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segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Gazzerosse Nero D'Avola 2020

 



Vinho: Gazzerosse

Safra: 2020

Casta: Nero D’Avola

Região: Mazara del Vallo, Sicília

País: Itália

Produtor: Cantina Gazzerosse

Adquirido: Site Sonoma Market

Valor: R$ 77,90

Teor Alcoólico: 13,5%

Estágio: 6 meses em barricas de carvalho.

 

Análise:

Visual: apresenta uma cor rubi intensa, fechada, intransponível, com halos granada. Tem lágrimas finas, lentas e em profusão.

Nariz: aromas sedutores de frutas vermelhas e pretas maduras, complementados por sutis notas de especiarias, como cravo e pimenta preta, além de notas discretas de carvalho que entregam baunilha. As notas herbáceas também são percebidas. A rusticidade tem destaque neste complexo aroma.

Boca: se revela expressivo, destacando-se pela sua estrutura e personalidade, mas, também traz maciez, elegância. A fruta é replicada no paladar, como no aspecto olfativo, os taninos marcados, presentes e a acidez com alguma vivacidade, apesar dos seus quatro anos de garrafa. Tem uma pegada amadeirada mais evidente, porém bem integrada, com final longo e cheio.

 

Produtor:

https://www.gazzerosse.it/


terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Trisole Nero d'Avola 2019

 

Acho que tenho sido, nos meus últimos textos, neste humilde e reles blog, um tanto quanto repetitivo, quase que redundante. Mas eu não posso, na realidade não consigo negligenciar o fato de degustar castas pouco conhecidas e/ou badaladas, aquelas que não estão na boca, ou melhor, na taça de todos os bons enófilos.

Regiões especiais, terroirs únicos trazem boas castas, vinhos de grande tipicidade, são quesitos que nos arrebata, nos entusiasma. Talvez esses sejam bons argumentos para se falar sempre e sempre sobre isso. Sim essa é a palavra: Entusiasmo!

E a casta que degustarei hoje não é exatamente uma novidade, mas ela não é exatamente a síntese do glamour de algumas cepas espalhadas por aí. Eu já a degustei em um momento de enófila vida, porém já tem algum tempo, põe tempo nisso.

Mas lembro do quão interessante e pouco exótico foi degusta-la. Ela veio da Itália, ela veio de um pequeno vilarejo chamado Avola. Acredito que já tenha dado a resposta da casta, mas talvez não, porque ela ainda não é tão conhecida por aqui no Brasil.

Por incrível que pareça até mesmo neste pequeno local onde é oriunda não gozava de tanta popularidade, mas vem ganhando alguma repercussão por lá e isso está se “alastrando” pelo mundo, reforçando a sua exportação para alguns países.

Para alguns especialistas em vinhos a Nero d’Avola, a protagonista de hoje, é considerada como uma alternativa para os vinhos frutados e estruturados como a Cabernet Sauvignon, por exemplo, e vem se destacando, ganhando espaço na carta de restaurantes, nos e-commerces e gôndolas de supermercados pelo mundo.

Porém está além de uma mera comparação com a rainha das uvas tintas, mas uma ótima opção de apelo relevante regional e que vem de um dos grandes centros da vitivinícola mundial, a Itália.

Sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da Sícilia, da pequena aldeia de Avola e se chama Trisole da casta Nero d’Avola e a safra é de 2019. Para não perder o costume vamos de história! Vamos de Sicília e também de Nero d’Avola.

Sicília

A Sicília é a maior ilha do Mediterrâneo. É uma ilha vulcânica repleta de praias lindas, paisagens espetaculares e uma arquitetura interessante. Fruto da mistura de civilizações que habitaram a ilha e da cálida hospitalidade de seu povo. A Passagem de diversos povos através durante séculos, a Sicília tornou-se um entreposto importante no Mediterrâneo. 

É um destino desejado para todo viajante. Mas a Sicília não é apenas conhecida pela exuberante natureza, mas também se destaca quando o assunto é vinho. E isso teve influências na sua cultura e, claro, no seu vinho.


