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segunda-feira, 29 de abril de 2024

Areias do Sado Reserva branco 2021

 



Vinho: Areias do Sado Reserva

Casta: Antão Vaz (25%), Verdelho (25%), Fernão Pires (25%) e Arinto (25%)

Safra: 2021

Região: Península de Setúbal

País: Portugal

Produtor: Adega Cooperativa de Pegões

Teor Alcoólico: 13%

Adquirido: Rede de Supermercados Assaí (Niterói/RJ)

Valor: R$ 35,90

Estágio: 2 a 3 meses em barricas de carvalho.

 

Análise:

Visual: apresenta um amarelo com tendências ao dourado, com brilhantes reflexos esverdeados.

Nariz: aromas intensos de frutas cítricas, de polpa branca, com destaque para abacaxi, lichia, tangerina, pêssego, grama cortada, algo herbáceo, além de notas florais.

Boca: é fresco, leve, mas com leve untuosidade, devido a curta passagem por carvalho, que o torna complexo, frutado, mineral, notas de ervas, acidez equilibrada e final persistente.

 

Produtor:

http://cooppegoes.pt/

 

 


terça-feira, 25 de abril de 2023

Pêra Doce Arinto (50%) e Antão Vaz (50%) 2021

 

Não é uma grande novidade dizer que os vinhos da gigante e emblemática Alentejo é a minha preferida em Portugal. Não é novidade dizer também que, quando tive os primeiros contatos com os rótulos portugueses, foi com o Alentejo que a cortina da vitivinicultura lusitana se deu.

O carinho e a predileção não são apenas com a região, com os seus vinhos e tipicidade, com o seu terroir, mas criou-se um vínculo afetivo, até por ter sido os primeiros a inundar as minhas humildes taças.

Evidente que a participação de mercado dos alentejanos no Brasil é grande e a possibilidade de um primeiro contato com esses vinhos é grande, porém, a continuidade das degustações configura-se em predileção, em carinho para com a ensolarada região alentejana.

E o que dizer do caráter de regionalidade? O apelo regional dos seus vinhos é imenso e os produtores parecem fazer questão de evidenciar isso, principalmente pelo fato de ter seus rótulos exportados para todo o mundo. São vinhos locais que ganharam o mundo e não tenha dúvida de que uma condição acarreta na outra.

E o vinho de hoje retrata, além da força da tradição de seu nome, mas também do apelo regional, uma definição clara de um vinho que tem bem definido a essência de sua região, falo do Pêra Doce.

E falando em história, vem uma curiosidade sobre o nome “Pêra Doce”: Na casa alentejana da Parras, a Herdade da Candeeira, houve em tempos grande número de árvores de fruto, e entre elas pereiras, que aliás justificavam o antigo nome da propriedade, Herdade das Pereiras. Eram peras sumarentas e doces, amadurecidas pelo sol do Alentejo. O mesmo sol amadurece hoje as uvas que originam os brancos e tintos de Pêra Doce, suaves e saborosos como o fruto que lhes deu o nome.

O vinho que degustei e gostei veio das terras solares e quentes do Alentejo e se chama Pêra Doce, um branco composto pelas castas Arinto (50%) e Antão Vaz (50%) da safra 2021. Então para não perder o costume vamos de história do Alentejo.

Alentejo

Situado na zona sul de Portugal, o Alentejo é uma região essencialmente plana, com alguns acidentes de relevo, não muito elevados, mas que o influenciam de forma marcante. Embora seja caracterizada por condições climáticas mediterrânicas, apresenta nessas elevações, microclimas que proporcionam condições ideais ao plantio da vinha e que conferem qualidade às massas vínicas.

As temperaturas médias do ano variam de 15º a 17,5º, observando-se igualmente a existência de grandes amplitudes térmicas e a ocorrência de verões extremamente quentes e secos.

Alentejo

Mas, graças aos raios do sol, a maturação das uvas, principalmente nos meses que antecedem a vindima, sofre um acúmulo perfeito dos açúcares e materiais corantes na película dos bagos, resultando em vinhos equilibrados e com boa estrutura. Os solos caracterizam-se pela sua diversidade, variando entre os graníticos de "Portalegre", os derivados de calcários cristalinos de "Borba", os mediterrânicos pardos e vermelhos de "Évora", "Granja/Amareleja", "Moura", "Redondo", "Reguengos" e "Vidigueira". Todas estas constituem as 8 sub-regiões da DOC "Alentejo".

História (Passado, presente e futuro)

A história do vinho e da vinha no território que é hoje o Alentejo exige uma narrativa longa, com uma presença continuada no tempo e no espaço, uma gesta ininterrupta e profícua que poucos associam ao Alentejo. Uma história que decorreu imersa em enredos tumultuosos, dividida entre períodos de bonança e prosperidade, entrecortados por épocas de cataclismos e atribulações, numa flutuação permanente de vontades, com longos períodos de trevas seguidos por breves ciclos iluministas e vanguardistas.

É uma história faustosa e duradoura, como o comprovam os indícios arqueológicos presentes por todo o Alentejo, testemunhas silenciosas de um passado já distante, evidências materiais da presença ininterrupta da cultura do vinho e da vinha na paisagem tranquila alentejana. Infelizmente, por ora ainda não foi possível determinar com acuidade histórica quando e quem introduziu a cultura da videira no Alentejo.

Mas ainda assim pode-se afirmar que a história do Alentejo anda de mãos dadas com a história de Portugal e da Península Ibérica, ex-hispânicos, assim como, pertencentes a época de civilizações romana, árabe e cristãs. Em muitos lugares no Alentejo encontrar provas da civilização fenícia existente há 3.000 anos.

Fenícios, celtas, romanos, todos eles deixaram um importante legado da era antes de Cristo, na região que é hoje o Alentejo. Uma terra onde a cultura e tradição caminham lado a lado. Os romanos deixaram nesta região o legado mais importante, escritos, mosaicos, cidades em ruínas, monumentos, tudo deixado pelos romanos, mas não devemos esquecer as civilizações mais antigas que passaram pela zona deixando legados como os monumentos megalíticos, como Antas.

Após os romanos e os visigodos, os árabes, chegaram a esta terra com o cheiro a jasmim, antes da reconquista, que chegaram com a construção de inúmeros castelos, alguns deles construídos sobre mesquitas muçulmanas e a construção de muralhas para proteger a cidade e as cidades que foram crescendo. Desde essa altura até hoje, o Alentejo tem continuado o seu crescimento, um crescimento baseado na agricultura, pecuária, pesca, indústria, como a cortiça e desde o último século até aos nossos dias, com o turismo com uma ampla oferta de turismo rural.

Os gregos, cuja presença é denunciada pelas centenas de ânforas catalogadas nos achados arqueológicos do sul de Portugal, sucederam aos fenícios no comércio e exploração dos vinhos do Alentejo. Por esta época, a cultura da vinha no Alentejo, apesar de incipiente, contava já com quase dois séculos de história. A persistência de uma cultura da vinha e do vinho, desde os tempos da antiguidade clássica, permite presumir, com elevado grau de convicção, que as primeiras variedades introduzidas no território nacional terão arribado a Portugal pelo Alentejo, a partir das variedades mediterrânicas.

É mesmo provável, se atendermos os registros históricos existentes, que a produção alentejana tenha proporcionado a primeira exportação de vinhos portugueses para Roma, a primeira aventura de internacionalização de vinhos portugueses!

A influência romana foi tão peremptória para o desenvolvimento da viticultura alentejana que ainda hoje, dois mil anos após a anexação do território, as marcas da civilização romana continuam a estar patentes nas tarefas do dia-a-dia, visíveis através da utilização de ferramentas do quotidiano, como o Podão, instrumento utilizado intensivamente até a poucos anos. Mas foi no aproveitamento das talhas de barro, prática que os romanos divulgaram e vulgarizaram no Alentejo, que a influência romana deixou as suas marcas mais profundas e até hoje é difundida, dada a devida proporção, por alguns abnegados produtores, e claro, a sua população.

