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quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Finca El Lince Monastrell 2017

 



Vinho: Finca El Lince

Safra: 2017

Casta: Monastrell

Região: Jumilla

País: Espanha

Produtor: Bodegas Alceño (Familia Bastida)

Adquirido: Wine

Valor: R$ 65,90

Teor Alcoólico: 14%

Estágio: 8 a 9 meses em barricas de carvalho, sendo que 50% francês e 50% americano.

 

Análise:

Visual: apresenta um rubi com alguma intensidade, com reflexos, já evidentes, de um granada denotando os seus sete anos de garrafa, com lágrimas grossas, lentas e coloridas.

Nariz: trazem aromas evidentes de frutas pretas e vermelhas maduras, com destaque para framboesas e ameixas. As notas amadeiradas são sentidas, porém, de forma discreta, dando o aporte de baunilha, carvalho, leve toque de chocolate e especiarias.

Boca: é encorpado, tem personalidade e complexidade, porém é elegante, devido, primordialmente, ao seu tempo em garrafa. As notas frutadas ao paladar são replicadas, bem como a discrição do amadeirado, com um toque agradável de baunilha e chocolate meio amargo. Final longo e agradável.

 

Produtor:


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Genio Español Monastrell 2015

 

É inacreditável o quão ilimitado e inesgotável é o universo do vinho! Por isso não me canso de dizer que, ou melhor, usar a palavra “universo”. É a mais apropriada para quem, principalmente, não se deixa seduzir pela temida zona de conforto que insiste em nos travar e degustar sempre aqueles vinhos e castas que gostamos.

Evidente que degustar o vinho que apreciamos não é nenhum pecado de morte, mas seria no mínimo uma leviandade de nossa parte abrir mão de uma infindável gama de regiões, de castas espalhadas pelo planeta.

E mais uma vez terei um momento único, singular! Um privilégio digno de poucos! Degustar mais um vinho emblemático, de castas e regiões importantes que até então não tinha desbravado em degustações: Falo da região espanhola de Jumilla e a principal cepa por lá produzida: Monastrell ou como preferir, a Mouvèdre, como é conhecida em terras francesas.

Pode parecer estranho e até ridículo tamanha exaltação! Como é a primeira vez degustando um Monastrell espanhol? Como degustando pela primeira vez um vinho de Jumilla? Talvez seja mesmo, mas nada tão estimulante quanto a primeira vez, e começa com um vinho que custo menos de R$40 à época!

Um vinho que certamente estará em minha memória por todo sempre! Mas não quero, pelo menos agora, falar do vinho, mas de Jumilla. A região vem despontando, nos últimos anos, como uma região que vem produzindo vinhos frutados, de personalidade e joviais, mas que também entrega rótulos de complexidade e boa longevidade.

Não é à toa que sempre digo e defendo que a Espanha tem muito mais a oferecer, além das emblemáticas Rioja e Ribera del Duero. E quando tivermos a percepção e consciência de que regiões “undergrounds” podem oferecer grandes rótulos, poderemos, de alguma forma, mobilizar o mercado a ofertar mais rótulos dessas regiões.

Talvez a minha animação não se justifique, mas o fato é que sonhar não custa absolutamente nada e que no futuro vejo mais regiões espanholas ganhem projeção como estamos vendo Utiel-Requena, Navarra etc. Afinal nós merecemos, sobretudo aqueles que desbravam o universo ainda inexplorável do vinho!

Então sem mais floreios vamos às apresentações do vinho! O vinho que degustei e gostei veio da região de Jumilla e se chama Genio Español da casta Monastrell da safra 2015. Aos oito anos o vinho ainda se mostra relevante, elegante e complexo e arrisco em dizer que evoluiria com maestria por mais alguns anos.

E para não perder o costume vamos também às histórias, afinal, já que as apresentações da Monastrell e da região de Jumilla se faz em estreia, nada mais oportuno que falar um pouco de cada um.

Jumilla

Jumilla é uma região espanhola que tem despontado nos últimos anos, produzindo alguns vinhos saborosos e frutados. Localizada no sudeste da Espanha, a área é uma das denominações mais antigas do país, tendo sido estabelecida em 1966. A região vinícola de Jumilla produz vinhos no sudeste da Espanha. Especificamente em uma área localizada entre as províncias de Albacete e Murcia, cujo epicentro é o município de Jumilla.

Jumilla

Os vinhos destacam-se pela enorme qualidade e reconhecimento internacional. Na verdade, a Monastrell, a principal casta, destaca-se pelo seu grande reconhecimento mundial. Por esta razão, os vinhos Jumilla são tão populares e importantes.

