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segunda-feira, 17 de maio de 2021

Bertolini Teroldego 2018

 

Inspiração, novos caminhos, exemplos, tradição, histórias... São nomes que podem parecer um tanto quanto “soltos” e perdidos, mas quando falamos em vinhos brasileiros são conceitos que se fundem e que, ao longo do tempo, vem, apesar dos entraves que a política pública impõe ao vinho, vêm, a duras penas, se consolidando com força. Sem discursos ufanistas distantes da realidade do povo brasileiro, o vinho nacional vem conquistando notoriedade e respeito em todos os cantos do planeta e vem solidificando sua qualidade em terras consagradas e milenares na produção vinícola, no Velho Mundo. Pena que ainda não tivemos o reconhecimento, em todos os aspectos, em solo brasileiro, sobretudo pelos nossos governantes que, com um discurso torto e conservador, a considera apenas como um produto alcoólico e não como um alimento que é cientificamente comprovado por especialistas como benéfico à saúde.

Mas não é sobre isso que gostaria de falar, pelo menos ainda, e sim da qualidade do vinho brasileiro e quanto eles crescem em tipicidade, enaltecendo, de forma sublime, os nossos mais ricos e proeminentes terroirs. E o que mais me deixa feliz, como um apreciador da bebida de Baco, é de que castas raras ou oriundas de outros países estão sendo produzidas, cultivadas em nossas terras, adquirindo um caráter todo especial, com a nossa “assinatura”, o nosso DNA sem, é claro, abrir mão, negligenciar as suas mais genuínas características.

E, por intermédio, dos vinhos brasileiros, as conheci, estou conhecendo-as. As nossas terras entregam, com incrível brilhantismo, as castas de outras terras. Somos abençoados pela natureza, pelos nossos recursos naturais e diria culturais, dessas abnegadas pessoas que extraem, com amor e competência, a matéria-prima que nos presenteia com os seus grandes rótulos.

E assim descobri uma casta chamada Teroldego. Teroldego? Um nome esquisito, pouco usual diante dos nomes mais conhecidos como Malbec e Merlot, mas que alguns dos mais renomados e até menos conhecidos produtores desse país estão produzindo em suas vinícolas. E, depois de uma leitura mais minuciosa sobre a casta, não hesitei em comprar um exemplar dessa casta ainda pouco conhecida no Brasil.

E estava com um amigo em busca de escolha por um rótulo para compor o nosso mais novo encontro de confraria e sugeri a compra de um rótulo da casta Teroldego. E então resolvemos arriscar com um que veio de uma promissora região que fica no sudeste do Rio Grande do Sul, Encruzilhada do Sul. O Vinho que degustei e gostei, e como gostei, se chama Bertolini Riserva Famiglia Bigorna, da casta, é claro, Teroldego, da safra 2018. Já que falemos da Teroldego e de Encruzilhada do Sul, vamos traçar um histórico de todos!

Teroldego: A uva do Trentino

Teroldego (lê-se “terôldego”) é uma uva tinta da região do extremo norte de Trentino, nordeste da Itália. A primeira vez que o vinho utilizando essa uva foi mencionado (que se tem registro) foi em 1840 em Cognola na Itália, em um contrato que dizia haver uma quantidade de “bons vinhos Teroldego”.

É provável que o berço da Teroldego seja a planície Rotaliano e que tenha tomado o nome de um lugar chamado Alle Teroldege, onde vinhas foram mencionadas antes do século XV. Outra hipótese é pelo sinônimo Tiroldigo, o nome que deriva de Tiroler Gold, ouro do Tirol, este nome era, aparentemente, usado em Viena para designar vinhos de Trentino. Alguns autores sugerem que a uva foi introduzida a partir da planície vizinha de Verona, onde uma variedade chamada Terodol’i foi mencionada no passado. Estudos feitos baseados no DNA, revelou que a Teroldego é uma “irmã” da Dureza (uva extinta “mãe” da Syrah), portanto, um “tio/tia” da Syrah.

Teroldego é uma uva roxa de cor escura e cascas firmes. Produz vinhos com uma acidez e um amargor característicos e tem potencial para produzir desde vinhos de corpo mais leve até os mais encorpados.

Teroldego

Trentino continua sendo a “casa” da Teroldego. Elisabetta Foradori é a principal produtora dos vinhos Teroldego Rotaliano (D.O.C). Além disso, tais exemplares podem ser consumidos dentro de três anos após o engarrafamento ou, até mesmo, envelhecer por dez anos. Em blends, a uva Teroldego é utilizada para adicionar cor aos exemplares e é cultivada em Toscana e Veneto para esta utilidade. Outros países que produzem vinhos com esta uva são: Estados Unidos, Austrália e Brasil.

