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domingo, 11 de outubro de 2020

Pinhel Colheita tinto 2017

 

Eu não sei quanto aos demais enófilos, mas quando a gente conhece uma vinícola ou ainda uma região e se surpreende positivamente, você quer sempre mais, buscar ainda mais rótulos, conhecer um pouco da história dos vinhos do referido produtor e daquela terra de onde veio. É como se fora um vício, talvez a palavra soe um tanto quanto dramática, mas é algo salutar e, para aqueles que curtem mesclar as degustações com história, cultura, é um prato cheio! Lembro-me como se fosse hoje, quando conheci os vinhos da Adega Cooperativa de Pinhel, oriunda da região lusitana do Beira Interior. Pouco conhecida, é bem verdade, em comparação às emblemáticas e populares regiões portuguesas do Douro, Alentejo, Tejo, por exemplo, foi outro estímulo para conhecer e degustar ainda mais os vinhos dessa região. Li algumas publicações de especialistas do universo do vinho que um vinho chamado D. João I branco foi muito bem posicionado em um ranking de degustação às cegas realizado por especialistas e jornalistas do vinho. E quando falaram que o vinho era muito barato me chamou a atenção, é claro. Em minhas incursões aos supermercados, lembrei-me de ter visto esse rótulo nas gôndolas e não hesitei em voltar lá e compra-lo, o que confesso, não ter feito antes por receio de não ser um bom vinho. Comprei e realmente, ele foi arrebatador e os meus comentários seguem neste link, o D. João I branco. E não satisfeito decidi degustar a versão tinta do D. João I e outra gratíssima surpresa! E claro, não poderia negligenciar as minhas impressões sobre ele e textualizá-las, conforme segue no link também: D. João I tinto. Então, a sorte e o garimpo sorriram para mim de novo e mais um rótulo da Adega Cooperativa de Pinhel apareceu diante dos meus olhos. Não hesitei, precisava fazer a aquisição deste novo vinho e me proporcionar uma nova experiência.

Então o vinho que degustei e gostei, o olha que eu gostei também, veio da minha mais nova queridinha região lusitana, Beira Interior, mais precisamente do Concelho de Pinhel, e se chama Pinhel Colheita, das autóctones castas Rufete e Marufo, da safra 2017. E olha que, com as gratas novidades, vem junto o prazer das descobertas que o vinho proporciona pelo menos para mim! Então, para não perder tempo, falemos um pouco do Concelho de Pinhel, que dá nome ao vinho e as castas que o compõe: Rufete e Marufo.

O Concelho de Pinhel

Pinhel é uma cidade portuguesa pertencente ao distrito da Guarda, na província da Beira Alta, região do Centro (Região das Beiras) e sub-região das Beiras e Serra da Estrela, com aproximadamente 3 500 habitantes.


A origem da cidade de Pinhel é atribuída, sem grande certeza, aos Túrdulos, por volta do ano 500 a.C. O concelho de Pinhel recebeu foral de D. Sancho I em 1209, detendo funções de organização militar e jurisdição. Deve-se a D. Dinis a reedificação do Castelo de Pinhel, constituído por duas torres, e a construção da histórica muralha que rodeava a vila da época (atual zona histórica), constituída por seis portas: Vila, Santiago, S. João, Marrocos, Alvacar e Marialva. Tornou-se sede de diocese e cidade em 1770, durante o reinado de D. José I, por desanexação da Diocese de Lamego, mas em 1881 a Diocese de Pinhel foi extinta pela Bula Papal de Leão XIII e incorporada na Diocese da Guarda. Constitui uma zona de vinhos de altitude, média de 650m. O seu clima é extremamente frio no inverno e quente e seco no período do estio ou verão. O solo é arenoso de origem granítica e de baixa fertilidade. A sub-região de vinhos de Pinhel é ideal para vinhos brancos acídulos. No caso de vinhos tintos, se forem para envelhecimento podemos encontrar grandes surpresas. Dado que as maturações são lentas, é extremamente indicada para produção de espumantes. Os concelhos de Pinhel são: Celorico da Beira, Guarda, Meda, Pinhel e Trancoso. As castas tintas predominantes são: Bastardo, Marufo, Rufete e Touriga Nacional, no conjunto ou em separado, com um mínimo de 80%, Baga, Tinta Carvalha, Pilongo e Trincadeira (Tinta Amarela). Já as brancas são: Bical, Arinto (Pedernã), Fonte Cal, Malvasia Fina, Malvasia Rei, Rabo de Ovelha, Síria (Roupeiro) e Tamarez, no conjunto ou em separado, com um mínimo de 80%. Os tintos costumam ser vinosos, vivos e brilhantes enquanto jovens, intensos e equilibrados, com raro bouquet quando estagiados e envelhecidos. E os brancos são vinhos aromáticos, cheios e persistentes no sabor.

