Alguns vinhos são considerados como clássicos! Tradição,
respeitabilidade de seus terroirs, suas tipicidades, sua história, seu povo,
sua cultura, enfim, muita coisa, creio, influencia decisivamente no sucesso de
um rótulo, de uma região, de uma casta, tudo se complementa e forma um bloco de
tradição e respeito comercial.
E definitivamente a Itália desponta nesse quesito, de
clássicos, em qualidade e quantidade também, a começar por Barolo, Brunello di
Montalcino, Amarone, Valpolicella Ripasso, entre tantos outros.
Temos outros rótulos que são emblemáticos em uma combinação
entre casta e região. Sabe quando falamos de uma cepa, nos vêm, imediatamente,
a região? Pois é, somente a Itália, diria também, claro, a França, consegue
proporcionar isso.
E essa casta tem uma força e representatividade como pouco se
vê por aí: falo da boa e velha Primitivo! E quando você fala dela, quem
lembramos? Manduria. O sucesso é tamanho que quando falamos de um, falamos de
outro como se fora uma coisa só.
Alguns rótulos dessa região italiana já se aproveitaram e se
aproveitam, sob o aspecto comercial e estampa em seus rótulos o famoso
“Primitivo di Manduria” porque exporta para o mundo esse nome pesado no
universo da vitivinicultura.
E falando em sucesso, a Primitivo, também conhecida como
Zinfandel nos Estados Unidos, também goza de muito sucesso na terra do Tio Sam,
sendo talvez a mais popular cepa tinta daquele país, brilhando em regiões como
a Califórnia, por exemplo. Vejam o tamanho da popularidade da Primitivo!
Apesar desse sucesso todo tenho que admitir que poucos
rótulos degustei da casta, menos do que eu gostaria, mas, evidente, estou
disposto a mudar esse cenário, com a “árdua” tarefa de degustar o máximo que
puder. Então comecemos por um que adquiri em um site de renome especializado em
vendas de vinhos e a um preço imbatível, principalmente pela proposta que o
rótulo entrega. Claro que apareceu um cupom de desconto que não poderia deixar
de usar.
O vinho repousou tranquilamente na adega por pelo menos,
acho, dois anos e aos cinco anos de garrafa achei que estaria na plenitude de
sua degustação. Então lá vamos nós com as devidas apresentações! O vinho que
degustei e gostei veio de Manduria, na Itália e se chama Nero Reale da casta
Primitivo safra 2018. E para não perder o costume vamos de história! Vamos de Puglia,
Manduria e Primitivo.
Puglia: “A terra dos vinhos”
Essa região italiana está localizada no sul da Itália, região
que comumente chamamos de salto da bota, banhada pelo Mar Adriático e o Mar
Jônico. É uma região italiana com tradição vitivinícola onde parte da produção
do vinho era destinado ao norte para ser mesclado aos vinhos e vermute dessas
regiões, inclusive da França.
A introdução de videiras com técnicas eficientes de cultivo
foi feita na região de Puglia desde a época dos fenícios. Os gregos, no século
VIII a.C., deram continuidade ao cultivo da videira, porém a época de ouro foi
durante a conquista dos romanos, onde os vinhos de Puglia alcançaram ainda mais
fama por sua qualidade. Com a queda do Império Romano houve um declínio da
atividade vitivinícola, mas não com grande comprometimento.
No século XVII houve um resgate de variedades autóctones,
porém houve no final do século XIX, um outro baque na história da viticultura
de Puglia, quando a Filoxera atingiu os vinhedos europeus. Na sequência, a
recuperação dos vinhedos em Puglia foi marcada pelas replantações, dando
preferência à quantidade de produção, mas do que a qualidade.
Atualmente os produtores de Puglia vem desenvolvendo outras
estratégias apostando por exemplo, na diminuição da produção e buscando uma
maior qualidade para seus vinhos. Como fruto desse trabalho há atualmente
disponíveis no mercado, vinhos com qualidade.
A topografia da região é praticamente plana com paisagens
belíssimas dos vinhedos. O clima é tipicamente mediterrâneo, quente, com sol
boa parte do ano, pouca chuva, com presença de uma brisa marítima dando
condições muito boas para a viticultura. O solo é argiloso e calcário com presença
de depósitos de ferro.
As principais regiões da Puglia são:
Foggia: ao norte, encontramos tanto vinhos brancos como
tintos bem simples produzidos a partir de Sangiovese, Trebbiano, Montepulciano,
Aglianico, Bombino Bianco e Nero, etc.
Bari e Taranto: localizada na zona mais central. Destacamos
os vinhos brancos mais encorpados de Verdeca.
Península de Salento: região onde são elaborados os vinhos
mais interesantes de Puglia. Nessa zona as videiras se beneficiam dos ventos
frescos provenientes do Mar Adriático e Jônico. As principais uvas dessa região
são a Negroamaro, Primitivo e Malvasia Nera.
