Mostrando postagens com marcador Bodega Virgen de la Sierra. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Bodega Virgen de la Sierra. Mostrar todas as postagens

sábado, 17 de outubro de 2020

OGV (Old Garnacha Vines) 2016

 

Há quem diga que degustar o mesmo rótulo da mesma safra duas ou mais vezes não traz nenhuma novidade, pois, segundo defendem essas pessoas, trata-se do mesmo vinho. Bem, em tese é, claro, afinal, lá está estampado o mesmo rótulo e a mesma safra. Mas não se enganem, estimados leitores, que o ato da degustação limita-se a degustação propriamente dita apenas. A boa degustação está em sintonia com outros fatores ou pelo menos deveria estar que impacta decisivamente no prazer em degustar a nossa poesia líquida. 

Uma boa companhia, o seu estado de espírito, tem todo um contexto que considero preponderante para que o vinho, o ritual da degustação seja agradável, além, é claro, do vinho em questão. E é nesse ponto que eu gostaria de destacar algo que considero de extrema importância e, embora eu não apresente nada que fundamente a minha tese concretamente, eu a defendo veementemente, com a força de uma fé, baseado em sentimentos, experiências e percepções de um enófilo com alguns anos de caminhada: mesmo que o vinho seja o mesmo, seja um rótulo exatamente igual, a safra idêntica, as percepções, as descobertas, as nuances podem ser sim diferentes. 

E o exercício da análise, a experiência podem e muito colaborar para isso. Exemplo: certas características que você não percebeu na primeira degustação, pode ser percebida na segunda degustação ou ainda o que você sentiu no sabor e no aroma na primeira degustação, chegou a conclusão de que não tinha na sua segunda experiência com o mesmo rótulo, entre outros aspectos.

Mas uma coisa se repetiu quando degustei, pela segunda vez, o OGV (Old Garnacha Vines) da região espanhola da Calatayud, da safra 2016: Que eu degustei e gostei! Que belíssimo e autêntico Garnacha espanhol, de uma região emblemática que é considerada o berço da casta na Espanha, a Catalunha. 

Mas eu não quero cair na redundância e anular as minhas teses na minha análise do vinho e também nos aspectos históricos que o rótulo está atrelado. Então, caso queira ler sobre a região da Calatayud, bem como a história da tradicional cepa Garnacha e também fazer a comparação com entre as minhas análises, leia neste link a minha primeira experiência com a OGV (Old Garnacha Vines) 2016

Espero que não fique entediado e com aquela nítida sensação de que já lera isso antes em algum lugar. Tanto que irei direto ao ponto, ao que é mais importante em todo o texto que até agora, estimado leitor, pacientemente você leu: A análise do vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi com tons violáceos, diria granada, brilhante e reluzente. Lágrimas grossas e em média intensidade, que desenha lindamente as paredes do copo.

No nariz é evidente as notas frutadas, frutas vermelhas e maduras, como framboesa, amoras, cerejas, até diria morango. Um toque de frescor, de jovialidade se percebe nos aromas, talvez um toque floral.

Na boca é saboroso, um bom volume de boca, de médio corpo tem taninos generosos e macios, com uma ótima acidez que lhe confere o frescor identificado no olfativo. Tem notas de especiarias e um final persistente e frutado.

Não posso deixar de negligenciar uma informação que julgo ser essencial para as características desse belo Garnacha: oriundo de vinhas velhas, entre 70 e 100 anos! Vinhas velhas conferem ao vinho a maciez, o equilíbrio, mas a tal da expressividade que garante personalidade ao vinho, a Garnacha. Um quesito ímpar, apesar das filosofias e metodologias implantadas pelos enólogos, bem como as suas propostas, que só a Garnacha pode proporcionar. O OGV (Old Garnacha Vines) entrega, continua entregando isso com maestria: robustez, estrutura, mas delicadeza, versatilidade. Outro detalhe que faço questão de repetir a exaustão e, desde já, caro leitor, peço-lhe imensas desculpas: é que não podemos passar pela vida decentemente sem degustar um legítimo Garnacha, seja um rótulo 100% da cepa ou em cortes, em blends, a Garnacha sempre será um personagem definitivo na cultura vitivinícola universal! E o forte regionalismo espanhol, da região da Calatayud traz toda a tipicidade da Garnacha que traduz em belíssimos rótulos que conferem expressividade e complexidade. Esse belo vinho harmoniza com massas e pizzas, carnes vermelhas e queijos mais robustos. Tem 14% de teor alcoólico bem integrados e sem passagem por barricas de carvalho que faz com que predomina as características da cepa.