Com a emergência do cristianismo, credo disseminado quase instantaneamente por todo o império romano, e face à obrigatoriedade da presença do vinho na celebração eucarística da nova religião, abriram-se novos mercados e novas apetências para o vinho. A fé católica, ainda que indiretamente, afirmou-se como um fator de desenvolvimento e afirmação da vinha no Alentejo, estimulando o cultivo da videira na região.

Com tantas influências culturais o Alentejo sofreu com algumas crises e a primeira se deu exatamente entre os cristãos e muçulmanos. Embora os mulçumanos tenham se mostrando tolerante com os costumes dos povos conquistados, consentindo na manutenção da cultura da vinha e do vinho, sujeitando-a a duros impostos, mas autorizando a sua subsistência, logo nasceu uma intolerância crescente para com os cristãos e os seus hábitos, manifesta no cumprimento rigoroso e vigoroso das leis do Corão.

Inevitavelmente, a cultura do vinho foi sendo progressivamente negada e a vinha gradualmente abandonada, reprimida pelas autoridades zelosas das regiões ocupadas. Com a invasão muçulmana a vinha sofreu o primeiro revés sério no Alentejo. A longa reconquista cristã da península ibérica, riscada de Norte para Sul, geradora de incertezas e inseguranças, com escaramuças permanentes entre cristãos e muçulmanos, sem definição de fronteiras estáveis, maltratou ainda mais a cultura da vinha, uma espécie agrícola perene que, por forçar à fixação das populações, foi sendo progressivamente abandonada.

Foi só após a fundação do reino lusitano, concorrendo através do poder real e das novas ordens religiosas, que a cultura do vinho regressou com determinação ao Alentejo. Poucos séculos mais tarde, já em pleno século XVI, a vinha florescia como nunca no Alentejo, dando corpo aos ilustres e aclamados vinhos de Évora, aos vinhos de Peramanca, bem como aos brancos de Beja e aos palhetes do Alvito, Viana e Vila de Frades.

Em meados do século XVII, eram os vinhos do Alentejo, a par da Beira e da Estremadura, que gozavam de maior fama e prestígio em Portugal. Desventuradamente foi sol de pouca dura! A crise provocada pela guerra da independência, logo secundada por nova crise despertada pela criação da Real Companhia Geral de Agricultura dos Vinhos do Douro, instituída pelo Marquês de Pombal como justificação para a defesa dos vinhos do Douro em detrimento das restantes regiões, com arranques coercivos de vinhas em muitas regiões, deu matéria para a segunda grande crise do vinho alentejano, mergulhando as vinhas alentejanas no obscurantismo.

A crise foi prolongada. Foi preciso esperar até meados do século XIX para assistir à recuperação da vinha no Alentejo, com a campanha de desbravamento da charneca e a fixação à terra de novas gerações de agricultores. Nasceu então mais uma época dourada para os vinhos do Alentejo, período que infelizmente viria a revelar ser de curta duração. O entusiasmo despertou quando se soube que um vinho branco da Vidigueira, da Quinta das Relíquias, apresentado pelo Conde da Ribeira Brava, ganhou a grande medalha de honra na Exposição de Berlim de 1888, a maior distinção do certame, tendo sido igualmente apreciados e valorizados vinhos de Évora, Borba, Redondo e Reguengos.

Pouco anos mais tarde, decorria o ano de 1895, edificou-se a primeira Adega Social de Portugal, em Viana do Alentejo, pelas mãos avisadas de António Isidoro de Sousa, pioneiro do movimento associativo em Portugal. Desafortunadamente, este período de glória viria a terminar abruptamente. Duas décadas passadas, já na primeira metade do século XX, sobreveio um conjunto de acontecimentos políticos, sociais e econômicos que contribuíram decidida e decisivamente para a degradação da viticultura alentejana.

António Isidoro de Sousa

Ao embate da filoxera, somou-se a primeira das duas grandes guerras mundiais, as crises econômicas sucessivas, e, sobretudo, a campanha cerealífera do estado novo que suspendeu e reprimiu a vinha no Alentejo, apadrinhando a cultura de trigo na região que viria a apelidar como "celeiro de Portugal". A vinha foi sendo sucessivamente desterrada para as bordaduras dos campos, para os terrenos marginais em redor de montes, aldeias e vilas, para as pequenas courelas em redor das povoações, reduzindo o vinho à condição de produção doméstica para autoconsumo. Em poucos anos o vinho no Alentejo, salvo raras exceções, desapareceu enquanto empreendimento empresarial.

Foi sob o patrocínio solene da Junta Nacional do Vinho, já no final da década de 1940, que a viticultura alentejana ganhou a primeira oportunidade de recobro, ainda que de forma titubeante.

O movimento associativo foi preponderante para o ressurgimento da atividade vitícola no Alentejo. Em 1970, sob os auspícios da Comissão de Planeamento da Região Sul, foi anunciado o estudo "Potencialidades das sub-regiões alentejanas", coadjuvado dois anos mais tarde pelo estudo "Caracterização dos vinhos das cooperativas do Alentejo. Contribuição para o seu estudo", do professor Francisco Colaço do Rosário, ensaios acadêmicos determinantes para o reconhecimento regional e nacional do potencial do Alentejo. Associando várias instituições ligadas ao setor e tirando proveito das sinergias criadas, o Alentejo conseguiu estabelecer um espírito de cooperação e entreajuda entre os diversos agentes.

Com a criação do PROVA (Projeto de Viticultura do Alentejo), em 1977, foram criadas as condições técnicas para a implementação de um estatuto de qualidade no Alentejo, enquanto a ATEVA (Associação Técnica dos Viticultores do Alentejo), fundada em 1983, foi arquitetada para promover a cultura da vinha nos diferentes terroirs do Alentejo.

Em 1988 regulamentaram-se as primeiras denominações de origem alentejanas, fundamento para o estabelecimento, em 1989, da CVRA (Comissão Vitivinícola Regional Alentejana), garante da certificação e regulamentação dos vinhos do Alentejo.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um amarelo palha límpido, brilhante e reluzente com discretos reflexos esverdeados com poucas concentrações de lágrimas finas e ligeiramente rápidas.

No nariz trazem aromas delicados e típicos de frutas de polpa branca, tropicais e cítricas, com destaque para pêssego, melão, pera, maçã-verde, abacaxi, lima. Tem notas florais e uma leve mineralidade.

Na boca é leve, fresco e despretensioso, um pouco alcoólico, mas que não compromete o conjunto do vinho e que entrega alguma personalidade. As notas frutadas protagonizam, como no aspecto olfativo, com uma acidez equilibrada, que torna o vinho vibrante e saboroso. Tem um final de média persistência.

A história sendo revelada a cada dia, a cada safra, a cada rótulo, a cada casta. O terroir traz a tipicidade, o “DNA” da região, a cultura corrobora a vitivinicultura. O Pera Doce é uma reserva de história, é a certeza de que o Alentejo, mesmo diante de modernismos tecnológicos, não faz questão de dissociar-se de suas tradições, de seu passado, de suas influências culturais. O vinho é a poesia engarrafada, mas também a explosão de história. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Quinta do Gradil (Parras Wines):

A Parras Vinhos de Luís Vieira nasce no ano de 2010, atualmente com sede em Alcobaça, onde também está instalada a unidade de engarrafamento do grupo. Cinco anos depois, com a empresa consolidada e voltada para o mercado internacional, surge a necessidade de se fazer um reposicionamento de marca e “vesti-la” de outra forma, mais atual. É assim que no início de 2016 aparece a Parras Wines, mais jovem, mais flexível, e numa linguagem universal para que possa ser facilmente compreendida por todos, mesmo os que estão além-fronteiras.