As uvas são cultivadas em toda a região. Faz parte da
tradição local e o clima quente da região ainda ajuda, principalmente, as uvas
roxas, já que as uvas verdes precisam de uma temperatura mais baixa.
No entanto, a Puglia produz vinhos tintos, rosés e brancos,
especialmente de uvas nativas, como Bombino Bianco, Malvasia Bianca, Verdeca,
Fiano, Bianco d’Alessano, Moscato Bianco e Pampanuto. Embora, a Chardonnay não
seja nativa é a uva branca mais cultivada na região. O Negroamaro é a principal
uva do Salento. No entanto, o Salento é uma das zonas vinícolas italianas mais
importantes para a produção dos vinhos rosés. O Primitivo é a uva dominante na
Terra di Bari. Enquanto a Uva di Troia, também chamada Nero di Troia, é a uva
mais comum no norte da Puglia.
Quanto às Denominações de Origem a Puglia tem:
• 28 DOC (Denominação de Origem);
• 4 DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantida);
• 6 IGP (Indicação Geográfica Protegida).
Manduria
Manduria é uma pequena comuna italiana, localizada na região da Puglia, ao sul do país, também descrito constantemente como o “calcanhar da bota” da Itália.
As belas praias de Puglia, fruto dos mares Jônico e
Adriático, atraem diversos turistas de todo o mundo. A grande produção de
vinhos e a alta qualidade das garrafas rendeu à Manduria o título de principal
região vinícola do sul do país, dentro do território considerado o berço dos
vinhos italianos.
Primitivo
A Primitivo é uma uva muito comum no sul da Itália, mais
precisamente na região de Puglia, também conhecida como o salto da bota. Ali,
principalmente no IGP de Salento, e especialidade das regiões de Manduria e
Gioia del Colle, ela passou de uma casta considerada secundária a uma das mais
importantes variedades da região, dando origem a vinhos perfumados e encorpados
que estão ganhando o mundo.
A vinícola Pugliese San Marzano foi uma das pioneiras no
renascimento da Primitivo, em grande parte devido ao vinho San Marzano
Sessant’Anni Primitivo di Manduria, que foi responsável por tornar a uva mais
famosa e conhecida.
Um dos motivos dessa revolução é que a uva é perfeita para quem
gosta de vinhos de estilo mais carnudo, concentrados e com bastante fruta, mas
com acidez mais baixa e taninos leves. Enquanto em climas mais quentes os
sabores predominantes são de frutas vermelhas, em regiões de climas mais frios
se sobrepõem as frutas pretas e uva passa. Em Manduria, onde os vinhos de
Primitivo são mais concentrados, também é comum encontrar a uva em corte com
outra cepa regional, a Negroamaro.
Seu nome é uma referência à sua época de colheita. A
Primitivo é uma uva precoce, o que significa que é a primeira casta tinta a ser
colhida, em meados de agosto, enquanto as outras são colhidas em outubro. E,
por isso, costumam ter bastante açúcar residual, o que significa um potencial
de produzir vinhos com alto teor alcoólico.
Embora tenham sido encontradas rastros da cepa na Itália pelo
menos desde o século XVIII, existem evidências que o vinho Primitivo tenha sido
comercializado em Veneza nos anos 1400. No entanto, um estudo genético mostrou
que suas raízes são, na verdade, croatas, onde ela é chamada de Tribidrag. E,
para a surpresa de muitos enólogos, ela é geneticamente idêntica à outra uva, a
Zinfandel, considerada por muito tempo como uma cepa originalmente
californiana.
A história que se tem notícia é, em meados do século XIX,
imigrantes europeus trouxeram mudas da uva para os Estados Unidos. E, chegando
na Califórnia, ela se desenvolveu surpreendentemente, mostrando uma incrível
adaptação natural ao terroir da região.
Quando os viticultores perceberam que mais ninguém no mundo
plantava essa variedade, pensou-se que a Zinfandel fosse uma uva tipicamente
indígena norte-americana. De fato, os vinhedos são os mais antigos do país,
principalmente na região de Lodi, alguns deles chegando a mais de 100 anos de
idade! Não à toa, seu cultivo rapidamente se espalhou por ter sido a primeira
casta replantada após a praga Filoxera chegar à Califórnia.
Até então, o vinho tradicional produzido a partir dela era um
rústico tinto seco de cor rubi intensa, com frutas marcantes, principalmente de
compota de amora, framboesa e ameixa.
Foi no ano de 1972, no entanto, que a uva foi utilizada pela
primeira vez para fazer um vinho rosé claro, resultado de um processo de
vinificação que removia as cascas das uvas antes que elas ficassem em contato
com o mosto. Este vinho, produzido até hoje com o nome de White Zinfandel é
mais leve e doce do que se espera da casta.
