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sábado, 25 de março de 2023

Nero Reale Primitivo di Manduria 2018

 

Alguns vinhos são considerados como clássicos! Tradição, respeitabilidade de seus terroirs, suas tipicidades, sua história, seu povo, sua cultura, enfim, muita coisa, creio, influencia decisivamente no sucesso de um rótulo, de uma região, de uma casta, tudo se complementa e forma um bloco de tradição e respeito comercial.

E definitivamente a Itália desponta nesse quesito, de clássicos, em qualidade e quantidade também, a começar por Barolo, Brunello di Montalcino, Amarone, Valpolicella Ripasso, entre tantos outros.

Temos outros rótulos que são emblemáticos em uma combinação entre casta e região. Sabe quando falamos de uma cepa, nos vêm, imediatamente, a região? Pois é, somente a Itália, diria também, claro, a França, consegue proporcionar isso.

E essa casta tem uma força e representatividade como pouco se vê por aí: falo da boa e velha Primitivo! E quando você fala dela, quem lembramos? Manduria. O sucesso é tamanho que quando falamos de um, falamos de outro como se fora uma coisa só.

Alguns rótulos dessa região italiana já se aproveitaram e se aproveitam, sob o aspecto comercial e estampa em seus rótulos o famoso “Primitivo di Manduria” porque exporta para o mundo esse nome pesado no universo da vitivinicultura.

E falando em sucesso, a Primitivo, também conhecida como Zinfandel nos Estados Unidos, também goza de muito sucesso na terra do Tio Sam, sendo talvez a mais popular cepa tinta daquele país, brilhando em regiões como a Califórnia, por exemplo. Vejam o tamanho da popularidade da Primitivo!

Apesar desse sucesso todo tenho que admitir que poucos rótulos degustei da casta, menos do que eu gostaria, mas, evidente, estou disposto a mudar esse cenário, com a “árdua” tarefa de degustar o máximo que puder. Então comecemos por um que adquiri em um site de renome especializado em vendas de vinhos e a um preço imbatível, principalmente pela proposta que o rótulo entrega. Claro que apareceu um cupom de desconto que não poderia deixar de usar.

O vinho repousou tranquilamente na adega por pelo menos, acho, dois anos e aos cinco anos de garrafa achei que estaria na plenitude de sua degustação. Então lá vamos nós com as devidas apresentações! O vinho que degustei e gostei veio de Manduria, na Itália e se chama Nero Reale da casta Primitivo safra 2018. E para não perder o costume vamos de história! Vamos de Puglia, Manduria e Primitivo.

Puglia: “A terra dos vinhos”

Essa região italiana está localizada no sul da Itália, região que comumente chamamos de salto da bota, banhada pelo Mar Adriático e o Mar Jônico. É uma região italiana com tradição vitivinícola onde parte da produção do vinho era destinado ao norte para ser mesclado aos vinhos e vermute dessas regiões, inclusive da França.


Puglia

A introdução de videiras com técnicas eficientes de cultivo foi feita na região de Puglia desde a época dos fenícios. Os gregos, no século VIII a.C., deram continuidade ao cultivo da videira, porém a época de ouro foi durante a conquista dos romanos, onde os vinhos de Puglia alcançaram ainda mais fama por sua qualidade. Com a queda do Império Romano houve um declínio da atividade vitivinícola, mas não com grande comprometimento.

No século XVII houve um resgate de variedades autóctones, porém houve no final do século XIX, um outro baque na história da viticultura de Puglia, quando a Filoxera atingiu os vinhedos europeus. Na sequência, a recuperação dos vinhedos em Puglia foi marcada pelas replantações, dando preferência à quantidade de produção, mas do que a qualidade.

Filoxera

Atualmente os produtores de Puglia vem desenvolvendo outras estratégias apostando por exemplo, na diminuição da produção e buscando uma maior qualidade para seus vinhos. Como fruto desse trabalho há atualmente disponíveis no mercado, vinhos com qualidade.

A topografia da região é praticamente plana com paisagens belíssimas dos vinhedos. O clima é tipicamente mediterrâneo, quente, com sol boa parte do ano, pouca chuva, com presença de uma brisa marítima dando condições muito boas para a viticultura. O solo é argiloso e calcário com presença de depósitos de ferro.

