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quinta-feira, 17 de junho de 2021

Chaminé tinto 2013

 

Talvez seja uma pergunta manjada e, para alguns, irrelevante ou boba, mas me parece muito complexa dependendo do tema a ser abordado: É possível aliar tradição e contemporaneidade? Para muitos são como água e vinho, não há sinergia, não há convergência, outros é possível aliar os dois pontos em uma espécie de atemporalidade ou uma linha do tempo e que ainda há os mais carismáticos que dizem que um não vive sem o outro.

Digo que, no universo do vinho, isso seja sinônimo de novas experiências sensoriais! Ah e isso definitivamente entrou nas minhas perspectivas de degustação! E ouso dizer que isso impulsione não apenas as nossas experiências, mas o nosso campo de conhecimento, de cultura e, sobretudo um excelente exercício sensorial, a gente pode adquirir a capacidade de analisar os vinhos, os novos vinhos e ter grandes momentos. A tradição e o contemporâneo podem nos proporcionar sim grandes momentos, grandes experiências, grandes e surpreendentes rótulos que poderá evitar, entre outros males, a tal e temível zona de conforto, que nos ameaça com aqueles vinhos de sempre, embora especiais.

Eu sou notoriamente um fã incondicional dos vinhos do Alentejo, em Portugal, não há como não se render a personalidade marcante e poderosa de seus vinhos que ganhou o mundo com os seus vinhos de tipicidade e de apelo regionalista. E isso se conquista com tradição, com respeito a cultura de seu povo, da vinificação e sobretudo do respeito ao seu inigualável terroir.

Quando eu descobri os vinhos de um produtor chamado “Cortes de Cima” eu me rendi por completo, uma espécie de arrebatamento. E tudo começou com um rótulo em especial que fez abrir o olho para o novo Alentejo, sem deixar de olhar para a estrada que foi pavimentada no passado daquelas terras. E o vinho que degustei e gostei veio, claro, da minha querida Alentejo, e se chama Chaminé, com um blend composto pelas castas Aragonez, a Tempranillo no Alentejo (35%), Syrah (35%), Touriga Nacional (15%) e Trincadeira (15%) da safra 2013.

Eu não quero ainda descrever essa verdadeira poesia líquida, claro que o farei em breve, mas não há como negligenciar esse corte interessante com a Syrah, casta francesa, como “intrusa” nesse blend, o que me parece ser uma casta bem apreciada pela Cortes de Cima que tem no seu mais complexo rótulo, o “Incógnito”, essa casta como protagonista. Só nesse quesito podemos identificar um arrojo contemporâneo! Mas não podemos esquecer as tradições e dizer, como curiosidade, o motivo pelo qual o vinho, o rótulo se chama “Chaminé”. “Chaminé” ao nome de uma das parcelas da vinha, onde eram originalmente produzidas as uvas usadas neste vinho: “Chaminé de Gião”. E agora, em respeito ao Alentejo, falemos de sua grande história.

Alentejo

A história do Alentejo anda de mãos dadas com a história de Portugal e da Península Ibérica, ex-hispânicos, assim como, pertencentes a época de civilizações romana, árabe e cristãs. Em muitos lugares no Alentejo encontrar provas da civilização fenícia existente à 3.000 anos atrás. Fenícios, celtas, romanos, todos eles deixaram um importante legado da era antes de Cristo, na região que é hoje o Alentejo. Uma terra onde a cultura e tradição caminham lado a lado. Os romanos deixaram nesta região o legado mais importante, escritos, mosaicos, cidades em ruínas, monumentos, tudo deixado pelos romanos, mas não devemos esquecer as civilizações mais antigas que passaram pela zona deixando legados como os monumentos megalíticos, como Antas.

Alentejo

Após os romanos e os visigodos, os árabes, chegaram a esta terra com o cheiro a jasmim, antes da reconquista, que chegaram com a construção de inúmeros castelos, alguns deles construídos sobre mesquitas muçulmanas e a construção de muralhas para proteger a cidade e as cidades que foram crescendo. Desde essa altura até hoje, o Alentejo tem continuado o seu crescimento, um crescimento baseada na agricultura, pecuária, pesca, indústria, como a cortiça e desde o último século até aos nossos dias, com o turismo com uma ampla oferta de turismo rural. Situado na zona sul de Portugal, o Alentejo é uma região essencialmente plana, com alguns acidentes de relevo, não muito elevados, mas que o influenciam de forma marcante. Embora seja caracterizada por condições climáticas mediterrânicas, apresenta nessas elevações, microclimas que proporcionam condições ideais ao plantio da vinha e que conferem qualidade às massas vínicas.

