Mais uma noite de degustação regada a novidades, pelo menos
pra mim, é claro. Será a minha primeira degustando um Garnacha Rosé. Degustar
uma das castas icônicas da Espanha é sempre um momento sublime, mas agora a
degustação será na versão rosé.
Hoje a noite está particularmente agradável, um pouco
calorosa para uma noite, mas é verão em terras brasileiras e nada como um rosé,
que tem a cara dos trópicos, para harmonizar com esse período do ano.
E também teremos outra novidade: além de ser o meu primeiro
rosé da casta Garnacha, será também o primeiro rosé da região de Castilla La
Mancha, a terra de Dom Quixote de La Mancha.
Embora seja uma região conhecida na Espanha para a produção
de vinhos, considerada a região com a maior vinha do mundo, muitos e muitos
litros da bebida sagrada para nós enófilos saem de lá. Há quem diga que essa
produção em larga escala impacta negativamente na qualidade do vinho. Olha os
poucos rótulos que degustei eu gostei.
Os meus primeiros contatos tem sido satisfatórios, especiais
e espero que esse não fuja à regra. E o meu primeiro contato com esse rótulo já
foi especial: o preço. Ótimo e atraente valor que justifica e muito o
investimento: Abaixo dos R$ 40 para um rosé com a sua proposta descontraída e
jovial sempre é válido.
Bem sem mais delongas façamos as devidas apresentações! O
vinho que degustei e gostei, como disse, vem da região espanhola de Castilla La
Mancha e se chama Viña Albali da casta Garnacha, um rosé da safra 2019. E antes
de tecer os comentários que algo posso adiantar, um espetáculo de vinho na sua
concepção mais genuína, com muita fruta vermelha, falemos um pouco da região de
Castilla La Mancha.
Castilla La Mancha, a terra de Dom Quitoxe e os seus Moinhos
de Vento
Bem ao centro da Espanha, país com a maior área de vinhas
plantadas em todo o mundo e o terceiro maior mercado produtor de vinhos, está
localizada a região vitivinícola de Castilla La Mancha. Um território com
grande extensão de terra quase que completamente plana, sem grandes elevações. É nessa macrorregião que se origina quase 50%
do total de litros de vinho produzidos anualmente na Espanha.
“Em um lugar em La
Mancha, cujo nome eu não quero lembrar, existiu há não muito tempo um
cavaleiro, do tipo que mantinha uma lança nunca usada, um escudo velho, um
galgo para corridas e um cavalo velho e magro”.
“Dom Quixote de La Mancha ou o Cavaleiro da triste figura” de
Miguel de Cervantes.
O nome “La Mancha” tem origem na expressão “Mantxa” que em
árabe significa “terra seca”, o que de fato caracteriza a região. Neste
território, o clima continental ao extremo provoca grandes diferenças de
temperaturas entre verão e inverno. Nos dias quentes de verão os termômetros
podem alcançar os 45°C, enquanto nas noites rigorosas de frio intenso do
inverno, as temperaturas negativas podem chegar a até -15°C. A irrigação
torna-se muitas vezes essencial: além do baixo índice pluviométrico devido ao
caráter continental e mediterrâneo do clima, o local se torna ainda mais seco
graças ao seu microclima, que impede a entrada de correntes marítimas úmidas. A
ocorrência de sol por ano é de aproximadamente 3.000 horas. Esta macrorregião é
composta por várias regiões menores, incluindo sete “Denominações de Origem”,
das quais se pode destacar La Mancha e Valdepeñenas.
La Mancha: é a principal região dentre elas, sendo
considerada a maior DO da Espanha e a mais extensa zona vinícola do mundo. O território abrange 182 municípios,
distribuídos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo. As
principais uvas produzidas naquele solo são a uva branca Airen e a popular
tinta espanhola Tempranillo, também conhecida localmente como Cencibel.
Valdepeñenas: localizada mais ao sul, mas com as mesmas
condições climáticas, tem construído sua boa reputação graças à produção de
vinhos de grande qualidade, normalmente varietais da uva Tempranillo ou blends
desta com castas internacionais.
