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sábado, 29 de outubro de 2022

Quinta Don Bonifácio Reserva Refosco 2007

 

O vinho definitivamente é um ser vivo, como alguns especialistas na poesia líquida costumam falar. E de fato é mesmo, não há nenhum exagero em dizer isso. Todo vinho nasce, na vindima e no processo de vinificação até ser engarrafado, cresce, evolui na garrafa quando está na nossa adega, se desenvolve ou não, decai e morre.

Cada uma dessas fases tem um tempo, que muda, varia de vinho para vinho e até mesmo de garrafa para garrafa, e nesse caso um dos principais fatores é a forma como ele está armazenado e também o fator sorte, pois mesmo acondicionando o vinho aceitavelmente há casos em que ele pode perecer antes do que se espera.

Há quem diga que temos de aproveitar sem muitas delongas, mas também o tempo faz com que o vinho só melhore, claro que para entender essas nuances é preciso, pelo menos buscar ajuda profissional ou buscar informações do rótulo junto ao produtor.

E entender o seu apogeu, potencial de guarda, o seu momento de decréscimo no seu período evolutivo pode parecer meio difícil e tenso para os enófilos e aí a pergunta surge: Será que o vinho está em seu ápice de degustação? Será que merece aguardar um pouco mais? São perguntas, questionamentos e dúvidas que nos faz perder o sono, porque um “erro de cálculo, um momento especial de degustação pode virar um pesadelo com um vinho avinagrado.

Mas é inegável quando, por exemplo, degustamos um vinho razoavelmente antigo e percebemos que ele está no auge ou que evoluiu maravilhosamente bem. É o ápice também para quem degusta.

Eu sigo nesse caminho pela busca e garimpo de alguns rótulos com pelo menos mais de 10 anos o que hoje é maravilhoso em um mercado onde os vinhos ligeiros e mais jovens imperam, afinal, quem quer bebe, bebe logo e isso tem feito com que os adeptos pelos vinhos “velhos” se tornem um gueto, um pequeno grupo.

E o vinho que degustarei hoje está debutando, com seus 15 anos de vida e que, por um ou dois anos, não sei ao certo, descansou em minha adega aguardando o momento de brindar a minha taça com celebração. E falando em celebração ele trará novidades, novidades de uma casta que, para mim, é nova: Refosco.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da emblemática Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul, Brasil, e se chama Quinta Don Bonifácio Reserva da casta Refosco, safra 2007. O vinho está vivo, pleno! O tempo e a passagem por barricas de carvalho lhe deram complexidade e elegância. Mas não vou, pelo menos agora, falar do vinho, mas sim da Serra Gaúcha e do Refosco. Vale lembrar antes de que tive uma grande experiência com o Quinta Don Bonifácio Reserva Tannat 2007.

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira. Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do Vale.

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

Refosco

A uva tinta Refosco teve sua origem nas regiões banhadas pelo mar Adriático, como a Eslovênia, Croácia e Friuili-Venezia Giulia (nordeste da Itália). Antigamente, era amplamente utilizada para a fabricação de vinhos mais simples, entretanto, hoje a uva Refosco tem suas características em evidência e participa da composição de exemplares complexos, vinhos que apresentam grande capacidade de envelhecimento.

Os vinhos que possuem a uva Refosco em sua composição são encorpados e frutados, apresentando elevada acidez e coloração escura e densa. Os aromas e sabores encontrados nesses exemplares remetem a ameixas e temperos apimentados, bem como sugerem sensação amendoada no palato. Com amadurecimento tardio, a uva Refosco, se colhida antes do tempo, pode elaborar vinhos de taninos agressivos.

Essa é uma uva cheia de documentações, ao longo da história. Foi admirada e citada pelo escritor romano Caio Plínio II, conhecido como Plínio, o Velho. Consta, também, que era o vinho favorito de Lívia, esposa do primeiro imperador romano, Otávio Augusto. Estudos de DNA revelaram que a Refosco tem um parentesco com Marzemino, a uva que produzia o vinho favorito de Mozart.

A denominação de origem que elabora os mais reputados vinhos com a uva Refosco, de excelente combinação entre a mineralidade e o caráter frutado, é a italiana Colli Orientali del Friuli. Para uma boa harmonização, recomendam-se pratos elaborados com carnes de porco e peixes, como salmão e linguado, por exemplo.