Jumilla possui atualmente cerca de 25.000 hectares de vinhedos. Neles, a casta Monastrell, como disse, é a que mais se destaca e com a qual se elaboram os seus grandes vinhos. Além disso, mais variedades como Airén, Chardonnay ou Merlot são cultivadas, embora em proporções menores.

É uma região vitivinícola com muita história, já que foram encontrados vestígios de 3.000 aC. Consequentemente, os principais estudos históricos sugerem que em Jumilla o vinho é feito desde a Antiguidade ou antes. Por isso, é sem dúvida uma região com muita tradição e cultura vinícola.

Embora, não foi até o século XIX quando o crescimento da vinha em Jumilla foi enorme devido às necessidades globais de produção de vinho. Isso ocorreu porque uma praga conhecida como Phylloxera devastou grande parte dos vinhedos europeus. Portanto, em Jumilla, esta ocasião poderia ser aproveitada para aumentar sua produção e exportação de vinho.

O clima continental da região é suavizado pela proximidade com o mar Mediterrâneo, mas permanece marcado pelo caráter árido e pela baixa pluviosidade, com chuvas extremamente irregulares e longos períodos de seca. As precipitações ocorrem, principalmente, na primavera e outono, com um índice de apenas 300 mm por ano.

A região espanhola de Jumilla é formada por amplos vales e planícies, com altitudes variantes entre 400 e 800 m acima do nível do mar. Atualmente, a área vinícola abrange cerca de 32.000 hectares, dos quais 45% localizam-se na província de Murcia, e o restante em Albacete.

Os solos de Jumilla contêm calcário pardo e calcário com crosta de cal, ou seja, possuem uma grande capacidade hídrica e mediana de permeabilidade, possibilitando o cultivo das vinhas até mesmo em épocas de seca prolongada.

A Denominação de Origem (DO) de Jumilla foi criada em 1996. Seu regulamento atual foi aprovado em novembro de 1995, substituindo o de maio de 1975, futuramente recebeu uma emenda em abril de 2001.

Os vinhos com a denominação Jumilla podem ser produzidos a partir das uvas permitidas pelo órgão regulador, como Tempranillo, Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah, Pedro Ximénez e Malvasia e, claro, Monastrell. 

DO Jumilla

Os exemplares tintos, principalmente os jovens, são marcados pela forte expressão aromática, taninos vivos e coloração escura e intensa, variando desde o vermelho púrpura até tons de roxo. Jumilla produz ainda vinhos licorosos, rosés, brancos e doces, no entanto, os que recebem maior destaque na região são os tradicionais doces e os vinhos de licor.

Em conjunto, os vinhos de denominação de origem Jumilla são exemplares que alcançaram um alto nível dentro do cenário vinícola da Espanha, sendo vinhos bastante premiados em concursos, tanto nacionais quanto internacionais.

Os vinhos da região de Jumilla têm revelado um grande potencial desde o início dos anos 90. O último ataque da phylloxera em 1989 conduziu a um novo começo: os vinhedos foram replantados para produzir vinhos tintos leves e frutados e vinhos brancos e rosés feitos de uvas nativas como a Monastrell, assim como as importadas Syrah e Merlot.

Ao mesmo tempo, cuidadosas colheitas e investimento em novos equipamentos melhoraram a qualidade dos vinhos. O resultado é uma nova geração de vinhos elegantes, alguns orgânicos, e a maioria sendo jovens, na qual a uva Monastrell está mostrando resultados notáveis nas mãos de habilidosos produtores. Os vinhos de Jumilla começaram, então, a causar grande impacto no mercado internacional.

Monastrell

Essa uva espanhola com sotaque francês e que produz excelente vinhos, sozinha ou em comunhão com outras castas, teve sua primeira menção ao seu nome original – Monastrell – no longínquo século 14! Sendo, juntamente com a Bobal, uma das variedades mais importantes da região de Valência na época.

O nome deriva do latim monasteriellu, um diminutivo de monasteriu, que significa “mosteiro”, sugerindo que a variedade foi cultivada e propagada por monges na região de Valência, Espanha.

Apesar de ali ser apresentada para o mundo, estudos apontarem que sua origem é bem mais antiga, a casta teria sido introduzida na região pelos fenícios por volta de 500 a.C., quando estes fizeram as primeiras viagens do que hoje conhecemos como oriente médio até a Península Ibérica.

Seu outro nome famoso, o francês Mourvèdre, traz uma pista de onde a uva se desenvolveu já na Espanha e de onde teria saído para conquistar o mundo. Afinal, Camp de Morvedre (Murviedro em espanhol) foi até 1868 o nome catalão para a cidade de Sagunto, um importante porto vinícola ao norte de Valência.

Camp de Morvedre

Assim como Mataró, ou Mataro, é um nome também derivado de uma cidade na costa do Mediterrâneo, entre Barcelona e Valência, um dos grandes terroirs por excelência da casta.