A DO La Mancha conta mais de 164.000 hectares de vinhedos
plantados. Com isso, é a maior Denominação de Origem do país e a maior área
vitivinícola contínua do mundo, abrangendo 182 municípios, divididos em quatro
províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo.
As castas mais cultivadas em Castilla de La Mancha são:
Airén, Viúra, Sauvignon Blanc e Chardonnay entre as brancas e as tintas são:
Tempranillo, Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot e Grenache.
Classificação dos rótulos da DO de Castilla La Mancha:
Jóven: Categoria mais básica, sem passagem por madeira, para
ser consumido preferencialmente no mesmo ano da colheita.
Tradicional: Sem passagem por madeira, porém com mais
estrutura do que o Jóven.
Envelhecimento em barris de carvalho: Envelhecimento mínimo
de 90 dias em barris de carvalho.
Crianza: Envelhecimento natural de dois anos, sendo, pelo
menos, seis meses em barris de carvalho.
Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 12 meses em barris de carvalho
e 24 meses em garrafa.
Gran Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 18 meses em
barris de carvalho e 42 meses em garrafa.
Espumante: Produzidos a partir do método tradicional (segunda
fermentação em garrafa), com no mínimo nove meses de autólise.
E agora finalmente o vinho!
Na taça um rosado de média intensidade, com uma cor de casca
de cebola, com um reluzente brilhante.
No nariz aromas delicados de frutas vermelhas tais como
framboesa, morango e cerejas, com um discreto toque floral.
Na boca é leve, fresco, com as notas de frutas vermelhas como
no aspecto olfativo, com uma boa acidez mostrando equilíbrio entre esta e a
fruta. Apresenta um teor alcoólico com alguma veemência, atípico para um rosé,
tendo um final longo e refrescante.
Dizem que comemos e bebemos com os olhos e é verdade! O Viña
Albali Garnacha Rosé já encanta com a sua cor rosada vibrante, quase intensa, com
traços brilhantes e envolventes que é um atrativo, um chamariz a degustação. E
a confirmação desemboca nos seus aspectos olfativos e gustativos onde a fruta
vermelha impera, traz, como carro chefe, o frescor, a leveza e a jovialidade
que todo bom rosé deve proporcionar. Mas com tudo isso entrega personalidade,
uma expressividade que o toque generoso da fruta traz, entregando ao enófilo
toda a forma genuína da Garnacha, frutada e marcante. Mais uma vez a região de
Castilla La Mancha me surpreende de forma arrebatadora e singular. Que possamos
continuar plenamente na viagem enófila a Castilla La Mancha e que ela seja
agradável e de preferência eterna enquanto dure como diz aquela música
tupiniquim. Tem teor alcoólico de 12,5%.
Ah e vale como curiosidade: A palavra “Albali” refere-se a
uma das mais brilhantes estrelas da constelação de aquário.
Sobre a Bodega Felix Solis:
A Félix Solís Avantis é uma grande empresa espanhola que
produz vinhos e espumantes, sangria e suco de uva. Assim sendo, suas principais
marcas incluem Vina Albali e Los Molinos.
A princípio, a primeira vinícola da empresa foi aberta em
1975 em Valdepeñas. De fato, continua sendo uma das maiores instalações de
vinho de propriedade familiar do mundo, capaz de receber 7,5 milhões de quilos
de uvas por dia durante a colheita.
Possui dessa forma uma grande adega de barris de carvalho
americano para os vinhos Crianza, Reserva e Gran Reserva. Posteriormente, uma
segunda vinícola foi aberta em 2011 em La Puebla de Almoradiel, na região de La
Mancha.
Ademais, a empresa expandiu seus interesses para a região de
Marlborough, na Nova Zelândia, aonde produz o Sauvignon Blanc do Oceano Antártico.
Os vinhos chilenos são produzidos sob as bandeiras Pico Andino e La Piqueta.
Mais informações acesse:
Referências:
“Vinho Blog”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/
“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinhos-dos-moinhos_4580.html
“Blog VinhoSite”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/
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