As principais regiões da Puglia são:

Foggia: ao norte, encontramos tanto vinhos brancos como tintos bem simples produzidos a partir de Sangiovese, Trebbiano, Montepulciano, Aglianico, Bombino Bianco e Nero, etc.

Bari e Taranto: localizada na zona mais central. Destacamos os vinhos brancos mais encorpados de Verdeca.

Península de Salento: região onde são elaborados os vinhos mais interesantes de Puglia. Nessa zona as videiras se beneficiam dos ventos frescos provenientes do Mar Adriático e Jônico. As principais uvas dessa região são a Negroamaro, Primitivo e Malvasia Nera.

As uvas são cultivadas em toda a região. Faz parte da tradição local e o clima quente da região ainda ajuda, principalmente, as uvas roxas, já que as uvas verdes precisam de uma temperatura mais baixa.

No entanto, a Puglia produz vinhos tintos, rosés e brancos, especialmente de uvas nativas, como Bombino Bianco, Malvasia Bianca, Verdeca, Fiano, Bianco d’Alessano, Moscato Bianco e Pampanuto. Embora, a Chardonnay não seja nativa é a uva branca mais cultivada na região. O Negroamaro é a principal uva do Salento. No entanto, o Salento é uma das zonas vinícolas italianas mais importantes para a produção dos vinhos rosés. O Primitivo é a uva dominante na Terra di Bari. Enquanto a Uva di Troia, também chamada Nero di Troia, é a uva mais comum no norte da Puglia.

Quanto às Denominações de Origem a Puglia tem:

• 28 DOC (Denominação de Origem);

• 4 DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantida);

• 6 IGP (Indicação Geográfica Protegida).

Manduria

Manduria é uma pequena comuna italiana, localizada na região da Puglia, ao sul do país, também descrito constantemente como o “calcanhar da bota” da Itália.

As belas praias de Puglia, fruto dos mares Jônico e Adriático, atraem diversos turistas de todo o mundo. A grande produção de vinhos e a alta qualidade das garrafas rendeu à Manduria o título de principal região vinícola do sul do país, dentro do território considerado o berço dos vinhos italianos.

Primitivo

A Primitivo é uma uva muito comum no sul da Itália, mais precisamente na região de Puglia, também conhecida como o salto da bota. Ali, principalmente no IGP de Salento, e especialidade das regiões de Manduria e Gioia del Colle, ela passou de uma casta considerada secundária a uma das mais importantes variedades da região, dando origem a vinhos perfumados e encorpados que estão ganhando o mundo.

A vinícola Pugliese San Marzano foi uma das pioneiras no renascimento da Primitivo, em grande parte devido ao vinho San Marzano Sessant’Anni Primitivo di Manduria, que foi responsável por tornar a uva mais famosa e conhecida.

Um dos motivos dessa revolução é que a uva é perfeita para quem gosta de vinhos de estilo mais carnudo, concentrados e com bastante fruta, mas com acidez mais baixa e taninos leves. Enquanto em climas mais quentes os sabores predominantes são de frutas vermelhas, em regiões de climas mais frios se sobrepõem as frutas pretas e uva passa. Em Manduria, onde os vinhos de Primitivo são mais concentrados, também é comum encontrar a uva em corte com outra cepa regional, a Negroamaro.

Seu nome é uma referência à sua época de colheita. A Primitivo é uma uva precoce, o que significa que é a primeira casta tinta a ser colhida, em meados de agosto, enquanto as outras são colhidas em outubro. E, por isso, costumam ter bastante açúcar residual, o que significa um potencial de produzir vinhos com alto teor alcoólico.

Embora tenham sido encontradas rastros da cepa na Itália pelo menos desde o século XVIII, existem evidências que o vinho Primitivo tenha sido comercializado em Veneza nos anos 1400. No entanto, um estudo genético mostrou que suas raízes são, na verdade, croatas, onde ela é chamada de Tribidrag. E, para a surpresa de muitos enólogos, ela é geneticamente idêntica à outra uva, a Zinfandel, considerada por muito tempo como uma cepa originalmente californiana.

