Estágio: 6 meses sobre as borras (Sur
Lie) em tanques de aço inoxidável.
Análise:
Visual:
apresenta um amarelo palha brilhante, com reflexos esverdeados, com uma
incrível concentração de lágrimas finas e lentas.
Nariz:
é intenso, frutado, notas de frutas cítricas, de frutas tropicais e de caroço,
com agradáveis toques herbáceos, de grama cortada e uma mineralidade que
entrega frescor e vivacidade.
Boca:
traz frescor, leveza, mas a untuosidade, garantida pelo contato com as
leveduras, lhe confere estrutura e personalidade. As notas frutadas são
percebidas, o equilíbrio idem, a acidez está presente, mas na medida e o final
é persistente.
Visual:
apresenta amarelo palha brilhante, vivo, com reflexos esverdeados, com discreta
proliferação de lágrimas finas e rápidas.
Nariz:
aroma de maracujá, cítrico e maçã vermelha com notas picantes surpreendentes,
além de notas florais e minerais.
Boca:
é fresco, leve, saboroso, confirmando as notas frutadas, com uma acidez rica e
instigante, típica das duas castas, com um final persistente, longo.
Visual:
Apresenta um amarelo palha, tendendo para o dourado, com reflexos esverdeados.
Nariz:
traz notas de frutas tropicais e cítricas, com destaque para o pêssego,
maçã-verde, abacaxi, tangerina, toranja e laranja, com um toque mineral e
fresco.
Boca:
explode notas frutadas, cítricas e tropicais, com um equilíbrio fascinante
entre estrutura e frescor, com acidez média e um final de média persistência.
Visual:
amarelo palha, quase translúcido, com reflexos esverdeados.
Nariz:
aromas intensos de frutas cítricas como pera, maçã-verde, além de frutas
brancas, como maracujá e abacaxi e muito fresco.
Boca:
é equilibrado, com frescor, mas de personalidade enaltecidos pela intensa e
salivante acidez, com as notas frutadas replicadas como no aspecto olfativo,
com final marcante.
Atualmente o cenário para os enófilos brasileiros é
desanimador. Desanimador no que tange aos preços que sobem de uma forma abusiva
e, em alguns momentos, de maneira injustificável. Ou melhor tem uma triste e
desoladora justificativa: o custo Brasil é deveras alto e a carga tributária
que incide sobre o mercado da bebida de Baco é devastador.
Políticas para alavancar o setor são mencionadas por
políticos em épocas de campanha eleitoral, porém, quando se elegem não são
efetivadas e nós, pobres mortais trabalhadores apreciadores no néctar, ainda
sofre e muito com os valores. Como democratizar a cultura do vinho neste país
com um cenário desses?
Mas não quero, a priori, entrar no mérito da discussão,
embora urgente e necessária, foi apenas para ilustrar que o enófilo da “classe
operariada” neste Brasil sofre e muito para querer degustar um vinho, para
adentrar ao universo da poesia líquida, porém ainda há uma luz, um farol no fim
do sombrio e temeroso túnel.
Com um pouco mais de dedicação e garimpo, ainda conseguimos
encontrar alguns rótulos, de alguns produtores sinceros, de excelente custo X
benefício e que, curiosamente, não tem a devida divulgação por parte de alguns
formadores de opinião e especialistas em vinho! Vai entender!
E um desses exemplos clássicos e interessantes vem do
Uruguai, mais precisamente da região de Montevidéu, da capital uruguaia. Falo
da Família Traversa. Essa região não é necessariamente a mais famosa do Uruguai
para a produção de vinhos, como Canelones, por exemplo, e a Família Traversa,
desde a década de 1950 no mercado, também não goza de popularidade, mas seus
vinhos são surpreendentes!
Lembro-me como se fora hoje do meu primeiro vinho da Família
Traversa, um Traversa Reserva Tannat com Merlot, corte típico da região, da
safra 2016. Que vinho espetacular, que vinho surpreendente e que, à época,
custou menos de R$40! Quando vemos um valor desses logo desconfia, se tratando
de alguns “aristocráticos” que encaram o vinho como status e etiqueta social.
Mas o vinho foi estupendo! E mais uma vez me ponho a degustar
mais um rótulo da Traversa e dessa vez, para mim pelo menos, virá carregado de
novidade! Sim! O meu primeiro Sauvignon Blanc uruguaio! Não preciso dizer da
ansiedade, da animação para tê-lo em minha humilde taça!
E hoje foi dada a largada para esse momento! O momento pede,
afinal, dias de sol, de calor, de verão, nada mais consensual do que um belo,
fresco e marcante Sauvignon Blanc para “harmonizar” com esse clima.
Embora a Sauvignon Blanc seja uma casta recorrente em minha
trajetória enófila, dentre as cepas brancas, bem como a Chardonnay, por
exemplo, essa vem carregada de novidades, mas espero encontrar as já famosas
características da casta que fizeram dela e fazem até hoje a sua fama.
Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que
degustei e gostei veio de Montevidéu e se chama Traversa da casta Sauvignon
Blanc da safra 2020! E para não perder o costume falemos um pouco dessa região
vinícola que embora não tenha tanta fama, é uma das mais importantes do
Uruguai: Montevidéu!
Montevidéu
Montevidéu começou seu processo de fundação em 1723. O
Governador do Río de la Plata, Bruno Mauricio de Zabala, foi enviado pela coroa
espanhola para fundar esta cidade portuária e expulsar aos portugueses, que
tinham construído o Fuerte de Montevideu sobre a baia. Assim, as primeiras
famílias que povoaram “San Felipe y Santiago de Montevideo” foram de origem
espanhol, provenientes do grande centro colonial do Río de la Plata: Buenos
Aires. Pela sua condição de principal porto do Rio da Prata e Montevidéu teve
não teve bom relacionamento com a cidade vizinha.
Pedro Millán traçou o primeiro plano da cidade em 1726, ano
em que começaram a chegar os colonos das Ilhas Canarias. A antiga Ciudadela de
Montevidéu (edificada ao longo de uns quarenta anos) apresentava as
características típicas das cidades colônias da época: Uma Praça de Armas no
centro (Atual Praça Constitución, mais conhecida como Matriz) rodeada pela
Igreja (atual Catedral) e o edifício do governo (Cabildo).
A pequena cidade estava rodeada de muralhas das que hoje só
ficam o portal de entrada, a simbólica Puerta de la Ciudadela. Em 1807 se
produziram as Invasões Inglesas, enfrentadas e vencidas pelos orientais. Este
fato deu a Montevidéu o status de “Muy Fiel y Reconquistadora” e a converteu no
bastião espanhol do Río de la Plata. Montevidéu se manteve fiel a Espanha
durante as Revoluções de Maio de 1810 em Buenos Aires. Durante esse período, a
coroa espanhola se instalou em Montevidéu, o que significou o um grande
crescimento para a cidade.