Descendente de um pai e de um avô que sempre trabalharam com vinho, Luís Vieira é o único dono deste projeto. Aos cinco anos caiu num depósito de vinho e quase morreu afogado, não fosse um colaborador do avô na altura, que atualmente é seu, tê-lo salvo. Hoje, recorda com graça esse episódio e diz mesmo que simboliza o seu “batismo nestas andanças do vinho”. A empresa começa então a formar-se com terra própria na Região Vitivinícola de Lisboa, mais exatamente na freguesia do Vilar, Cadaval, com duzentos hectares de propriedade em extensão, sendo que 120 são hoje de vinha plantada.

Na mesma região do país, um bocadinho mais acima, na zona de Óbidos, a Parras Wines é também responsável pela exploração de 20 hectares de vinha que dão origem aos vinhos Casa das Gaeiras. Com sede em Alcobaça, nas antigas instalações de uma fábrica de faianças, deu-se início a uma nova área de negócio – uma Unidade de Engarrafamento de Bebidas, que hoje serve também de sede à Parras Wines e que se chama Goanvi. Cinco anos mais tarde, em 2010, constitui-se então a Parras Vinhos, hoje Parras Wines. Para além de terra na Região de Lisboa, o grupo começou paralelamente a produzir vinhos de outras regiões do país. Através de parcerias com produtores locais, a empresa consegue assim dar resposta às necessidades globais que iam surgindo do mercado, produzindo vinhos do Douro, Vinhos Verdes, Dão, Lisboa, Tejo, Península de Setúbal e Alentejo.

Mais informações acesse:

https://www.parras.wine/pt/

Referências:

“Clube dos Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/roteiros/vinhos-da-sub-regiao-da-vidigueira-denominacao-de-origem-alentejo/

“Rota dos Vinhos de Portugal”: http://rotadosvinhosdeportugal.pt/enoturismo/alentejo-2/borba/

“Clube dos Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/roteiros/vinhos-da-sub-regiao-da-vidigueira-denominacao-de-origem-alentejo/

“Rota dos Vinhos de Portugal”: http://rotadosvinhosdeportugal.pt/enoturismo/alentejo-2/borba/

“Vinhos do Alentejo”: https://www.vinhosdoalentejo.pt/pt/vinhos/historia-dos-vinhos/

 

 













sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Castelo de Borba Antão Vaz 2020

 

O raio não cai duas vezes no mesmo lugar! Lembra daquele ditado tão popular entre nós? Eu pergunto: Será que realmente não cai duas vezes no mesmo lugar? Não acredito que essa frase seja regra no universo dos vinhos e acho que não deveria, dada, claro, as devidas proporções.

Não vejo nenhum problema em degustar, mais de uma vez, o mesmo rótulo, seja a mesma safra ou safras distintas, sobretudo a segunda opção, haja vista que embora o rótulo traga a mesma casta, seja a mesma linha de rótulos, algumas peculiaridades podem ser percebidas nos vinhos, porque temos a influência do clima, do tempo interferindo no produto final, o nosso bom e velho vinho.

E quando falo em devidas proporções, a repetição de degustação de um mesmo rótulo, embora seja safra diferente, pode acarretar na temida e silenciosa zona de conforto. Afinal temos uma gama tão grande de opções, propostas de vinhos que seria no mínimo leviano da nossa parte, nos permitir degustar outros rótulos e expandir as nossas experiências sensoriais.

E decidi levar a repetição a ferro e fogo um vinho que degustei recentemente da minha querida e preferida região lusitana do Alentejo e de uma casta que é típica da região. Uma variedade que, se a ciência derrubar a máxima, só existe no Alentejo: falo da branca mais famosa da região, a Antão Vaz.

E não é só o privilégio e a honra de degustar a Antão Vaz, mas também por um laço afetivo que me une ao Alentejo. Nunca estive na região, mas foi graças aos seus vinhos que os vinhos portugueses entraram na minha vida. Não poderia ter começado da melhor forma!

Então sem mais delongas vamos às apresentações da minha segunda experiência com esse rótulo. Falo do Castelo d’Borba da casta Antão Vaz (100%) da safra 2020. Havia degustado o mesmo vinho da safra 2018, cuja resenha pode ser lida aqui, em 2022. Com quatro anos de garrafa me parecia que estava em algum declínio, mas ainda palatável. As notas frutadas, a acidez, características de quando um branco com essa proposta, ainda é jovem, não estava tão perceptível.

Então decidi, ainda degustando o da safra 2018, comprar o mesmo vinho de uma safra distinta e não levar tanto tempo para fazer o exercício das comparações entre as duas safras, tendo em vista o tempo em que cada um deles foram degustados. Porém antes de tecer tais comentários, falemos um pouco da Antão Vaz e da grande região alentejana.

Alentejo

Situado na zona sul de Portugal, o Alentejo é uma região essencialmente plana, com alguns acidentes de relevo, não muito elevados, mas que o influenciam de forma marcante. Embora seja caracterizada por condições climáticas mediterrânicas, apresenta nessas elevações, microclimas que proporcionam condições ideais ao plantio da vinha e que conferem qualidade às massas vínicas. As temperaturas médias do ano variam de 15º a 17,5º, observando-se igualmente a existência de grandes amplitudes térmicas e a ocorrência de verões extremamente quentes e secos.

Alentejo

Mas, graças aos raios do sol, a maturação das uvas, principalmente nos meses que antecedem a vindima, sofre um acúmulo perfeito dos açúcares e materiais corantes na película dos bagos, resultando em vinhos equilibrados e com boa estrutura. Os solos caracterizam-se pela sua diversidade, variando entre os graníticos de "Portalegre", os derivados de calcários cristalinos de "Borba", os mediterrânicos pardos e vermelhos de "Évora", "Granja/Amarelega", "Moura", "Redondo", "Reguengos" e "Vidigueira". Todas estas constituem as 8 sub-regiões da DOC "Alentejo".

História (Passado, presente e futuro)

A história do vinho e da vinha no território que é hoje o Alentejo exige uma narrativa longa, com uma presença continuada no tempo e no espaço, uma gesta ininterrupta e profícua que poucos associam ao Alentejo. Uma história que decorreu imersa em enredos tumultuosos, dividida entre períodos de bonança e prosperidade, entrecortados por épocas de cataclismos e atribulações, numa flutuação permanente de vontades, com longos períodos de trevas seguidos por breves ciclos iluministas e vanguardistas.

É uma história faustosa e duradoura, como o comprovam os indícios arqueológicos presentes por todo o Alentejo, testemunhas silenciosas de um passado já distante, evidências materiais da presença ininterrupta da cultura do vinho e da vinha na paisagem tranquila alentejana. Infelizmente, por ora ainda não foi possível determinar com acuidade histórica quando e quem introduziu a cultura da videira no Alentejo.

Mas ainda assim pode-se afirmar que a história do Alentejo anda de mãos dadas com a história de Portugal e da Península Ibérica, ex-hispânicos, assim como, pertencentes a época de civilizações romana, árabe e cristãs. Em muitos lugares no Alentejo encontrar provas da civilização fenícia existente há 3.000 anos atrás.

Fenícios, celtas, romanos, todos eles deixaram um importante legado da era antes de Cristo, na região que é hoje o Alentejo. Uma terra onde a cultura e tradição caminham lado a lado. Os romanos deixaram nesta região o legado mais importante, escritos, mosaicos, cidades em ruínas, monumentos, tudo deixado pelos romanos, mas não devemos esquecer as civilizações mais antigas que passaram pela zona deixando legados como os monumentos megalíticos, como Antas.