Marufo

A casta Marufo tem origem no nordeste de Portugal e sua denominação não tem tradução. As regiões de maior expansão são, claro, Beira Interior, Trás-os-Montes e a emblemática e tradicional Douro.

A casta Marufo e as suas maiores incidências

Tida como uma das cepas mais antigas de Portugal há referências sobre ela que datam do ano de 1512! E é conhecida como: Abrunhal (Pinhel), Falso Mourisco, Mourisco Tinto (Douro), Marufa, Marujo, Mourico (Beira interior) Uva-rei (Trás-os-Montes), Barrete-de-Padre na região demarcada do Dão e Tinta Grossa no Alentejo. 

Rufete

A casta Rufete é a mais plantada nos encepamentos tradicionais da Beira Interior, sendo popular nas regiões do Douro e Dão. É uma casta caprichosa e exigente, reivindicando condições muito particulares para poder dar o melhor de si.

A casta Rufete e as suas maiores incidências

Sensível ao míldio e oídio, é uma casta produtiva, com cachos e bagos de tamanho médio. Por ser uma variedade de maturação tardia, tem dificuldade em madurar na plenitude, antes das chuvas do equinócio. Porém, quando amadurece bem, compõe vinhos aromáticos, encorpados, frutados e delicados, com um bom potencial de envelhecimento em garrafa. É uma casta utilizada maioritariamente como lote juntamente com a Touriga Nacional e a Tinta Roriz.

E agora o vinho!

Na taça conta com um vermelho escuro, intenso, mas com reflexos violáceos, muito brilhante e com lágrimas grossas e abundantes que teimam em permanecer nas paredes do copo, desenhando-o.

No nariz apresenta agradáveis notas frutadas, frutas vermelhas, como morango e framboesa, com muito frescor e discretos toques de especiarias

Na boca se confirmam as frutas vermelhas, um vinho de leve para corpo médio, muito macio, delicado e redondo, com taninos macios e sedosos, com acidez baixa, quase imperceptível e sútil. Tem um retrogosto de média persistência, lembrando as frutas vermelhas.

Um senhor vinho! Um surpreendente vinho! E mostra a força regionalista de uma região extremamente tradicional, embora pouco conhecida em terras brasileiras, mas que merece toda e qualquer reverência, afinal, não há nada mais expressivo e forte do que o terroir, a tipicidade de um vinho. Um vinho de personalidade marcante, de médio corpo, mas que se revela fresco, jovial, frutado, de um perfeito equilíbrio, harmônico e elegância. Como tem sido aprazível degustar os vinhos da região de Beiras. Um vinho versátil que harmoniza com comidas mais simples, refeições, mas que, ao mesmo tempo com pratos mais gordurosos, como pizza e massas, por exemplo. Um excelente custo X benefício que entregou muito mais do que valeu. Grata experiência! Tem 13% de teor alcoólico.