Os vinhos elaborados com esse tipo de uva costumam ser consumidos pela população local, dificilmente saindo de sua região de origem. Entretanto, com o crescente interesse dos amantes de vinhos pela região de Friuli, os exemplares que levam a Refosco em sua composição cruzaram o oceano e chamaram a atenção da crítica estadunidense.

Na região fronteiriça da Eslovênia, a uva Refosco é conhecida como Refosk e, após sua colheita, passa por um período prolongado de maceração, fermentação e envelhecimento, resultando em vinhos extremamente ricos e saborosos.

Os aromas e sabores mais frequentemente associados a Refosco são os temperos apimentados escuros e as ameixas, além de uma sensação amendoada no palato, bem como um toque de amargor. O potencial de guarda pode ir de quatro a dez anos. No seu auge, ganha nuances florais.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um intenso e profundo vermelho rubi com halos granada, denunciando os seus 15 anos de vida e/ou provavelmente pela passagem por barricas de carvalho, com lágrimas finas, lentas e em média quantidade.

No nariz traz aromas de frutas pretas bem maduras, como ameixa e jabuticaba, bem como frutas secas, com notas amadeiradas, defumadas, de tabaco, couro, estrebaria, com toques terrosos, de terra molhada, folhas secas, revelando complexidade e intensidade.

Na boca é altivo, vivo, volumoso, suculento, mostrando uma ótima evolução com as frutas pretas maduras e secas sendo replicadas como no aspecto olfativo em perfeita sinergia com a madeira que ganha também protagonismo, afinal foram 16 meses em barricas de carvalho, com especiarias picantes, tosta, café, torrefação e um delicioso tom de chocolate meio amargo que lhe confere sabor, tudo isso graças a madeira. Taninos elegantes, domados, com uma acidez instigante, na medida certa com um final persistente, longo.

Eu resumiria, mesmo que óbvia em uma palavra esse momento de degustação: privilégio. Para mim, um humilde enófilo, degustar um rótulo brasileiro de 2007, com 15 anos de vida e se revelando vivo, pleno na taça não é todo dia e o faço em um tom de celebração, vinho é celebração. Degustar, mais uma vez, um rótulo de um produtor, em sua primeira vindima, a sua primeira colheita, também é motivo de muita alegria. O vinho que degustei e gostei foi a primeira colheita da Vinícola Don Bonifácio, uma vinícola jovem, fundada em 2000, mas que respeita as tradições da Serra Gaúcha. É respeito à terra, ao terroir, a cultura daquele povo, é ímpar. Obrigado aos deuses do vinho por, mais uma vez, me proporcionar esse momento. Tem 12,6% de teor alcoólico.

Sobre a Quinta Don Bonifácio:

A Quinta Don Bonifácio está situada a 800 metros de altitude em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. Todos os produtos são elaborados através de vinhedos próprios, os quais se encontram localizados em Santa Lúcia do Piaí, e em São Francisco em Galópolis.

Os vinhedos foram planejados no início do ano de 2000, com o objetivo de produzir as melhores variedades de uvas da região, com a primeira colheita em 2007.

A vinícola tem uma estrutura projetada para a elaboração de vinhos finos e espumantes de excelente qualidade, visando atender consumidores exigentes e diferenciados.

É uma vinícola que projetou a sua criação na elaboração de excelentes produtos, no bom atendimento e na satisfação do consumidor.

Mais informações acesse:

https://www.quintadonbonifacio.com.br/site/#home

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA

“Tintos & Tantos”: http://www.tintosetantos.com/index.php/escolhendo/cepas/625-refosco

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/refosco

 

 

 

  


 


sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Quinta Don Bonifácio Tannat Reserva 2007

 

Sempre ao término do ano, na transição para o ano novo algumas metas são renovadas: sucesso profissional, emagrecer, ser mais tolerante e legal etc. Ano novo, intenções velhas. Velhos obstáculos, projetos... O ser humano é movido por metas e projeções para dar o mínimo de sentido a vida ou uma espécie de farol para ter um norte na vida.

Como um homem sistemático sempre serei a favor de método na vida, mas nunca se escravizar a eles. A vida precisa ser leve, principalmente transparente, respeitando a elas, buscando novidades para que ela siga dessa forma. Mas algumas tradições, por mais austeras que ela aparenta, podem trazer alguns prazeres.