O departamento de Montevidéu se estabeleceu em 1816, como a
primeira divisão administrativa da Banda Oriental. Ao se declarar o novo Estado
Independente em 1828, Montevidéu foi estabelecido como capital, e a partir da
“Jura de la Constitución de 1830” começou a se projetar a “Nova Cidade” por
fora dos limites da Ciudadela. Contudo, a atual Ciudad Vieja foi durante muitas
décadas o centro econômico e cultural de Montevidéu. As grandes bandas migratórias
da Europa (principalmente espanhóis, mas também italianos, alemães, franceses,
húngaros, judeus e ingleses) deram ao Montevidéu de 1900 um ar cosmopolita.
A herança dos escravos africanos trazidos durante a época
colonial aportou o caráter multicultural da cidade, que se percebe até hoje. Ao
longo do século XX Montevidéu se expandiu sobre a baia para o leste, e também
para o norte, com numerosos centros de população afastadas do centro. A
emblemática Rambla de Montevidéu, principal cartão postal da cidade, foi
construída em 1910. Outros monumentos significativos datam dos anos 20 e 30,
como o Palácio Legislativo e o Estádio Centenário.
O Uruguai era originalmente povoado pelos índios Charruas,
mas em 1680 os portugueses começaram a se assentar na região; os espanhóis
chegaram logo em seguida. As primeiras uvas viníferas foram cultivadas em
território uruguaio há mais de 250 anos. A produção de vinhos, entretanto, só
começou a ser realizada comercialmente na segunda metade do século XIX. Em
1870, Dom Pascal Harriague introduziu ao Uruguai várias castas de uva em busca
de uma que se adaptasse bem ao solo e clima da região.
A Tannat foi a que se saiu melhor na experiência e desde
então, por causa do seu sucesso imediato e duradouro no país, ela dá vida ao
autêntico vinho uruguaio. Na década de 1970, houve uma renovação na
vitivinicultura do Uruguai; novas técnicas de plantio e cultivo, bem como a
introdução de novas variedades de uvas, possibilitaram um desenvolvimento
substancial à sua indústria de vinhos.
Aliado a tudo isso, a evolução dos vinhos uruguaios aconteceu
por causa da paixão dos produtores e apreciadores de lá pela bebida. A maneira
artesanal e a relação respeitosa que eles têm com as uvas que cultivam tornaram
seus vinhos premiados e bastante reconhecidos no mercado internacional.
Fortemente influenciado pelo Rio da Prata e Oceânico
Atlântico, o Uruguai tem as suas principais regiões produtoras de vinhos na
costa sul – Maldonado, Canelones e Colônia. Situado entre os paralelos 30 e 35,
a exemplo de Chile, Argentina, Austrália e África do Sul, o país tem a
possibilidade de elaborar vinhos que possuem a energia do Novo Mundo e o
refinamento do Velho Mundo.
É a terra do Tannat, sim, mas há muito mais por descobrir. O
Uruguai é comparado com a região de Bordeaux, na França. Seu Rio da Prata é
comumente equiparado ao estuário do Gironde. A maior região vitivinícola –
Canelones – é dona de 60% da produção total. Fica bem no centro do país, ao
sul, muito próxima da capital Montevidéu, que abriga 40% da população local com
3,4 milhões de moradores.
As demais regiões produtoras do sul do país ficam a menos de
duas horas da capital – à oeste, Colônia (pela Rota 1) e, à leste, Maldonado
(pela Rota 9). O Uruguai possui uma rota de vinho especial e aconchegante,
coordenada pela Associação de Turismo Enológico do Uruguai, que reúne muitas
bodegas familiares, com estrutura e história que fascinam seus visitantes. A
rota, batizada de “Os caminhos do vinho” passa por regiões de Montevidéu,
Canelones, Maldonado, Colônia e Rivera, cujas paisagens belas e exuberantes são
atrativos que complementam sua ótima gastronomia e seus vinhos finos.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um amarelo claro, palha, translúcido com halos
discretamente esverdeados, com muito brilho, além de algumas lágrimas finas e
rápidas.
No nariz impera os aromas de frutas brancas, tropicais e
cítricas com destaque para a maçã-verde, vindo em seguida o abacaxi, a lima, o
maracujá. Uma agradável sensação de frescor entrega mineralidade e notas
herbáceas, com um fundo floral.
Na boca é leve, fresco, mas untuoso, algo de cremoso, graças à
parte do vinho que passou brevemente por barricas de carvalho. As notas
frutadas protagonizam também no paladar como no aspecto olfativo e repete-se
também o mineral trazendo sabor e personalidade ao vinho. Tem acidez evidente
vibrante que instiga a mais uma taça, com um final persistente e frutado.
A Família Traversa e todos os seus rótulos que vão desde os
básicos até o que se chamam de alta gama definitivamente são os melhores que
apresentam a relação qualidade X preço do mercado de vinhos! E esta nova versão
da linha Traversa que degusto hoje traz tudo o que esperamos da Sauvignon
Blanc: frescor, personalidade, alguma untuosidade, leveza, um toque mineral
agradabilíssimo. A Família Traversa entrega o lado “alternativo” da triste
realidade dos valores impraticáveis dos vinhos no Brasil e nos possibilita
trafegar, com dignidade, neste vasto e impecável universo dos vinhos. Tem 13,5%
de teor alcoólico.
Sobre a Família Traversa:
Esta empresa com as suas vastas vinhas e fábricas de
processamento de vinho, conta com a presença constante da Família Traversa.
Sessenta anos de muito trabalho e três gerações que sustentam a qualidade dos
seus vinhos. Cada novo plantio e manutenção, processamento, embalagem e
distribuição de vinho, marketing e atendimento ao cliente são sempre
supervisionados por um membro da família. Assim eles são e ambicionam o
conceito de qualidade e este é o resultado do trabalho da vinícola. A história
desta família é o legado de bondade e esperança que está nas vinhas e há três
gerações.
Em 1904, Carlos Domingo Traversa veio para o Uruguai com seus
pais. Filho de imigrantes italianos, foi em sua juventude peão rural em
fazendas de vinhedos, e em 1937 com sua esposa, Maria Josefa Salort, conseguiu
comprar 5 hectares de terras em Montevidéu. Suas primeiras plantações de uvas
de morango e moscatel foram em pequena escala. Em 1956 fundou a adega com os
seus filhos, Dante, Luis e Armando, que hoje com os seus netos têm muito orgulho
de continuar o seu sonho.
A atitude constante de crescimento contínuo, com dedicação e
desenvolvimento levou e ainda leva a vinícola a ser um exemplo em todo o
Uruguai. Em mais de 240 hectares próprios, além de vinhedos de produtores cujas
safras são controladas diretamente pela empresa, obtendo assim uma grande
harmonia com os vinhos e as próprias uvas. As variedades plantadas são: Tannat,
Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e Sauvignon Blanc.