Teroldego no Brasil

A Teroldego é uma uva com fortes taninos e casca grossa e, dependendo da área onde estiver cultivada, dá origem a vinhos com diferentes estilos. Em regiões mais frias, assim como a Serra Gaúcha, essa variedade é responsável por elaborar vinhos menos potentes e aromáticos, bem como exemplares com coloração mais clara. No entanto, se a uva Teroldego estiver cultivada em regiões mais quentes e ensolaradas, como é o caso da Serra do Sudeste e Campanha, os vinhos tintos serão mais encorpados, aromáticos e com fortes taninos – suavizados com o uso de barris de carvalho. Mais informações sobre a Teroldego no Brasil leia: “Uva Teroldego resgata identidade no sul do País”.

Encruzilhada do Sul

Encruzilhada do Sul é um município brasileiro do estado do Rio Grande do Sul, localizado no Vale do Rio Pardo. O primeiro nome foi Santa Bárbara de Encruzilhada. No decorrer dos anos de 1715 até 1766 os primeiros habitantes instalaram-se no Capivari, região que hoje fica a alguns quilômetros da cidade. Surgiram na campanha os primeiros estabelecimentos pastoris, formados por uma vanguarda de missionários e índios, que lutaram juntamente com guardas que protegiam a Província das invasões espanholas. Domingos Bitencourt fez doação de uma parte de terras ao governo, onde fica a cidade de Encruzilhada do Sul, para que fosse construída uma Freguesia. Começou, então, a chegada dos primeiros povoadores de Rio Pardo, São Paulo, Açores e Laguna.

Curiosamente, a Serra do Sudeste abriga pouquíssimas cantinas. O relevo suavemente ondulado serve de sede quase que exclusivamente para vinhedos. A maior parte das uvas é transportada, geralmente à noite, até outras regiões do Rio Grande do Sul, onde é vinificada. No entanto, com o crescimento de sua importância no cenário enológico nacional e o surgimento de empreendimentos locais voltados à produção de uva, essa situação deve sofrer mudança em um futuro breve. Encruzilhada do Sul, é um amável município que fica a menos de duas horas de carro a sudoeste de Porto Alegre. Está localizado na Serra do Sudeste que possui altura média de 300 a 400 metros de altura, sendo boa parte de seu solo de pedra, com invernos rigorosos e verões com excelente insolação.

Serra do Sudeste e a Encruzilhada do Sul

Mapa Encruzilhada do Sul

A Serra do Sudeste tem colinas suaves, que facilitam o plantio e a mecanização, tornando-a um terroir mais simples de trabalhar. Aliadas a isso, estão as condições climáticas, mais favoráveis do que no Vale dos Vinhedos. Essa região tem o menor índice de chuvas do Estado do Rio Grande do Sul, além de noites frias mesmo no verão, justamente a época da maturação das uvas. Essas condições naturais, além de um solo mais pobre e de origem granítica, nos ajudam a ter maior concentração de cor, estrutura e potencial de envelhecimento dos vinhos. A expansão para a Serra do Sudeste é sinal claro da busca por qualidade dos produtores brasileiros e da diversidade de que os vinhos estão, finalmente, abraçando.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, escuro, profundo com lágrimas grossas e abundantes que marca as paredes da taça, um vinho caudaloso que já denuncia a sua robustez.

No nariz traz um curioso aroma de fazenda, um toque terroso, de terra molhada, algo de estrebaria, um quê de rusticidade e notas discretas de frutas negras completa o coreto.

Na boca é estruturado, carnudo, aquele vinho que se degusta com “garfo e faca”, complexo, as frutas negras aparecem, toque de ameixas, por exemplo, as especiarias mostram a que vieram um fundo de ervas, com taninos poderosos e marcados, com uma acidez instigante. Tem um final longo, prolongado.

O apelo regionalista, a cultura arraigada e que personifica na tipicidade do vinho. A história, viva e latente, sendo, a cada dia escrita, a tradição se faz atual e contemporânea. As inspirações se confundem com a tipicidade, tudo isso em prol do nosso deleite, para a felicidade de quem degustará cada gota dessa bebida que é uma verdadeira poesia líquida. Um vinho de pegada, corpulento, voluptuoso, de personalidade. Assim podemos descrever o Bertolini Bigorna Teroldego. Ainda jovem, mostrou rebeldia e certa impetuosidade, mas, ao longo da degustação, foi afinando, amansando, se equilibrando, tornando-se fácil de degustar, harmônico, mas ainda assim expressivo e de marcante personalidade. Que a Teroldego encontre em nossas terras as condições necessárias para se perpetuar com cada vez mais rótulos e que nos brinde com vinhos cada vez melhores. Tem 13,7% de teor alcoólico.