E claro falo do vinho, do universo do vinho, o que nós tratamos por aqui, linhas de auto ajuda à parte. Decidimos por alguns anos consecutivos promover um churrasco em família para, dentro do possível, comemorarmos um novo ano.

E com ele veio também a decisão de um novo rótulo e como mencionei o quesito tradição veio à tona. Quando falamos em churrasco o que vem à mente? Vinhos encorpados, estruturados e com alguma complexidade.

Mas vinhos tintos com essa proposta em pleno verão de dezembro no Brasil? Será que há uma espécie de “incoerência” nessa escolha? Não sou um especialista, apenas um relés enófilo, mas penso que temos de ser regidos por nossa vontade, pelo que o coração nos diz. Talvez um espumante mais seco e com boa acidez possa ser uma escolha mais “decente”, mas dessa vez decidi pela tradição, pelo óbvio.

Mas o rótulo não é nem um pouco óbvio, mas uma escolha pouco ortodoxa e incomum e logo direi o motivo: Um vinho com 14 anos de vida! Sim! Um rótulo com seus longos 14 anos de vida, no auge de sua evolução. Bem se está no auge de sua evolução eu não sei ainda, mas eu sei que a decisão da escolha foi óbvia, mas o rótulo é sem dúvida arrojado.

Quando degustamos um vinho com algum tempo de safra sempre tem aquela dose de incerteza. Como ele estará? O que ele nos reservará? Pode estar no ápice de seu momento evolutivo, pode estar em declínio, é sempre um momento de apreensão, com um misto de privilégio, pelo fato de degustar um vinho com esse tempo de vida, mas de preocupação também, pelo fato do que irá encontrar.

Mas decidi ser o mais positivo possível projetando (olha a palavra aí novamente) as possibilidades que possibilitam que esse vinho possa estar em seu grande momento, mesmo que esteja quase debutando. Trata-se de um Tannat que, genuinamente, traz muitos taninos, o que viabiliza sua longevidade. A passagem por barricas de carvalho, que traz complexidade, estrutura ao rótulo.

O tempo poderá ser um mero detalhe a este vinho. O momento é chegado! A rolha, delicadamente se desprendeu da garrafa, parecia que ele nascia para o nosso deleite. A taça foi inundada de expectativas, os aromas timidamente se mostrando. Um buquê aromático aos poucos foi mostrando a que veio os famosos aromas terciários: toques balsâmicos, de café torrado mesmo, com frutas secas, couro, tabaco, especiarias. Uma loucura! Na boca ainda trazia a plenitude, a vivacidade das frutas, apesar de discreta, se fazia presente. Personalidade é o seu nome! Não vou entrar, pelo menos ainda, em detalhes sobre o vinho, mas não preciso dizer que o vinho é especial.

Mas de qualquer forma vou evocar a frase que dá nome a este humilde diário virtual. O vinho que degustei e gostei veio da emblemática e necessária Serra Gaúcha, no Brasil e se chama Quinta Don Bonifácio Reserva da casta Tannat, da safra 2007. Nada como a austeridade da harmonização para te entregar alegria e deleite, a ode ao prazer. E para trazer um pouco de história e curiosidade, para não perder o costume, falemos um pouco da grande Serra Gaúcha e um pouco da história dele, do churrasco, tão importante e tradicional nas tradições gaúchas, argentinas, tendo a Malbec como protagonista e no Uruguai tendo o Tannat como carro chefe.

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira. Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do Vale.

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

As origens da Parilla: o famoso churrasco

Não existe referência exata sobre a origem do churrasco, mas presume-se que a partir do domínio do fogo na pré-história, o homem passou a assar a carne de caça quando percebeu que o processo a deixava mais macia.

Na América do Sul a primeira grande área de criação de gado foi o pampa, uma extensa região de pastagem natural que compreende parte do território do estado do Rio Grande do Sul, no Brasil, além da Argentina e Uruguai. Foi ali que os vaqueiros, conhecidos como gaúchos tornaram o prato famoso e típico.

