E com base nesses quesitos construímos também as nossas
predileções, as nossas preferências sensoriais por uma região, por uma casta,
por um país. E definitivamente a região de Lisboa está no meu rol de
preferidos. Em algumas resenhas, em alguns textos de rótulos que degustei e,
claro, gostei, dessa região sempre expus de forma evidente, veemente, o meu
caminho, mesmo sem ter sequer ido, a minha preferência por esta terra. Os
vinhos que dela são oriundos sempre me transportaram em pensamento, com o
coração cheio de alegria e que me proporcionou conhecer, em requintes de
detalhes, a sua história.
O rótulo de hoje, claro, de Lisboa, traz a beleza de sua
região, o DNA de suas terras, a cultura do seu povo e uma mensagem de muita
esperança, de dias melhores e, sobretudo de celebração, como o vinho preconiza.
Esse vinho chegou a minhas mãos por intermédio dos “Clubes de Vinhos”, amado e
odiado na mesma proporção, mas confesso que, ao divulgarem os rótulos
lisboetas, me fez ligar o radar e a adesão ao clube. Decidi literalmente pagar
para ver e degustar o quanto antes um dos rótulos ofertados.
Então sem mais delongas vamos ao rótulo que, ao ser
desarrolhado, explodiu em surpresas maravilhosas! Sim! O vinho é muito, muito
interessante, bem saboroso, direto e jovial, mas saboroso! O vinho que degustei
e gostei, claro, veio da região portuguesa de Lisboa e se chama Janela Branca
Special Selection, com um blend das castas Syrah (38%), Castelão (32%) e Tinta
Roriz (30%) da safra 2019.
Antes de falar de Lisboa e do vinho, algo nele, em seu nome,
em especial me chamou a atenção: o seu nome. Janela Branca? No contra rótulo
diz, de uma forma quase que poética, de que a janela simboliza a abertura de
boas energias e recordações trazidas pelas características desse blend que é
típico da região, uma boa mescla de castas francesas, principalmente a Syrah
com as castas autóctones, trazendo um vinho moderno e versátil. Falemos de
Lisboa.
Lisboa
A região vinícola de Lisboa, também era conhecida como
Estremadura e tem mais de 30 hectares de cultivo com mais de 9 mil aptas à
produção de Vinho Regional de Lisboa e Vinho com Denominação de Origem
Controlada. Os vinhos feitos em Lisboa, em grande parte, pertencem a cooperativas,
com uma grande variedade de estilos e qualidade. Esta região, onde o
"vinho regional Lisboa" é predominante, tem nove DOC´s (Denominações
de Origem). O nome passou em 2009 para Lisboa de forma a diferenciar da região
de mesmo nome na Espanha, também produtora de vinhos.
Suas características geográficas proporcionam certa
complexidade à região, pois está situada climaticamente em zona de transição
dos ventos úmidos e estios, com solo de idades variadas, secos, encostas e
maciços montanhosos se contrapõem a várzeas e terras de aluvião. Ainda sofre
influencia direta da capital do país localizada em um extremo da região.
O conflito entre a vida urbana e a rural foi intensificado a
partir do século XIX com a industrialização e recentemente pelo sistema viário
que liga Lisboa a Leiria. Toda a região mantém de forma relevante as unidades
de espaço designadas ainda no período romano, as quintas (subunidades de uma
vila). As quintas em sua quase totalidade estão voltadas para a produção do
vinho.
A história revela que Fenícios trouxeram mudas da Síria e as
introduziram na Foz do Tejo e as vinhas se adaptaram bem. A região ficou sob o
domínio dos mouros durante quatro séculos e depois de retomada foi reorganizada
para recuperar a produção vinícola.
Lisboa
A região dispõe de grande pluralidade de condições de
cultivo. Desta variedade, zonas de maior vocação são encontradas e é onde as
diversas castas de uvas são utilizadas na produção de vinhos com denominação,
regionais, leves, de mesa e licorosos, além de aguardente bagaceira e vínica,
espumantes e de uso na mesa.
A região é dividida em nove sub-regiões sendo a maioria
Denominações de Origem. Próximo a Lisboa, no sul estão Colares, Bucelas e
Carcavelos. Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos ocupam a parte
central e Encostas D’Aire ao norte.
Lisboa e suas sub-regiões
É surpreendente que duas históricas denominações da região de
Lisboa estejam diminuindo com o tempo, Na região denominada Carcavelos, muito
famosa por seus vinhos doces, a maioria das vinhas deram lugar a edifícios. Na
denominação Colares, que fica próxima a Cascais, e produz praticamente sobre
dunas de areia protegidas por quebra-ventos, encontram-se cada vez menos
vinhedos, embora produza vinhos cuja alta acidez lhe permite uma guarda muito
longa. Sua uva principal é a Ramisco tânico, dificilmente encontrada hoje em
outra região.
A DOC Bucelas é a terceira menor e possui uma longa história
na produção de vinhos. A região tem crescido nos últimos anos e ficado mais em
evidência pela melhoria de qualidade de seus produtos, especialmente os
brancos, considerados dos melhores de Portugal.
