Mais
um vinho da série “gratas novidades sensoriais”. Mas confesso que o rótulo de
hoje não vem “trajado” de grandes novidades, pelo menos não inteiramente! O
vinho de hoje carrega uma casta oriunda da França, mas que encontrou em terras
espanholas o seu bom cultivo.
Falo
da Petit Verdot! A Petit Verdot não é uma casta muito usual de se encontrar por
aí, porém alguns produtores, sobretudo em terroirs fora da França, estão se
aventurando no cultivo da mesma, inclusive no “formato” varietal, o que faz
dela atraente, especial para garimpo e, consequentemente, degustação.
E
o terroir que falo em especial é o de Castilla La Mancha! Mas as novidades
existem sim, por que não? Esse Petit Verdot de La Mancha traz personalidade,
complexidade aromática e estrutura marcante, mas aquela elegância típica de um
vinho com seus 8 anos de vida! Claro, um vinho que estagiou em barricas de
carvalho, não poderia esperar outra coisa. Essa é a primeira novidade.
A
segunda é a região! Meu primeiro Petit Verdot de Castilla La Mancha, uma região
que, a cada dia, a cada rótulo, vem me ganhando, me surpreendendo
positivamente, pelos seus vinhos, pelo menos até agora, de marcante
personalidade e estilo. O caminho tem sido satisfatório e quem agradece são as
experiências sensoriais.
Eu
quando o adquiri lembrei de um Petit Verdot que degustei, há algum tempo atrás,
da região de Valência de um produtor que muito aprecio chamado Murviedro
Colleción Petit Verdot 2015, mas com uma proposta mais direta, mais frutada e
muito bom!
Então
vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio de Castilla La
Mancha, na Espanha, e se chama QXT Petit Verdot (100%) da safra 2014. E quando
o comprei, lembro-me bem, a intenção, dada a história e características da
cepa, era guardar para apreciar um vinho mais redondo, macio e rico em
complexidades. E foi exatamente o que achei, o que percebi. Um senhor vinho!
Mas
não quero detalhar, pelo menos ainda, as impressões do vinho e adentrar de
fundo na história da Petit Verdot e também da emblemática região de Castilla La
Mancha para também tentarmos entender o que o vinho pode nos proporcionar.
Petit
Verdot
A
Petit Verdot é originária da maior região produtora francesa, Bordeaux, sendo
cultivada desde o período romano. Curiosamente, esta região é bastante
desafiadora para o cultivo da Petit Verdot, pois a uva em questão possui um
ciclo de maturação tardio, ou seja, necessita de maior insolação no final do
ciclo para que seja colhida no ponto ideal. A grande questão é que em safras
mais chuvosas e não muito quentes, a tendência é que os vinhos de Petit Verdot
sejam mais agressivos, contudo, em safras adequadas o contexto muda e grandes
vinhos são originados.
Por
outro lado, a uva se deu muito bem em países mais quentes e secos, como
Argentina, Chile, Estados Unidos (Califórnia), Itália (Sul), África do Sul e a
Espanha, que elaboram vinhos excelentes devido às condições climáticas.
Na
Sicília, ilha localizada ao sul da Itália, por exemplo, a casta é responsável
por vinhos tintos surpreendentes. A maior parte dos vinhedos está localizada
perto do vulcão Etna, proporcionando condições favoráveis para o cultivo da,
muitas vezes incompreendida, Petit Verdot.
A
casta Petit Verdot também pode aparecer em vinhos varietais, principalmente
australianos e espanhóis da região de Jumilla, originando tintos intensos e
vigorosos. Quando jovens, os vinhos tintos revelam aromas de bananas e madeira,
e quando amadurecem, apresentam toques animais.
O
nome Petit Verdot (Pequeno Verde) foi atribuído a casta por conta do pequeno
tamanho de seu cacho e por existir em seus bagos frutos de cor escura e outros
com tom esverdeado, graças a uma característica bastante predominante da cepa,
o amadurecimento tardio. Sendo uma das castas com maior presença de
flavonoides, a uva bordalesa Petit Verdot é uma das que mais trazem benefícios
a saúde, contribuindo para o retardamento do envelhecimento e reduzindo os
danos causados pelos radicais livres.
Uma
de suas características mais marcantes é a alta produtividade, fazendo com que
o viticultor tenha mais atenção para não sobrecarregar a planta e inviabilizar
a maturação dos frutos. A Petit Verdot é muito particular! Sua casca grossa
fornece uma coloração intensa à bebida, além da marcante presença dos taninos e
da acidez acentuada, conferindo certo frescor e longevidade aos produtos.
Em
relação ao perfil aromático, as notas de frutas negras maduras são
predominantes, sendo acompanhadas dos delicados aromas florais. Além disso,
outras nuances podem ser percebidas, como azeitonas, pimenta-do-reino e
especiarias doces, como cravo-da-índia e noz-moscada.