Após os romanos e os visigodos, os árabes, chegaram a esta terra com o cheiro a jasmim, antes da reconquista, que chegaram com a construção de inúmeros castelos, alguns deles construídos sobre mesquitas muçulmanas e a construção de muralhas para proteger a cidade e as cidades que foram crescendo. Desde essa altura até hoje, o Alentejo tem continuado o seu crescimento, um crescimento baseado na agricultura, pecuária, pesca, indústria, como a cortiça e desde o último século até aos nossos dias, com o turismo com uma ampla oferta de turismo rural.


Os gregos, cuja presença é denunciada pelas centenas de ânforas catalogadas nos achados arqueológicos do sul de Portugal, sucederam aos fenícios no comércio e exploração dos vinhos do Alentejo. Por esta época, a cultura da vinha no Alentejo, apesar de incipiente, contava já com quase dois séculos de história. A persistência de uma cultura da vinha e do vinho, desde os tempos da antiguidade clássica, permite presumir, com elevado grau de convicção, que as primeiras variedades introduzidas no território nacional terão arribado a Portugal pelo Alentejo, a partir das variedades mediterrânicas.

É mesmo provável, se atendermos os registros históricos existentes, que a produção alentejana tenha proporcionado a primeira exportação de vinhos portugueses para Roma, a primeira aventura de internacionalização de vinhos portugueses! A influência romana foi tão peremptória para o desenvolvimento da viticultura alentejana que ainda hoje, dois mil anos após a anexação do território, as marcas da civilização romana continuam a estar patentes nas tarefas do dia-a-dia, visíveis através da utilização de ferramentas do quotidiano, como o Podão, instrumento utilizado intensivamente até há poucos anos. Mas foi no aproveitamento das talhas de barro, prática que os romanos divulgaram e vulgarizaram no Alentejo, que a influência romana deixou as suas marcas mais profundas e até hoje é difundida, dada a devida proporção, por alguns abnegados produtores, e claro, a sua população.

Com a emergência do cristianismo, credo disseminado quase instantaneamente por todo o império romano, e face à obrigatoriedade da presença do vinho na celebração eucarística da nova religião, abriram-se novos mercados e novas apetências para o vinho. A fé católica, ainda que indiretamente, afirmou-se como um fator de desenvolvimento e afirmação da vinha no Alentejo, estimulando o cultivo da videira na região.

Com tantas influências culturais o Alentejo sofreu com algumas crises e a primeira se deu exatamente entre os cristãos e muçulmanos. Embora os mulçumanos tenham se mostrando tolerante com os costumes dos povos conquistados, consentindo na manutenção da cultura da vinha e do vinho, sujeitando-a a duros impostos, mas autorizando a sua subsistência, logo nasceu uma intolerância crescente para com os cristãos e os seus hábitos, manifesta no cumprimento rigoroso e vigoroso das leis do Corão.

Inevitavelmente, a cultura do vinho foi sendo progressivamente negada e a vinha gradualmente abandonada, reprimida pelas autoridades zelosas das regiões ocupadas. Com a invasão muçulmana a vinha sofreu o primeiro revés sério no Alentejo. A longa reconquista cristã da península ibérica, riscada de Norte para Sul, geradora de incertezas e inseguranças, com escaramuças permanentes entre cristãos e muçulmanos, sem definição de fronteiras estáveis, maltratou ainda mais a cultura da vinha, uma espécie agrícola perene que, por forçar à fixação das populações, foi sendo progressivamente abandonada.

Foi só após a fundação do reino lusitano, concorrendo através do poder real e das novas ordens religiosas, que a cultura do vinho regressou com determinação ao Alentejo. Poucos séculos mais tarde, já em pleno século XVI, a vinha florescia como nunca no Alentejo, dando corpo aos ilustres e aclamados vinhos de Évora, aos vinhos de Peramanca, bem como aos brancos de Beja e aos palhetes do Alvito, Viana e Vila de Frades.

Em meados do século XVII, eram os vinhos do Alentejo, a par da Beira e da Estremadura, que gozavam de maior fama e prestígio em Portugal. Desventuradamente, foi sol de pouca dura! A crise provocada pela guerra da independência, logo secundada por nova crise despertada pela criação da Real Companhia Geral de Agricultura dos Vinhos do Douro, instituída pelo Marquês de Pombal como justificação para a defesa dos vinhos do Douro em detrimento das restantes regiões, com arranques coercivos de vinhas em muitas regiões, deu matéria para a segunda grande crise do vinho alentejano, mergulhando as vinhas alentejanas no obscurantismo.

A crise foi prolongada. Foi preciso esperar até meados do século XIX para assistir à recuperação da vinha no Alentejo, com a campanha de desbravamento da charneca e a fixação à terra de novas gerações de agricultores. Nasceu então mais uma época dourada para os vinhos do Alentejo, período que infelizmente viria a revelar ser de curta duração. O entusiasmo despertou quando se soube que um vinho branco da Vidigueira, da Quinta das Relíquias, apresentado pelo Conde da Ribeira Brava, ganhou a grande medalha de honra na Exposição de Berlim de 1888, a maior distinção do certame, tendo sido igualmente apreciados e valorizados vinhos de Évora, Borba, Redondo e Reguengos.

Pouco anos mais tarde, decorria o ano de 1895, edificou-se a primeira Adega Social de Portugal, em Viana do Alentejo, pelas mãos avisadas de António Isidoro de Sousa, pioneiro do movimento associativo em Portugal. Desafortunadamente, este período de glória viria a terminar abruptamente. Duas décadas passadas, já na primeira metade do século XX, sobreveio um conjunto de acontecimentos políticos, sociais e econômicos que contribuíram decidida e decisivamente para a degradação da viticultura alentejana.

Antônio Isidoro de Sousa

Ao embate da filoxera, somou-se a primeira das duas grandes guerras mundiais, as crises econômicas sucessivas, e, sobretudo, a campanha cerealífera do estado novo que suspendeu e reprimiu a vinha no Alentejo, apadrinhando a cultura de trigo na região que viria a apelidar como "celeiro de Portugal". A vinha foi sendo sucessivamente desterrada para as bordaduras dos campos, para os terrenos marginais em redor de montes, aldeias e vilas, para as pequenas courelas em redor das povoações, reduzindo o vinho à condição de produção doméstica para autoconsumo. Em poucos anos o vinho no Alentejo, salvo raras exceções, desapareceu enquanto empreendimento empresarial.

Foi sob o patrocínio solene da Junta Nacional do Vinho, já no final da década de 1940, que a viticultura alentejana ganhou a primeira oportunidade de recobro, ainda que de forma titubeante.

O movimento associativo foi preponderante para o ressurgimento da atividade vitícola no Alentejo. Em 1970, sob os auspícios da Comissão de Planeamento da Região Sul, foi anunciado o estudo "Potencialidades das sub-regiões alentejanas", coadjuvado dois anos mais tarde pelo estudo "Caracterização dos vinhos das cooperativas do Alentejo. Contribuição para o seu estudo", do professor Francisco Colaço do Rosário, ensaios acadêmicos determinantes para o reconhecimento regional e nacional do potencial do Alentejo. Associando várias instituições ligadas ao setor e tirando proveito das sinergias criadas, o Alentejo conseguiu estabelecer um espírito de cooperação e entreajuda entre os diversos agentes.

Com a criação do PROVA (Projeto de Viticultura do Alentejo), em 1977, foram criadas as condições técnicas para a implementação de um estatuto de qualidade no Alentejo, enquanto a ATEVA (Associação Técnica dos Viticultores do Alentejo), fundada em 1983, foi arquitetada para promover a cultura da vinha nos diferentes terroirs do Alentejo.