A história que se tem notícia é, em meados do século XIX, imigrantes europeus trouxeram mudas da uva para os Estados Unidos. E, chegando na Califórnia, ela se desenvolveu surpreendentemente, mostrando uma incrível adaptação natural ao terroir da região.

Quando os viticultores perceberam que mais ninguém no mundo plantava essa variedade, pensou-se que a Zinfandel fosse uma uva tipicamente indígena norte-americana. De fato, os vinhedos são os mais antigos do país, principalmente na região de Lodi, alguns deles chegando a mais de 100 anos de idade! Não à toa, seu cultivo rapidamente se espalhou por ter sido a primeira casta replantada após a praga Filoxera chegar à Califórnia.

Até então, o vinho tradicional produzido a partir dela era um rústico tinto seco de cor rubi intensa, com frutas marcantes, principalmente de compota de amora, framboesa e ameixa.

Foi no ano de 1972, no entanto, que a uva foi utilizada pela primeira vez para fazer um vinho rosé claro, resultado de um processo de vinificação que removia as cascas das uvas antes que elas ficassem em contato com o mosto. Este vinho, produzido até hoje com o nome de White Zinfandel é mais leve e doce do que se espera da casta.

Hoje, ela é considerada uma uva extremamente versátil da região americana, sendo utilizada para a produção de variedades muito diferentes de vinhos, do branco ou rosé claro aos tintos no estilo do vinho do Porto. Para se ter uma ideia, apenas 15% dos vinhos de Zinfandel californianos são tintos. Suas principais regiões produtoras nos EUA são as montanhas de Napa, Sonoma, Paso Robles e Sierra Foothills.

O vinho tinto da Primitivo é, geralmente, bem denso e frutado. Os aromas que mais se acentuam nele são os de frutas vermelhas e negras. Exemplares mais evoluídos já trazem algumas notas de especiarias doces. Na boca, mostra-se fácil de beber, com essa pitadinha de açúcar bem fácil de reconhecer e que também ajuda a "amaciar" o líquido.

E agora finalmente o vinho!

Na taça evidencia o vermelho rubi intenso, escuro, porém com halos granada, um tanto quanto atijolado, talvez pelo tempo de garrafa ou pela passagem por madeira, com lágrimas grossas, em profusão, que lentamente desenham as bordas do copo.

No nariz traz aromas intensos de frutas vermelhas bem maduras, quase em geleia, com destaque para framboesa, cereja e amora, talvez mirtilos, com notas discretas amadeiradas, graças aos 12 meses de passagem em barricas de carvalho, que entregam baunilha, tabaco, couro, um agradável mentolado e especiarias doces, sobressaindo um herbáceo.

Na boca revela bom corpo, estrutura média, persistente, cheio, volumoso, com muita complexidade, como no aspecto olfativo, trazendo a fruta vermelha madura, as notas amadeiradas mais evidentes, mas bem integrado ao conjunto do vinho, com toques de chocolate e um residual de açúcar bem agradável, um dulçor que não incomoda, logo alcoólico, com taninos presentes, marcados, mas domados, com acidez vivaz, mas equilibrada. Final longo de retrogosto frutado.

Símbolo, tradição, reverência e tudo começa com incertezas, com questionamentos e a abnegação de seus produtores, de seu povo, fez e ainda faz da Primitivo uma casta de suma importância para a região de Puglia e Manduria. Vários nomes, nomenclaturas, mas uma só realidade: qualidade e tradição. Nero Reale Primitivo entregou plenamente as características, a essência de Puglia, de Manduria, a essência daquela palavra que se tornou sinônimo de vinho: terroir! Tem 14,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Rocca:

A família Rocca trabalha no ramo de vinhos desde 1880, quando Francesco, o ancestral fundou a “Vinícola Rocca”, iniciando seus negócios históricos com vinho a granel. Em 1936, seu filho Ângelo aprimorou a produção de vinho e construiu uma adega em Nardò, Apúlia.