As uvas são processadas com maquinários e instalações da mais
alta tecnologia. Inicia-se com um rígido controle de produção, colheita no
momento ideal, plantio de leveduras selecionadas, controle de fermentação,
aplicação a frio no processo de elaboração, clarificações e degustação dos
vinhos para definir diferentes categorias de qualidade. Daí passa-se a
armazenar em grandes recipientes de grande tecnologia, como inox, tanques
térmicos, ou em barricas de carvalho americano e francês.
Para muitos, eu diria que seja unânime, que a região francesa
de Bordeaux é uma das mais prestigiadas do planeta do vinho, se não for a mais
importante. Não quero entrar em discussões frívolas, mas o fato é que, sem
sombra de dúvidas, Bordeaux é uma das mais famosas, mas melhor, em um universo
de milhares terroirs, seria até fazer pouco caso das demais regiões.
Evidente que cada terra, cada região tem as suas
particularidades, tornando-se impossível fazer quaisquer juízos de valores
nesse quesito. Mas em um quesito, eu acho que Bordeaux ganha de lavada: o seu
famoso blend: Cabernet Sauvignon e Merlot ou Merlot e Cabernet Sauvignon,
dependendo do “lado” da região.
Sou um entusiasta desse blend. Para mim é o melhor blend que
existe! Independente se é “Lado Direito” ou “Lado Esquerdo”, o corte dessas
duas castas, na sua predominância, pois pode levar também, em um pequeno
percentual, Cabernet Franc, Malbec e Petit Verdot, traz uma versatilidade
incrível.
Tem a força, a potência, a estrutura da Cabernet Sauvignon, a
maciez da Merlot e nessa ambiguidade o vinho ganha em personalidade e
elegância, sem contar que, dependendo da proposta, o vinho ganha em
longevidade. Não há como negligenciar a complexidade que esse “assemblage”,
como dizem os franceses, pode nos entregar.
Mas não se enganem, mesmo que diante desse glamour e fama dos
tintos de Bordeaux há sim lugar e espaço para os brancos “tranquilos” da região
bordalesa. E eu custei, até por causa desse prestígio que os tintos ostentam, a
perceber que os brancos têm vez na emblemática Bordeaux.
E descobri, por acaso, quando fazia aquelas indispensáveis
incursões aos supermercados em busca de alguns “achados”, algo que nos faça
crer que vale a pena continuar a degustar a poesia líquida. E não é que achei o
tal “achado”?
E de Bordeaux! Um branco bordalês! Desculpem-me se eu fiquei
animado quando, nessa altura da vida, encontrei um branco de Bordeaux, mas para
mim é uma novidade diante de tantos tintos dessa região.
E é tão novo, não apenas pelo fato de ser um branco de Bordeaux,
mas de uma sub-região que, à época, quando o comprei, eu, diante da minha
estupenda ignorância, desconhecia: Entre-Deux-Mers.
Claro que tudo isso gerou um clima de excitação, eu precisava
ter esse vinho em minha adega, haja vista que não é tarefa fácil encontrar uma
boa variedade desses rótulos por aqui em terras brasileiras. E o preço também
excitou: cerca de R$34,90, aproximadamente. Dizem que é uma temeridade comprar
Bordeaux a esses valores! Que se dane! Comprar vinho é um risco, então vamos encará-los!
Sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que
degustei e gostei, veio de Bordeaux, de Entre-Deux-Mers, e se chama L’Esquirre,
composto pelo blend das castas Semillon (50%) e Sauvignon Blanc (50%) da safra
2020. Falemos um pouco de Entre-Deux-Mers.
Entre-Deux-Mers: Entre dois mares
O extenso território situado entre Graves e Sain-Émilion,
dentro do “Y” formado pelos afluentes Garrone e Dordogne, ganhou sua
denominação que significa “Entre-dois-Mares”. O nome da região é derivado, não
da palavra francesa “mer” ("mar"), mas de "marée"
("maré"). Assim, significa "entre duas marés", uma
referência à sua localização entre dois rios de maré.
Com 3.000 hectares (7.400 acres), é a maior sub-região de
Bordeaux, embora, como existem grandes áreas de floresta, apenas metade da
terra é usada para o cultivo de uvas. A área total de vinha é de cerca de 1.500
hectares (3.700 acres), com cerca de 250 produtores fazendo vinho nesta região.
Essa sub-região sempre foi conhecida por seus vinhos brancos,
na AOC de mesmo nome, mas nas últimas décadas progrediu muito a produção de
vinhos tintos nas AOC regionais Bordeaux e Bordeaux Supérieur, baseados na uva
mais plantada em Bordeaux - a Merlot. É uma região de interesse onde surgem
boas descobertas.
Entre-Deux-Mers
A região vinícola de Entre-Deux-Mers possui 8 apelações:
Bordeaux-Haut-Benauge (AOC), Côtes de Bordeaux Saint-Macaire (AOC),
Entre-Deux-Mers (AOC), Entre-Deux-Mers-Haut-Benauge (AOC), Graves de Vayres
(AOC), Loupiac (AOC), Premières Côtes de Bordeaux (AOC) e Sainte-Croix du Mont
(AOC).
A apelação Bordeaux e suas derivadas (Bordeaux Supérieur,
Bordeaux Blanc Sec, Bordeaux Clairet, Bordeaux Rosé, Crémant de Bordeaux) é uma
apelação regional: Todos os vinhos produzidos no departamento da Gironde podem
se classificar para usar esta AOC. Os produtores mais qualificados preferem
usar as apelações comunais como Pauillac ou Moulis, mas todos podem produzir
vinhos na AOC Bordeaux. Curiosamente vários produtores de Blaye preferem usar
AOC Bordeaux.
A AOC Bordeaux Supérieur não produz vinhos brancos secos. Na
AOC Bordeaux os tintos são produzidos principalmente em Entre-Deux-Mers, ao sul
de Graves, na margem direita (fora das zonas de AOC) e também uma pequena área
no Médoc, perto da cidade de Bordeaux.
Esses pequenos Bordeaux hoje são comercializados com preços
muito competitivos e sua qualidade os faz ótima compra. Na maioria são
produzidos com uma presença maior de Merlot (70-90%), podendo jovens ser sem
madeira, 30% de barrica.
Os pequenos Bordeaux podem ter 70%, 80% ou mais de Merlot,
beneficiando-se assim da maior produtividade dessa uva e produzindo vinhos
macios e fáceis de agradar, com bons preços.
Esses vinhos podem ser elaborados sem madeira, com 30% ou com
100% de madeira, nesse caso os preços variam bastante, mas são vinhos que
surpreendem.
Os brancos são tradicionalmente produzidos com Sauvignon
Blanc, seja em varietais, na atualidade, ou em cortes tradicionais com Sémillon
e Muscadelle.
A AOC Bordeaux Supérieur possui normas de produção mais
rígidas, como menores rendimentos por hectare e maturação mais longa. O nível
médio de qualidade é bom, mas cada vez mais produtores se destacam pela alta
qualidade de seus vinhos.
A denominação Entre-Deux-Mers tem as seguintes
características:
1 - Vinho branco seco: menos de 4 gramas/litro de açúcar
residual;
2 - Lote de três castas: Sauvignon Blanc (principalmente),
Sémillon e Muscadelle;
3 - Teor alcoólico mínimo de 11,5%;
4 - O vinho é tipicamente apreciado jovem – dentro de um ano
de safra – mas tem algum potencial de envelhecimento, devido ao Sémillon.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um amarelo palha com reflexos esverdeados bem
brilhantes, límpido e com lágrimas finas, dispersas e ligeiras.
No nariz intensidade aromática alta com as notas frutadas
predominando, com destaques para frutas amarelas, de polpa branca e cítricas,
tais como pêssego, em destaque, abacaxi, pera, maçã-verde, combinados com uma
boa mineralidade e algo floral, de flores brancas.
Na boca é seco, com incrível frescor e leveza, mas que traz
certo volume de boca, é um vinho cheio, diria entregar uma discreta untuosidade,
com a fruta aparecendo, como no aspecto olfativo, com uma acidez média e
agradável e um final de persistência média.
Bordeaux é sempre Bordeaux! E algumas “máximas” quanto a
qualidade dos vinhos tendo como parâmetro o preço, não funcionou, pelo menos na
minha reles e humilde percepção! Não quero entrar em discussões polarizadas e
tão pouco questionar a qualidade dos Bordeaux mais caros e de “grife”, mas há
sim vida nos bordaleses mais baratos. Esse L’Esquirre (Camarão, em francês),
trouxe aquelas notas agradáveis de frutas como maracujá, abacaxi, pera, um
delicado floral, boa acidez e uma leveza sem igual. Belo Bordeaux! Tem 12,5% de
teor alcoólico.
Sobre a Vinícola Seignouret Frères:
Fundada em 1830, A Seignouret Frères é uma das casas
comerciais mais antigas de Bordeaux. No entanto, a história de seu fundador,
François Seignouret, parece muito com uma história de sucesso americana.
Nascido em Bordeaux em 1783, chegou a Nova Orleans em 1808. A cidade, que acaba
de passar sob a bandeira americana, está crescendo. François Seignouret
lança-se com sucesso no design de tapeçaria e mobiliário.
Em 1820, sua reputação se estendeu além da Louisiana. Ele é
então considerado o fabricante dos móveis mais elegantes do sul dos Estados
Unidos. Ainda hoje, possuir um “Seignouret” é um privilégio.
Para atender à crescente demanda por vinhos franceses nos
Estados Unidos, Seignouret fundou uma casa de exportação em 1830, a rue de la
Verrerie. Em Nova Orleans, ele converteu suas oficinas em adegas onde
engarrafava vinhos excepcionais como Château Margaux, Château Lafite, Château
Latour, Château Mouton Rothschild e Château Haut-Brion.
François Seignouret morre em Bordeaux em 1852. Seu negócio
permanecerá nas mãos dos descendentes da família Seignouret até 1927, quando a
casa é comprada pela família Brou de Laurière antes de ser adquirida em 2011
por Laurent Barrier e Erwan Flageul.
Entre os últimos comerciantes de vinho independentes em
Bordeaux, Seignouret Frères segue uma abordagem muito particular: combina sua
busca permanente por safras excepcionais e exclusivas com a paixão pelas
profissões da vinha e da vinificação.
Igualmente essencial é a proximidade que cultivamos com os
nossos clientes e parceiros, elemento essencial para nos mantermos proativos e
respondermos de forma adequada às suas necessidades.
Graças ao seu conhecimento histórico dos terroirs, apurado ao
longo de dois séculos, Seignouret Frères sabe como selecionar grands crus
excepcionais e descobrir os tesouros escondidos de Bordeaux. Um know-how
enológico interno também permite produzir cuvées e marcas muito apreciadas
pelos conhecedores. Cada garrafa é cuidadosamente armazenada em adegas internas
mantidas em temperatura e umidade ideais.
A Seignouret Frères gera mais de 80% do seu volume de
negócios com exportações. A casa sempre esteve muito presente em nichos de
mercado: departamentos e territórios ultramarinos, Pacífico, Sudeste Asiático,
Caribe, África, Europa Oriental, América Central e América do Sul. A Seignouret
Frères também trabalha com lojas duty
free e companhias aéreas.
Depois da grande experiência que tive, a minha primeira,
diga-se de passagem, com o Sanjo Núbio Cabernet Sauvignon da safra 2010, da
região da São Joaquim, na Serra Catarinense, decidi ir à garimpo de mais vinhos
dessa região, afinal, os vinhos de altitude são verdadeiramente especiais e longevos.
Sim! A longevidade, os vinhos de grande potencial de guarda são a tônica dessa
exuberante região e para mim que está se interessando, de forma ávida, nesses
vinhos, São Joaquim parece ser a escolha ideal.
Entretanto esbarramos nos altos valores de alguns rótulos
ofertados dessa região. É claro que valores é muito relativo, mas para um
simplório assalariado como eu e como milhares de brasileiros, fica impossível
investir em vinhos na faixa dos R$ 150,00, por mais que de fato esses vinhos se
enquadrem na condição de “investimento”, pois diante de suas propostas de
longevidade, você pode deixa-lo evoluir e degustar um vinho com 10, 15 ou até
20 anos de safra!
Como esse Sanjo Núbio da casta Cabernet Sauvignon 2010 que,
com os seus 11 anos de safra estava no auge, pleno, vivo, intenso, complexo e
que ainda tinha muita vida pela frente.
E não é somente a região de São Joaquim, que recomendo a
leitura de sua história nesta resenha que fiz do Núbio Cabernet Sauvignon, mas
também o que me chamou a atenção foi esse rótulo da Cooperativa Sanjo que
também debutei na degustação. Como pode um vinho, com essa proposta e
complexidade, ter um custo X benefício tão bom, tão atrativo? Pasmem, na faixa
dos R$ 60,00!
Então fui buscar novos rótulos dessa jovem vinícola que
começou como um proeminente produtor de maçãs e que, há pelo menos 20 anos
atrás decidiu investir no ramo de vinhos, mas depois tem mais história desse
produtor.
Achei alguns vinhos, alguns rótulos dessa vinícola e, sempre
que possível, fui adquirindo, rótulo a rótulo. Infelizmente não há tantos sites
especializados ou supermercados que ofertam os rótulos da Sanjo e pude observar
que eles dispõe de uma razoável, de uma vasta, diria, gama de rótulos em todas
as escalas de propostas, mas com grande parte deles tendo, entre outros, a
característica da longevidade, que é o carro-chefe da região de São Joaquim.
E no rótulo que escolhi para degustar hoje nesta agradável
noite de sábado, já tradicional em minhas degustações vínicas, teve como
impulso, como estímulo para a escolha, além do produtor e da região a qual foi
concebida, um detalhe que eu desconhecia sobre essa região: é de que a
Sauvignon Blanc de São Joaquim é considerado os melhores produzidos desta cepa no
Brasil! Fiquei curioso e aproveitei que estava em busca de novos rótulos da
Sanjo e de que estes têm valores bem acessíveis, e achei um Sauvignon Blanc por
eles produzidos.
Então, sem mais delongas, apresento o vinho que degustei e
gostei da região de São Joaquim, na Serra Catarinense, que se chama Sanjo Núbio
Sauvignon Blanc da safra 2017. E para ilustrar, em linhas históricas, a
percepção sensorial maravilhosa que tive deste belíssimo vinho, falemos um
pouco da história de crescimento gradual de qualidade da Sauvignon Blanc nas
terras de São Joaquim e do quão maravilhoso a casta ter se adaptado muito bem à
esse chão, a esse solo.
"Defendo que nós,
produtores, devemos abrir um processo e buscar a denominação de origem dos
vinhos de Sauvignon Blanc da altitude de Santa Catarina para caracterizar bem
nossos diferenciais de solo, clima e da qualidade da própria uva e do vinho”.
Acari Amorim,
sócio-fundador da vinícola Quinta das Neves.
Com essa afirmação já mostra quão relevante tem se tornado a
questão do Sauvignon Blanc catarinense.
A vitivinicultura na Serra Catarinense surgiu aos olhos dos
consumidores brasileiros há pouco tempo. Foi somente no final dos anos 1990 que
alguns produtores passaram a apostar na fria e alta região serrana do entorno
de São Joaquim. Com altitudes que variam de 900 a 1.400 metros acima do nível
do mar, além de temperaturas excepcionalmente baixas e solo predominantemente
basáltico, o potencial de seu terroir ainda está sendo bastante testado por
enólogos e viticultores, mas, nos últimos anos, uma casta vem se destacando: a
Sauvignon Blanc.
Mas por que a Sauvignon Blanc parece se adaptar tão bem ao
terroir de Santa Catarina? O significado do nome Sauvignon deriva de ‘selvagem’
e, no clima da altitude catarinense, ser selvagem é uma condição básica de
sobrevivência. O segredo da adaptação dessa uva está no seu ciclo
intermediário. O período entre a brotação e a maturação das uvas não é precoce
nem tardio, e essa característica tem permitido escapar das geadas extremas de
início e final de ciclo. Por ser uma variedade de ciclo médio e que brota mais
tarde, portanto com menor risco de perdas por geada (consegue escapar da
maioria das geadas do início da primavera e que frequentemente gera sérios
problemas para uvas como Chardonnay e Pinot Noir), ela se adaptou bem ao
terroir de altitude catarinense.
As características da Sauvignon Blanc fazem com que ela
suporte o clima catarinense: O ápice do broto da variedade é bem algodonoso –
envolto em uma espécie de lanosidade –, e a casca da uva é espessa e
resistente. Essas características ajudam muito a planta a suportar o frio.
Também é um varietal que tolera o vento, que sopra forte na região.
Os enólogos
são unânimes em afirmar que o bom desempenho da Sauvignon Blanc em Santa
Catarina está em sua equação com as características climáticas locais. Quando
as outras castas tendem a sofrer um pouco diante da climatologia do estado,
ela, por sua vez, não apenas suporta as intempéries, como se beneficia delas.
Ainda se está em uma latitude em que a corrente marítima
quente (Corrente do Brasil) vinda do norte se encontra com a corrente marítima
fria (Corrente das Falklands) vinda do sul e isso permite viver as quatro
estações do ano em um único dia, várias vezes no mesmo dia.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um lindo amarelo claro de um reluzente brilho,
com alguns reflexos esverdeados.
No nariz uma boa expressão aromática, tendo como
protagonistas as frutas brancas, tropicais frescas, tais como maçã-verde, pera,
melão, goiaba e cítricas como limão e abacaxi, com toques herbáceos,
especiarias e um agradável flores, flores brancas.
Na boca é marcante, goza de grande personalidade, mas, por outro
lado, é delicado, elegante, tornando-o ainda jovial, apesar dos seus 4 anos de
safra, e fácil de degustar. As frutas ganham destaque também, com uma acidez
acentuada que torna o vinho longo, com um final prolongado e fresco.
A busca por novas percepções sensoriais, novos terroirs, o
garimpo por novidades, as gratas surpresas, tudo corrobora que a zona de
conforto não é uma boa condição para enófilos que buscam grandes e infindáveis
novidades que faz do universo do vinho algo inexplorado, altamente inexplorado,
arriscaria. Uma casta que já é velha conhecida, como a Sauvignon Blanc, ainda
trazer grandes novidades em suas características de uma região que para mim e
para o cenário vitivinícola brasileiro, ainda é novo. Há muito a se explorar,
há muito a degustar e é tão bom que essa nossa estrada não tenha um fim, uma
chegada. Sanjo Núbio Sauvignon traz o máximo da expressão aromática, frutas
brancas, silvestres, cítricas, com sabor marcante, de personalidade, intenso e
persistência. Um vinho maiúsculo e que faz frente a qualquer rótulo dessa casta
produzida na França e no Chile, por exemplo. Que venham mais vinhos de altitude!
Tem 12% de teor alcoólico.
Sobre a Sanjo Cooperativa Agrícola de São Joaquim:
Formada originalmente por 34 fruticultores, em sua maioria
imigrantes e descendentes de japoneses oriundos da cooperativa paulista de
Cotia, a Sanjo construiu uma história de sucesso comercial investindo em
qualidade e tecnologia agrícola. Nossa produção alcança mais de 50 mil
toneladas anuais de maçãs, em uma área plantada de 1240 hectares.
No Brasil, as variedades mais consumidas de maçãs são a Gala
e a Fuji. A Sanjo produz ambas em grande volume, comercializadas em todo o
país, e divididas entre as marcas Sanjo, Dádiva, Pomerana e Hoshi, conforme a
categoria. A empresa também comercializa com sucesso a linha de maçãs em
sacolas Sanjo Disney, destinada ao público infantil.
A partir de 2002, aliando os valores da tradição japonesa à
qualidade das uvas francesas e à experiência de enólogos de descendência
italiana, vindos das tradicionais vinícolas da Serra Gaúcha, a Sanjo passou a
investir também com sucesso na produção de vinhos finos de altitude,
contribuindo para o reconhecimento alcançado pelos vinhos produzidos na Serra
Catarinense. São 25,7 hectares das variedades Cabernet Sauvignon, Merlot,
Chardonnay e Sauvignon Blanc, cultivadas com as mais avançadas tecnologias de produção
de uvas para a elaboração de vinhos.
O enófilo às vezes sofre por algumas “provações”, alguns
dilemas. Agora vem a pergunta: Mas como sofrer por degustar a poesia líquida,
por degustar grandes e especiais rótulos? A escolha, a tomada de decisão para
nós que apreciamos um bom vinho pode parecer muito difícil. Pelo preço: o seu
orçamento está curto e gostaria de comprar a loja inteira, mas você tem de sair
dela com uma no máximo duas garrafas! E aí, como fazer para escolhê-las com
tantos rótulos que julgou serem especiais? Essa é uma das mais sofridas, sem
dúvida!
E quando o vinho não tem nenhuma informação no rótulo, mas
algo te cativou nele, sabe-se, como a região, a casta que você nunca degustou?
Eu que preciso dos requintes de detalhe do vinho, fico tenso em saber um pouco
mais do rótulo e se de fato ele contempla os meus anseios de momento. São várias
as situações que eu poderia elencar aqui, mas uma enredou o vinho que será o
protagonista dessa resenha de hoje e ele veio do Chile, que já é uma porta de
entrada no que tange a qualidade.
Eu estava como sempre, em uma de minhas incursões ao
supermercado e logo me dirigi à adega para ver se tinha algumas gratas
novidades. Logo vi que tinha muitas promoções, os cartazes com os preços baixos
gritavam em números garrafais, hipnotizava o humilde enófilo que tentava, com
seus parcos salários, comprar algum vinho e este clamava: “Me leve!”.
Contudo, diante de irresistíveis dicas, um me chamou
demasiadamente a minha atenção. Já que falei em hipnotismo esse sim fez com que
merecesse a minha atenção. Tomei o rótulo em minhas mãos e era um Sauvignon
Blanc de uma região que estampava no rótulo e que não conhecia: Leyda, Valle de
Leyda. Continuei a examiná-lo e vi que era da Viña Luis Felipe Edwards, adoro
esse produtor! Já estava ficando animado. Quando vi o preço: R$ 22,90! Uau! Não
é possível! Mas uma informação me deixou receoso... A safra!
2012 era a safra e estávamos em 2018! E agora? Para um
branco, um Sauvignon Blanc me parecia ser bem “velhinho” e era a única garrafa!
Nossa que sofrimento, que dilema! Uma garrafa de um branco da casta Sauvignon
Blanc, mas a um atraente preço. Levo ou não? Decidi leva-lo, afinal, se
estivesse avinagrado ou coisa do tipo, eu perderia apenas 20 e poucos reais.
Optei por abri-lo de uma vez, naquela semana! Quando a rolha,
naquele característico barulhinho que se desprende da garrafa, apresentou o
vinho que foi derramado na taça, em seu “primeiro round” um arrebatamento tomou
de assalto em minha vida naquele momento: Que vinho! Que grande vinho! Ele
estava vivo, pleno e descortinava todas as características de um grande
Sauvignon Blanc! A compra fora muito bem sucedida! Então o vinho que degustei e
gostei veio do Valle de Leyda, no Chile e se chama Marea, da casta Sauvignon
Blanc (100%) da safra 2012. Então falemos de Valle de Leyda, antes deste vinho
surpreendente.
Valle de Leyda, Valle de San Antonio
Valle de Leyda é uma região vinícola do Chile, situada a
menos de 100 quilômetros da capital Santiago e é uma sub-região que fica no
Valle de San Antonio. Esta região é privilegiada pela corrente fria de Humboldt
proveniente do Oceano Pacífico e, por consequência, dá origem a vinhos
excelentes a partir das uvas Chardonnay e Pinot Noir.
Valle de San Antonio e Valle de Leyda
Associada à produção de cevada e trigo, a região chilena
rapidamente está conquistando seu espaço perante o mundo dos vinhos de alta
qualidade. Os primeiros produtores apareceram na região em 1990, atraídos por
um terroir ideal para a elaboração de uvas premiadas. Com o investimento de uma
família produtora de vinhos, obteve-se a construção de um gasoduto de 8
quilômetros para canalizar a água do rio Maipo – potencializando o cultivo das
vinhas.
A região de Valle de Leyda está localizada em um conjunto de
colinas ao lado da faixa costeira que protege a faixa central do país de
influências oceânicas. Trata-se de uma região vinícola localizada ao sul da
fria região de Valle de Casablanca.
As brisas frias do oceano e a névoa da manhã moderam as
temperaturas da área, mais baixas do que sua altitude indica. Estas
temperaturas frescas são complementadas pela elevada incidência solar durante o
período de crescimento das vinhas, proporcionando que as uvas amadureçam
completamente e desenvolvam excelente complexidade, mantendo seus níveis de
acidez equilibrados.
Leyda Valley é uma das zonas vinícolas em maior ascensão do
Chile, atraindo a atenção de muitos críticos e especialistas do mundo do vinho
com o decorrer dos últimos anos. Além de produzir alguns dos melhores vinhos
chilenos Pinot Noir e Chardonnay, a região é responsável também pela elaboração
de excelentes vinhos Syrah e Sauvignon Blanc.
E agora finalmente o vinho!
Na taça o vinho apresenta uma viva, intensa e brilhante cor
amarela, com alguns traços esverdeados com poucas e finas lágrimas que logo se
dissipavam.
No nariz uma exuberância explosão de aromas de frutas brancas
e tropicais frescas, como groselha verde, maracujá, abacaxi, pera, maçã-verde,
além de notas cítricas vívidas.
Na boca se revelou com alguma estrutura, com um incrível
volume de boca, mas equilibrado, redondo e extremamente elegante. A acidez
muito alta, mas que não agride, pelo contrário, entregava um frescor
maravilhoso apesar dos 6 anos de safra, com toques minerais e de especiarias,
talvez pimenta. Tem um final frutado e prolongado.
Um grande vinho! Um vinhaço! Exuberância é um bom adjetivo
para este rótulo que estava lá esquecido, a um preço que certamente estava bem
abaixo por ter uma safra “antiga” para a sua proposta. Desconheciam os gerentes
do supermercado de onde comprei este vinho que ele estava vivo, intenso, pleno,
com todas as suas características presentes na taça, no olfato e no paladar. Um
vinho saboroso e que ousaria em dizer que teria mais alguns anos pela frente.
Um achado, um valioso e especial rótulo que, diante da situação que se
apresentava naquela gôndola, certamente, em um momento “racional” ninguém
levaria por receoso. Mas diante desta experiência aprendi que a emoção do
sentimento, o “feeling”, o coração
precisa ser ouvido. Tem teor alcoólico de 13,5%.
Sobre a Viña Luis Felipe Edwards:
A Viña Luis Felipe Edwards foi fundada em 1976 pelo
empresário Luis Felipe Edwards e sua esposa. Após alguns anos morando na
Europa, o casal decidiu retornar ao Chile e, ao conhecer terras do Colchágua,
um dos vales chilenos mais conhecidos, se encantou. Ali, aos pés das montanhas
andinas, existia uma propriedade com 60 hectares de vinhedos plantados, uma
pequena adega e uma fazenda histórica que, pouco tempo depois, foi o marco do
início da LFE.