As temperaturas médias do ano variam de 15º a 17,5º, observando-se igualmente a existência de grandes amplitudes térmicas e a ocorrência de verões extremamente quentes e secos. Mas, graças aos raios do sol, a maturação das uvas, principalmente nos meses que antecedem a vindima, sofre um acúmulo perfeito dos açúcares e materiais corantes na película dos bagos, resultando em vinhos equilibrados e com boa estrutura. Os solos caracterizam-se pela sua diversidade, variando entre os graníticos de "Portalegre", os derivados de calcários cristalinos de "Borba", os mediterrânicos pardos e vermelhos de "Évora", "Granja/Amarelega", "Moura", "Redondo", "Reguengos" e "Vidigueira". Todas estas constituem as 8 sub-regiões da DOC "Alentejo".

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta aquele típico vermelho rubi intenso, poderoso, com brilhantes reflexos violáceos dos tintos alentejanos com uma boa concentração de lágrimas finas que desenham as paredes do copo.

No nariz explode em aromas frutados, de frutas vermelhas tais como framboesa, cereja, ameixa. Aromas frescos de frutas e muito perfumado, talvez um agradável toque floral que entrega um vinho fresco.

Na boca é redondo, macio, mas marcante e expressivo, entregando versatilidade, a fruta se reproduz de forma vibrante no paladar também. Os taninos presentes, mas delicados e em pleno equilíbrio com uma correta acidez. Ótimo final e persistência.

Ah o Alentejo, suas terras tão conhecidas, seu terroir expostos nos mais diversos rótulos que, em um apelo regionalista, se tornou globalizado, nas mesas de todos os enófilos espalhados por todo o canto deste mundo. E mesmo que tenham austeridade, tradição exacerbada temos o Chaminé que nos traz a perspectiva de um Alentejo moderno, arrojado, que ainda tem uma estrada de grandes perspectivas pela frente. Um vinho saboroso, mas intenso, fresco, mas de personalidade, tradicional, mas moderno. Um viva ao Alentejo! Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Cortes de Cima:

Em 1988, um casal americano-dinamarquês partiu num veleiro para encontrar um lugar onde constituir uma família e plantar uma vinha. Chegaram ao Alentejo, e numa terra de castas brancas plantaram variedades tintas. E assim começa a história dos vinhos Cortes de Cima.

“Gazelle la Goelette” era o nome do veleiro que trouxera Hans e Carrie Jorgensen numa longa viagem desde o outro lado do mundo, pela Baía da Biscaia e em redor da Finisterra.

Em 1988 Hans e Carrie atracaram em Portugal e, no coração do Alentejo, descobriram “Cortes de Cima”. Era apenas terra improdutiva e algumas construções abandonadas, mas lembravam Carrie da sua terra natal: a Califórnia. Hans, que nascera na Dinamarca, ficou simplesmente encantado pelo sol mediterrânico.

Era o lugar perfeito para assentar, formar uma família e plantar uma vinha. Vidigueira era a terra das castas brancas, mas eles acharam que era o clima ideal para a Syrah, uma variedade do Ródano. Mas a Syrah não era aprovada pelas regras da Denominação de Origem. Hans e Carrie não quiseram saber - eles tinham um sonho.

Começaram a trabalhar o campo, e Hans, um engenheiro, construiu uma barragem. Enquanto a vinha crescia, plantaram girassóis, tomates e melões para pagar as contas. As crianças nasceram – Thomas em 1991 e Anna em 1993.

A história continua com Anna que assume o projeto, a sua visão de futuro compreende valores como a sustentabilidade, inovação, qualidade e respeito pela natureza envolvente, em que a vinha deverá ser a protagonista dos vinhos. Toda a propriedade está em conversão para o modo de produção biológico.

Mais informações acesse:

https://cortesdecima.com/


Degustado em: 2017