Foram os fenícios que iniciaram o cultivo da videira e a elaboração do vinho na Sicilia, porém foram os gregos que introduziram as cepas de melhor qualidade. Alguns historiadores relatam que antigamente na região de Siracusa (província siciliana), havia um vinho chamado Pollios, em homenagem a Pollis de Agro (que foi um ditador nessa região), que se tornou famoso na Sicilia no século VIII-VII a.C..

Esse vinho era um varietal de Byblia, uva originária da área mais oriental do Mediterrâneo, dos montes de Biblini na Trácia (antiga região macedônica que hoje é dividida entre a Grécia, Turquia e Bulgária). O historiador Saverio Landolina Nava (1743-1814) relatou que o Moscato de Siracusa deriva desse vinho de Biblini, sendo classificado como o vinho mais antigo da Itália.

Já o vinho doce Malvasia delle Lipari (Denominação de Origem do norte da Sicilia) parece ter sua origem na época da colonização grega na Sicilia. Lipari é uma cidade que pertence ao arquipélago das ilhas Eólicas.

Durante o Império Romano, o também vinho doce Mamertino (outra Denominação de Origem) produzido no norte da Sicilia, era muito apreciado por muitos, inclusive por Júlio César e era exportado para Roma e África.

A viticultura na região sofreu uma grande redução com a queda do Império Romano, porém durante a dominação árabe foi introduzida a variedade de uva Moscatel de Alexandria na ilha Pantelleria, que mantém ainda hoje ali o nome árabe Zibibbo. Os árabes introduziram na Sicília suas técnicas de viticultura e também o processo de passificação das uvas.

No século XVIII a indústria enológica na Sicilia teve um grande avanço e começou a produzir o vinho de Marsala que conta atualmente com uma Denominação de Origem Protegida. Esse vinho se tornou conhecidíssimo no resto da Europa graças a um navegante e comerciante inglês chamado John Woodhouse, que ancorou sua embarcação no porto de Marsala para se proteger de uma tempestade.

Foi quando provou o vinho local e se apaixonou, resolvendo levar alguns barris para a Inglaterra. O vinho de Marsala fez tanto sucesso por lá que Woodhouse começou a investir na Sicilia comprando vinhedos e construindo vinícolas para produzir vinho de Marsala, se tornando um empresário do setor vitivinícola de grande êxito.

Como na maioria dos vinhedos da Europa, a Phylloxera também atingiu a ilha Salinas, no norte da Sicilia, provocando uma devastação dos vinhedos que foram se recuperando gradativamente com a plantação de novos vinhedos e a criação em 1973 da Denominação de Origem Malvasia delle Lipari.

A região possui um clima e um solo que favorecem muito a viticultura e a elaboração de vinhos, sendo uma das principais atividades econômicas da ilha italiana. A topografia é variada, formada por colinas, montanhas, planícies e o majestoso vulcão Etna. Encontramos vinhedos por toda parte, que vão das colinas até a parte costeira.

Nas colinas os vinhedos são cultivados em terrazas que chegam inclusive a uma altitude de 1.300 metros, o que as videiras adoram, pois proporciona muita luminosidade e uma ótima drenagem. Encontramos vinhedos também na parte costeira da ilha.

O clima na Sicília é mediterrâneo, mais quente na área mais costeira e no interior da ilha é temperado e úmido, podendo ás vezes apresentar temperaturas bem elevadas por influência de ventos procedentes da África. Também possui uma quantidade grande de microclimas por causa da influência do mar. As chuvas são mais comuns durante o inverno com cerca de 600mm anuais. Os vinhedos sicilianos necessitam, portanto serem regados.

O solo na ilha é muito variado e rico em nutrientes em razão das erupções vulcânicas do Etna. Encontramos solos arenosos, argilosos e de composição calcária. Em uma parte da ilha o solo é constituído de gneiss, que é um tipo de rocha metamórfica composta de granito. Em quase todas as localidades da Sicília se elaboram vinhos, e essas regiões vitivinícolas contam com várias DOC.

As principais castas tintas produzidas na Sicília são: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Syrah, Nerello Mascalese, Nerello Capuccio, Frappato, Sangiovese, Nero d’Avola e Pinot Nero. Já as brancas destacam-se: Grillo, Catarrato, Carricante, Inzolia, Moscato di Panteleria, Grecanico, Trebbiano Toscano, Malvasia, Chardonnay e Sauvignon Blanc.