Harmonizando com um belo queijo parmesão

Sobre a Bodega Virgen de la Sierra:

Situada no sopé da Sierra de la Virgen, no vale do rio Ribota, esta adega é a mais antiga de DO Calatayud. É o projeto de uma cidade inteira que deixou de fazer vinho nas vinícolas de sua família para fazer um trabalho cooperativo. Com um trabalho de mais de 60 anos, Virgen de la Sierra, hoje mantém a tradição e a sabedoria que herdou de seus ancestrais. Em processo de modernização, integrou já as mais novas tecnologias, e o resultado delas são os vinhos que hoje se produzem e que já foram inúmeras vezes reconhecidas nos últimos anos.

Mais informações acesse:

https://www.bodegavirgendelasierra.com/



quarta-feira, 30 de setembro de 2020

OGV (Old Garnacha Vines) 2016

 


Um enófilo não tem como passar pela vida sem degustar um legítimo Garnacha das terras espanholas. Definitivamente é uma casta de personalidade forte, mas fácil de degustar e extremamente versátil. Porém, ainda assim, algumas pessoas, avessas aos vinhos encorpados e corpulentos, optam por não degustá-la. Apesar de ser original, de ter a tal da expressividade, da personalidade marcante, ela possui algumas individualidades, peculiaridades que variam da região em que foi concebida e claro da proposta, da assinatura do enólogo bem como da filosofia da vinícola. Está entre as mais produzidas do planeta e tem a sua origem na região de Aragão, no norte da Espanha e que faz fronteira com a França, por isso a mesma também é muito popular neste último país, chamada de “Grenache”.

Aragão

A primeira menção ao fruto apareceu em 1513, feita pelo agrônomo espanhol Gabriel Alonso de Herrera, quando a uva ainda era chamada de Aragones. Nos anos seguintes, foi chamada de Canonat, na Itália, e Roussillon, na França. O nome “Garnacha” provavelmente tenha surgido na Itália por sua similaridade com outra uva da região, a Vernaccia di Oristano. Apesar disso, ambas não possuem nenhuma correlação. Posteriormente, nas regiões à beira do Mar Mediterrâneo, encontrou sua melhor forma e ganhou popularidade. Até hoje, é abundante nos estados do norte e nordeste da Espanha, como Rioja, Navarra, Campo de Borja e Catalunha, e na França, em Rhône e Languedoc-Roussillon. Diante dessa rica história preciso, mais e mais, degustar a Garnacha. A propósito degustei o meu primeiro rótulo desta cepa chamado Real Compañia de Vinos Garnacha da safra 2016.

O vinho que degustei e gostei vem claro da Espanha, de uma região nova para mim, a Calatayud, e se chama OGV (Old Garnacha Vines) da safra 2016. Um vinho oriundo de vinhas velhas que confere ao mesmo características diferenciadas, como por exemplo o equilíbrio, a harmonia, um vinho redondo, com a já mencionada personalidade. Falemos então um pouco da DO Calatayud.

Calatayud

A região de Calatayud dá origem aos chamados vinhos de altura. Os vinhedos estão plantados de 500 a 1040 metros de altitude, na parte mais ocidental de Zaragoza, próximo a Madrid.

Calatayud

Predomina o cultivo da Garnacha em vinhas com mais de 50 anos, que hoje ocupam 54% de toda a área de plantio da região. Sem dúvida, é a mais representativa do local. Em segundo lugar, fica a Tempranillo, com 21% da área. Algumas variedades brancas também são cultivadas por lá, como Gewurztraminer, Viura, Malvasia e Chardonnay, mas representam menos de 10% do cultivo. Os solos pedregosos e argilosos favorecem a produção de vinhos bastante intensos, encorpados, com alta graduação alcoólica e forte coloração. Os primeiros habitantes da cidade, os celtíberos, se assentaram a 4 km da atual cidade de Calatayud, num povoado denominado Bílbilis, que foi posteriormente conquistada pelos romanos, transformando-se numa importante cidade. Até hoje, os nascidos em Calatayud são chamados de bilbilitanos. No entanto, Calatayud “aparece no mapa” com a chegada dos árabes em 716, quando foi construído o Castelo de Qual at Ayub, que deu o nome à cidade. No séc. XI, Calatayud transformou-se numa das maiores cidades da Taifa de Zaragoza. Foi reconquistada em 1120 pelo rei Alfonso I “El Batallador”, quando então recebeu o foro. Desde 2006 celebram-se as festas chamadas “Las Alfonsadas“, quando a cidade volta a ter um aspecto medieval, recriando os acontecimentos que sucederam durante o processo da reconquista. A necessidade de repovoamento do território depois de reconquistada fez com que o foro da cidade fosse respeitoso com as minorias. A partir de então, passaram a conviver junto com os cristãos, os judeus e os mouros.

E agora o vinho!

Na taça tem um atraente vermelho rubi muito brilhante e vivo, com reflexos violáceos com lágrimas finas e abundantes que teimavam em se dissipar da parede do copo, mostrando a potência alcoólica.

No nariz a presença da fruta madura é evidente e inebriante, sem parecer enjoativo, com um agradável toque floral, algo que lembre violeta, flores vermelhas, um perfume que estimula a sentir, por um longo período de tempo, os seus aromas.

Na boca é seco, as notas frutadas sentidas no olfativo, se reproduzem na boca, frutas maduras, médio corpo a encorpado, mas macio, fácil de degustar, com taninos presentes, mas sedosos e uma acidez moderada, mas agradável, que entrega um vinho solar, fresco.

Um vinho ainda jovem, apesar dos três anos de safra, ainda teria alguns anos de vida, pelo menos por dois ou até três anos mais de vida e que iria lhe conferir as características mais fiéis dessa especial cepa. Mas mesmo com a “juventude” o vinho, elegante e delicado, estava pronto para ser degustado, vivaz e de expressividade. Os aromas e sabores frutados, lembraram amora e cereja e o final é persistente e delicado, ao mesmo tempo. Um típico filho da região. Um Garnacha para entrar para os anais da minha simples história de enófilo. E o melhor disso tudo é que tenho outra do mesmo rótulo para degustar, mas esse deixarei por mais um tempo hibernando na adega para fazer as devidas e necessárias comparações com esse que degustei. Tem 14% de teor alcoólico, mas muito bem integrados e sem passagem por barricas de carvalho preservando as características da cepa.

Sobre a Bodega Virgen de la Sierra:

Situada no sopé da Sierra de la Virgen, no vale do rio Ribota, esta adega é a mais antiga de DO Calatayud. É o projeto de uma cidade inteira que deixou de fazer vinho nas vinícolas de sua família para fazer um trabalho cooperativo. Com um trabalho de mais de 60 anos, Virgen de la Sierra, hoje mantém a tradição e a sabedoria que herdou de seus ancestrais. Em processo de modernização, integrou já as mais novas tecnologias, e o resultado delas são os vinhos que hoje se produzem e que já foram inúmeras vezes reconhecidos nos últimos anos.

Mais informações acesse:

https://www.bodegavirgendelasierra.com/

Fontes de pesquisa para as histórias da casta Garnacha e da região da Catalunha:

Portal “Divvino Blog”: https://www.divvino.com.br/blog/uva-garnacha/

Portal “Um brasileiro na Espanha”: https://umbrasileironaespanha.wordpress.com/2015/11/22/calatayud-comunidade-de-aragon/

Portal “Grand Cru Blog”: https://blog.grandcru.com.br/regioes-diferentes-novas-espanha-jumilla-almansa-calatayud/#:~:text=Calatayud,de%20Zaragoza%2C%20pr%C3%B3ximo%20a%20Madrid

Degustado em: 2019