Em 1988 regulamentaram-se as primeiras denominações de origem alentejanas, fundamento para o estabelecimento, em 1989, da CVRA (Comissão Vitivinícola Regional Alentejana), garante da certificação e regulamentação dos vinhos do Alentejo.

Antão Vaz

A uva Antão Vaz é uma das variedades brancas de Portugal e é cultivada principalmente em torno da região do Alentejo, com clima quente e seco. É uma das mais importantes da região, considerada o orgulho branco do Alentejo.

É uma das mais importantes da região, considerada o orgulho branco do Alentejo. A variedade é utilizada por inúmeros produtores, visto que se adapta e consegue expressar muito bem suas características no terroir de Alentejo. Os bagos da Antão Vaz são bem agrupadas e apresentam pele espessa, aumentando sua resistência contra doenças, bem como em regiões de seca.

Assim como a uva Chardonnay, a Antão Vaz é uma variedade extremamente versátil, dando origem a diferentes estilos de vinho. O tempo da colheita é um importante fator nesse contexto: se as bagas forem colhidas mais cedo, os vinhos originados apresentarão notas cítricas e boa acidez; se deixadas na videira por mais tempo, dão origem a exemplares com excelente capacidade de envelhecimento. De um modo geral, a Antão Vaz gera vinhos com notas cítricas e de frutas tropicais maduras, além de toques minerais (às vezes, alguma salinidade).

A maior parte dos vinhos são produzidos para consumo imediato, no entanto, alguns dos melhores vinhos Antão Vaz podem ser envelhecidos durante anos, permitindo que as notas e aromas florais evoluam da melhor maneira, tornando-se exemplares complexos e únicos.

Por regra, dá origem a vinhos estruturados, firmes e encorpados. Os vinhos estremes anunciam aromas exuberantes, com notas de fruta tropical madura, casca de tangerina e sugestões minerais, estruturados e densos no corpo. A uva Antão Vaz também é permitida na elaboração dos vinhos do Porto brancos.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um amarelo palha límpido e brilhante com discretos tons esverdeados e algumas concentrações de lágrimas finas e razoavelmente lentas.

No nariz é extremamente aromático e com destaque para as frutas brancas, tropicais, tais como limão, pera, abacaxi, maracujá e frutos amarelos maduros como pêssego, com delicados toques florais, que traz uma agradável sensação de frescor e um ligeiro especiado, talvez, com um quê de mineralidade.

Na boca é fresco, leve e cativante, sobretudo pelo aspecto frutado que protagoniza como no quesito olfativo. Tem marcante personalidade, é volumoso, cheio e suculento, por ser também alcoólico, mas sem agredir ao palato, mostrando-se equilibrado. Tem ótima acidez que saliva e um final longo e persistente com retrogosto frutado.

É notável a diferença entre os rótulos! Não tão somente pelas safras, que também pode ser predominante para as características dos vinhos, mas também pelo tempo em que cada um foi degustado: o primeiro levou quatro anos na garrafa e o segundo apenas dois anos! Mas ainda assim não esconde uma característica bem comum aos dois rótulos: vinho maduro, com aquelas frutas brancas maduras que lhe confere a já personalidade que precede os rótulos do velho Alentejo, que de velho nada tem, pois nos entregam vinhos contemporâneos que inundam as taças mais versáteis, dos que gozam de uma vasta litragem, os exigentes e aqueles que se aventuram a pouco tempo no universo cativante do vinho. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Adega de Borba:

Fundada em 1955, as raízes da Adega de Borba remontam a um passado ainda mais longínquo no qual Portugal não era considerado reino.

A vinha está presente no Alentejo há mais de 3.000 anos. Foi a partir do século XVIII que a produção de vinho em Borba floresceu, contribuindo para um acentuado crescimento econômico e social da região. Desde então, vários acontecimentos marcaram o setor vitivinícola: uns de forma positiva, como a implementação de técnicas mais modernas de produção, e outros de forma negativa, nomeadamente a destruição provocada pela Guerra da Restauração e Invasões Napoleônicas.

Já nessa época existia uma produção pulverizada em pequenas adegas tradicionais, com talhas, ocupando parte de inúmeras casas de habitação dispersas pelas vilas e lugares.

Era esta a realidade quando, no dia 24 de abril de 1955, um conjunto de produtores insatisfeitos com as condições que eram praticadas no mercado controlado por “intermediários” em termos de preços e margens, cientes da necessidade de ganharem escala e massa crítica para investirem em novas tecnologias e em marcas comerciais fortes, decidiu unir-se para fundar a Adega Cooperativa de Borba.

Independentemente destas oscilações, a importância da vinha em Borba nunca se dissipou e foi sempre a grande cultura agrícola da região.

Já nessa época existia uma produção pulverizada em pequenas adegas tradicionais, com talhas, ocupando parte de inúmeras casas de habitação dispersas pelas vilas e lugares. Era esta a realidade quando, no dia 24 de abril de 1955, um conjunto de produtores insatisfeitos com as condições que eram praticadas no mercado controlado por “intermediários” em termos de preços e margens, cientes da necessidade de ganharem escala e massa crítica para investirem em novas tecnologias e em marcas comerciais fortes, decidiu unir-se para fundar a Adega Cooperativa de Borba.

Mais informações acesse:

https://adegaborba.pt/

Referências:

“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/tipo-de-uva/antao-vaz

“Vinha”: https://www.vinha.pt/wikivinha/section/casta-vinho/antao-vaz/

“Soul Wines”: https://www.soulwines.com.br/uvas-de-vinhos/antao-vaz

“Mesa Completa”: https://www.mesacompleta.com.br/descubra-a-antao-vaz/

“Clube dos Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/roteiros/vinhos-da-sub-regiao-da-vidigueira-denominacao-de-origem-alentejo/

“Rota dos Vinhos de Portugal”: http://rotadosvinhosdeportugal.pt/enoturismo/alentejo-2/borba/

“Vinhos do Alentejo”: https://www.vinhosdoalentejo.pt/pt/vinhos/historia-dos-vinhos/

 

 
















quinta-feira, 14 de abril de 2022

Castelo de Borba Antão Vaz 2018

 

Sigo o meu prazeroso caminho pelo “descobrimento” das castas novas para mim e confesso, de forma escancarada e animada, de que essa trajetória está me trazendo revelações para lá de satisfatórias e quando elas são oriundas de Portugal, melhor ainda.

Não há como negligenciar que Portugal nos entrega uma profusão de castas autóctones que nuances extremamente peculiares. Me parece que a expressão regional, o apelo regionalista é colocado de forma veemente nas castas e o terroir é a prova contundente disso.

Embora o termo terroir traga complexidade nas informações e que requer, consequentemente, um estudo aprofundado para compreensão na produção dos vinhos, quando degustamos um rótulo de uma casta do Douro, do Tejo, de Setúbal, de Lisboa, temos a exata percepção de suas origens.

E foi assim que Portugal foi entrando na minha vida enófila e aprendizado vem se consolidando não apenas degustando o vinho, o que convenhamos é o ápice, a intenção de tudo isso, mas o estímulo ao aprendizado, a busca da informação que edifica o conhecimento e o entendimento do blend típico, das castas que fizeram e fazem a história de cada região lusitana que as torna um mundo, um universo à parte.

E a degustação de hoje é um exemplo vivo das minhas linhas redigidas até o momento e ela vem de uma região que praticamente abriu as cortinas da Portugal visto pelo olhar do vinho! Sim! Do Alentejo! Talvez seja, junto com o Porto, com os seus vinhos licorosos, as regiões mais conhecidas e amadas pelo mercado consumidor brasileiro e pelo mundo.

Então por uma questão mercadológica a região alentejana tenha sido a primeira que me cativou! Mas não apenas por um prisma de mercado, mas porque ela é uma das melhores mesmo e isso não é uma opinião meramente calcada na afeição! É um fato! Região banhada pelo sol, quente, vinhos de estrutura, frutados, de personalidade!