Sobre a Bertolini Riserva Famiglia:

A Família Bertolini resgata sua trajetória, marcada pelo empreendedorismo, união e tradição italiana, e a transporta para a série especial “Vinhos Bertolini”, que homenageia os antepassados e os valores transmitidos pelos patriarcas. Cada garrafa expressa o talento para transformar matérias-primas em produtos de excelência. Hoje, parte da família, é reconhecida pela fundação e condução do Grupo Bertolini, referência pelo trabalho desenvolvido nos mercados moveleiro, de armazenagem e logístico, em todo o país.

Valorizando as raízes, os vinhos têm, em sua apresentação visual, o resgate dessa paixão através da representação das ferramentas de trabalho do ferreiro, ofício que o pai, Francisco, fez com maestria e deixou como legado para seus descendentes. Além de simbolizar os valores que forjaram o caráter da família Bertolini ao longo de sua história, elas expressam as características de cada vinho.

Os vinhos Bertolini têm como filosofia a naturalidade no processo de elaboração, ou seja, com o mínimo de intervenção mecânica e a preferência por métodos naturais durante a fermentação e afinamento. O mesmo vale para as correções de acidez, açúcar, feitas sem aporte de produtos químicos.

Assim, inspirados na tradição europeia, mas com um gosto contemporâneo, expressam o terroir de uma nova geração produtora no Brasil, que vem se destacando com excelentes resultados: a Encruzilhada do Sul.

O trabalho da Bertolini começou no ano de 2012. É um negócio pequeno que foi fundado por 5 irmãos em homenagem à geração anterior da família, de Domenico Bertolini, que era composta por metalúrgicos especializados em cozinhas de aço.

Dessa homenagem, vêm os nomes dos vinhos: “Cadinho”, “Bigorna” e “Tenaz”, referências às ferramentas utilizadas para a construção desses espaços. O foco é produzir líquidos que mostram ao máximo a tipicidade de Encruzilhada do Sul, região de clima ameno, em um vinho branco e vinhos tintos elaborados com uvas Chardonnay, Teroldego e uma mistura entre Merlot, Nebbiolo e Touriga Nacional: mistura europeia em vinhos brasileiros.

Referências:

“Vinho Básico”: https://www.vinhobasico.com/2015/06/26/teroldego-a-uva-do-trentino/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/teroldego

“Site Terra”: https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/homem/uva-teroldego-resgata-identidade-no-sul-do-pais,d0084ee474237310VgnCLD100000bbcceb0aRCRD.html

“Site Encruzilhada do Sul”: https://www.encruzilhadadosul.rs.gov.br/prefeitura/historia/

“Agência Preview”: https://www.agenciapreview.com/vindima-em-encruzilhada-do-sul/#:~:text=Descoberto%20na%20d%C3%A9cada%20de%201970,elaborados%20com%20uvas%20dessa%20%C3%A1rea.

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-nova-fronteira-sul_8619.html

“Blog Evino”: https://blog.evino.com.br/2020/06/vinhos-brasileiros-o-cultivo-de-uvas-da-europa-no-sul-do-brasil/#:~:text=Bertolini,-%E2%80%9CO%20nosso%20diferencial&text=O%20trabalho%20da%20Bertolini%20come%C3%A7ou,especializados%20em%20cozinhas%20de%20a%C3%A7o.

“Difusora 890”: https://difusora890.com.br/bertolini-apresenta-serie-especial-de-vinhos-que-contam-historia-da-familia/

 

 

 

 





 


segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Maia Merlot e Ancellotta 2014

 

Tão bom quanto as degustações são as histórias proporcionadas pelos rótulos que escolhemos. E como toda boa história tem que trazer conhecimento, um pouco da cultura do vinho. É isso! Essa é a melhor forma de democratizar a cultura do vinho, disseminar a importância de se degustar vinho, de saber degustar o vinho, da importância, entre outros aspectos, para a qualidade de vida que esta bebida proporciona. Mas, sem mais delongas, a história desse rótulo que degustei trouxe algumas transições importantes para a minha vida de enófilo e a importância que esses momentos trouxeram de relevante e que, até hoje, estou colhendo. Devo lembrar-me do meu primeiro festival, do meu primeiro evento de degustação que foi em uma cidade praiana, do Rio de janeiro, chamada Rio das Ostras. Recebi a informação de algumas pessoas que moravam próximo à cidade e que sabiam que eu apreciava vinhos, isso em 2015.

