É sabido que a Pinot Noir é uma casta difícil. Arredia, é exigente
no seu cultivo, mas que revela, ao mesmo tempo, elegância, delicadeza e um
pitoresco sabor que privilegia as frutas vermelhas. Os melhores vinhos da casta
Pinot Noir produzido no mundo são os franceses, mais precisamente na região da
Borgonha. É uma referência quando enaltecemos suas mais fiéis e genuínas características.
E foram com os pinots franceses que tive o meu ritual de iniciação com a cepa: de
vinhos mais frescos, jovens a rótulos mais complexos e que tem uma grande
vocação para guarda. E neste link segue a resenha do Pinot Noir francês que
degustei e gostei: Gustave Lorentz Pinot Noir 2016. A título de curiosidade, a Pinot Noir faz parte do corte dos
emblemáticos, famosos e tradicionais champanhes, da região de mesmo nome. Mas
não é apenas na França, na Borgonha, que os Pinots vêm ganhando notoriedade e
respeito. Alguns dos Pinots Noir mais admirados do mundo, por exemplo, vem da
Califórnia, do Chile (Tripantu Grand Reserve Pinot Noir 2011 e Casa Silva Reserva Pinot Noir 2013) e também da Nova Zelândia (Brancott Estate Pinot Noir 2012 e 2014).
Como podem perceber caros leitores, os grandes produtores da
Pinot Noir que estão despontando vêm do Novo Mundo e o rótulo de hoje me
surpreendeu pela complexidade, pelo corpo volumoso para um Pinot Noir, mas ao
mesmo tempo mostrando uma estrutura aveludada e frutada como já é de destaque
da cepa. E esse vinho veio da famosa região Luján de Cuyo, famosa por produzir
grandes Malbecs, na tradicional Mendoza. Um vinho surpreendente que, tomado por
um entusiasmo único, antecipei grande parte de sua análise. O vinho que
degustei e gostei é o Nieto Senetiner Pinot Noir da safra 2014. Antes de falar
dessa espetacular vinho com requintes de detalhes, falemos um pouco da região
de onde veio: Luján de Cuyo.
Luján de Cuyo
O departamento de Luján de Cuyo foi instituído em 11 de maio
de 1855 sob o nome de “Villa de Luján” durante o governo do General Pedro
Pascual Segura. Seu município foi criado em 1872. O povoado de Luján realizou
uma grande contribuição à história da Independência Argentina, desempenhou um
papel fundamental na formação do Exército dos Andes. Foi declarada “Cidade” a
Villa de Luján, em Outubro de 1949. Em 1964, tanto a cidade quanto o
departamento passaram a ser chamados “Luján de Cuyo”. No início, quando os
espanhóis por ordem do Governador Garcia Hurtado de Mendoza, sob o comando do
capitão Don Pedro del Castillo chegaram ao Vale de Huentota durante uma
expedição constituída por sessenta espanhóis, mil e quinhentos índios
auxiliares e um capelão, Frei Humberto de la Cueva, encontraram um precário
sistema de irrigação artificial. Esse era o qual a população local irrigava
suas plantações de batata e milho originários da América e desconhecidos até o
momento na Europa. O Capitão del Castillo nomeou o lugar Mendoza – Novo Vale de
Rioja. Era 2 de março de 1561. O nome foi uma homenagem ao Governador do Chile
Hurtado de Mendoza e à pátria natal de Castillo.
Luján de Cuyo
Com vinhedos plantados em solos arenosos e altitudes que
variam entre 800 e 1.100 metros, Luján de Cuyo é conhecido como a terra do
Malbec. O departamento faz parte da região alta do Rio Mendoza. A maior parte
das videiras aqui plantadas é de uvas tintas, mas o Malbec não é a única a se
destacar: Cabernet Sauvignon, Chardonnay e Torrontes também têm se mostrado
bastante expressivas. Há aproximadamente 40 minutos ao sul da cidade de
Mendoza, a região é considerada o berço do movimento vinícola argentino –
tirando o país do lugar comum e alavancando sua produção à nível internacional.