Pinhel Colheita harmonizado com queijo provolone

Sobre a Adega Cooperativa de Pinhel:

Desde tempos muito antigos que em Pinhel, e seu termo, se praticava a cultura da vinha e se produziam vinhos de alta qualidade; já nos princípios do ano 1500, o Rei D. Manuel I, o Venturoso, concedeu diversas regalias e privilégios em favor dos vinhos de Pinhel. Em 1942 e 1943, houve colheitas abundantes e não havia escoamento para a produção, foi então que a Junta Nacional do Vinho, recentemente criada, como organismo de Coordenação Económica, e que veio substituir a antiga Federação dos  Vinicultores do Centro e Sul de Portugal, instalou em Pinhel uma caldeira móvel de destilação, acionada por uma geradora locomóvel, em que foram destilados milhões de litros de vinho e que veio resolver a crise gravíssima, que afetava os lavradores da Região, que viviam exclusivamente do rendimento do vinho. De todos os Organismos Corporativos, criados pelo Estado Novo, a Junta Nacional do Vinho, era o mais querido, pelos beneficias que trouxe a toda a região vitivinícola, por isso os vinicultores depositavam toda a confiança esperançados que o organismo, quando necessário, lhe resolvesse os problemas respeitantes ao vinho. Os vinhos desta área eram tão bons que as aguardentes vínicas resultantes da destilação ficavam de finíssima qualidade. Quando transportadas para os armazéns da Mealhada não eram misturadas com outras provenientes de outras áreas ficando em depósitos separados. Em 1945, a Junta Nacional do Vinho iniciou a instalação de duas caldeiras fixas de destilação contínua, que trabalhavam de dia e de noite, só paravam cada 15 dias para limpeza. Como era pena destilar vinhos de tão boa qualidade, a Junta Nacional do Vinho, em colaboração com o Grémio da Lavoura de Pinhel, pensou na criação da Adega Cooperativa, nas suas próprias instalações que tinham sido compradas à Câmara Municipal de Pinhel e que tinham ficado devolutas pela saída das Forças Militares, ali aquarteladas, e que se tinham revoltado contra o Governo da Ditadura Militar.Em 1947, construíram-se 6 lagares em granito, no parque utilizado pelas viaturas militares e os tonéis foram montados nas cavalariças depois de devidamente adaptadas. A primeira laboração foi feita por processos artesanais, pois em Pinhel não havia energia eléctrica com potência suficiente e a mesma era desligada à meia-noite; às próprias bombas de trasfega, eram movidas por motores de explosão. Foram 33 sócios, a entregar as uvas nesse ano na Adega; embora com bastantes dificuldades, estava criada e posta a funcionar a Adega Cooperativa. Dos primitivos 33 cooperantes, atingiu-se os 2.300 atuais.

Maiores informações acesse:

http://www.acpinhel.com/index.html

Fontes de pesquisa:

Portal “Infovini”: http://www.infovini.com/classic/pagina.php?codPagina=45&codCasta=76

Portal “Wine to Wine Circle”: https://www.vinetowinecircle.com/castas_post/marufo/

Portal “Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior: http://www.cvrbi.pt/index.php/castas-cvrbi?showall=&start=1

 




 







domingo, 31 de maio de 2020

Torre de Pinhel tinto


De uns tempos para cá, tenho me interessado, de forma gradativa, pelo fator regional quando escolho um vinho, quando degusto um vinho. É a genuína expressão de seu terroir, da sua tipicidade, sem contar que estimula conhecer outras culturas em uma espécie de escambo a cada taça degustada, sem exageros. Como que apenas uma garrafa, fisicamente tão pequena pode reverberar tanta história, uma longa e emblemática história. O vinho precisa eclodir nas taças e fazer cada um de nós, simples enófilos, entender, ao menos um pouco, sobre a história do povo que o concebeu. Mas infelizmente há algumas regiões que não são tão conhecidas ou populares aqui no Brasil como os rótulos alentejanos, durienses, de Bordeaux, Rioja, por exemplo, mas que, quando degustamos e temos a satisfação e o prazer de nos surpreender positivamente, nos perguntamos: como não degustamos vinhos dessa região ainda? Falo da região de Beiras, em Portugal (Beira Interior). Após algumas poucas experiências, mas surpreendentes e agradáveis com a linha D. João I tinto e branco (Leia as análises aqui: D. João I tinto e D. João I branco, da Adega Cooperativa de Pinhel, retomo o meu caminho redescobrindo a região com mais um rótulo deste produtor.