De nome Fundo San Jose de Puquillay até então, o produtor,
que viria a se tornar uma das maiores vinícolas do Chile anos mais tarde,
começou a expandir sua atuação. Após comprar mais 215 hectares de terras no
Vale do Colchágua nos anos de 1980, começou a vender vinho a granel, estudar a
fundo seus vinhedos e os resultados dos vinhos, e cultivar diferentes frutas
para exportação.
O ponto de virada na história da Viña Luis Felipe Edwards
veio na década de 1990, quando Luis Felipe Edwards viu a expectativa do mercado
sobre os vinhos chilenos. Sabendo da alta qualidade dos rótulos que criava, o
fundador resolveu renomear a vinícola e passou a usar o seu próprio nome como
atestado de qualidade. Após um período de crescimento e modernização,
especialmente com o início das vendas do primeiro vinho em 1995, a LFE se
tornou um importante exportador de vinho chileno no começo do século XX. A
partir de então, o já famoso produtor começou a adquirir terras em outras
regiões do país.
Na busca incessante por novos terroirs de qualidade, ele
encontrou no Vale do Leyda um dos seus maiores tesouros: 134 hectares de
videiras plantadas em altitude extrema, a mais de 900 metros acima do nível do
mar.
Como sempre costumo dizer e o farei até o fim dos meus dias:
Vinho é celebração, é estar com os melhores amigos para uma boa conversa
informal e descontraída, é conhecimento, é a degustação na sua mais fiel e
genuína concepção. Um grande amigo, de longa data, de uns tempos para cá,
aderiu ao universo da vinho de uma forma intensa e incondicional e quando tomei
conhecimento de sua decisão, fui tomado por uma incontida alegria. Além de
nossas edificantes conversas sobre vários assuntos do cotidiano, iremos incluir
o universo do vinho em nossas realidades.
E não contente apenas com a sua inserção no mundo do vinho e
seus rótulos, decidimos consolidar com encontros regados a bebida de Baco e
Dionísio e muitas conversas. A solidificação da nossa amizade e as viagens mais
do que prazerosas nas histórias que permeiam os vinhos que degustamos e
certamente gostamos. Nasce a “Confraria Marginal”. Somos apenas nós dois, um
pequeno e discreto número, mas significativo na sua relevância e mais
contundente, forte e que será eterno enquanto durar, já dizia o trecho daquela
música tupiniquim. E agora vem aquela pergunta que o nobre leitor deve se
perguntar neste momento: Mas por que “Confraria Marginal”?
Não somos convencionais, não usamos vinho para escorar status
econômico, não usamos o vinho como fator de subjugação, amamos o vinho pelo que
ele é, pelo fator cultural, pela busca do conhecimento e sobretudo pelo fator
sensorial e as suas gratas experiências, então somos marginais, estamos à
margem desses conceitos tortos e posturas lamentáveis, mas sonhamos com uma
quebra de paradigmas nessa triste cultura.
E depois da especial degustação inaugural da primeira e
estabelecida Confraria Marginal, o Domainde Cambos Cuvée Jean D’Augergne da
safra 2017, vem agora, para fechar com honraria e dignidade um vinho de uma das
minhas mais novas regiões favoritas: Languedoc-Roussillon, não poderia faltar
um rótulo desse especial pedaço de terra da França. Uma região que não tem a
badalação de Bordeaux ou Vale do Rhône, por exemplo, inclusive tem vinhos cujo
valor é baixo em comparação a essas regiões, o que pode minimizar a sua
relevância para a vitivinicultura francesa, mas são vinhos altamente
competitivos em relação aos grandes e tradicionais terroirs franceses com
vinhos de atraentes custo X benefício.
O vinho que degustei e gostei, como disse, com alegria e
orgulho veio do Languedoc-Roussillon, na França e se chama Domaine de Cibadiès
Pegasus da casta Sauvignon Blanc da safra 2019. Não quero, pelo menos ainda,
falar sobre o vinho, mas quando o desarrolhei fui tomado por uma atônita
revelação: Um Sauvignon Blanc totalmente diferente, totalmente atípico dos que
costumamos degustar do Chile ou da Nova Zelândia, por exemplo, cujos vinhos são
mais ácidos ou com alguma estrutura. Mas falemos um pouco da velha e necessária
Languedoc-Roussillon, afinal, nunca é redundante falar do que gostamos.
“Pays D’Oc” ou simplesmente os vinhos do Languedoc-Roussillon
Com vinhedos cultivados desde o ano 125 a.C., Languedoc-Roussillon
é uma das regiões vinícolas mais importantes da França, responsável por ¼ de
todo o vinho produzido no país. Na opinião de vários autores, como a inglesa
Jancis Robinson, a região origina algumas das melhores relações qualidade e
preço de toda a França. Boa parte da produção é dedicada aos famosos e
saborosos “Vin de Pays d’Oc”, contando ainda com importantes AOC (Apelação de
Origem Controlada) como Minervois, Fitou, Corbières e Coteaux du Langedoc.
Quando elaborados pelos melhores produtores, são vinhos cheios de fruta e
sabor, com boa complexidade, corpo e um delicioso acento regional, perfeitos
para acompanhar as refeições. Languedoc-Roussillon é uma vasta área
vitivinícola, que traz um acentuado toque mediterrâneo e um rico histórico de
cultivo de vinhas e produção de vinhos, um ciclo que teve início há mais de
2.000 anos com as colônias gregas e romanas.
Languedoc-Roussillon
Um cauteloso processo de subdivisão de Languedoc-Roussillon
em terroirs reconhecidamente distintos está em andamento há alguns anos,
originando as apelações Clairette du Languedoc, La Clape, Picpoul de Pinet,
entre outras. Algumas encontram-se bem estabelecidas, com anos de certificação,
outras estão conquistando aos poucos seu espaço perante o mundo do vinho. Com
um solo bastante fértil, as uvas tintas encontradas com maior facilidade na
região francesa são a Syrah, Grenache, Cinsault, Carignan, Merlot e Cabernet
Sauvignon. Entre as variedades brancas, encontram-se Rolle, Clairette, Terret,
Boubolenc, Muscat, Maccabéo, Sauvignon Blanc, Chardonnay, Picpoul, Marsanne e
Viognier. A diversidade de vinhos encontrada na região francesa é imensa. Os
exemplares tintos vãos desde os frutados até os encorpados, e estão sendo cada
vez mais produzidos com sucesso. Os vinhos brancos podem ser mais complexos ou
nítidos, variando entre os doces e oxidados até leves e secos.