Na década de 1960, Ernesto Rocca, filho de Ângelo, comprou a primeira linha de engarrafamento e iniciou a distribuição de produtos sob a marca Rocca. Em 2009, a Rocca Family se torna o principal acionista da vinícola histórica Dezzani, no Piemonte, realizando novas sinergias comerciais e produtivas.

Em 1999, apaixonado por Apúlia, ele comprou uma fazenda em Leverano, no coração de Salento. A tradição, a paixão por vinhos merecedores, juntamente com a dedicação à viticultura e à produção de vinho, foi fortemente afirmada pela Família durante essas cinco gerações.

A Companhia cresceu ao longo do tempo e desenvolveu uma abordagem internacional, prestando muita atenção às necessidades do mercado, mas sempre cuidando e respeitando o terroir e a tipicidade dos produtos.

Rocca é uma realidade dinâmica e flexível, ao mesmo tempo, extremamente ligada às suas raízes e hoje inclui uma fazenda de prestígio na Apúlia, uma vinícola moderna em Agrate Brianza, perto de Milão, e tem o controle da vinícola histórica Dezzani no Piemonte. Os vinhos Rocca são apreciados nos mercados mais exigentes em mais de 40 países do mundo.

Mais informações acesse:

https://roccavini.com/en/

Referências:

“Vinhos e Castelos”: https://vinhosecastelos.com/vinhos-de-puglia-italia/

“Brasil na Puglia”: https://www.brasilnapuglia.com/os-vinhos-da-puglia/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/277-puglia-terra-de-muitos-vinhos

“Blog Grand Cru”: https://blog.grandcru.com.br/conheca-a-primitivo-a-uva-que-e-considerada-a-ponte-entre-o-novo-e-o-velho-mundo-do-vinho/

“Blog Vinho Site”: http://blog.vinhosite.com.br/uva-primitivo/

 

 

 

 


 








sábado, 12 de dezembro de 2020

Marchesi del Salento Primitivo 2018

 

Ao longo da semana que antecedeu a minha tão esperada degustação tradicional de sábado, tentei escolher um vinho que emanasse tradição, história e, ao mesmo tempo, um vinho, uma casta, uma região que não degustava há algum tempo. Revirei cada canto da minha adega na expectativa de encontrar algum rótulo que se adequasse aos meus anseios. Eis que me deparei com um do Velho Mundo, da terra da Bota, da velha Itália, mais precisamente da emblemática região de Puglia ou, para alguns, Apulia, da casta Primitivo que, nos Estados Unidos se chama Zinfandel. Ah, quanto tempo eu não degusto um Primitivo, uma cepa tão versátil, que mescla a maciez e o frutado com muita personalidade e expressividade. Essa é a cara do vinho italiano: rótulos acessíveis à mesa, com muita elegância e requinte.

E, desde o meu último rótulo degustado da casta Primitivo, estamos testemunhando um crescimento exponencial, uma popularidade na Itália e no mundo inteiro. E não precisa fazer um grande trabalho de pesquisa para identificar isso. A oferta de rótulos dessa casta tem crescido vertiginosamente no Brasil nos últimos anos e consequentemente o seu consumo em todas as suas propostas de vinhos, dos mais frutados aos mais complexos e barricados. Então eu precisava degustar um Primitivo de novo, depois de quase 5 anos sem fazê-lo! Isso mesmo, quase 5 anos sem degustar e agora vem a calhar celebrar esse momento da casta em sua grata e nova realidade no Brasil.

Então o vinho que degustei e gostei veio da região de Puglia, da história vinícola Castellani, e se chama Marchesi del Salento, da casta, é claro, Primitivo e a safra é de 2018. E o seu atual sucesso nos dias atuais se deve também ao seu passado rico, de muita história, personificado em uma cultura de DNA, de identificação de um povo que tem um laço forte e simbiótico com o vinho e a vinha. Então falemos da Primitivo e da região a qual tem representatividade de cultivo: Puglia.

Primitivo

A uva Primitivo é uma das castas típicas do sul da Itália, especialmente na região de Puglia. Atualmente, ela tem grande cultivo também nos Estados Unidos, onde recebe o nome de Zinfandel. Algumas pessoas acreditam ter diferenças entre a Primitivo e a Zinfandel, mesmo que ambas as castas tenham o mesmo DNA, provado cientificamente. Um dos motivos é que originam vinhos com características muito distintas, embora tenham alto teor alcoólico. De característica mais doce, esta uva é capaz de produzir ótimos rótulos, especialmente nos DOC’s Primitivo di Manduria e Primitivo Del Salento, ambos na Itália.