A carne assada era a refeição mais fácil de preparar quando se passava dias fora de casa, bastando uma estaca de madeira, uma faca afiada, um bom fogo e sal grosso, ingrediente abundante e que é utilizado também como complemento alimentar do gado. A partir dali o costume cruzou as regiões e se tornou um prato nacional, multiplicando-se as formas de preparo, o que gera entre os adeptos muita discussão sobre o verdadeiro churrasco, como por exemplo, a utilização de lenha ou carvão, de espeto ou grelha, temperado ou não, com sal grosso ou refinado, de gado, suíno, aves ou frutos do mar. O correto é afirmar que não existe fórmula exata, uma vez que cada região desenvolveu um tipo diferente de carne assada, mas, sem dúvidas, a imagem mais famosa no Brasil é o churrasco preparado pelos vaqueiros, conhecidos pelo termo latino gaúcho, que se transformou na denominação dos cidadãos nascidos no estado do Rio Grande do Sul.

Na Argentina e no Uruguai o churrasco típico é chamado asado, e é o prato nacional de ambos os países. Tradicionalmente é feito na grelha com uso de lenha, mas também se usa carvão pela praticidade.

Os gaúchos alimentavam-se, sobretudo de churrasco no pão, que está na origem do asado rio-platense. Na Argentina o asado tradicional dos Pampas estendeu-se a toda a população, e hoje, devido á qualidade e ao preço baixo, é consumido por todas as classes sociais.

Aos finais de semana, as famílias se juntam nos pátios das casas para desfrutar um asado mais sofisticado que inclui, além de famoso bife, todo o tipo de achuras – órgãos menores como os rins, intestinos, estômago e ainda morcelas e vários tipos de embutidos.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, escuro com bordas de cor atijoladas, acastanhadas, mostrando evolução, com lágrimas finas e abundantes.

No nariz explodem os aromas terciários, um envolvente bouquet que traduz em complexidade com frutas secas, frutas negras maduras, notas amadeiradas, couro, tabaco, um toque intrigante de terra molhada, floresta.

Na boca é estruturado, complexo, mas elegante graças aos seus 14 anos de vida, mostrando uma evolução correta e vagarosa, com taninos presentes, maduros, mas polidos e pelo tempo, o que lhe confere um bom volume de boca, com acidez vivaz, mas na medida, com as notas amadeiradas em evidência graças aos seus 16 meses de passagem por barricas de carvalho, com aquele toque de café, tostado e especiarias doce que o torna ainda mais atraente. Tem um final curto, de média persistência.

Eu resumiria, mesmo que óbvia em uma palavra esse momento de degustação: privilégio. Para mim, um humilde enófilo, degustar um rótulo brasileiro de 2007, com 14 anos de vida e se revelando vivo, pleno na taça não é todo dia e fazê-lo em um momento de alegria com os seus, de celebração, de transição de um novo ano sem a preocupação de se cobrar, mas com a alegria de novos tempos, é de suma importância. Degustar, pela primeira vez, um rótulo de um produtor, a sua primeira vindima, a sua primeira colheita, também é motivo de muita alegria e respeito à terra, ao terroir, a cultura daquele povo, é ímpar. O vinho que degustei e gostei foi a primeira colheita da Don Bonifácio, uma vinícola jovem, fundada em 2000, mas que respeita as tradições da Serra Gaúcha. E como está a harmonização com o churrasco? Maravilhoso! Especial! Nunca foi tão óbvio, nunca foi tão delicioso! Um vinho supreendente, que evoluiu muito bem e que entregou elegância, delicadeza, mas complexidade e a estrutura ou melhor a personalidade marcante do Tannat, com a assinatura do produtor brasileiro que, a cada ano, vem fazendo emblemáticos Tannats para o nosso deleite! Um viva a 2022 e que o vinho seja a nossa razão de ser! Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Quinta Don Bonifácio:

A Quinta Don Bonifácio está situada a 800 metros de altitude em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. Todos os produtos são elaborados através de vinhedos próprios, os quais se encontram localizados em Santa Lúcia do Piaí, e em São Francisco em Galópolis.

Os vinhedos foram planejados no início do ano de 2000, com o objetivo de produzir as melhores variedades de uvas da região, com a primeira colheita em 2007.

A vinícola tem uma estrutura projetada para a elaboração de vinhos finos e espumantes de excelente qualidade, visando atender consumidores exigentes e diferenciados.

É uma vinícola que projetou a sua criação na elaboração de excelentes produtos, no bom atendimento e na satisfação do consumidor.

Mais informações acesse:

https://www.quintadonbonifacio.com.br/site/#home

Referências:

“Cabana Monte Fusco”: http://www.cabanamontefusco.com.br/a-origem-da-parrilla/

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA