Dizem que nada combinado transcorre da forma que esperamos.
Não sei se é mais ou menos assim a frase, mas, no cotidiano de nossas vidas
costumamos dizer que se fosse combinado não seria melhor. Parece que as coisas
que acontecem sem combinar, sem projetar ou coisa que o valha têm um “sabor”
diferente. Será?
Bom não vou contextualizar essa questão, mas acredito que
tais fenômenos se adequem ao universo do vinho. Esse “sabor” diferente torna-se
afável aos sentidos. Bem pelo menos para mim as experiências têm sido
agradáveis.
Uma em especial vale ser contada, mas confesso que não
projetei nada de bom no início, mas o valor, extremamente atrativo, me
estimulou a levar esse rótulo, cuja casta, até então, não conhecia. Esse ponto
também foi o que me chamou a atenção sendo preponderante para a minha decisão
de compra.
Estava eu, em minhas incursões aos supermercados, fazendo
aquelas compras cotidianas, algumas inclusive frívolas, e, como ainda tinha
tempo, era um domingo ensolarado, decidi passar na adega para ver se havia
alguma novidade.
Os olhos correndo as gôndolas avistou algo interessante. Um
rótulo simples, mas impactado por um preço imbatível: R$ 19,90! Tomei a garrafa
em minhas mãos e, a princípio, não vi nada que me chamasse a atenção. Olhando
um pouco mais, com aquele requinte de detalhes, percebi a palavra “Viúra”. Não
conhecia e, de posse de meu celular, alguns caprichos da tecnologia, me pus a
pesquisar e percebi que se tratava de uma variedade branca muito popular na
Espanha, mas eu não conhecia.
Não era uma casta tão difundida lá para o ano de 2019, creio,
pois nunca tinha visto um rótulo desta variedade. Agora tomado por uma
curiosidade, mas temeroso pela qualidade do vinho, decidi leva-lo, mas decidido
também em degusta-lo naquele mesmo dia. Que vinho surpreendente foi o El Lagar de la Aldea Viúra 2017. Decidi comprar mais rótulos desta variedade.
Ao longo do tempo descobri que a Viúra também se chama
Macabeo e também é usada para compor blends do famoso espumante espanhol Cava.
O meu desejo em degustar o Cava aumentou e degustar alguns poucos rótulos, mas
eu precisava degustar o Viúra, o branco tranquilo. Vi uma promoção muito
interessante em um site de vendas de vinhos popular e não hesitei e comprei.
E ele demorou algum tempo para ser degustado, mas agora não
vai passar despercebido, será “abatido” mesmo que nessa noite de início de
inverno. Estou longe do ortodoxo, afinal, nem sempre tenho de degustar tintos
encorpados no inverno.
E ele não decepcionou! Então sem mais delongas vamos às
apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da minha queridinha região de
Castilla La Mancha e se chama Condado de Eguren da casta Viúra da safra 2019.
Já tem algum tempo, três anos de safra, fiquei um tanto quanto temeroso, mas
está ótimo, de ótima drincabilidade. Mas antes de falar do vinho contemos a
história da terra de Dom Quixote e da casta branca mais popular da Espanha:
Viúra.
Castilla La Mancha
Bem ao centro da Espanha, país com a maior área de vinhas plantadas em todo o mundo e o terceiro maior mercado produtor de vinhos, está localizada a região vitivinícola de Castilla La Mancha. Um território com grande extensão de terra quase que completamente plana, sem grandes elevações. É nessa macrorregião que se origina quase 50% do total de litros de vinho produzidos anualmente na Espanha.
O nome “La Mancha” tem origem na expressão “Mantxa” que em
árabe significa “terra seca”, o que de fato caracteriza a região. Neste
território, o clima continental ao extremo provoca grandes diferenças de
temperaturas entre verão e inverno. Nos dias quentes de verão os termômetros
podem alcançar os 45°C, enquanto nas noites rigorosas de frio intenso do
inverno, as temperaturas negativas podem chegar a até -15°C.
A irrigação torna-se muitas vezes essencial: além do baixo
índice pluviométrico devido ao caráter continental e mediterrâneo do clima, o
local se torna ainda mais seco graças ao seu microclima, que impede a entrada
de correntes marítimas úmidas. A ocorrência de sol por ano é de aproximadamente
3.000 horas. Esta macrorregião é composta por várias regiões menores, incluindo
sete “Denominações de Origem”, das quais se pode destacar La Mancha e
Valdepeñenas.
Sub-regiões de Castilla
La Mancha: é a principal região dentre elas, sendo
considerada a maior DO da Espanha e a mais extensa zona vinícola do mundo. O território abrange 182 municípios,
distribuídos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo. As
principais uvas produzidas naquele solo são a uva branca Airen e a popular
tinta espanhola Tempranillo, também conhecida localmente como Cencibel.
Valdepeñenas: localizada mais ao sul, mas com as mesmas
condições climáticas, tem construído sua boa reputação graças à produção de
vinhos de grande qualidade, normalmente varietais da uva Tempranillo ou blends
desta com castas internacionais.
A DO La Mancha conta mais de 164.000 hectares de vinhedos
plantados. Com isso, é a maior Denominação de Origem do país e a maior área
vitivinícola contínua do mundo, abrangendo 182 municípios, divididos em quatro
províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo.
A regulamentação comunitária permite a produção de vinhos com
indicação geográfica (IGP Vinos de la Tierra de Castilla), desde que tenham
sido obtidos a partir de determinadas castas e provenham de uma determinada
zona de produção. Na Espanha, esses vinhos são chamados de Vinos de la Tierra e
podem usar menções em sua rotulagem relacionadas às variedades, safras e nome
da vinícola, bem como às condições naturais ou técnicas da viticultura que
deram origem ao vinho.
A importância social e econômica do setor na região, bem como
o esforço de modernização feito pelos produtores, transformadores,
engarrafadores e comerciantes nos últimos anos, exige um instrumento que lhes
permita oferecer os seus vinhos de qualidade dignamente rotulados ao mercado.
Os tipos de vinhos que podem ser elaborados no IGP Vinos de
la Tierra de Castilla são: vinhos brancos, rosés e tintos; Vinhos espumantes;
Vinhos espumantes; vinhos licorosos; e vinhos de uvas maduras. São eles:
Brancas: Airén, Albillo Real, Chardonnay, Gewürztraminer,
Macabeo oViura, Malvar, Malvasía Aromática, Marisancho o Pardillo, Merseguera,
Moscatel de grano menudo, Moscatel de Alejandría, Parellada, Pedro Ximénez,
Riesling, Sauvignon blanc, Torrontés, Verdejo, Verdoncho e Viognier.
Tintas: Bobal, Cabernet-sauvignon, Cabernet-franc,
Coloraillo, Forcallat tinta, Garnacha tinta, Garnacha tintorera, Graciano,
Malbec, Mazuela, Mencia, Merlot, Monastrell, Moravia agria, Moravia dulce o
Crujidera, Petit Verdot, Pinot Noir, Prieto picudo, Rojal tinta, Syrah,
Tempranillo o Cencibel, Tinto de la pámpana blanca e Tinto Velasco o Frasco.
As castas mais cultivadas em Castilla de La Mancha, sejam DO
ou IGP, são: Airén, Viúra, Sauvignon Blanc e Chardonnay entre as brancas e as
tintas são: Tempranillo, Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot e Grenache.
Classificação dos rótulos da DO de Castilla La Mancha:
• Jóven: Categoria mais básica, sem passagem por madeira,
para ser consumido preferencialmente no mesmo ano da colheita.
• Tradicional: Sem passagem por madeira, porém com mais estrutura
do que o Jóven.
• Envelhecimento em barris de carvalho: Envelhecimento mínimo
de 90 dias em barris de carvalho.
• Crianza: Envelhecimento natural de dois anos, sendo, pelo
menos, seis meses em barris de carvalho.
• Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 12 meses em barris
de carvalho e 24 meses em garrafa.
• Gran Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 18 meses em
barris de carvalho e 42 meses em garrafa.
• Espumante: Produzidos a partir do método tradicional
(segunda fermentação em garrafa), com no mínimo nove meses de autólise.
Viúra ou Macabeo
A Viura, conhecida também como Macabeo, é uma variedade de
uva branca amplamente utilizada na Espanha e em algumas áreas vinícolas da
França. Trata-se de uma casta versátil, podendo dar origem a vinhos tranquilos,
secos, doces e espumantes. Os nomes Macabeu e Maccabéo são mais comuns em
Languedoc-Roussillon, no sul da França.
Os vinhos elaborados a partir da Viura podem ser frescos,
aromáticos e florais quando as uvas são colhidas cedo e os exemplares
envelhecidos em barris de aço inoxidável. Quando as uvas permanecem um tempo a
mais na videira e a bebida é envelhecida em barris de carvalho, os vinhos
adquirem aromas de mel e noz.
A Espanha é o lar da uva Viura, principalmente, as regiões do
norte do país. A variedade é o principal ingrediente dos vinhos brancos de
Rioja, onde é utilizada em quase todos as áreas da Catalunha, principalmente,
no espumante Cava, ao lado das uvas Parellada e Xarel-lo. No Sul, ao longo da
costa do Mediterrâneo, a Viura pode ser encontrada em diferentes regiões,
especialmente em Jumilla, Valencia e Yecla.
Trata-se de uma uva com baixa complexidade aromática e sua
relativa neutralidade a torna uma boa candidata para vinhos de corte. Quando
colhida antecipadamente, os vinhos varietais Viura podem apresentar sabores de
toranja com altos níveis de acidez, no entanto, quando permanece por mais um
tempo na vinha, os vinhos em geral apresentam um gosto mais de carvalho.
A uva Viura pode ser utilizada por conta própria para dar
origem a vinhos varietais, no entanto, a variedade é comumente misturada com
outras uvas locais. Na região de Rioja, as principais parceiras da Viura são as
uvas Malvasia e Garnacha Blanca, enquanto na Catalunha as uvas que aparecem ao
lado da Viura são a Parellada e Xarel-lo.
E agora finalmente o vinho!
Na taça apresenta um amarelo pálido, palha, límpido e bem
brilhante, mas com reflexos esverdeados.
No nariz não entrega complexidade, expressividade aromática,
mas se percebe as notas de frutas brancas e cítricas e delicados e agradáveis
notas florais, de flores brancas.
Na boca tem o seu destaque. As frutas brancas e cítricas
ganham protagonismo, onde se nota abacaxi, maça-verde, pera, lima, com
belíssimo volume de boca, cheio, marcante, compensando a baixa acidez. Tem um
final com um discreto dulçor, fazendo dele prolongado e persistente.
Uma casta popular na Espanha e que certamente será popular em
minha taça! Um vinho frutado, leve, despretensioso. Não é tão aromático, mas
compensa e muito pelo sabor marcante na boca. Um vinho altivo, vivaz e com uma
personalidade muito marcante, mesmo que seja um branco leve e despretensioso. Tem
12,5% de teor alcoólico.
Sobre a Bodegas Condado de Eguren:
A Bodega Condado de Egúren é uma adega familiar, localizada
em Laguardia. Inovadora, com projeção internacional, autofinanciada e
independente, dedicada à produção e comercialização dos nossos vinhos Rioja
Alavesa.
Tem 130 hectares de vinha própria onde cultivam e controlam a
produção das uvas de forma tradicional em harmonia com as mais recentes
técnicas vitícolas.
As uvas usadas para fazer os vinhos são provenientes de
vinhedos nos solos argilo-calcários de Labastida, Páganos, Leza e Elciego, no
coração da Rioja Alavesa. Procura-se uma orientação norte-sul e são realizados
em treliças altas, garantindo assim uma maior exposição solar. Como as vinhas
não são irrigadas, estão totalmente dependentes das condições climáticas.
Realiza-se a vindima manual e mecanicamente, para que as uvas cheguem à adega
no seu melhor momento.
A adega está
na sexta geração de uma família dedicada ao cuidado da vinha, com uma adega e
um hotel entre vinhas localizado em Laguardia.
Mais
informações acesse:
Referências:
“Vinho Blog”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/
“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinhos-dos-moinhos_4580.html
“Blog VinhoSite”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/
“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/viura
“Adega Tanino”: https://www.adegatanino.com.br/uva/macabeoviura