Nero d’Avola: “A uva negra de Avola”

A uva tinta Nero d’Avola é a “uva negra da cidade de Avola”, região italiana localizada na costa sudeste da Sicília, mais precisamente na Província de Siracusa. Os vinhos aos qual essa variedade de uva dá origem são encorpados e possuem coloração escura. A Nero d’Avola é utilizada com grande frequência em blend com as uvas como Cabernet Sauvignon, Syrah, Frappata e Merlot, garantindo maior complexidade de aromas e paladar aos vinhos.

Cidade de Avola

Porém há quem diga que exista uma incerteza quanto a origem desta casta, apenas a existe a certeza de que essa tinta é uma uva indígena, ou seja, autóctone da Itália. Por também ser chamada de Calabrese, alguns estudiosos acreditam que ela tenha nascido na Calábria, bem na ponta da bota.

Outros defendem que a Nero d’Avola é realmente siciliana. Além de sua terra natal, essa casta tem sido cultivada com sucesso em outros países produtores, como os Estados Unidos, a Austrália, a Turquia e a África do Sul, mas a região de maior expressão dessa casta é, sem dúvidas, na região da Sicília, província responsável pela produção de premiados e elogiados vinhos com estilo intenso e frutado, que resguardam o caráter de vinhos tipicamente italianos.

Na produção siciliana, a uva Nero d’Avola costuma aparecer em dois estilos vitivinícolas diferentes. No primeiro, os vinhos apresentam caráter rico e sabores que referenciam café e chocolate, provenientes do envelhecimento prolongado em barris de carvalho. Já o segundo estilo, mais elegante, sugere sabores como frutas vermelhas e ervas, uma vez que têm curto período de envelhecimento.

Conhecida também como uva Calabrese, a fruta apresenta elevados níveis de taninos e acentuada acidez, acompanhados de aromas intensos que fazem da casta uma variedade interessante e intrigante. Os vinhos Nero d’Avola têm teor alcoólico que varia entre 13,5 e 14,5%.

Esse tipo de uva dá origem a vinhos que acompanham muito bem pratos com o uso de especiarias, como cascas de laranja, folhas de louro e sálvia. Os exemplares que possuem a Nero d’Avola em sua composição podem apresentar algumas características semelhantes aos vinhos produzidos com a uva Syrah, tanto pela tonalidade escura quanto pelo excelente equilíbrio.

E agora finalmente o vinho!

Na taça expressa um lindo e reluzente vermelho rubi com reflexos violáceos, com lágrimas finas, lentas e em plena profusão que desejam o bojo do copo.

No nariz explode em aromas de frutas vermelhas bem frescas, com destaque para amora, cerejas, framboesas e até morango, com rústicas notas de tabaco, couro e um discreto floral que traz a sensação de frescor.

Na boca é seco, tem médio corpo, mas é macio e saboroso que preenche a boca, com um bom volume, trazendo também o protagonismo da fruta vermelha como no aspecto olfativo. O fundo amadeirado se faz presente, mas muito bem integrado ao conjunto do vinho, com taninos presentes, mas sedosos, uma acidez gostosa, instigante e um final persistente, longo.

Mesmo que o vinho ganhe contornos globais ele sempre deve levar consigo a tipicidade de sua terra, o apelo regionalista, o tão propagado e cultuado terroir. E esse exemplar da Sicília entregue, com fidelidade, de forma genuína, as características dessa ilha ao sul da Itália. Um vinho versátil, que traz as notas frutadas, frescas, mas que entrega também a estrutura, a personalidade. Tem 13% de teor alcoólico.

Harmonizando com churrasco: Surpreendente!


Sobre a Cantine Birgi:

A Cantina Sociale Birgi está localizada no coração de um cenário natural de beleza opressora. Este terreno possui uma tradição vitivinícola milenar que foi retomada, valorizada, renovada e reapresentada pela Cooperativa Vitivinícola Birgi, nascida em 1960 pela vontade de produtores apaixonados pela sua terra e orgulhosos das suas origens.