Não hesitei e logo comprei o ingresso e, como eu morava distante do local do evento, me programei para me hospedar em uma das inúmeras pousadas da cidade turística e conhecida nacionalmente. E chegado o dia do festival de degustação, logo adentrei o local, muito bonito, amplo e ornamentado com o tema da nossa nobre bebida, ouvi alguns comentários muito elogiosos acerca de um rótulo nacional, dizendo que, entre outros assuntos, que o vinho ganhara o prêmio de melhor nacional degustado pelos especialistas e pela imprensa especializada e que também ficou entre os dez melhores de todos os vinhos que estavam sendo ofertados para degustação e venda no evento. Claro que não podia deixar de degustar esse tão aclamado rótulo e logo quando entrei no local do evento, não pude deixar de priorizar o estande do vinho e rapidamente estava de frente para o mesmo! E logo descobri, graças ao demonstrador, muito solícito, atencioso e educado que o vinho era da famosa Boutique Lídio Carraro.

O vinho que degustei e gostei veio de uma região, no Rio Grande do Sul, pouco conhecida chamada Encruzilhada do Sul, mas que está crescendo em representatividade, que se chama Maia, um blend composto pelas castas: Merlot, oriundo de duas parcelas diferentes e a emblemática casta italiana, a Ancellotta e a safra é de 2014. Um corte inusitado, mas que revelou uma simbiose muito interessante entre corpo e a fruta, a maciez e a personalidade, mas os detalhes sensoriais do vinho ficam para depois, porque agora tem uma curiosidade muito interessante. O vinho “Maia” foi uma tiragem limitada da Lídio Carraro para homenagear o Sr. Maia, um português que veio para o Brasil e que fora o fundador da hoje Adega de Vinhos Cocoricó, conhecida e tradicional loja de vinhos  instalada na cidade de Rio das Ostras e que promoveu o evento de degustação que eu participei. A Vivian Maia, hoje a administradora da loja e avô do Sr. Maia, também serviu de inspiração por ser apaixonada pelos vinhos, o que herdou de seu avô.

Loja Cocoricó em Rio das Ostras

Mas antes de falar do vinho, falemos um pouco da região de Encruzilhada do Sul, hoje tão importante para o Rio Grande do Sul e para o Brasil e que está crescendo em importância.

Encruzilhada do Sul

Encruzilhada do Sul é um município brasileiro do estado do Rio Grande do Sul, localizado no Vale do Rio Pardo. O primeiro nome foi Santa Bárbara de Encruzilhada. No decorrer dos anos de 1715 até 1766 os primeiros habitantes instalaram-se no Capivari, região que hoje fica a alguns quilômetros da cidade. A região é considerada como um novo pólo vitivinícola do Brasil, com um terroir diferenciado, que tem produzido vinhos de extrema qualidade e autenticidade. Hoje, o município, que era chamado de a "Terra da Ovelha", já é reconhecido como a "Terra da Ovelha e do Vinho". Descoberto há cerca de 10 anos, o clima e solo tem se mostrado ideais para o cultivo de uvas varietais destinadas à produção de vinhos finos.


Encruzilhada do Sul

O município conta com mais de 360 hectares de vinhedos, com o cultivo de uvas inéditas no Brasil, como as cepas de origem europeia, como a Tempranillo, Teroldego, Touriga Nacional e Barbera. Segundo a Associação Brasileira de Someliers (ABS) e outros críticos especializados, os vinhos originários do município são uma grande promessa nacional. São terras que podem gerar vinhos com mais de 15% de álcool, semelhante em estrutura aos originários do Nappa Valley, na Califórnia (EUA). A história do vinho em Encruzilhada do Sul deve um tributo a um homem chamado Ivo Osório Mendes, conhecido como “Tio Ivo”. Ele era Técnico Agrícola, e já nas décadas de 1940 e 1950 trabalhava com genética de trigo, na Estação Experimental de Encruzilhada do Sul. Na década de 19880, já aposentado do Estado, implantou o Campo Experimental da extinta COTRENSUL, Cooperativa Tritícola de Encruzilhada, e lá implantou alguns parreirais, com mudas trazidas da Serra Gaúcha.