O termo “Primitivo”, nome desta uva, está relacionado ao tempo de colheita. Ela é uma casta que amadurece precoce, em meados de agosto, antes de outras uvas tintas. Devido ao seu tempo de amadurecimento, esta uva tem grande quantidade de açúcar residual, resultando em vinhos com alto teor alcoólico. Ela é conhecida por produzir vinhos mais robustos e ricos em taninos.

Sua história não é confirmada, mas existem alguns indícios do surgimento desta uva. Foram encontrados sinais da Primitivo na Itália, durante o século XVIII, mas alguns estudiosos acreditam que ela tenha se originado anteriormente. Existem algumas evidências da comercialização de vinhos com esta casta no ano 1400. Enquanto isso, outro estudo, que analisou as raízes da Primitivo, atribuem sua origem a Croácia. Após algum tempo, foi descoberto que a Zinfandel, considerada uma casta californiana, tem o mesmo DNA da Primitivo. Embora não exista um consenso sobre suas origens, a Primitivo tem destaque em terras italianas. Em Puglia, ela é cultivada em 11 mil hectares, quantidade que aumentou consideravelmente nos últimos dez anos, em cerca de 40%. A Primitivo tinha registrado anteriormente um período de baixa, devido a algumas normas da União Europeia para desarraigar vinhas.

Puglia

O nome Puglia vem do povo Iapigi, que os romanos em latim chamaram de Apuli, e a região, consequentemente, Apulia.  Em português o nome se manteve como em latim, e em italiano passou a ser Puglia. Puglia fica no “calcanhar da bota” do mapa italiano. A região é cercada por praias consideradas as mais lindas da Itália, como Torre dell’Orso, um balneário italiano de pequenas falésias que moldam e encantam as areias de seu litoral. Outro destaque da região é a cidade de Otranto, a maior dessa parte do litoral, que possui sítios históricos, que nos remetem a era da Itália medieval e ainda mantém algumas ruínas greco-romanas.

Puglia

O sul da Itália é considerado o berço do vinho italiano. Embora a região setentrional também possua seu prestígio, as regiões que compreendem a parte sul, Molise, Campânia, Basilicata, Calábria e Puglia, são destaque na produção e qualidade dos famosos vinhos italianos, sendo Puglia a região considerada principal, não somente pela grande produção de seus vinhedos, como também pela qualidade dos vinhos. Puglia possui uma extensão de aproximadamente 400 km através da costa do mar Adriático, com clima e solo considerado ideal para a produção de vinhos, além da topografia da região ser praticamente plana. Puglia possui uma área de vinhedos de 190.000 ha, a região é responsável por 17% da produção de vinho italiano. Em Puglia, 60% da produção se dão através do sistema de cooperativas.

A região tem ampla diversidade de uvas nativas, que conferem status quando o assunto é exportação. Ao norte da região as uvas mais abundantes são a Trebbiano e a Sangiovese e os vinhos gerados a partir dessas espécies respondem por até 30% dos vinhos DOC produzidos na região. Há ainda as uvas Bombino Bianco e Montepulciano, oriundas da província de Foggia, e a “Uva di Troia” ou Sumarello. As que possuem maior destaque na região são a Primitivo e a Negroamaro.

A uva Primitivo é proveniente de Manduria, localizada ao sul da região, a 10km do mar Jônio. Normalmente, os vinhos dessa uva possuem corpo denso e médio, cor escura e acidez entre média e alta, de boa longevidade e excelentes companheiros na gastronomia da região. A uva Negroamaro é utilizada para a produção de vinhos bastante rústicos. Atualmente é trabalhado em conjunto com a Malvasia Negra, o que resulta na produção de vinhos muito fortes e bem encorpados, considerados ideais para o consumo com carne.

E agora o vinho!