O ano de 1970 foi importante para Cantine Birgi: vendeu os primeiros vinhos a granel para consumo direto, sendo que em 1975 a produção da primeira garrafa, os primeiros vinhos brancos estagiando, pela primeira vez, nas barricas de carvalho.

Em 1990 novos processos e novas produções fizeram com que começassem as primeiras fermentações de mostos limpos. Nos primeiros anos do novo milênio, em 2004, as garantias que as vinícolas Birgi devem oferecer aos seus clientes aumentaram, os processos de controle de qualidade para todas as vinhas foram iniciados.

Em 2013, novos horizontes para a fase de produção surgiram, com o início da viticultura de precisão e novos processos de controlo da qualidade das vinhas e das uvas. A tecnologia a serviço da vinificação adentravam na realidade da Cantina Birgi.

Hoje em dia a adega produz diferentes tipos de vinho para ir ao encontro das necessidades do consumidor: desde vinhos espumantes, a vinhos tranquilos, aos vinhos de sobremesa e meditação, à produção biológica.

Mais informações acesse:

https://www.cantinebirgi.it/en/marsala-wine/

Referências:

“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2016/04/sicilia/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/290-sicilia-o-continente-do-vinho

“Vinhos e Castelos”: https://vinhosecastelos.com/vinhos-da-sicilia-italia/

“Revista Sociedade da Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2021/01/conheca-a-uva-italiana-nero-davola/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/nero-d-avola

 

 












sábado, 6 de novembro de 2021

Trisole Nero d'Avola e Syrah 2019

 

É possível aliar em um vinho estrutura e maciez? Pode parecer difícil um ser aveludado e estruturado ao mesmo tempo, mas não com os vinhos oriundos da região italiana da Sicília. Não sou um profundo conhecedor do terroir siciliano, contudo lendo um pouco da história da região, que é demasiadamente ensolarada, percebe-se que as uvas amadurecem bem, entregando vinhos voluptuosos e frutados em uma simbiose invejável.

E parece que um blend produzido por lá entrega essa proposta tão arrojada e especial: Nero d’Avola, casta autóctone daquele país e a francesa Syrah que, de tão importante, se adapta, dada, claro, as devidas particularidades de cada terroir, se adapta com facilidade em qualquer lugar no mundo.

A Syrah traz à intensidade, o corpo, as especiarias tão típicas da cepa, mas sem ofuscar as características marcantes do aroma da Nero d’Avola, além, é claro das notas frutadas desta casta, tão popular e tradicional da Itália, mas que não é tão conhecida globalmente.

Mas mesmo com essa sinergia, desse típico blend da região da Sicília, você ainda consegue identificar aquele contraste em aromas e sabores fazendo com que os rótulos com esse corte ganhem em complexidade e versatilidade, pois são frutados e macios, fáceis de degustar mesmo.

Falo desse blend, pois já o degustei em alguns eventos de degustação e pude testemunhar ou melhor sentir em seu aroma e paladar o que textualizei aqui e agora. E, mais uma vez, poderei ser impactado por essa experiência novamente, agora com um novo produtor, muito importante na região da Sicília e de toda a Itália: Cantine Birgi. Um grande produtor, um belo rótulo, um belo blend, casamentos perfeitos, harmonizações perfeitas para um dia de feriado e descanso.

E convenhamos essa simbiose, essa proximidade do brasileiro com os vinhos sicilianos tem muito ver devido ao clima dessa região. Banhada pelo mar, uma ilha mediterrânea, ensolarada, repleta de praias, um povo hospitaleiro e altivo, enfim, a relação não é apenas com o vinho, mas a cultura e a natureza também trazem relações com o povo brasileiro e essa natureza influencia nos rótulos que chegam à mesa de todos nós, brasileiros.

Bem sem mais delongas vamos ao vinho que degustei e gostei que veio evidentemente da Sicília, na Itália e se chama Trisole com o típico corte Nero d’Avola e Syrah da safra 2019. E já que falamos algo sobre as castas que protagonizam esse vinho, vamos tecer mais comentários detalhados da Nero d’Avola ainda um pouco distante de nossas terras e mesas, bem como da ensolarada Sicília que merece aqui algumas linhas.