Ao norte de Bucelas, ainda no interior, encontra-se a pequena
região de Arruda. É como se fosse um delicioso país de conto de fadas:
montanhas, um antigo castelo em ruínas, antigas estradas romanas, moinhos
históricos (hoje em dia equipados com modernas turbinas eólicas), e vinhedos,
principalmente de uvas tintas.
Desde 2002, os vinhos DOC Arruda podem incluir uvas
internacionais, como a Cabernet Sauvignon, Syrah, Chardonnay, assim como
algumas uvas de classe de outras regiões de Portugal como a Touriga Nacional e
Touriga Franca. O mesmo vale para as outras regiões DOC na parte central da
área do Vinho Regional Lisboa: Alenquer, Torres Vedras e Óbidos. Neste clima
ameno, as uvas podem amadurecer com tranquilidade e produzir muito bons vinhos
com boa concentração e acidez.
Ao norte de Arruda, a DOC Alenquer está protegida dos ventos
atlânticos pelos montes calcários da Serra de Montejunto. Os produtores
altamente motivados, conscientes da qualidade do micro clima único de Alenquer.
Na DOC Torres Vedras, é mais frio para o lado do mar da Serra de Montejunto,
especialmente no flanco ocidental da região, onde a brisa do mar é mais forte.
Esta é uma fonte de vinhos brancos secos, incluindo o de baixo teor alcoólico
conhecido como Vinho Leve.
Ao norte de Alenquer a área DOC Óbidos, possui uma bela
cidade medieval ainda murada na sua face norte. A região produz vinhos brancos
e alguns dos melhores espumantes em Portugal, além de alguns tintos leves e
elegantes.
A oeste de Óbidos e tocada pela brisa atlântica, a DOC
Lourinhã é uma região montanhosa, onde peras, maçãs , pêssegos e figos disputam
espaço com os vinhedos. A região envolve a bela cidade de Leiria, o famoso
centro de peregrinação de Fátima e os mosteiros fabulosos da Batalha e
Alcobaça, ambos eleitos como Patrimônio Mundial da UNESCO. Seus vinhos brancos
e tintos são leves, frescos e pouco alcoólicos.
O clima é temperado em virtude da influência atlântica e não
apresenta grandes amplitudes térmicas. Os verões são frescos e os invernos
suaves, apesar das zonas mais afastadas do mar serem um pouco mais frias. As
vinhas localizadas junto à linha da costa sofrem uma forte e decisiva
influência do Atlântico, enquanto as vinhas plantadas no interior, protegidas
da influência marítima pelos diversos sistemas montanhosos, beneficiam de um
clima mediterrânico. O relevo não é muito elevado, exceto o sul, onde aparecem
alguns estratos de basalto e de granito, assentando a região, quase na sua
totalidade, em formações argilo-calcárias e argilo‑arenosas.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um intenso vermelho rubi, com tons arroxeados,
com uma ótima concentração de lágrimas finas e que mancham as bordas do copo.
No nariz os aromas de frutas maduras são as protagonistas,
onde se percebem groselha e ameixa, com notas amadeiradas discretas e também a
baunilha, graças ao aporte da barrica, com um estágio parcial de 12 meses e o
outro percentual em tanques de aço inox e mais 6 meses evoluindo em garrafa
Na boca é redondo, equilibrado e elegante, muito fácil de
degustar, mas, ao mesmo tempo é marcante, pois tem um bom volume de boca, muita
fruta, com taninos aveludados e domados, com toques amadeirados, de especiarias
doces e uma acidez agradável que torna o vinho versátil, fresco. Final de média
intensidade e amadeirada.
Lembram-se quando falei da mensagem que o vinho pode trazer? Pois
é, o lindo e colorido rótulo do vinho “Janela Branca”, logo percebi que o colorido,
a beleza do lugar retratado, mostra a Lisboa bonita, altiva e cheia de vida,
pulsante, com todos os seus atributos comportamentais e culturais, o mundo
sendo observado pela janela branca da alegria, da esperança, um novo olhar
cheio de perspectivas de um mundo melhor, sobretudo diante dos últimos tempos,
do tenebroso caos sanitário que, apesar de tantas perdas, a humanidade é
colocada na parede, sendo obrigada a mudar, a rever seus conceitos, sua visão
de mundo. O vinho pode ser um companheiro, um aliado muito importante e
preponderante para essa drástica e necessária mudança. O alento necessário para
esses momentos tão turbulentos, a leveza necessária para encarar os momentos
difíceis e continuar seguindo. Um vinho estiloso, saboroso, muito frutado, elegante,
redondo, com taninos domados e uma acidez vivaz e instigante. Tem 13% de teor
alcoólico.