Quando o trabalho no vinhedo é bem feito, respeitando as singularidades da cepa e o enólogo sabe domar os taninos através de técnicas de vinificação, os vinhos varietais, por exemplo, podem ser muito agradáveis. Se aliado a isso o terroir em que as vinhas são cultivadas for mais quente no verão todo o processo se tornará simplificado, possibilitando que a Petit Verdot seja a grande protagonista.
Castilla
La Mancha, a terra de Dom Quitoxe e os seus Moinhos de Vento.
Bem
ao centro da Espanha, país com a maior área de vinhas plantadas em todo o mundo
e o terceiro maior mercado produtor de vinhos, está localizada a região
vitivinícola de Castilla La Mancha. Um território com grande extensão de terra quase
que completamente plana, sem grandes elevações.
É nessa macrorregião que se origina quase 50% do total de litros de
vinho produzidos anualmente na Espanha.
“Em um lugar em La Mancha, cujo nome
eu não quero lembrar, existiu há não muito tempo um cavaleiro, do tipo que
mantinha uma lança nunca usada, um escudo velho, um galgo para corridas e um
cavalo velho e magro”.
“Dom
Quixote de La Mancha ou o Cavaleiro da triste figura” de Miguel de Cervantes.
O
nome “La Mancha” tem origem na expressão “Mantxa” que em árabe significa “terra
seca”, o que de fato caracteriza a região. Neste território, o clima
continental ao extremo provoca grandes diferenças de temperaturas entre verão e
inverno. Nos dias quentes de verão os termômetros podem alcançar os 45°C, enquanto
nas noites rigorosas de frio intenso do inverno, as temperaturas negativas
podem chegar a até -15°C.
A
irrigação torna-se muitas vezes essencial: além do baixo índice pluviométrico
devido ao caráter continental e mediterrâneo do clima, o local se torna ainda
mais seco graças ao seu microclima, que impede a entrada de correntes marítimas
úmidas. A ocorrência de sol por ano é de aproximadamente 3.000 horas. Esta
macrorregião é composta por várias regiões menores, incluindo sete
“Denominações de Origem”, das quais se pode destacar La Mancha e Valdepeñenas.
Sub-regiões
de Castilla
La
Mancha: é a principal região dentre elas, sendo considerada a maior DO da
Espanha e a mais extensa zona vinícola do mundo. O território abrange 182 municípios,
distribuídos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo. As
principais uvas produzidas naquele solo são a uva branca Airen e a popular
tinta espanhola Tempranillo, também conhecida localmente como Cencibel.
Valdepeñenas:
localizada mais ao sul, mas com as mesmas condições climáticas, tem construído
sua boa reputação graças à produção de vinhos de grande qualidade, normalmente
varietais da uva Tempranillo ou blends desta com castas internacionais.
A
DO La Mancha conta mais de 164.000 hectares de vinhedos plantados. Com isso, é
a maior Denominação de Origem do país e a maior área vitivinícola contínua do
mundo, abrangendo 182 municípios, divididos em quatro províncias: Albacete,
Ciudad Real, Cuenca e Toledo.
A
regulamentação comunitária permite a produção de vinhos com indicação
geográfica (IGP Vinos de la Tierra de Castilla), desde que tenham sido obtidos
a partir de determinadas castas e provenham de uma determinada zona de
produção. Na Espanha, esses vinhos são chamados de Vinos de la Tierra e podem
usar menções em sua rotulagem relacionadas às variedades, safras e nome da
vinícola, bem como às condições naturais ou técnicas da viticultura que deram
origem ao vinho.
A
importância social e econômica do setor na região, bem como o esforço de
modernização feito pelos produtores, transformadores, engarrafadores e
comerciantes nos últimos anos, exige um instrumento que lhes permita oferecer
os seus vinhos de qualidade dignamente rotulados ao mercado.
Os
tipos de vinhos que podem ser elaborados no IGP Vinos de la Tierra de Castilla
são: vinhos brancos, rosés e tintos; Vinhos espumantes; Vinhos espumantes;
vinhos licorosos; e vinhos de uvas maduras. São eles:
Brancas:
Airén, Albillo Real, Chardonnay, Gewürztraminer, Macabeo oViura, Malvar,
Malvasía Aromática, Marisancho o Pardillo, Merseguera, Moscatel de grano
menudo, Moscatel de Alejandría, Parellada, Pedro Ximénez, Riesling, Sauvignon
blanc, Torrontés, Verdejo, Verdoncho e Viognier
Tintas:
Bobal, Cabernet-sauvignon, Cabernet-franc, Coloraillo, Forcallat tinta,
Garnacha tinta, Garnacha tintorera, Graciano, Malbec, Mazuela, Mencia, Merlot,
Monastrell, Moravia agria, Moravia dulce o Crujidera, Petit Verdot, Pinot Noir,
Prieto picudo, Rojal tinta, Syrah, Tempranillo o Cencibel, Tinto de la pámpana
blanca e Tinto Velasco o Frasco.
As
castas mais cultivadas em Castilla de La Mancha, sejam DO ou IGP, são: Airén,
Viúra, Sauvignon Blanc e Chardonnay entre as brancas e as tintas são:
Tempranillo, Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot e Grenache.
Classificação
dos rótulos da DO de Castilla La Mancha:
•
Jóven: Categoria mais básica, sem passagem por madeira, para ser consumido
preferencialmente no mesmo ano da colheita.
•
Tradicional: Sem passagem por madeira, porém com mais estrutura do que o Jóven.
•
Envelhecimento em barris de carvalho: Envelhecimento mínimo de 90 dias em
barris de carvalho.
•
Crianza: Envelhecimento natural de dois anos, sendo, pelo menos, seis meses em
barris de carvalho.
•
Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 12 meses em barris de carvalho e 24
meses em garrafa.
•
Gran Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 18 meses em barris de carvalho e 42
meses em garrafa.
•
Espumante: Produzidos a partir do método tradicional (segunda fermentação em
garrafa), com no mínimo nove meses de autólise.
E
agora finalmente o vinho!
Na
taça entrega um vermelho rubi intenso, escuro, brilhante, com entornos
arroxeados, com a concentração de lágrimas finas e em intensidade que marcam o
bojo.
No
nariz traz aromas de frutas vermelhas e frutas negras, principalmente, bem
maduras, com as notas amadeiradas bem evidentes, graças aos 12 meses de
passagem por barrica de carvalho, percebendo um defumado, couro, tabaco,
especiarias doces (cravo), terra molhada, fumaça.
Na
boca é intenso, estruturado, seco, cheio, carnudo, mas macio e elegante, fácil
de degustar, devido aos seus oito anos de vida e o tempo de passagem em
barricas, as frutas negras e vermelhas são notadas como no aspecto olfativo,
com taninos marcados, presentes, mas redondos, com uma acidez média, além de
toques generosos de baunilha, chocolate, torrefação e café. Tem álcool bem
integrado e um final persistente, de retrogosto frutado.
O
QXT Petit Verdot definitivamente traz toda a aura do velho cavaleiro Dom
Quixote, tanto que carrega em seu nome, em seu rótulo, o nome do cavalheiro
errante. Um vinho com estrutura, persistente, de grande personalidade, mas que,
devido aos seus oito anos de vida, entregam maciez, elegância com taninos
comportados, embora presente, uma acidez correta. Um vinho cheio de vida, ainda
pleno, com frutas negras no paladar e no aroma. Vinho para a vida! Tem 14% de
teor alcoólico.
Sobre
a Pago Casa del Blanco:
Pago
Casa del Blanco é uma vinícola de propriedade familiar, com mais de 150 anos de
história e uma tradição vitivinícola, embora breve, mas intensamente ativa, que
em 2010 conseguiu alcançar a mais alta categoria na classificação de vinhos: a
Denominação de Origem Protegida Pago Casa del Blanco.
A
certificação “Vinos de Pago” exige um esforço considerável e conformidade com
alguns regulamentos de qualidade muito rigorosos, mas ratifica e garante a
singularidade e a personalidade dos vinhos originários e produzidos em um
terroir único e exclusivo. Os 150 hectares de vinhedos próprios estão
localizados na área municipal de Manzanares (Ciudad Real) e desfrutam de um
microclima e dos benefícios de um solo muito específico, assim como uma
característica incomum: uma concentração de lítio, um oligoelemento com
propriedades que melhorar o sistema imunológico, mais do que o normal, que é
transferido para os vinhos.
Assim
sendo, a equipe do Pago Casa Blanco é composta por vários profissionais e
familiares, incluindo Antonio Merino como enólogo, e é chefiada por Joaquín
Sánchez. Mostrando dessa forma um grande respeito ao meio ambiente, cultivam as
variedades brancas Sauvignon Blanc, Chardonnay, Moscatel de Grano Menudo
(Muscat Blanc à Petits Grains) e Airén; e os vermelhos, Tempranillo, Cabernet
Sauvignon, Merlot, Syrah, Petit Verdot, Malbec, Cabernet Franc e Garnacha.
A
vinícola, enfim, de design e construção próprios e completamente integrados ao
ambiente natural, foi equipada com a mais moderna tecnologia que combina
perfeitamente com a tradição e, após um paciente e repouso prolongado, os
vinhos são produzidos sob a denominação de suas três marcas: Quixote e Lítio
para tintos e Castillo de Pilas Bonas para brancos.
Mais
informações acesse:
http://pagocasadelblanco.com/index_es.htm
Referências:
“Vinho
Blog”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/
“Enologuia”:
https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote
“Revista
Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinhos-dos-moinhos_4580.html
“Blog
VinhoSite”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/
“Mistral”:
https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/petit-verdot
Blog
“Famiglia Valduga”: https://blog.famigliavalduga.com.br/petit-verdot-conheca-as-particularidades-desta-casta-francesa/