O vinho que degustei e gostei, vem, como disse da região de Beira Interior, da Adega Cooperativa de Pinhel, e se chama Torre de Pinhel, das castas Rufete e Tinta Roriz, não sendo safrado. E convém uma breve explicação pelo fato do vinho não ser safrado. Esse rótulo é um “vinho de mesa”, termo bem conhecido no Brasil que é usado pelos portugueses para designar um vinho básico, de entrada, que não possui um denominação de origem (DOC ou Vinho Regional) e que são produzidos com castas regionais, locais. Diferente do conceito de “vinho de mesa” no Brasil, que são vinhos produzidos com castas não viníferas, de uvas de mesa. Apesar de não possuírem denominações de origem, os “vinhos de mesa” lusitanos podem ser considerados sim, vinhos com forte apelo regional, pois trazem, como disse no início do texto, tipicidade e características da região, do chão que nascem as videiras, é tudo uma questão, também, de um certificado de qualidade, quando, em uma comparação meio distante, uma empresa adquire um “ISO”. Antes de tecer meus comentários acerca do vinho, falarei um pouco da sub-região de Beira, Pinhel.

Pinhel

Pinhel é uma cidade portuguesa pertencente ao distrito da Guarda, na província da Beira Alta, região do Centro (Região das Beiras) e sub-região das Beiras e Serra da Estrela, com aproximadamente 3 500 habitantes.



A origem da cidade de Pinhel é atribuída, sem grande certeza, aos Túrdulos, por volta do ano 500 a.C. O concelho de Pinhel recebeu foral de D. Sancho I em 1209, detendo funções de organização militar e jurisdição. Deve-se a D. Dinis a reedificação do Castelo de Pinhel, constituído por duas torres, e a construção da histórica muralha que rodeava a vila da época (atual zona histórica), constituída por seis portas: Vila, Santiago, S. João, Marrocos, Alvacar e Marialva. Tornou-se sede de diocese e cidade em 1770, durante o reinado de D. José I, por desanexação da Diocese de Lamego, mas em 1881 a Diocese de Pinhel foi extinta pela Bula Papal de Leão XIII e incorporada na Diocese da Guarda. Constitui uma zona de vinhos de altitude, média de 650m. O seu clima é extremamente frio no inverno e quente e seco no período do estio ou verão. O solo é arenoso de origem granítica e de baixa fertilidade. A sub-região de vinhos de Pinhel é ideal para vinhos brancos acídulos. No caso de vinhos tintos, se forem para envelhecimento podemos encontrar grandes surpresas. Dado que as maturações são lentas, é extremamente indicada para produção de espumantes. Os concelhos de Pinhel são: Celorico da Beira, Guarda, Meda, Pinhel e Trancoso. As castas tintas predominantes são: Bastardo, Marufo, Rufete e Touriga Nacional, no conjunto ou em separado, com um mínimo de 80%, Baga, Tinta Carvalha, Pilongo e Trincadeira (Tinta Amarela). Já as brancas são: Bical, Arinto (Pedernã), Fonte Cal, Malvasia Fina, Malvasia Rei, Rabo de Ovelha, Síria (Roupeiro) e Tamarez, no conjunto ou em separado, com um mínimo de 80%. Os tintos costumam ser vinosos, vivos e brilhantes enquanto jovens, intensos e equilibrados, com raro bouquet quando estagiados e envelhecidos. E os brancos são vinhos aromáticos, cheios e persistentes no sabor.

Agora o vinho!

Na taça tem um vermelho rubi com reflexos violáceos com lágrimas grossas e abundantes que dissipam com alguma lentidão das paredes do copo.

No nariz traz uma explosão de aromas de frutas vermelhas frescas, com toques de especiarias.