Sicília

A Sicília é a maior ilha do Mediterrâneo. É uma ilha vulcânica repleta de praias lindas, paisagens espetaculares e uma arquitetura interessante. Fruto da mistura de civilizações que habitaram a ilha e da cálida hospitalidade de seu povo. A Passagem de diversos povos através durante séculos, a Sicília tornou-se um entreposto importante no Mediterrâneo. É um destino desejado para todo viajante. Mas a Sicília não é apenas conhecida pela exuberante natureza, mas também se destaca quando o assunto é vinho. E isso teve influências na sua cultura e, claro, no seu vinho.


Foram os fenícios que iniciaram o cultivo da videira e a elaboração do vinho na Sicilia, porém foram os gregos que introduziram as cepas de melhor qualidade. Alguns historiadores relatam que antigamente na região de Siracusa (província siciliana), havia um vinho chamado Pollios, em homenagem a Pollis de Agro (que foi um ditador nessa região), que se tornou famoso na Sicilia no século VIII-VII a.C..

Esse vinho era um varietal de Byblia, uva originária da área mais oriental do Mediterrâneo, dos montes de Biblini na Trácia (antiga região macedônica que hoje é dividida entre a Grécia, Turquia e Bulgária). O historiador Saverio Landolina Nava (1743-1814) relatou que o Moscato de Siracusa deriva desse vinho de Biblini, sendo classificado como o vinho mais antigo da Itália.

Já o vinho doce Malvasia delle Lipari (Denominação de Origem do norte da Sicilia) parece ter sua origem na época da colonização grega na Sicilia. Lipari é uma cidade que pertence ao arquipélago das ilhas Eólicas.

Durante o Império Romano, o também vinho doce Mamertino (outra Denominação de Origem) produzido no norte da Sicilia, era muito apreciado por muitos, inclusive por Júlio César e era exportado para Roma e África.

A viticultura na região sofreu uma grande redução com a queda do Império Romano, porém durante a dominação árabe foi introduzida a variedade de uva Moscatel de Alexandria na ilha Pantelleria, que mantém ainda hoje ali o nome árabe Zibibbo. Os árabes introduziram na Sicília suas técnicas de viticultura e também o processo de passificação das uvas.

No século XVIII a indústria enológica na Sicilia teve um grande avanço e começou a produzir o vinho de Marsala que conta atualmente com uma Denominação de Origem Protegida. Esse vinho se tornou conhecidíssimo no resto da Europa graças a um navegante e comerciante inglês chamado John Woodhouse, que ancorou sua embarcação no porto de Marsala para se proteger de uma tempestade. Foi quando provou o vinho local e se apaixonou, resolvendo levar alguns barris para a Inglaterra. O vinho de Marsala fez tanto sucesso por lá que Woodhouse começou a investir na Sicilia comprando vinhedos e construindo vinícolas para produzir vinho de Marsala, se tornando um empresário do setor vitivinícola de grande êxito.

Como na maioria dos vinhedos da Europa, a Phylloxera também atingiu a ilha Salinas, no norte da Sicilia, provocando uma devastação dos vinhedos que foram se recuperando gradativamente com a plantação de novos vinhedos e a criação em 1973 da Denominação de Origem Malvasia delle Lipari.

A região possui um clima e um solo que favorecem muito a viticultura e a elaboração de vinhos, sendo uma das principais atividades econômicas da ilha italiana. A topografia é variada, formada por colinas, montanhas, planícies e o majestoso vulcão Etna. Encontramos vinhedos por toda parte, que vão das colinas até a parte costeira.

Nas colinas os vinhedos são cultivados em terrazas que chegam inclusive a uma altitude de 1.300 metros, o que as videiras adoram, pois proporciona muita luminosidade e uma ótima drenagem. Encontramos vinhedos também na parte costeira da ilha.

O clima na Sicília é mediterrâneo, mais quente na área mais costeira e no interior da ilha é temperado e úmido, podendo ás vezes apresentar temperaturas bem elevadas por influência de ventos procedentes da África. Também possui uma quantidade grande de microclimas por causa da influência do mar. As chuvas são mais comuns durante o inverno com cerca de 600mm anuais. Os vinhedos sicilianos necessitam, portanto serem regados.