Ah descobri que esse vinho veio de uma pequena região,
localizado em Lisboa, chamada “Arruda dos Vinhos”, famosa pela sua tradição na
produção de vinhos, tanto que tem no nome o “vinho”. Desde sempre Arruda dos
Vinhos, cujo foral foi entregue em 1172 por D. Afonso Henriques à Ordem de
Santiago, foi composta por extensos vinhedos no seu território, chegando a
abastecer de vinho grande parte do país. Por isso o vinho sempre fez parte da
história da terra. Para mais detalhes da região leia um pouco mais em: Freguesia de Arruda dos Vinhos.
Sobre a Quinta de São Sebastião:
O símbolo heráldico que inspira o cunho da Quinta de S.
Sebastião, conta a história de um mártir e Santo Cristão, que acreditou poder
demover o Império Romano da perseguição aos cristãos.
Nascido em Roma e valente guerreiro, Sebastião ingressa no
exercito romano e chega ao comando da guarda pessoal do imperador – a Guarda
Pretoriana. A sua conduta branda para com os prisioneiros cristãos, levou o
imperador a julga-lo como traidor. Depois de executado por meio de flechas foi
abandonado pelos soldados, para que sangrasse até a morte amarrado a uma
árvore.
À noite uma crente cristã, retirou o corpo de Sebastião para
dar-lhe sepultura, ao perceber que este ainda estava vivo, deu-lhe abrigo e cuidados
até estar restabelecido. Já recuperado, Sebastião quis continuar seu processo
de evangelização e com valentia apresentou-se de novo ao imperador,
censurando-o e pedindo-lhe que parasse com as injustiças cometidas contra os
cristãos.
Diocleciano ordenou que fosse espancado até a morte e lançado
no esgoto público impedindo que o corpo fosse venerado. Mas o corpo Sebastião
acabou por ser resgatado e sepultado secretamente por crentes cristãos.
Anos mais tarde, os seus restos mortais foram solenemente transportados
para a basílica onde se encontra até hoje. Nessa altura, a terrível peste que
assolava Roma simplesmente desapareceu no momento da transladação. S. Sebastião
passou a ser venerado como o padroeiro contra a peste, fome e guerra.
Esta crença alimentava a fé das gentes desta terra, que a
acreditavam abençoada e protegida. As romarias, agradecendo a fertilidade da
terra e o milagre de ter sido poupada das Pestes que assolaram o País, são
testemunho deste fato. A história de S. Sebastião inspirou o espírito lutador e
convicto das gentes desta terra, que do vinho faziam e fazem vida. É esta a
herança da Quinta de S. Sebastião, a crença e a paixão que os tempos
alimentaram de saber e rigor para contar uma nova história.
Hoje, a vida na quinta ainda reserva as tradições, os ritmos
e as rotinas que as vinhas ditam. E acreditar na produção de vinhos de
excelência não é só uma crença é uma vontade firmada de capacidade,
conhecimento e ambição de vida.
A conjugação dos factores climáticos amenos, dos declives
soalheiros, da localização geográfica, da proximidade do mar, da protecção da
montanha, e claro das pessoas que todos os dias vivem e cuidam das terras e
vinhas da Quinta de S.Sebastião, dão corpo ao renascer de vinhos com uma
frescura característica e uma identidade muito própria.
Os Vales de diferentes exposições solares e destintos
declives de terras férteis, a influência do ar marítimo apaziguado pelas
montanhas e a presença de cursos de água, criam um micro-clima equilibrado,
perfeito para a produção do que de melhor se faz em Portugal. Formados por
calcários, margas, argolas e arenitos, os solos podem considerar-se produtivos,
em quase toda a área do conselho Arruda dos Vinhos.
A Quinta de S. Sebastião apresenta um terroir ideal que
garante a qualidade das mais variadas castas e se, aos fatores naturais, juntando
o carinho e o respeito no cuidado que é dado, obtendo os frutos perfeitos que
abrem as portas à criação de vinhos exclusivos, servindo os mais exigentes e
rigorosos critérios de seleção.
Por isso, para os tintos, as escolhas da fruta recaíram sobre
um conjunto de castas nacionais e estrangeiras, as tintas francesas Syrah e
Merlot e as portuguesas Touriga Nacional e Tinta Roriz (Aragonês). Nas brancas
a opção foi para as variedades nacionais Arinto e Cercial. Embora em 2007 a
primeira vindima não tenha respondido às exigências, já em 2008 o resultado foi
o renascer de vinhos com uma forte identidade.
O enólogo Filipe Sevinate Pinto, com quem a Quinta conta
desde 2012, abraçou este projeto trazendo todo o seu conhecimento, experiência
e criatividade, para levar ainda mais longe os blends que vão fazer desses
néctares um marco de prestígio e identidade da Quinta de S. Sebastião.
Mais informações acesse:
https://quintassebastiao.com/
Referências:
“Portugal by Wine”: https://www.portugalbywine.com/pt/regioes/info/lisboa_80/
“Olhar Turístico”: https://www.olharturistico.com.br/regiao-dos-vinhos-de-lisboa/
“Wines of
Portugal”: https://www.winesofportugal.com/br/vinhos-e-turismo/wine-regions/lisboa/overview/