Mas o de hoje é um branco, de uma casta que, pelas informações que obtive, só existe no Alentejo, somente nessa região em Portugal! Um privilégio para mim degusta-lo. E para meu deleite, que surpresa maravilhosa!

Então sem mais delongas o vinho que degustei e gostei veio da ensolarada Alentejo, Portugal, e se chama Castelo de Borba da casta Antão Vaz e a safra é 2018. Já degustei alguns alentejanos com a Antão Vaz em blends, mas protagonizando é a primeira vez e que contato inicial satisfatório. Mas antes de falar do vinho falemos da história da Antão Vaz e sempre da região do Alentejo e sua sub-região, que leva o nome do vinho e da vinícola: Borba.

Antão Vaz

A uva Antão Vaz é uma das variedades brancas de Portugal e é cultivada principalmente em torno da região do Alentejo, com clima quente e seco. É uma das mais importantes da região, considerada o orgulho branco do Alentejo.

É uma das mais importantes da região, considerada o orgulho branco do Alentejo. A variedade é utilizada por inúmeros produtores, visto que se adapta e consegue expressar muito bem suas características no terroir de Alentejo. Os bagos da Antão Vaz são bem agrupadas e apresentam pele espessa, aumentando sua resistência contra doenças, bem como em regiões de seca.

Assim como a uva Chardonnay, a Antão Vaz é uma variedade extremamente versátil, dando origem a diferentes estilos de vinho. O tempo da colheita é um importante fator nesse contexto: se as bagas forem colhidas mais cedo, os vinhos originados apresentarão notas cítricas e boa acidez; se deixadas na videira por mais tempo, dão origem a exemplares com excelente capacidade de envelhecimento. De um modo geral, a Antão Vaz gera vinhos com notas cítricas e de frutas tropicais maduras, além de toques minerais (às vezes, alguma salinidade).

A maior parte dos vinhos são produzidos para consumo imediato, no entanto, alguns dos melhores vinhos Antão Vaz podem ser envelhecidos durante anos, permitindo que as notas e aromas florais evoluam da melhor maneira, tornando-se exemplares complexos e únicos.

Por regra, dá origem a vinhos estruturados, firmes e encorpados. Os vinhos estremes anunciam aromas exuberantes, com notas de fruta tropical madura, casca de tangerina e sugestões minerais, estruturados e densos no corpo.

Por regra, dá origem a vinhos estruturados, firmes e encorpados. Os vinhos estremes anunciam aromas exuberantes, com notas de fruta tropical madura, casca de tangerina e sugestões minerais, estruturados e densos no corpo. A uva Antão Vaz também é permitida na elaboração dos vinhos do Porto brancos.

Alentejo

A história do Alentejo anda de mãos dadas com a história de Portugal e da Península Ibérica, ex-hispânicos, assim como, pertencentes a época de civilizações romana, árabe e cristãs. Em muitos lugares no Alentejo encontrar provas da civilização fenícia existente à 3.000 anos atrás.

Fenícios, celtas, romanos, todos eles deixaram um importante legado da era antes de Cristo, na região que é hoje o Alentejo. Uma terra onde a cultura e tradição caminham lado a lado. Os romanos deixaram nesta região o legado mais importante, escritos, mosaicos, cidades em ruínas, monumentos, tudo deixado pelos romanos, mas não devemos esquecer as civilizações mais antigas que passaram pela zona deixando legados como os monumentos megalíticos, como Antas.

Alentejo

Após os romanos e os visigodos, os árabes, chegaram a esta terra com o cheiro a jasmim, antes da reconquista, que chegaram com a construção de inúmeros castelos, alguns deles construídos sobre mesquitas muçulmanas e a construção de muralhas para proteger a cidade e as cidades que foram crescendo. Desde essa altura até hoje, o Alentejo tem continuado o seu crescimento, um crescimento baseado na agricultura, pecuária, pesca, indústria, como a cortiça e desde o último século até aos nossos dias, com o turismo com uma ampla oferta de turismo rural.

Situado na zona sul de Portugal, o Alentejo é uma região essencialmente plana, com alguns acidentes de relevo, não muito elevados, mas que o influenciam de forma marcante. Embora seja caracterizada por condições climáticas mediterrânicas, apresenta nessas elevações, microclimas que proporcionam condições ideais ao plantio da vinha e que conferem qualidade às massas vínicas. As temperaturas médias do ano variam de 15º a 17,5º, observando-se igualmente a existência de grandes amplitudes térmicas e a ocorrência de verões extremamente quentes e secos.

Mas, graças aos raios do sol, a maturação das uvas, principalmente nos meses que antecedem a vindima, sofre um acúmulo perfeito dos açúcares e materiais corantes na película dos bagos, resultando em vinhos equilibrados e com boa estrutura. Os solos caracterizam-se pela sua diversidade, variando entre os graníticos de "Portalegre", os derivados de calcários cristalinos de "Borba", os mediterrânicos pardos e vermelhos de "Évora", "Granja/Amarelega", "Moura", "Redondo", "Reguengos" e "Vidigueira". Todas estas constituem as 8 sub-regiões da DOC "Alentejo".

Borba

Borba possui um longo passado histórico, como nome incontornável do vinho alentejano e português. As referências apontam para a existência de produção de vinho neste concelho em 1345, no entanto, é muito provável que já na época romana isso acontecesse, devido à influência marcante que este povo teve no desenvolvimento da cultura vínica alentejana.

A arquitetura tradicional reflete a cultura do vinho, com a existência de inúmeras casas de viticultores com tipologia arquitetônica característica dos séculos XVII e XVIII, constituídas por um piso superior para habitação e um piso térreo para a tradicional adega. Por outro lado, existe um riquíssimo património edificado, composto por solares e casas apalaçadas, que resultou da riqueza gerada pela produção de vinho desde o século XVIII.

Borba é a segunda maior sub-região do Alentejo (DOC – Denominação de Origem Controlada), alastrando-se ao longo do eixo que une Estremoz a Terrugem, estendendo-se por Orada, Vila Viçosa, Rio de Moinhos e Alandroal. A sub-regiões de Borba, uma das mais dinâmicas do Alentejo, detém solos únicos de mármore que marcam de forma permanente e determinante o temperamento dos vinhos. Borba possui uma área de vinha de cerca de 3500 ha e uma produção de aproximadamente 155.000 hl.

Borba

O microclima especial de Borba garante índices de pluviosidade levemente superior à média, bem como níveis de insolação ligeiramente inferiores à média alentejana, proporcionando vinhos especialmente frescos e elegantes. 

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um amarelo intenso, quase um dourado, com muito brilho e algumas formações de lágrimas finas e rápidas.

No nariz traz aromas calibrados de frutas de polpa branca bem madura, onde se destacam pêssego, maçã-verde, pera e algo cítrico como lima da pérsia, limão e um toque floral discreto e delicado.

Na boca é intenso, encorpado com as frutas brancas ainda em evidência, apesar dos seus 4 anos de safra, já em uma curva de quase decréscimo de evolução, mas ainda com uma boa drincabilidade, sobretudo pela acidez ainda vívida, com um álcool em evidência, mas que não desequilibra o conjunto e um final persistente e longo.