O solo na ilha é muito variado e rico em nutrientes em razão das erupções vulcânicas do Etna. Encontramos solos arenosos, argilosos e de composição calcária. Em uma parte da ilha o solo é constituído de gneiss, que é um tipo de rocha metamórfica composta de granito. Em quase todas as localidades da Sicília se elaboram vinhos, e essas regiões vitivinícolas contam com várias DOC.

Sub-regiões da Sicília

As principais castas tintas produzidas na Sicília são: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Syrah, Nerello Mascalese, Nerello Capuccio, Frappato, Sangiovese, Nero d’Avola e Pinot Nero. Já as brancas destacam-se: Grillo, Catarrato, Carricante, Inzolia, Moscato di Panteleria, Grecanico, Trebbiano Toscano, Malvasia, Chardonnay e Sauvignon Blanc.

Nero d’Avola: “A uva negra de Avola”

A uva tinta Nero d’Avola é a “uva negra da cidade de Avola”, região italiana localizada na costa sudeste da Sicília, mais precisamente na Província de Siracusa. Os vinhos aos qual essa variedade de uva dá origem são encorpados e possuem coloração escura. A Nero D’Avola é utilizada com grande frequência em blend com as uvas como Cabernet Sauvignon, Syrah, Frappata e Merlot, garantindo maior complexidade de aromas e paladar aos vinhos.

Avola

Porém há quem diga que exista uma incerteza quanto a origem desta casta, apenas a existe a certeza de que essa tinta é uma uva indígena, ou seja, autóctone da Itália. Por também ser chamada de Calabrese, alguns estudiosos acreditam que ela tenha nascido na Calábria, bem na ponta da bota.

Outros defendem que a Nero d’Avola é realmente siciliana. Além de sua terra natal, essa casta tem sido cultivada com sucesso em outros países produtores, como os Estados Unidos, a Austrália, a Turquia e a África do Sul, mas a região de maior expressão dessa casta é, sem dúvidas, na região da Sicília, província responsável pela produção de premiados e elogiados vinhos com estilo intenso e frutado, que resguardam o caráter de vinhos tipicamente italianos.

Na produção siciliana, a uva Nero d’Avola costuma aparecer em dois estilos vitivinícolas diferentes. No primeiro, os vinhos apresentam caráter rico e sabores que referenciam café e chocolate, provenientes do envelhecimento prolongado em barris de carvalho. Já o segundo estilo, mais elegante, sugere sabores como frutas vermelhas e ervas, uma vez que têm curto período de envelhecimento.

Conhecida também como uva Calabrese, a fruta apresenta elevados níveis de taninos e acentuada acidez, acompanhados de aromas intensos que fazem da casta uma variedade interessante e intrigante. Os vinhos Nero d’Avola têm teor alcoólico que varia entre 13,5 e 14,5%.

Esse tipo de uva dá origem a vinhos que acompanham muito bem pratos com o uso de especiarias, como cascas de laranja, folhas de louro e sálvia. Os exemplares que possuem a Nero d’Avola em sua composição podem apresentar algumas características semelhantes aos vinhos produzidos com a uva Syrah, tanto pela tonalidade escura quanto pelo excelente equilíbrio.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um lindo vermelho rubi com reflexos violáceos que protagoniza um reluzente brilho, com lágrimas finas, abundantes e rápidas.

No nariz um ataque de aromas frutados, aromas de frutas vermelhas em compota, onde se destacam a framboesa, a cereja e a groselha, com um agradável toque de especiarias.

Na boca é razoavelmente seco, frutado graças a Nero d’Avola, com uma instigante picância, toque da pimenta típica da Syrah, sendo ainda redondo, fresco, jovial, saboroso e harmonioso. Os taninos são presentes, mas aveludados, domados, acidez equilibrada, álcool sobressai, mas não demostra desequilíbrio e um final curto.