Na boca é frutado, meio seco, de leve para médio, com taninos presentes, mas sedosos, com uma agradável acidez revelando frescor e jovialidade, com um final de média persistência.

Um vinho simples, mas correto, bem feito e honesto Equilibrado e harmonioso é macio e fácil de degustar. Não tem passagem por barricas de carvalho, com 13% de teor alcoólico muito bem integrado.

Sobre o rótulo “Torre de Pinhel”:

O Castelo de Pinhel localiza-se na cidade, freguesia e concelho de mesmo nome, no distrito da Guarda. O Castelo de Pinhel, juntamente com o Pelourinho de Pinhel, são os símbolos mais importantes da região. A primitiva ocupação humana de seu sítio remonta a um castro pré-histórico, atribuído ora aos Túrdulos em 500 a.C., ora aos Lusitanos, posteriormente romanizado, quando passou a vigiar a estrada romana que cruzava a região da atual Pinhel. Após a queda do Império Romano do Ocidente, essa modesta fortificação mergulhou na obscuridade. A época da Reconquista cristã da Península Ibérica, com a afirmação da nacionalidade portuguesa, D. Afonso Henriques (1112-1185) procedeu ao repovoamento e reforço das defesas de Pinhel. O seu sucessor, D. Sancho I (1185-1211) deu prosseguimento a essa tarefa, outorgando Carta de Foral a Pinhel (1189 segundo alguns, 1209 segundo outros), de quando datará o início da construção do castelo medieval, concluído sob o reinado de D. Afonso II (1211-1223), que lhe passou novo foral em 1217. Integrante do território de Ribacôa, disputado ao reino de Leão por D. Dinis (1279-1325), a sua posse definitiva para Portugal foi assegurada pelo Tratado de Alcanizes (1297).

Sobre a Adega Cooperativa de Pinhel:

Desde tempos muito antigos que em Pinhel, e seu termo, se praticava a cultura da vinha e se produziam vinhos de alta qualidade; já nos princípios do ano 1500, o Rei D. Manuel I, o Venturoso, concedeu diversas regalias e privilégios em favor dos vinhos de Pinhel. Em 1942 e 1943, houve colheitas abundantes e não havia escoamento para a produção, foi então que a Junta Nacional do Vinho, recentemente criada, como organismo de Coordenação Económica, e que veio substituir a antiga Federação dos  Vinicultores do Centro e Sul de Portugal, instalou em Pinhel uma caldeira móvel de destilação, acionada por uma geradora locomóvel, em que foram destilados milhões de litros de vinho e que veio resolver a crise gravíssima, que afetava os lavradores da Região, que viviam exclusivamente do rendimento do vinho. De todos os Organismos Corporativos, criados pelo Estado Novo, a Junta Nacional do Vinho, era o mais querido, pelos beneficias que trouxe a toda a região vitivinícola, por isso os vinicultores depositavam toda a confiança esperançados que o organismo, quando necessário, lhe resolvesse os problemas respeitantes ao vinho. Os vinhos desta área eram tão bons que as aguardentes vínicas resultantes da destilação ficavam de finíssima qualidade. Quando transportadas para os armazéns da Mealhada não eram misturadas com outras provenientes de outras áreas ficando em depósitos separados. Em 1945, a Junta Nacional do Vinho iniciou a instalação de duas caldeiras fixas de destilação contínua, que trabalhavam de dia e de noite, só paravam cada 15 dias para limpeza. Como era pena destilar vinhos de tão boa qualidade, a Junta Nacional do Vinho, em colaboração com o Grémio da Lavoura de Pinhel, pensou na criação da Adega Cooperativa, nas suas próprias instalações que tinham sido compradas à Câmara Municipal de Pinhel e que tinham ficado devolutas pela saída das Forças Militares, ali aquarteladas, e que se tinham revoltado contra o Governo da Ditadura Militar.Em 1947, construíram-se 6 lagares em granito, no parque utilizado pelas viaturas militares e os tonéis foram montados nas cavalariças depois de devidamente adaptadas. A primeira laboração foi feita por processos artesanais, pois em Pinhel não havia energia eléctrica com potência suficiente e a mesma era desligada à meia-noite; às próprias bombas de trasfega, eram movidas por motores de explosão. Foram 33 sócios, a entregar as uvas nesse ano na Adega; embora com bastantes dificuldades, estava criada e posta a funcionar a Adega Cooperativa. Dos primitivos 33 cooperantes, atingiu-se os 2.300 atuais.
Maiores informações acesse:


Fontes:




quarta-feira, 6 de maio de 2020

D. João I tinto


Qual o seu conceito, a sua percepção dos vinhos baratos? O que pesa na sua decisão ao comprar um vinho, quais as suas prioridades na escolha? É claro que, em tempos bicudos, de incerteza econômica, degustar vinhos baratos pode ser a alternativa para continuar degustando, mas o prazer de explorar rótulos desconhecidos, de produtores pouco badalados, de custo baixo, pode, para muitos, parecer um risco desnecessário, comparando valores com qualidade, não nego essa possibilidade, mas não se enganem de que podem trazer surpreendentes e gratas surpresas. Contudo, é deveras essencial você, caso se interesse por esses rótulos, antes fazer uma pesquisa, acessar o site do produtor e conhecer um pouco da história do vinho e da vinícola. Acredite isso pode fortalecer, para mais ou para menos, na sua decisão de compra do vinho, afinal, comprar no escuro é um risco que pode ser mitigado, mas se você não tiver as informações que precisa e estiver interessado em comprar, siga seu coração e não hesite na compra.

E um exemplo de retorno extremamente favorável, agradável, satisfatório e todos os sinônimos enaltecedores possíveis, foi um tinto da região portuguesa de Beira Interior, pouco conhecida por aqui no Brasil, principalmente se levamos em consideração, em termos de popularidade como Alentejo e Douro, por exemplo, de uma vinícola chamada Adega Cooperativa de Pinhel, chamado D. João I tinto das castas Tinta Roriz, Touriga Francesa, Rufete e Marufo. O mesmo não é safrado, é considerado, em Portugal, como um “vinho de mesa”. Mas não se enganem o conceito de vinho de mesa em Portugal, a título de informação, é diferente daqui do Brasil. Enquanto por aqui vinhos de mesa são produzidos por uvas não vitiviníferas, em Portugal vinho de mesa é considerado como um vinho básico, de cotidiano, que não tem uma classificação DOC ou “Regional” e que são produzidos com castas locais, denotando, mesmo assim um vinho de caráter regional, embora não ostente tais classificações, em minha opinião. Como disse que a região é pouco conhecida, convém fazer um breve histórico da mesma, antes de analisar o vinho.

Beira Interior

É na Beira Interior, identificada geograficamente como prolongamento do sistema central ibérico e histórico e culturalmente pelas matrizes testemunhadas nas suas aldeias mediavais e cidadelas fortificadas que, a Denominação de Origem Beira Interior foi criada a 2 de novembro de 1999, resultado da aglutinação das regiões de Castelo Rodrigo, Cova da Beira e Pinhel, que passaram a sub-regiões desde então. Tem um passado histórico vitivinícola que remonta à fundação da nacionalidade portuguesa, está localizada no interior centro de Portugal, tem cerca de 16 000 hectares de vinhas e uma grande variedade de castas. Situada no interior centro/norte de Portugal é a região vitivinícola mais alta de Portugal, com vinhas plantadas entre os 300 e os 700 metros de altitude.


Os vinhos são muito influenciados pela montanha e a orologia da região é dominada pelas serras da Estrela, Gardunha, Açor, Marofa e Malcata. Os solos são de origem granítica (80%), na sua maioria, sendo os restantes essencialmente de origem xistosa, existindo entre o granito e o xisto alguns filões de quartzo. O clima da região é muito agreste, com temperaturas negativas no Inverno e Verões muito quentes e secos. Os encepamentos mais tradicionais são nas brancas a Síria, Fonte Cal, Malvasia, Arinto e Rabo de Ovelha, e Malvasia e nas Tintas, a Rufete, Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz, Trincadeira, Mourisco, Jaen e alfrocheiro.