Talvez o Castelo de Borba seja um legítimo alentejano! Um vinho maduro, com aquelas frutas brancas maduras que lhe confere a já personalidade que precede os rótulos do velho Alentejo, que de velho nada tem, pois nos entregam vinhos contemporâneos que inundam as taças mais versáteis, dos que gozam de uma vasta litragem, os exigentes e aqueles que se aventuram a pouco tempo no universo cativante do vinho. Trata-se de um privilégio degustar a Antão Vaz, a casta das terras alentejanas, como já o fiz em outras situações quando ele se entrelaçou às demais castas típicas da região, mas agora ela protagonizando. Que venham mais alentejanos no sentido mais genuíno da palavra e concepção. Que venham mais Antão Vaz! Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Adega de Borba:

Fundada em 1955, as raízes da Adega de Borba remontam a um passado ainda mais longínquo no qual Portugal não era considerado reino.

A vinha está presente no Alentejo há mais de 3.000 anos. Foi a partir do século XVIII que a produção de vinho em Borba floresceu, contribuindo para um acentuado crescimento econômico e social da região. Desde então, vários acontecimentos marcaram o setor vitivinícola: uns de forma positiva, como a implementação de técnicas mais modernas de produção, e outros de forma negativa, nomeadamente a destruição provocada pela Guerra da Restauração e Invasões Napoleônicas.

Já nessa época existia uma produção pulverizada em pequenas adegas tradicionais, com talhas, ocupando parte de inúmeras casas de habitação dispersas pelas vilas e lugares.

Era esta a realidade quando, no dia 24 de abril de 1955, um conjunto de produtores insatisfeitos com as condições que eram praticadas no mercado controlado por “intermediários” em termos de preços e margens, cientes da necessidade de ganharem escala e massa crítica para investirem em novas tecnologias e em marcas comerciais fortes, decidiu unir-se para fundar a Adega Cooperativa de Borba.

Independentemente destas oscilações, a importância da vinha em Borba nunca se dissipou e foi sempre a grande cultura agrícola da região.

Já nessa época existia uma produção pulverizada em pequenas adegas tradicionais, com talhas, ocupando parte de inúmeras casas de habitação dispersas pelas vilas e lugares. Era esta a realidade quando, no dia 24 de abril de 1955, um conjunto de produtores insatisfeitos com as condições que eram praticadas no mercado controlado por “intermediários” em termos de preços e margens, cientes da necessidade de ganharem escala e massa crítica para investirem em novas tecnologias e em marcas comerciais fortes, decidiu unir-se para fundar a Adega Cooperativa de Borba.

Cada um dos viticultores distingue-se pela oferta de um produto de qualidade, envergando na sua essência uma história que nos faz recordar as verdadeiras raízes do cultivo da vinha. É com base em cada um dos seus legados, da sua partilha de conhecimentos e da sua união que a Adega de Borba consegue hoje em dia colocar em prática o real conceito de Cooperativa.

Mais informações acesse:

https://adegaborba.pt/

Referências:

“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/tipo-de-uva/antao-vaz

“Vinha”: https://www.vinha.pt/wikivinha/section/casta-vinho/antao-vaz/

“Soul Wines”: https://www.soulwines.com.br/uvas-de-vinhos/antao-vaz

“Mesa Completa”: https://www.mesacompleta.com.br/descubra-a-antao-vaz/

“Clube dos Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/roteiros/vinhos-da-sub-regiao-da-vidigueira-denominacao-de-origem-alentejo/

“Rota dos Vinhos de Portugal”: http://rotadosvinhosdeportugal.pt/enoturismo/alentejo-2/borba/

 

 






sexta-feira, 2 de abril de 2021

Vila de Frades branco 2018

 

Definitivamente degustar os vinhos com apelo regional é especial. Regional na verdadeira concepção da palavra, as castas locais, produtores locais, é uma ode à região e todas as suas nuances culturais, do que a terra e todas as suas propriedades geológicas e naturais podem oferecer. O terroir na sua expressão mais genuína e mais simples possível, pois, a partir do ato da degustação conseguimos entender as características mais marcantes dos vinhos produzidos em determinadas regiões.

Esse vinho sintetiza com fidelidade a rica e emblemática do Alentejo, em Portugal. Como que um lugar tão pequeno em termos geográficos, oferecer uma gama tão rica de vinhos nas suas mais diversas propostas, sejam eles vinhos brancos, tintos, complexos, jovens, encorpados, leves etc. E, devido a essa diversidade me tornei um grande fã dos vinhos alentejanos. Foram eles que abriram a janela para um mundo lusitano de vinhos diante dos meus olhos. Impossível não esquecer os meus primeiros rótulos portugueses oriundo dessa abençoada terra alentejana e, com as minhas experiências sensoriais com essa região, personificada com seus belos rótulos, descobri os brancos, confesso um pouco tardiamente, do Alentejo. E que vinhos maravilhosos e especiais!

E mais especial ainda que o rótulo por mim escolhido veio das mãos, cruzando o atlântico, direto de Portugal, por um bom amigo português. É um presente ter um amigo que aprecia bons vinhos e que se lembra de nós, pobres mortais enófilos aqui em terras brasileiras. A viagem foi garantida em todas as suas formas de interpretação: tanto no sentido literal da palavra quanto no sentido da experiência sensorial.

Ah amigos leitores, o vinho que degustei e gostei, como orgulhosamente disse, veio do Alentejo, na região da Vidigueira, é um branco, e se chama Vila de Frades, um blned composto pelas castas autóctones, tipicamente do Alentejo chamadas Antão Vaz (50%), Manteúdo (25%) e Roupeiro (25%) da safra 2018. E como não podemos negligenciar a história, falemos um pouco da região da Vidigueira e Vila de Frades e também dessas castas que, embora não sejam globais, se fazem significativas dentro de sua tradicional região do Alentejo.

Vidigueira e Vila de Frades

O topônimo “Vidigueira” é um derivado de “Vidigal” do latim “viticale”, cujo significado é “terreno onde cresce o vitex”, o mesmo que agnocasto, uma espécie de arbusto aromático. A existência desta povoação está documentada somente a partir do séc. XIII. No entanto, encontram-se registos de ocupação humana da região desde a pré-história. Para além do património megalítico, merecem referência as próximas villas romanas de São Cucufate e do Monte da Cegonha. Sem grande importância estratégica na defesa do território, o desenvolvimento desta vila foi essencialmente agrícola. Este facto é facilmente comprovado pela produção de vinho, uma vez que a Vidigueira é também o nome de uma Região de Origem Controlada. A sua fama vinícola já existia no séc. XV e no séc. XIX era a 7ª região produtora. O nome da Vidigueira está também ligado à figura histórica do Vasco da Gama, a quem D. Manuel I (1495-1521) concedeu o título de Conde da Vidigueira, em 1519. A Casa da Vidigueira, fundada então, permaneceu na mesma família até ao nosso século. Na torre do relógio da vila bate as horas um sino com a Cruz de Cristo e as armas dos Gamas gravadas, e a inscrição da data: 1520. Evoca-se ainda, a cerca de 2 km de Vidigueira outra memória de Vasco da Gama. Na capela-mor da igreja do convento de Nossa Senhora das Relíquias (já muito alterado nas suas linhas originais) estiveram depositados os restos mortais do descobridor do caminho marítimo para a Índia quando vieram de Cochim em 1539, até serem trasladados para o Mosteiro dos Jerónimos em 1898.

Vidigueira é uma vila portuguesa pertencente ao Distrito de Beja, região Alentejo e sub-região Baixo Alentejo, com cerca de 3 000 habitantes. É sede de um município com 314,20 km² de área e 5.963 habitantes (2006), subdividido em 4 freguesias. O município é limitado a norte pelo município de Portel, a leste por Moura, a sueste por Serpa, a sul por Beja e a oeste por Cuba. No coração do Alentejo, fica o concelho da Vidigueira, o quarto menor do Baixo Alentejo. Este pequeno concelho está delimitado pela Serra do Mendro a norte, o rio Guadiana a leste e a planície que se estende até perder de vista para sul. É nesta harmonia entre serra, planície e rio que assenta a riqueza das terras, onde proliferam as hortas, laranjais, vinhas, olivais e os campos de cereais.