Languedoc-Roussillon produz também magníficos vinhos de sobremesa e espumantes
de muito prestígio; seus rosés são intensos, pálidos e muito perfumados. A tradição
de Languedoc-Roussillon estende-se por anos, e a região é dona de constante
evolução e muita variedade. A região tornou-se uma respeitada produtora, dando
origem a vinhos de qualidade e prestígio perante todo o mundo. Atualmente o
Languedoc vem se tornando tão excitantes para vinhos tintos robustos e frutados
a preços convidativos. De trinta anos para cá vinicultores pioneiros ajudaram a
elevar a qualidade para novos níveis. As uvas Syrah, Grenache e Mourvèdre
ocuparam o lugar da Carignan e a procura pela qualidade reduziu a primazia dos
vinhos populares. No período de 1982 a 1993, sub-regiões como Faugères,
Minervois e Limoux enquadram-se como Denominação de Origem Controlada.
Corbières, o vinhedo mais amplo da França Meridional, corre atrás com tintos
apimentados da Grenache.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um amarelo brilhante e reluzente tendendo para
um dourado com discretas formações de finas lágrimas que logo se dispersam.
No nariz sente-se uma explosão aromática de frutas brancas, cítricas
e tropicais e um curioso e interessante dulçor, talvez pêssego em calda, com
notas de pera, maçã verde e abacaxi.
Na boca é jovem, fresco e saboroso, as notas frutadas se
reproduzem no paladar como no aspecto olfativo, um bom volume de boca, uma acidez
agradável, que traz a sensação de leveza e elegância, com um bom final de boca
e retrogosto frutado.
A nossa primeira confraria estabelecida e temática foi
fantástica! Fizemos uma pequena viagem por algumas das mais emblemáticas terras
francesas por intermédio de generosas taças de vinhos, contemplando agradáveis
rótulos. Languedoc-Roussillon continua me surpreendendo positivamente com seus
belíssimos rótulos com seu excepcional custo X benefício comprovando
definitivamente que vinho francês para ser bom não precisa necessariamente ser
caro! O Languedoc-Roussillon nos brinda com essa máxima. E além do fator
monetário esse rótulo me surpreendeu de uma forma inacreditável. Esta fora da
realidade dos Sauvignon Blanc que degustamos no Chile, tido como os melhores do
mundo. Tem um aroma e paladar adocicado sem soar enjoativo, uma acidez
instigante que quando preenche pela boca se faz presente, se intensifica, mas
quando engolimos o vinho se fecha, dando lugar a um final persistente e
frutado. Um belo vinho diferente! Tem 12,5% de teor alcoólico.
Sobre a Vignobles
Bonfils:
Localizada no Sul da França, a Vinhedos Bonfils é resultado
de uma história de lutas e conquistas de homens e mulheres que há 5 gerações,
trabalham pela paixão de promover a excelência do bom vinho. Uma família unida
pela determinação e paixão por desafios desde o século XVII. Tudo começou em
1870 com o jovem professor Joseph Bonfils quando ao participar do “Commune
Paris” – movimento contrário ao regime político francês da época – foi exilado
na Argélia. Lá ele conheceu Honorine Duvaux, que veio a tornar-se sua esposa e
a ser a primeira mulher a receber uma medalha de honra ao mérito agrícola. É
Honorine que monta uma fazenda agrícola com muitas vinhas e planta
incansavelmente, iniciando uma plantação de mais de 6 hectares de vinhas. A
fazenda gerou resultado até a declaração da independência da Argélia, quando a
propriedade do casal foi nacionalizada e foram forçados a voltar para a França.
Joseph e Honorine recomeçaram a plantação de vinhedos aos pés
do Mont Ventoux e Dentelles de Montmirail, sem saber que estavam começando uma
história que seria perpetuada por gerações. O filho do casal, Abel, desde
criança continuou a tradição da família e logo passou a introduzir o filho Jean
Michel Bonfins, nas vinhas e adegas da família. Jean seguiu os passos dos avôs
e de seu pai, que se instalaram perto de Béziers, onde se deu a construção da
Vignobles Bonfils, que trazia a marca da força da fabricação artesanal de
vinhos. Depois disso, Jean Bonfins, aproveitando todas as oportunidades que
surgiam, fez crescer o patrimônio da família e comprou de volta as vinhas de
Languedoc, que no passado pertenciam aos seus avôs, somando assim 10 hectares
de plantação de uvas bem selecionas e especiais. Em 1978 comprou os terrenos do
Domaine de Cibadiés e Capestang No Hérault, atual sede da Vignobles Bonfils.
Logo depois, em 1990, o filho de Jean Bonfins, Laurent Bonfins, com apenas 25
anos de idade e recém-formado, assumiu o comando do Cibadiés Domain. Com a
ajuda de seus irmãos Olivier e Jerome, um na supervisão e auxiliando na
administração das vinícolas e outro na direção e gerência de marketing da
Vignobles Bonfils, uniram experiência e competência para tomarem as principais
decisões e impulsionarem ainda mais os negócios.
As vinhas da família Bonfils estão localizadas em terrenos
que oferecem ótimas condições de solo e clima que favorece a qualidade das uvas
atendendo as exigências do mercado, mas principalmente a marcante preocupação
da família. As videiras são cultivadas seguindo rigorosos padrões que vão desde
analise das condições do solo até a seleção de tamanho e estado de maturação da
fruta. Sendo feita a colheita manual em algumas áreas, há também a preocupação
que os frutos não recebam excessivo calor do sol e onde são observados todos os
cuidados com os impactos ambientais. As adegas são equipadas com equipamentos
modernos de ultima geração que contrastam com arquitetura original. Todos estes
cuidados dão origem a vinhos autênticos, de excelente qualidade, de sabor
exótico e incomparável. Os vinhos da Bonfils são orgânicos, ou seja, não
recebem adição de produtos químicos ou influencia de maquinário pesado sendo
distribuídos em 35 países e tendo reputação premiadíssima. O que provém da
ideia impressa nas palavras do próprio Jean Michel Bonfils: “Não há nenhum
grande vinho sem um bom vinhedo e sem respeito pela terra que a alimenta”.
Atualmente, os vinhedos Bonfils são constituídos por mais
1800 hectares distribuídos em 23 vinícolas (incluindo 3 castelos) e oferecem 16
castas diferentes de uvas especiais e selecionadas garantindo a alta qualidade
dos vinhos. À frente da vinícola hoje estão: Olivier, Jerome, Laurent e
Christian Bonfils, membros da 5ª geração da família, formados em
Borgonha/França, onde adquiriram vasta experiência em viticultura e enologia.
Conseguem mesclar castas e aproveitas as expressões minerais dos solos onde
cultiva de forma memorável, o que leva seus vinhos a exprimirem sabores únicos.
Eles se valem da paixão e respeito incondicional pela terra, passada de geração
em geração, levando em mente a ideia de cultivar vinhas com uvas da mais alta
qualidade, respeitando o terroir em sua máxima expressão.