Luján de Cuyo foi a primeira área a instituir a DOC (Denominação de Origem
Controlada) para o Malbec em 1993. Isso causou uma considerável e contínua
melhora na qualidade e quantidade dos vinhos, repercutindo num notável
reconhecimento global.
E agora o vinho!
Na taça apresenta um impressionante vermelho rubi escuro, mas
com tonalidade violácea muito brilhante com lágrimas finas e esparsas que logo
se dissipam das paredes do copo.
No nariz possui uma explosão aromática de frutas vermelhas
maduras, como cereja, ameixa com notas de especiarias.
Na boca é seco e complexo, tem média estrutura, mas
aveludado, suave, delicado, equilibrado, com taninos macios e finos com uma boa
acidez que lhe garante frescor e jovialidade com um final persistente e
frutado.
Como eu disse é um vinho simplesmente surpreendente! Um Pinot
Noir atípico, um vinho poderoso e complexo para um Pinot Noir chileno,
brasileiro, mais leves e delicados, por exemplo. Um vinho extremamente versátil
que, embora tenha complexidade e estrutura, traz as genuínas características da
cepa: delicadeza, a presença da fruta vermelha, no aroma e paladar e, por não
ter passagem por barricas de carvalho, corrobora e enaltece tais
peculiaridades. Que venham mais Pinots argentinos! Tem incríveis 14% de teor
alcoólico, mas muito bem integrados ao conjunto do vinho, sendo quase que
imperceptível.
Sobre a Nieto Senetiner:
Os ponteiros do relógio começaram a girar um dia de 1888 em
Vistalba, Luján de Cuyo, província de Mendoza, Argentina, quando um grupo de
imigrantes italianos meteu as mãos na terra para plantar as primeiras vinhas e
fundar uma nova empresa vinícola. A partir daquele primeiro dia, diferentes
famílias transmitiram umas às outras os segredos da elaboração de grandes
vinhos: o profundo amor pela natureza, o respeito pela essência de cada terroir
e o valor da espera. Em 1969, as famílias Nieto e Senetiner adquiriram a
fazenda e começaram a escrever um novo capítulo de crescimento e
desenvolvimento. Ampliaram as instalações e consolidaram uma presença que já
havia deixado o seu cunho na história dos grandes vinhos argentinos. Em 1998, Nieto Senetiner tornou-se
parte do grupo de empresas vinícolas da família Pérez Companc. Comprometida com
os mais altos padrões de produção e qualidade do vinho e apoiada por um plano
de investimento contínuo, tanto em fazendas como em tecnologia de processos, a
Nieto Senetiner consolidou sua liderança, sem renunciar aos nobres atributos
que forjaram a sua origem e marcaram o seu tempo.
Mais informações acesse:
https://www.nietosenetiner.com.ar/pt-br/
Fontes de pesquisa:
Portal da cidade de Luján de Cuyo, em: https://lujandecuyo.gob.ar/lujandecuyo/
Portal Mendoza Travel, em: https://www.mendoza.travel/pt/resena-historica-8/#:~:text=O%20departamento%20de%20Luj%C3%A1n%20de,do%20General%20Pedro%20Pascual%20Segura.&text=O%20povoado%20de%20Luj%C3%A1n%20realizou,forma%C3%A7%C3%A3o%20do%20Ex%C3%A9rcito%20dos%20Andes.
Portal Experience Mendoza, em: http://www.experiencemendoza.com/pt/vinho-degusta%C3%A7%C3%A3o/visitando-as-vin%C3%ADcolas-de-mendoza/#:~:text=Luj%C3%A1n%20de%20Cuyo,-Com%20vinhedos%20plantados&text=O%20departamento%20faz%20parte%20da,t%C3%AAm%20se%20mostrado%20bastante%20expressivas.
Degustado em: 2016