Vidigueira, Vila de Frades e o Alentejo

A economia da freguesia assenta na agropecuária, sendo de salientar que as culturas predominantes são a da vinha e a da oliveira, cujo produto ao longo dos tempos adquiriu notoriedade a nível nacional. A caça é atualmente um fator económico importante; assim como a silvicultura e a indústria alimentar, destacando-se, ainda, o papel da Administração Local. No artesanato predominam os bonecos em barro, em madeira e de trapos, destinados a decoração. A região de Vila de Frades, que dá nome ao vinho, é uma vila portuguesa sede da freguesia homónima de Vila de Frades do município de Vidigueira, na região do Alentejo. Inserida na paróquia de São Cucufate, instituída em 1255, a povoação que surgiu nesse local pertencente aos frades de São Vicente de Fora tomou, logicamente, o nome de Vila de Frades (Detalhes sobre a região disponível no link: https://pt.wikipedia.org/wiki/Vila_de_Frades).

Até 1854 foi sede de concelho. Na sequência de uma Reforma Administrativa no século XIX, Vila de Frades foi integrada na Vidigueira, passando a ser uma freguesia deste Município.

As castas típicas do Alentejo

Antão Vaz

Pouco se sabe sobre as origens da casta Antão Vaz, mas curiosamente era este o nome do avô de Luís Vaz de Camões, poeta que celebrou em “Os Lusíadas” os descobrimentos e a viagem de Vasco da Gama de Portugal à Índia. Apesar da aura misteriosa que a rodeia, uma coisa se conhece: a sua filiação alentejana. E também que viajou pouco. Fora do seu Alentejo natal, apenas a Península de Setúbal a planta com alguma expressão, e não se encontram sinonímias para ela noutras regiões – como acontece com tantas outras castas –, comprovando-se assim a sua falta de apetência emigrante. Consensual, amada igualmente por viticultores e enólogos, a Antão Vaz é indiscutivelmente o “ex-libris” das castas brancas alentejanas, o orgulho e alma dos produtores locais. Particularmente bem adaptada ao clima soalheiro da grande planície, apresenta excelente resistência à seca e doença. Mais: é consistente, produtiva, e amadurece de forma homogénea. Tudo condições mais do que suficientes para a tornar incontornável no cenário dos vinhos brancos alentejanos. Por regra, dá origem a vinhos estruturados, firmes e encorpados, embora por vezes lhe falte acidez refrescante e revigorante. Daí a associação comum com as castas Roupeiro e Arinto, que contribuem com uma acidez mais viva. Se vindimada cedo, pode dar origem a vinhos vibrantes no aroma e a acidez firme; se deixada na vinha, pode atingir grau alcoólico elevado e aromas fragrantes, o que a torna boa candidata ao estágio em madeira. Os vinhos feitos com a Antão Vaz apresentam por regra aromas exuberantes, apresentando-se estruturados e densos no corpo.

Roupeiro

Roupeiro é uma das castas brancas mais utilizadas no Alentejo. Noutras regiões tem o nome de Síria ou Códega. Casta de uva branca muito utilizada em Portugal é recomendada nas regiões da Beira Interior com o nome de Codo ou Síria, no Douro com o nome de Códega e em todo o Alentejo com o nome de Roupeiro. Produz vinho com aromas primários muito interessantes a flor e a fruto, mas é sensível à oxidação e o seu vinho deve ser consumido nos anos imediatamente seguintes à colheita. Em geral, produz vinhos básicos para serem consumidos jovens, mostrando aromas de frutas cítricas e de caroço, além de notas florais. Quando bem feito, seu vinho apresenta aromas perfumados de frutas cítricas, pêssego, melão, loureiro e flores silvestres. Entretanto, perde rapidamente estes aromas, tornando-se bastante neutra após alguns meses em garrafa. Pode também oxidar rapidamente, sendo uma opção para vinhos jovens, de grande saída. Outros sinônimos: Síria, Malvasia Grossa, Dona Branca, Códega etc.

Manteúdo

Pouco se tem de informação sobre a casta Manteúdo, mas apenas se sabe, de acordo com sites e portais pela internet, é de que a mesma é produzida na região de Algarve.

E finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo amarelo ouro, com brilhantes reflexos esverdeados, com alguma concentração de lágrimas finas e que demora um pouco a se dissipar, mostrando a sua personalidade.

No nariz a explosão de aromas frutados sobressai, frutas brancas, frutas tropicais e cítricas, suscitando em uma boa complexidade aromática, corroborando a sua jovialidade e frescor.

Na boca é seco e com alguma estrutura e intensidade, revelando uma marcante personalidade, as notas frutadas são percebidas como no aspecto olfativo, com uma acidez equilibrada, um belo volume de boca, diria uma discreta untuosidade, fechando com grande persistência e um retrogosto frutado.

O apelo regional tem sido a base, o pilar de minhas novas experiências sensoriais e, por mais que teoricamente os vinhos regionais possam limitar-se, geograficamente falando, aos seus domínios, as suas cercas territoriais, se revelam grandiosos e significativos na sua relevância para um simples enófilo como eu, cujo garimpo não se limita ao agradável ato da degustação, mas ao processo cognitivo cultural em conhecer as identidades mais relevantes de uma cultura de um povo que construiu ao longo dos anos, dos séculos, sua história vinícola, com terroirs tão ricos e complexos. Um vinho de personalidade, expressivo, jovial, fresco, que entrega a versatilidade de uma rica região como o Alentejo. Que o regional globalize os seus mais intensos e gloriosos feitos para que todos, sem exceção, todos os enófilos, possam usufruir de toda essa experiência sensorial. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Adega Cooperativa Vidigueira, Cuba e Alvito

A Adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito foi fundada em 1960, mas a sua cronologia vai muito para além dos seus 60 anos de existência. Foi criada para proteger a vinha, o vinho e o estilo de vida milenar desta sub-região de vinhos e aportar ainda mais renome e qualidade ao vinho aqui produzido.

Ao longo dos anos, um intenso esforço tem-se vindo a fazer para proteger as castas e as técnicas de produção, pelo que, no património vitícola da Adega descobrem-se castas autóctones, aperfeiçoadas de geração em geração, entre as quais sobressai a Antão Vaz. Esta casta legitimada como a casta da Vidigueira e musa inspiradora da Adega, dá origem a um vinho branco excecional cuja notoriedade lhe vale o título de “O Branco do Alentejo”.

Com uma produção aproximada de 8 milhões de garrafas de vinho por ano, resultado da exploração de cerca de 1500 hectares de vinha dos seus cerca de 300 sócios, é hoje uma moderna e proeminente adega. Nunca esquecendo as suas origens, projeta-se para o futuro apoiada nas gentes e na qualidade do terroir da sub-região de vinhos.

Mais informações acesse:

https://adegavidigueira.pt/

Referências:

“Wikipedia”: https://pt.wikipedia.org/wiki/Vila_de_Frades

“Clube dos Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/roteiros/vinhos-da-sub-regiao-da-vidigueira-denominacao-de-origem-alentejo/

“Vinhos do Algarve”: https://www.vinhosdoalgarve.pt/pt/regiao/castas

“Revista de Vinhos”: https://www.revistadevinhos.pt/beber/antao-vaz

“Terras de Portugal”: http://www.terrasdeportugal.pt/vidigueira

“Freguesia Vidigueira”: https://www.freguesiavidigueira.pt/index.php/freguesia/historia

“Visit Portugal”: https://www.visitportugal.com/pt-pt/content/vidigueira#:~:text=XIX%20era%20a%207%C2%AA%20regi%C3%A3o,fam%C3%ADlia%20at%C3%A9%20ao%20nosso%20s%C3%A9culo.