Mesmo que o vinho ganhe contornos globais ele sempre deve levar consigo a tipicidade de sua terra, o apelo regionalista, o tão propagado e cultuado terroir. E esse exemplar da Sicília entregue, com fidelidade, de forma genuína, as características dessa ilha ao sul da Itália. Um vinho versátil, que traz as notas frutadas, frescas, mas que entrega também a estrutura, a personalidade. A casta autóctone combinando, em um casamento explosivo, com uma casta francesa expressando o máximo da Itália. Um vinho solar, literalmente falando, vivaz, marcante e saboroso. Tem 13% de teor alcoólico muito bem integrados ao conjunto do vinho.

Sobre a Cantine Birgi:

A Cantina Sociale Birgi está localizada no coração de um cenário natural de beleza opressora. Este terreno possui uma tradição vitivinícola milenar que foi retomada, valorizada, renovada e reapresentada pela Cooperativa Vitivinícola Birgi, nascida em 1960 pela vontade de produtores apaixonados pela sua terra e orgulhosos das suas origens.

O ano de 1970 foi importante para Cantine Birgi: vendeu os primeiros vinhos a granel para consumo direto, sendo que em 1975 a produção da primeira garrafa, os primeiros vinhos brancos estagiando, pela primeira vez, nas barricas de carvalho.

Em 1990 novos processos e novas produções fizeram com que começassem as primeiras fermentações de mostos limpos. Nos primeiros anos do novo milênio, em 2004, as garantias que as vinícolas Birgi devem oferecer aos seus clientes aumentaram, os processos de controle de qualidade para todas as vinhas foram iniciados.

Em 2013, novos horizontes para a fase de produção surgiram, com o início da viticultura de precisão e novos processos de controlo da qualidade das vinhas e das uvas. A tecnologia a serviço da vinificação adentravam na realidade da Cantina Birgi.

Hoje em dia a adega produz diferentes tipos de vinho para ir ao encontro das necessidades do consumidor: desde vinhos espumantes, a vinhos tranquilos, aos vinhos de sobremesa e meditação, à produção biológica.

Mais informações acesse:

https://www.cantinebirgi.it/en/marsala-wine/

Referências:

“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2016/04/sicilia/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/290-sicilia-o-continente-do-vinho

“Vinhos e Castelos”: https://vinhosecastelos.com/vinhos-da-sicilia-italia/

“Revista Sociedade da Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2021/01/conheca-a-uva-italiana-nero-davola/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/nero-d-avola

 

 

 

 

 

 

 


 











quarta-feira, 22 de abril de 2020

Coppiere Nero d'avola 2018


Mais um vinho da série “Vinhos baratos que degustei e gostei”! A busca, o garimpo, bem como a “coragem” de degustar vinhos baratos pode trazer o risco da decepção, daquela sensação de que você esperava um pouco mais do rótulo. Mas há quem diga que os emblemáticos e caros rótulos também trazem essa máxima. O fato é que não é só grife e fama da vinícola que confere qualidade ao vinho, esse não é tão somente o fator que pode fazer, ou não, de um vinho especial. Sempre costumo dizer que a questão orgânica influencia e muito na decisão, não é à toa que encontramos algumas análises tão distintas de um mesmo rótulo de vinho, elogiando ou não. Alguém está errado? Não! São reações e percepções diversas que temos do vinho. Por isso que, antes de comparar os rótulos que degusta se informe das propostas que estes oferecem, talvez não sejam dignos de comparação por conta da proposta. Enfim, o rótulo que apresentarei, além de ter sido de um custo x benefício extremamente atrativo (estava, pasmem, na faixa dos R$ 20), me trouxe a novidade da casta que eu nunca havia degustado: Nero d’ Avola! Então, antes de apresentar o meu rótulo, vou apresentar a história da casta tão popular na Itália, mas que, embora encontremos alguns rótulos aqui no Brasil, não é tão popular em nossas terras.

A Nero d’Avola:

A uva tinta Nero D’Avola é a “uva negra da cidade de Avola”, região italiana localizada na costa sudeste da Sicília. Essa uva, também conhecida como Calabrese, é a variedade tinta mais plantada na Sicília. E não é de hoje. Essa é uma história de séculos.