A Monastrell se adapta melhor em regiões com climas secos e quentes. A variedade apresenta bagas pequenas e de espessura média – combinação ideal para dar origem a vinhos com cor intensa e altos níveis de taninos. Seus aromas são complexos e muito distintivos, assim como os seus taninos.

Estas características tornam a variedade um potente ingrediente de mistura, principalmente, ao lado da picante uva Syrah e da rica Grenache. As uvas Carignan e Cinsaut também aparecem frequentemente nos rótulos com a Monastrell, principalmente por conta da tradição destes vinhos, do que pelo aroma ou sabor. Na França, a Monastrell é uma variedade chave nas regiões de Provence e no sul do Vale do Rhône, onde é um dos principais componentes dos tradicionais vinhos Chateauneuf-du-Pape e Côtes du Rhone.

A variedade sofreu muito na década de 1880, quando a praga filoxera assolou os vinhedos da Europa, destruindo inúmeras plantações. Seus redutos notáveis durante este tempo se formaram em torno de Bandol, que possui solos arenosos onde a filoxera não consegue sobreviver. Nos dias de hoje, as vinhas da Monastrell ainda se encontram nas encostas litorâneas de Bandol e a variedade constitui, pelo menos, metade dos vinhos tintos tânicos e os rosés delicadamente picantes da região.

Na Espanha, as modernas técnicas vinícolas mudaram o foco para as uvas Tempranillo e Cabernet Sauvignon, mas a Monastrell hoje se tornou uma das uvas mais plantadas com cerca de 40 mil hectares, mas o grande expoente nos últimos anos é sem dúvida a França. Em 50 anos o país passou de 500 hectares plantados para 10 mil, principalmente nas regiões do Rhône e do Languedoc-Roussillon.

Já na Austrália e na Califórnia, a Monastrell é conhecida como Mataro, embora o prestígio do seu nome francês tenha conquistado os produtores, que abandonaram o termo Mataro. Os vinhos australianos e californianos elaborados com a variedade são tipicamente mais ricos e mais frutados do que aqueles produzidos no Mediterrâneo.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, quase escuro, com halos evoluídos, acastanhados, denotando seus oito anos de garrafa, com profusão de lágrimas grossas e lentas que desenham o bojo.

No nariz traz aromas complexos de frutas pretas maduras com destaque para a cereja negra, ameixa e notas amadeiradas, com evidência para o tostado, a torrefação, a baunilha, o tabaco, couro, mas em total sinergia com a fruta. Percebe-se também especiarias, algo de herbáceo e terra molhada.

Na boca tem médio corpo, com grande amplitude de boca, um vinho volumoso, cheio, mas com alguma elegância, fácil de degustar, saboroso. Os 12 meses em barricas de carvalho definitivamente traz o aporte do tostado, do chocolate, da baunilha, cacau, coco queimado bem como a fruta bem integrada, em convergência com a madeira, o mesmo percebido no aspecto olfativo. Traz taninos macios, sedosos, mas presentes, com acidez baixa para média e um final persistente e um discreto adocicado.

Profundo e elegante, frutado e complexo! Um vinho multifacetado e que certamente agradaria a todos os paladares, dos iniciantes aos mais exigentes e experientes. Assim é Genio Expañol Monastrell. Os seus oito anos de vida lhe garantiu esse equilíbrio e mesmo a Monastrell ser, na sua gênese, uma casta robusta, taninosa e potente, neste rótulo se mostrou fácil de degustar e complexo, ao mesmo tempo. Grata novidade, surpreendente vinho e sedutor terroir! Espero que muito em breve possa ser arrebatado, mais uma vez por rótulos de Jumilla. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Família Bastida:

A Família Bastida, com adegas pertencentes a diferentes Denominações de Origem desde 1870 e várias gerações dedicadas exclusivamente ao mundo dos vinhos, trabalha com profundo entusiasmo neste projeto com o objetivo de agrupar diferentes Denominações de Origem de Espanha, procurando as especificações de cada um em tramas únicas em pequenas produções.

Isto oferece ao consumidor uma vasta gama de vinhos da Península Ibérica que apresentam a melhor relação preço-desempenho, algo comprovado por um grande número de prémios nacionais e internacionais que recebeu e vem recebendo ao longo dos anos.

Mais informações acesse:

http://familiabastida.com/en/

Referências:

“Compra-vino”: https://www.compra-vino.com/pt/jumilla#

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/jumilla

“Vinho Virtual”: http://www.vinhovirtual.com.br/regioes-87-Jumilla

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/monastrell

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/mourvedre-voce-precisa-provar-uva-que-anda-mais-falada-do-que-nunca_13168.html