E agora o vinho!

Na taça conta um vermelho rubi escuro, profundo e quando servida a bebida na taça, se revela caudalosa e que tinge de um vermelho forte o copo, com lágrimas grossas e abundantes.

No nariz tem um frutado evidente, mas sem soar enjoativo, frutas vermelhas em compota, frutas negras também, com um toque de especiarias, diria um destaque para algumas ervas, além de torrefação, algo de café. Não me recordo se o vinho passou por barricas de carvalho, afinal não fora informado pelo produtor.

Na boca é vigoroso, potente, mas a fruta o torna fresco e jovial, graças ao percentual da Merlot, revelando uma maciez, mas com uma personalidade marcante a quem credito a Ancellotta, bem como a sua coloração. Tem taninos presentes e gulosos, com uma boa acidez que também lhe garante frescor e vivacidade com um final persistente e retrogosto frutado.

Um vinho estruturado, mas macio, fácil de degustar, mostrando um inusitado e improvável assemblage, mas que conferiu ao vinho grande versatilidade e uma grande vocação gastronômica que pode harmonizar com refeições mais simples e direta a pratos mais consistentes e condimentados. Um vinho que, apesar de lote limitado, deveria se reeditado e disseminado a todos os amantes do vinho, afinal, rótulos emblemáticos precisam ser democratizados e atingir a todos os rincões desse país. Que vinhaço! Uma surpresa retumbante! E mesmo com seus robustos 14% de teor alcóolico, o mesmo estava muito bem integrado ao conjunto do vinho. Mais um ponto que define o vinho: equilibrado e redondo!

Sobre a Lídio Carraro:

Em 1875 chegaram ao Brasil os primeiros imigrantes italianos vindos da região do Vêneto e, entre eles, a família Carraro, que se estabeleceu em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul. O negócio principal da família sempre foi o cultivo de uvas e tradicionalmente elaborava um pequeno volume de vinhos para o consumo próprio. Na década de 70, Lidio Carraro se destacou como um dos líderes da implantação das vitis viníferas na Serra Gaúcha, sendo um dos pioneiros no cultivo da variedade Merlot. A partir dos anos 90, iniciou uma busca obsessiva por encontrar e desenvolver melhores vinhedos motivados pelo amor pela viticultura e pela vontade de um dia reconhecer nos vinhos todo o trabalho dedicado às videiras. Ainda na década de 90, após seu estágio em uma vinícola no curso de Engenharia de Alimentos, Juliano Carraro ingressa na faculdade de enologia e sua vontade de elaborar vinhos contagia toda a família - inclusive o irmão mais novo, Giovanni Carraro, que anos mais tarde também se forma enólogo e atualmente é o responsável pelos vinhos Puristas da Vinícola.

Em 1998, após vários estudos, Lidio converte sete hectares no Vale dos Vinhedos para uvas da melhor qualidade e inicia a criação de sua adega. Em 2001, ocorre a fundação da Vinícola Lidio Carraro e a família adquire 200 hectares em Encruzilhada do Sul, na Serra do Sudeste do Rio Grande do Sul. A região mais tarde se tornaria um pólo vitícola brasileiro. Os vinhedos no Vale dos Vinhedos iniciam as primeiras produções em 2002 e a safra dá origem aos primeiros vinhos com a marca Lidio Carraro, que chegam ao mercado em 2004. Pouco tempo depois, a vinícola vence uma seleção para representar o vinho brasileiro nas prateleiras do DutyFree de aeroportos internacionais, tornando-se o primeiro produtor brasileiro a fazê-lo. Com esta porta aberta para o mundo, a Lidio Carraro começa a receber pedidos internacionais e dá início às exportações ainda em 2005. Desde então, os reconhecimentos chegam de todas as partes do mundo e a vinícola se torna referência em vinhos do Brasil da mais alta qualidade e com uma identidade própria, chegando a representar o país em alguns dos eventos mais importantes da história das últimas duas décadas.

Mais informações acesse:

https://www.lidiocarraro.com/br

Referências de pesquisa:

“Cordeiro e Vinho by Ucha”: http://cordeiroevinhobyucha.blogspot.com/2009/02/os-vinhos-de-encruzilhada-do-sul.html

Site “Prefeitura de Encruzilhada do Sul”: https://estado.rs.gov.br/encruzilhada-do-sul-comeca-a-colheita-da-uva

https://www.encruzilhadadosul.rs.gov.br/prefeitura/historia/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-nova-fronteira-sul_8619.html


Degustado em: 2016