 (Gestão Ambiental). Obtenção da certificação de uvas e sistemas de produção orgânica pela IMO Suíça.

2003

Os primeiros vinhos orgânicos (COYAM & NOVAS) foram lançados no mercado. COYAM 2001 (1ª safra) ganhou os prêmios de “Best in Show” e “Best Blend” no Primeiro. Prêmio Anual de Vinhos do Chile.

2006

Gê 2003 é o primeiro vinho do Chile e da América Latina a obter a certificação biodinâmica da Demeter, Alemanha.

2007

A IMO certificou a responsabilidade social da Emiliana, suas boas condições de trabalho e ser uma organização justa e transparente (For Life).

2008

Emiliana comemora 10 anos de agricultura orgânica.

2009

Gê, Coyam e Fundo Los Robles são certificados como neutros em carbono pela TÜV SÜD, Alemanha. Coyam é o segundo vinho no Chile a ser certificado como Biodinâmico.

2011

A Emiliana certifica suas práticas de Comércio Justo (FLO).

2012

A Emiliana é escolhida como a “Vinícola Verde do Ano” (Green Winery of the Year) pela revista inglesa Drinks Business. A vinícola é certificada sob o Código de Sustentabilidade de Vinhos do Chile.

2014

A certificação CarbonZero é obtida.

2015

Emiliana é escolhida como “Vinícola do Ano” pela Wines of Chile.

2018

20º Aniversário da Agricultura Orgânica. Entrada na lista das 50 marcas de vinho mais admiradas de 2018, de acordo com a Drinks International.

2019

A Emiliana obtém a certificação vegana (Vegan Society) que certifica que na produção de seus vinhos orgânicos e biodinâmicos não utiliza produtos derivados de animais.

Mais informações acesse:

http://www.emiliana.cl/pt/

Referências:

“Clube dos Vinhos” em: https://www.clubedosvinhos.com.br/um-passeio-pelo-vale-do-colchagua/