Em certos momentos percebo certa redundância quando falo de
tipicidade, de terroir. Mas nada mais prazeroso do que degustar um vinho que
expressa a terra, a cultura daqueles que o produz. É claro que também é
difícil, quando fazemos as nossas análises dos rótulos que degustamos,
mencionarmos tais características, dada a sua complexidade, de um assunto vasto
que demanda aprendizado e um amplo estudo para que possamos ao menos ter a
ciência do que essas regiões representam para a vitivinicultura mundial e,
claro, o exercício da degustação conta muito, com as suas contínuas
experiências. Confesso que, com essa região, não sou um ávido degustador,
talvez seja por falta de oportunidade, desleixo, mas, os poucos que degustei,
em suas mais distintas e variadas propostas, me trouxeram momentos especiais,
sensações maravilhosas.
A região a qual me refiro é a emblemática Bordeaux e o vinho
que degustei e gostei foi o Chateau Timberlay do famoso produtor Robert Giraud,
um Bordeaux Supérieur, da safra 2012, um blend típico das castas Merlot (85%),
Cabernet Sauvignon (10%) e Cabernet Franc (5%). Porém antes de falar sobre as
características organolépticas do vinho, acho interessante falar sobre a
denominação “Bordeaux Supérieur” e do motivo pelo qual a maioria dos vinhos
bordaleses tintos terem Merlot, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e alguns
Malbec. Vamos aos conceitos.
Bordeaux Supérieur
Segundo o portal “The Wine Cellar Insider”, “Bordeaux
Supérieur” os vinhos com Bordeaux Superieur no rótulo são vistos como um tipo
de classificação, bem como uma denominação pelos consumidores hoje. Bordeaux
Superieur é uma
designação concedida aos castelos que produzem vinhos em denominações
específicas que atendem a padrões de qualidade selecionados para que seus
vinhos sejam classificados como Bordeaux Superieur. Embora um “chateaux” possa
ter o direito de ser listada como parte de uma denominação específica, na
maioria das vezes, mas nem sempre, a designação de Bordeaux Superieur é usada
para significar vinhos de melhor qualidade do que muitos vinhos de denominações
menos conhecidas de Bordeaux. Os vinhos com essa classificação têm de passar
por um mínimo de 12 meses por barricas de carvalho.
Leia mais em: https://www.thewinecellarinsider.com/bordeaux-wine-producer-profiles/bordeaux/satellite-appellations/bordeaux-superieur-bordeaux-wine-guide-chateaux-producer-listings/
Para saber, em detalhes, sobre Bordeaux, leia: Guia definitivo dos vinhos de Bordeaux
Para saber, em detalhes, sobre Bordeaux, leia: Guia definitivo dos vinhos de Bordeaux
As castas típicas
A grande maioria dos tintos e dos brancos de Bordeaux são
produzidos a partir de um blend de cepas. Isso não se dá por acaso, já que
historicamente, por conta da instabilidade do clima, em especial no tocante à
umidade e ao regime de chuvas, sempre foi arriscado basear-se em uma única
variedade de uva. A legislação bordalesa permite o cultivo e a utilização de
uma série de cepas, que florescem e amadurecem em épocas distintas, o que faz com
que uma eventual geada ou chuva mais pesada não arruíne toda uma safra. De
fato, das 13 variedades permitidas na AOC, destacam-se três tintas e duas
brancas: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot, e Sémillon e Sauvignon
Blanc, respectivamente. As proporções de cada uma delas nos blends variam de
acordo com a sub-região.
Vamos ao vinho.
Na taça tem um vermelho rubi profundo, límpido, brilhante,
com lágrimas finas e abundantes, desenhando as paredes do copo, se dissipando vagarosamente.
No nariz exala uma complexidade de frutas vermelhas como
amora, groselha e morango, com notas de tabaco, especiarias e amadeiradas,
graças aos 12 meses de passagem por barricas de carvalho.