Na taça tem um vermelho rubi com reflexos violáceos muito brilhante, com grande concentração de lágrimas finas, mas que logo se dissipa das paredes do copo.

No nariz tem agradáveis aromas de frutas vermelhas como framboesa, groselha e morango, com um discreto toque floral, diria.

Na boca se reproduz as impressões olfativas, com toques de frutas vermelhas, com um discreto adocicado. Tem corpo leve para médio, mas é fácil de degustar e macio. No início o álcool sobressaiu um pouco, mas com alguns minutos na taça, o vinho ficou aveludado e equilibrado. Os taninos estão domados e suaves, com uma acidez média e um final persistente, com muita fruta.

Tradição, história, o DNA da vitivinicultura da Itália traduzida em grandes vinhos que, em alguns momentos tiveram contratempos, alguns reveses, que só veio a reforçar o potencial de crescimento da região e dos seus vinhos, dos seus “Primitivos” que entrou em nosso país sendo reverenciado, em todos os seus aspectos, em todas as suas propostas. Marchesi del Salento personifica, em requinte de detalhes, de terroir, de história, todas as características mais emblemáticas de um Primitivo com a sua proposta: frutada, jovem, fácil de degustar, mas com a personalidade e expressividade que determinam a sua imponência. Um vinho surpreendentemente maravilhoso. O único ponto negativo é claro fica para o seu valor e que vale ser registrado: lembro-me quando o comprei na faixa dos R$ 30,00 e atualmente, dado ao seu sucesso, está na faixa dos R$ 60,00! Um valor absurdo e que precisa ser revisto, se de fato querem que a democracia da cultura do vinho seja disseminada. De resto, um grande e surpreendente vinho que é muito versátil, harmonizando com pratos mais simples a complexos. Harmonizou muito bem com um queijo gorgonzola e logo será degustado com uma bela macarronada, como todo bom rótulo italiano. Tem 13% de teor alcoólico.

Marchesi del Salento Primitivo harmonizado com Queijo Gorgonzola

Sobre a vinícola Castellani:

O negócio de Castellani foi estabelecido em Montecalvoli no final do século 19 quando Alfred, um viticultor de longa data, decidiu começar a engarrafar e vender seu vinho. O filho de Alfredo, Duilio, junto com seu irmão Mario dá início ao período de expansão da empresa. Duilio, homem meticuloso e diligente, participa ativamente de todas as etapas do trabalho. A vinha mais importante é aquela situada em Santa Lúcia, no fértil vale do Arno, onde se produz um vinho tinto vivo e apto para envelhecer e engarrafado em típicos frascos com palha, conquistando o interesse dos mercados transalpinos. Nos anos seguintes, o filho primogênito de Duilio, Giorgio, homem determinado e ambicioso, inicia a exportação em grande escala. A enchente de 1966 causa grandes danos à vinícola Montecalvoli. Decide-se então transferir temporariamente o negócio para a Fazenda Burchino, nas colinas da vila de Terricciola. O irmão de Giorgio, Roberto, brilhante jornalista do jornal “Il Giornale del Mattino”, de Florença, corre para ajudar a retirar lama da vinícola da família. Ele então decide ficar e contribui para a evolução da empresa. Roberto, homem culto e cosmopolita, inicia uma atividade pioneira em mercados longínquos, tornando-se um dos defensores do sucesso internacional do Chianti. A aquisição da vinha Poggio al Casone coincide com a ampliação da adega da Quinta Travalda em Santa Lúcia. urante a noite do dia de Ano Novo em 1982, um incêndio queimou quase completamente as instalações da empresa. Parece ser o fim. Mas em poucos meses os irmãos Castellani adquirem a Fazenda Campomaggio e, graças à contribuição de Piergiorgio, filho de Roberto, o negócio ganha força. As pesquisas vitivinícolas e tecnológicas são promovidas por especialistas como o enólogo Sabino Russo e o agrônomo Carlo Burroni. Hoje esta empresa centenária persegue com grande entusiasmo o objetivo de produzir vinhos, que são a expressão de uma das maiores regiões enológicas do mundo: a Toscana.