As áreas de cultivo da uva Nero D’Avola podem ser encontradas na Austrália, na Califórnia e nos Estados Unidos, importante região vitivinicola do Novo Mundo, mas a região de maior expressão dessa casta é, sem dúvidas, na região da Sicília, província responsável pela produção de premiados e elogiados vinhos. Mas há uma polêmica envolvendo a origem da uva. Há quem afirme que ela nasceu na Calábria. Há quem sustente que o nome Calabrese não tem essa ligação, tendo derivado, na verdade, da palavra Calavrisi ou Calaurisi, usada para identificar os habitantes de Avola. Há quem afirme, ainda, que ela surgiu na Mesopotâmia. O fato é que Nero d’Avola é considerada uma uva nativa da Itália. Nero d’Avola é intensamente aromática. Quando jovem, o vinho produzido com a Nero d’Avola traz aromas de ameixa, frutas vermelhas, pimenta e cravo. Com o tempo em carvalho, contudo, Nero d’Avola adquire também sabores de chocolate e acentuado aroma de framboesa. Com cor profunda, acentuada acidez, alto teor alcoólico e muitos taninos, esse é um vinho que envelhece bem. Fontes: Tintos & Tantos (http://www.tintosetantos.com/index.php/escolhendo/cepas/670-nero-d-avola) e Mistral (https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/nero-d-avola).

O Vinho que degustei e gostei foi o Coppiere da casta 100% Nero d’Avola, da safra 2018, da região da Sicília, na Itália.

Vamos ao vinho.

Na taça, conforme já esclareceu o histórico da cepa, mostra um vermelho rubi escuro, mas com discretos traços violáceos em seu entorno, com lágrimas finas de média intensidade e que demoravam um pouco a se dissipar das paredes do copo.

No nariz traz intensos aromas de frutas vermelhas, como ameixa, cereja, e toques agradáveis de especiarias, como pimenta e cravo.

Na boca é seco, equilibrado, elegante, com notas frutadas intensas, sem ser enjoativo, com boa acidez, taninos delicados e sedosos, com um final médio, um retrogosto, diria, frutado.

Para a minha primeira experiência com a Nero d’Avola foi extremamente proveitosa e pretendo sim, degustar mais vinhos com essa casta nos seus mais variados estágios de proposta, dada a sua versatilidade. E a proposta deste rótulo da Coppiere é jovem, direto, mas que mostra a personalidade desta uva autóctone da Itália. Apenas para registro, ao desarrolhá-lo, percebi o álcool, no auge dos seus 13%, um tanto quanto alto, em desequilíbrio com o conjunto do vinho, mas, respirando na taça, logo se equilibrou sendo muito fácil de degustar e extremamente versátil também nas harmonizações. É possível fazê-lo com carnes magras e macarrão, a minha opção na degustação.  

Sobre a Schenk Wineries:

As vinícolas italianas de Schenk são de longe um dos produtores de vinho mais importantes a nível nacional. Fundada em 1952 em Reggio Emilia e transferida em 1960 para Ora, no sul do Tirol, a sede da primeira vinícola está intimamente ligada à área de produção. Este foi o primeiro passo do projeto "Vinícolas Italianas". Através deste projeto, a empresa, anteriormente dedicada ao engarrafamento de vinho a granel, torna-se produtora antes de tudo com o desenvolvimento de “Marcas da terra”, graças à colaboração com pequenos produtores de alta qualidade localizados nessas regiões, historicamente mais vocacionados para produção de vinho como Tirol do Sul, Toscana, Veneto, Sicília, Piemonte, Apúlia e Abruzzo. Em segundo lugar, através da aquisição das vinícolas “Bacio della Luna” em Vidor - Valdobbiadene (Treviso) e “Lunadoro” em Valiano di Montepulciano (Siena). Um caminho evolutivo começou há muitos anos, com o objetivo de fortalecer os laços com a terra e as tradições. Esses valores, juntamente com as fortes oportunidades oferecidas pelo progresso tecnológico, permitem que as vinícolas italianas da Schenk trabalhem de maneira sustentável.

Mais informações acesse:

http://www.schenkitalia.it/

Vinho degustado em 2019.