Hoje, ela é considerada uma uva extremamente versátil da
região americana, sendo utilizada para a produção de variedades muito
diferentes de vinhos, do branco ou rosé claro aos tintos no estilo do vinho do
Porto. Para se ter uma ideia, apenas 15% dos vinhos de Zinfandel californianos
são tintos. Suas principais regiões produtoras nos EUA são as montanhas de
Napa, Sonoma, Paso Robles e Sierra Foothills.
O vinho tinto da Primitivo é, geralmente, bem denso e
frutado. Os aromas que mais se acentuam nele são os de frutas vermelhas e
negras. Exemplares mais evoluídos já trazem algumas notas de especiarias doces.
Na boca, mostra-se fácil de beber, com essa pitadinha de açúcar bem fácil de
reconhecer e que também ajuda a "amaciar" o líquido.
E agora finalmente o vinho!
Na taça evidencia o vermelho rubi
intenso, escuro, porém com halos granada, um tanto quanto atijolado, talvez
pelo tempo de garrafa ou pela passagem por madeira, com lágrimas grossas, em
profusão, que lentamente desenham as bordas do copo.
No nariz traz aromas intensos de frutas vermelhas bem
maduras, quase em geleia, com destaque para framboesa, cereja e amora, talvez
mirtilos, com notas discretas amadeiradas, graças aos 12 meses de passagem em
barricas de carvalho, que entregam baunilha, tabaco, couro, um agradável
mentolado e especiarias doces, sobressaindo um herbáceo.
Na boca revela bom corpo, estrutura média, persistente,
cheio, volumoso, com muita complexidade, como no aspecto olfativo, trazendo a
fruta vermelha madura, as notas amadeiradas mais evidentes, mas bem integrado
ao conjunto do vinho, com toques de chocolate e um residual de açúcar bem
agradável, um dulçor que não incomoda, logo alcoólico, com taninos presentes, marcados, mas
domados, com acidez vivaz, mas equilibrada. Final longo de retrogosto frutado.
Símbolo, tradição, reverência e tudo começa com incertezas,
com questionamentos e a abnegação de seus produtores, de seu povo, fez e ainda
faz da Primitivo uma casta de suma importância para a região de Puglia e
Manduria. Vários nomes, nomenclaturas, mas uma só realidade: qualidade e
tradição. Nero Reale Primitivo entregou plenamente as características, a
essência de Puglia, de Manduria, a essência daquela palavra que se tornou
sinônimo de vinho: terroir! Tem 14,5% de teor alcoólico.
Sobre a Vinícola Rocca:
A família Rocca trabalha no ramo de vinhos desde 1880, quando
Francesco, o ancestral fundou a “Vinícola Rocca”, iniciando seus negócios
históricos com vinho a granel. Em 1936, seu filho Ângelo aprimorou a produção
de vinho e construiu uma adega em Nardò, Apúlia.
Na década de 1960, Ernesto Rocca, filho de Ângelo, comprou a
primeira linha de engarrafamento e iniciou a distribuição de produtos sob a
marca Rocca. Em 2009, a Rocca Family se torna o principal acionista da vinícola
histórica Dezzani, no Piemonte, realizando novas sinergias comerciais e
produtivas.
Em 1999, apaixonado por Apúlia, ele comprou uma fazenda em
Leverano, no coração de Salento. A tradição, a paixão por vinhos merecedores,
juntamente com a dedicação à viticultura e à produção de vinho, foi fortemente
afirmada pela Família durante essas cinco gerações.
A Companhia cresceu ao longo do tempo e desenvolveu uma
abordagem internacional, prestando muita atenção às necessidades do mercado,
mas sempre cuidando e respeitando o terroir e a tipicidade dos produtos.
Rocca é uma realidade dinâmica e flexível, ao mesmo tempo,
extremamente ligada às suas raízes e hoje inclui uma fazenda de prestígio na
Apúlia, uma vinícola moderna em Agrate Brianza, perto de Milão, e tem o
controle da vinícola histórica Dezzani no Piemonte. Os vinhos Rocca são
apreciados nos mercados mais exigentes em mais de 40 países do mundo.
Mais informações acesse:
Referências:
“Vinhos e Castelos”: https://vinhosecastelos.com/vinhos-de-puglia-italia/
“Brasil na Puglia”: https://www.brasilnapuglia.com/os-vinhos-da-puglia/
“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/277-puglia-terra-de-muitos-vinhos
“Blog Grand
Cru”: https://blog.grandcru.com.br/conheca-a-primitivo-a-uva-que-e-considerada-a-ponte-entre-o-novo-e-o-velho-mundo-do-vinho/
“Blog Vinho Site”: http://blog.vinhosite.com.br/uva-primitivo/