Mais informações acesse:

https://www.castelwine.com/

Referências:

Sobre a casta Primitivo:

Blog “Vinho Site”: http://blog.vinhosite.com.br/uva-primitivo/#:~:text=O%20termo%20%E2%80%9CPrimitivo%E2%80%9D%2C%20nome,vinhos%20com%20alto%20teor%20alco%C3%B3lico.

Portal Viavini: https://www.viavini.com.br/blog-de-vinhos/primitivo-uma-uva-diversos-vinhos/

Sobre a região de Puglia:

Blog “Sonoma”: https://blog.sonoma.com.br/regioes/puglia-uma-das-maiores-da-italia/

Blog “Diário de Bari”: http://diariodebari.blogspot.com/2011/12/puglia-um-pouco-de-historia.html

Portal “Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/vinhos-de-puglia-o-berco-dos-vinhos-italianos/


 






domingo, 3 de maio de 2020

Conte di Monforte Primitivo de Manduria 2012


Quem é enófilo sabe. Sabe do sentimento e as sensações mais do que reais de se degustar um vinho com o DNA de um país com forte tradição vitivinícola. Pode não ter conhecimento de causa ou riqueza de detalhes sobre o tão complexo conceito de tipicidade, terroir da região daquele rótulo, afinal é um universo tão vasto, mas, com o mínimo discernimento, já te desperta o prazer e a alegria de se degustar um vinho de determinadas regiões. Algumas são como marcas registradas, dada, sobretudo a sua notoriedade e qualidade de seus vinhos, a tal da tipicidade. O rótulo da qual me refiro, além de ser um representante de uma emblemática região, fora o meu primeiro! Ainda tem o momento especial de uma estreia, debutar alguns vinhos só fomenta os grandes rituais da degustação do vinho.

O vinho que degustei e gostei veio da comuna de Manduria, da excepcional região de Puglia ou Apúlia e se chama Conte di Monforte by Leoni de Castris, um DOC da casta Primitivo da safra 2012. Mas já que falei da importância de uma região vitivinícola nada mais adequado do que pincelar sobre a sua história, então eis um pouco sobre Manduria e Puglia e também da sua principal casta: a Primitivo que também é conhecida como Zinfandel, nome este usado nos EUA.

Manduria e Puglia

Manduria é uma pequena comuna italiana, localizada na região da Puglia, ao sul do país, também descrito constantemente como o “calcanhar da bota” da Itália. As belas praias de Puglia, fruto dos mares Jônico e Adriático, atraem diversos turistas de todo o mundo. A grande produção de vinhos e a alta qualidade das garrafas rendeu à Manduria o título de principal região vinícola do sul do país, dentro do território considerado o berço dos vinhos italianos.




Puglia é uma enorme região predominantemente agrícola no calcanhar da bota banhada por dois mares no Mediterrâneo, uma parte do sul que sofre o preconceito de local pobre na Itália. Mas a Puglia é muito mais do que isso. A beleza natural é marcada pelo calor e pelo sol intensos, com pouca chuva e com solo seco embora cercado por água. As condições que restringem muitas atividades agrícolas são ideais para o cultivo de frutas, entre elas a uva e, sobretudo vastas e lindas “florestas” de oliveiras.

Primitivo

A uva do tipo Primitivo recebeu este nome pelo amadurecimento precoce das suas vinhas. E por conta deste amadurecimento precoce, esta uva tem grande quantidade de açúcar residual, o que resulta em vinhos com alto teor alcoólico. Com origem incerta, a Primitivo é a base do sucesso dos vinhos de Manduria. Curiosamente, ela foi levada por imigrantes americanos para os Estados Unidos, onde é conhecida como zinfandel.

Finalmente o vinho:

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso com bordas violáceas com intenso e marcante brilho com lágrimas em abundância e que vagarosamente escorre e se dissipa das paredes do copo.

No nariz é muito perfumado, talvez toques florais, traz aromas de frutas maduras, mas diria que, ao mesmo tempo, muito frescas, com toque discreto de especiarias, tabaco.

Na boca se reproduz as percepções olfativas sendo estruturado, encorpado, com certa complexidade, com taninos presentes que enche a boca, um bom volume de boca, mas sedosos, domados, com uma razoável acidez, um toque discreto da madeira, muito bem integrada (não tem informações no site do produtor o tempo de passagem por barricas de carvalho, mas é perceptível a sua passagem) e um final longo e gordo.