Na boca tem estrutura, complexidade, mas se mostra muito
delicado, redondo, harmonia e equilíbrio. Tem taninos presentes, mas delicados
e sedosos, com acidez moderada, nuances de madeira, muito bem integrada,
baunilha e diria um discreto e agradável toque de torrefação.
Um vinho que mostra toda a tipicidade de Bordeaux, toda a
cultura do fazer vinho com identidade, privilegiando a cultura de um país
milenar na produção dessa nobre bebida. Um vinho encorpado, estruturado, com
vocação para uma boa evolução, bom potencial de guarda, mas, dado o seu
equilíbrio e maciez, poderia ser degustado em qualquer momento. Um vinhaço! Com
12,5% de teor alcoólico e vinhas com idade média de 30 anos que corrobora as
mencionadas características.
Sobre a propriedade Chateau Timberlay, onde foi produzido o
vinho:
Destruído durante a Revolução e depois reconstruído, foi
completamente restaurado após a Segunda Guerra Mundial. Regularmente premiado
há mais de cem anos, o vinho Timberlay possui uma grande reputação internacional.
As uvas são provenientes de um vinhedo de 110 hectares, com cerca de 30 anos.
Sobre a Robert Giraud:
O sucesso exemplar da Maison Giraud obviamente ultrapassa a
estrutura da região de Cubzaguaise, onde se enraíza. Realizada em poucas
décadas, dá a medida da personalidade excepcional de seu fundador. Nascido em
1925, Robert Giraud é o mais recente de uma longa linhagem de produtores de
vinho de Cubzac que os arquivos da família hoje remontam até meados do século
XVIII. O verdadeiro boom não ocorreu até depois da Segunda Guerra Mundial, com
a aquisição do Chateau Timberlay por Raoul Giraud em 1945. Além da vinha
inicial de Domaine de Perreau, os 35 hectares da propriedade trazem o
patrimônio família administrada em 65 hectares de uma vinha homogênea, formando
uma entidade econômica perfeitamente viável (a vinha Chateau Timberlay ocupa
agora 115 hectares). Em 1953, Robert Giraud, cria sua própria casa de comércio
e distribuição: Les Etablissements Viticoles Cubzaguais, a fim de vender a
produção de propriedades familiares, gradualmente aumentada pela distribuição
das propriedades vizinhas. No ano seguinte, ele atravessou o departamento,
organizando incansavelmente reuniões e reuniões para obter a rotulagem de
vinhos das denominações Bordeaux e Bordeaux Supérieur, dando ao mesmo tempo uma
nova vida à união do vinho. Em 1960, Robert Giraud sucede seu pai à frente das
propriedades da família. Ele agora dedicará a maior parte de sua força a isso.
Sua principal preocupação será estabelecer a solidez da Casa por meio de uma
política ambiciosa de aquisição de propriedades e pelo contínuo desenvolvimento
da atividade de comerciante-criador. Em 1973, a necessidade de comercializar
uma produção crescente e garantir a distribuição de muitos vinhos e marcas,
decide Robert Giraud para reestruturar a Casa, que agora se torna ROBERT GIRAUD
SAS. Essa reestruturação prevê o estabelecimento de uma nova equipe, a
construção de adegas modernas e funcionais, bem como novos armazéns de
armazenamento e embalagem. A partir de 1974, a empresa continuará rapidamente o
desenvolvimento de sua linha e oferta, completando assim a produção de
propriedades familiares, permitindo oferecer uma gama completa e qualitativa em
todas as denominações dos grandes vinhos de Bordeaux. A orientação inicial de
exportação desejada por Robert Giraud continuará e acelerará em 1976, com a
chegada de seu filho Philippe, então de sua filha Florence. Sem negligenciar o
mercado nacional, hoje é em mais de 60 países que os vinhos da Maison Giraud
são estabelecidos e distribuídos.
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