O vinho:

No aspecto visual mostra um incrível vermelho rubi escuro, profundo, quase que caudaloso ao depositá-lo na taça, com lágrimas finas e abundantes.

No nariz traz muita fruta, frutas vermelhas maduras, um toque de especiarias e de estrebaria.

Na boca é seco, muito frutado, com alguma estrutura e corpo, mas fácil de degustar, com taninos presentes, mas comportados com acidez razoável e percebi um discreto amadeirado, mas acredito ser oriundo do vinho e não um estágio em barricas de carvalho. Tem um final de média intensidade.

Vinho honesto, bem feito, correto, com tipicidade e que sintetiza o caráter regional e que, independente dos valores, entregam muito mais do que valem. Com 13% de teor alcoólico. É claro que são diferentes dos vinhos mais emblemáticos, mais caros, com passagem por madeira etc Mas seria injusto comparar tais vinhos com a linha D. João I, pois, antes de qualquer coisa, são vinhos com propostas totalmente distintas.

Sobre a Adega Cooperativa de Pinhel:

Desde tempos muito antigos que em Pinhel, e seu termo, se praticava a cultura da vinha e se produziam vinhos de alta qualidade; já nos princípios do ano 1500, o Rei D. Manuel I, o Venturoso, concedeu diversas regalias e privilégios em favor dos vinhos de Pinhel. Em 1942 e 1943, houve colheitas abundantes e não havia escoamento para a produção, foi então que a Junta Nacional do Vinho, recentemente criada, como organismo de Coordenação Económica, e que veio substituir a antiga Federação dos  Vinicultores do Centro e Sul de Portugal, instalou em Pinhel uma caldeira móvel de destilação, acionada por uma geradora locomóvel, em que foram destilados milhões de litros de vinho e que veio resolver a crise gravíssima, que afetava os lavradores da Região, que viviam exclusivamente do rendimento do vinho. De todos os Organismos Corporativos, criados pelo Estado Novo, a Junta Nacional do Vinho, era o mais querido, pelos beneficias que trouxe a toda a região vitivinícola, por isso os vinicultores depositavam toda a confiança esperançados que o organismo, quando necessário, lhe resolvesse os problemas respeitantes ao vinho. Os vinhos desta área eram tão bons que as aguardentes vínicas resultantes da destilação ficavam de finíssima qualidade. Quando transportadas para os armazéns da Mealhada não eram misturadas com outras provenientes de outras áreas ficando em depósitos separados. Em 1945, a Junta Nacional do Vinho iniciou a instalação de duas caldeiras fixas de destilação contínua, que trabalhavam de dia e de noite, só paravam cada 15 dias para limpeza. Como era pena destilar vinhos de tão boa qualidade, a Junta Nacional do Vinho, em colaboração com o Grémio da Lavoura de Pinhel, pensou na criação da Adega Cooperativa, nas suas próprias instalações que tinham sido compradas à Câmara Municipal de Pinhel e que tinham ficado devolutas pela saída das Forças Militares, ali aquarteladas, e que se tinham revoltado contra o Governo da Ditadura Militar.Em 1947, construíram-se 6 lagares em granito, no parque utilizado pelas viaturas militares e os tonéis foram montados nas cavalariças depois de devidamente adaptadas. A primeira laboração foi feita por processos artesanais, pois em Pinhel não havia energia eléctrica com potência suficiente e a mesma era desligada à meia-noite; às próprias bombas de trasfega, eram movidas por motores de explosão. Foram 33 sócios, a entregar as uvas nesse ano na Adega; embora com bastantes dificuldades, estava criada e posta a funcionar a Adega Cooperativa. Dos primitivos 33 cooperantes, atingiu-se os 2.300 atuais.

Maiores informações acesse:


Degustado em: 2018