Um vinhaço que se revelou com muita personalidade, tipicidade, equilíbrio entre potência e frescor. Com 14,5% de teor alcoólico. Ideal para harmonizar com massas condimentadas, como foi no meu caso, ou carnes vermelhas e queijos curados.

Sobre a vinícola Leoni Di Castris:

A noroeste da península de Salento, uma área de tradição vinícola antiga, fica SALICE SALENTINO, uma pequena cidade rural que abriga uma adega antiga por mais de três séculos: a Leone de Castris. É o ano de 1665. Entre as vinhas férteis da época, Oronzo Arcangelo Maria Francesco dos Contos de Lemos deu à luz a adega. O fundador é apaixonado por uma terra tão fértil e rica e entende seu valor; portanto, após os primeiros anos de processamento e transformação do produto, ele volta para a Espanha, vende alguns bens, retorna e investe o produto nas terras de Salento. Em torno de Salice, Guagnano, Veglie, Villa Baldassarri, Novoli e San Pancrazio, ele se torna proprietário de vários milhares de hectares, nos quais não apenas planta novas vinhas, mas também plantas de oliveira e trigo. No início do século XIX, a vinícola começou a exportar vinho cru para os Estados Unidos, Alemanha e França. A vinícola começou a engarrafar seus produtos com Piero e Lisetta Leone de Castris, em 1925. Five Roses nasceu em 1943, o produto mais conhecido da empresa e o primeiro vinho rosé a ser engarrafado e comercializado na Itália e imediatamente exportado nos Estados Unidos. A história deste vinho ainda hoje é lembrada na empresa como um dos eventos mais significativos em sua jornada secular. De fato, há um distrito no feudo de Salice Salentino chamado "Cinque Rose", um nome devido ao fato de que por gerações o Leone de Castris teve cada um, com incrível constância, cinco filhos. No final da guerra, o general Charles Poletti, comissário de suprimentos das forças aliadas, pediu um grande suprimento de vinho rosé, cujas uvas vieram do feudo de Cinque Rose. Mas o general queria um vinho com nome americano, e não demorou muito para encontrá-lo: "Five Roses" nasceu. Com a safra de 1954, nasceu Salice Leone de Castris e, graças ao marketing na Itália e no exterior por cerca de 20 anos, Salice Salentino Doc foi obtido no início dos anos 70. Portanto, com DOC, outras empresas também entraram no mercado. A história desta família e da vinícola continua. Cav. del Lavoro Salvatore Leone de Castris, filho de Piero e Lisetta, contribuiu para um notável desenvolvimento - também internacionalmente - da empresa. Por vinte anos, seu filho, Dr. Piernicola, dirigiu. Prêmios cada vez mais prestigiados são constantemente atribuídos a toda a gama de empresas. Hoje, a rede de vendas externas vê os produtos presentes e também nos mercados europeus, nos Estados Unidos, Cingapura, Canadá, Brasil, Autralia, Japão, China, Hong Kong, etc. Novas vinhas foram plantadas nas fazendas da família: Chardonnay, Sauvignon, Montepulciano, que flanqueiam as vinhas tradicionais: Negroamaro, Malvasia nera, Verdeca, branco d'Alessano, Moscato, Aleatico, Primitivo, Susumaniello, Ottavianello. A Adega apresenta uma gama variada de produtos: vinhos DOC tintos, brancos e rosados ​​(Salice Salentino, Locorotondo, Copertino, Primitivo di Manduria), interessantes vinhos IGT Salento e Puglia, vinhos espumantes rosados ​​e brancos; um conhaque e um óleo particularmente valioso. Também possui um hotel "Villa Donna Lisa" de primeira classe, com instalações esportivas; atua como apoio às visitas diárias de delegações italianas e estrangeiras. A produção média anual é de cerca de 2,5 milhões de garrafas. A Leone de Castris é uma empresa que há séculos trabalha na Apúlia e apenas nos produtos da Apúlia.

Mais informações acesse: