Direi, com toda certeza, que este vinho é especial! E não é
especial pelo fato de ser caro, de um produtor renomado ou qualquer desses
óbvios predicados. Não! Mas simplesmente por ser de uma pródiga região que
aprecio muito, porém não tenho degustado muitos rótulos dessa região. Falo do
Piemonte!
E como, confesso, tenho sido negligente com essa região tão
especial da Itália. Talvez juntamente com a Toscana, rivalizam como uma das
mais emblemáticas do “país da bota”. Como negligenciar o Piemonte terra dos “vinho
dos reis”, o Barolo?
Lembro-me que o último piemontês que degustei e gostei por
demais da conta fora de uma casta que, até então, era muito nova para mim e que
é tida como uma das mais famosas da região, a Dolcetto, e o vinho era Sartirano Figli Dolcetto da safra 2018.
E lembro-me de outro também da famosíssima casta Barbera que
eu degustei e gostei e que até hoje me traz doces lembranças pela qualidade e
tipicidade: O Cantine Castelvecchio Barbera 2016.
As três castas principais do Piemonte são, além dessas acima
mencionadas, é a Nebbiolo, conhecida por compor o tradicional Barolo. A
Dolcetto traz a fruta e a jovialidade como carro chefe, vinhos mais básicos e
leves, a Barbera, uma casta intermediária, trazendo alguma estrutura e
complexidade e a Nebbiolo potente, gulosa, robusta e de grande potencial de
guarda.
O meu caminho para o Piemonte, apesar de ainda pequeno,
curto, com um número, confesso, reduzido de rótulos degustados, está completo
com a experiência de suas principais variedades. A Nebbiolo está bem
encaminhada com alguns poucos Barolos e rótulos hibernando na adega esperando o
melhor momento para a sua degustação.
Mas voltando ao rótulo de hoje, além de ser especial pelo fato de retomar o meu caminho, a minha viagem ao Piemonte, revela ser também de uma sub-região piemontesa que, até algum tempo atrás desconhecia. Ah mais uma grata novidade no mundo do vinho! Trafegar neste vasto universo e conhecendo seus “mundos” tem sido simplesmente arrebatador. Falo da Monferrato!
Quando vi este rótulo que exibe, com letras garrafais, o nome
da região a qual fora concebido, logo me chamou a atenção, estimulando a minha
curiosidade e no site de compras mostrava um valor também muito atrativo, à
época por volta dos R$39,90 e quando li a sua descrição me chamou também a
atenção, pois traz um blend muito especial com duas das principais cepas da
região do Piemonte: Dolcetto e Barbera, com a rainha das uvas tintas, a
francesa Cabernet Sauvignon.
Então sem mais delongas vamos às apresentações, pois tem muita história a desfilar neste texto. O vinho que degustei e gostei veio, claro, da região de Monferrato, no Piemonte, na Itália, e se chama Dezzani Monferrato composto pelas castas Dolcetto (85%), Barbera (8%) e Cabernet Sauvignon (7%) da safra 2016. Vamos, antes de tecer detalhes sobre o vinho, falar do Piemonte e Monferrato.
Piemonte: a filha pródiga dos vinhos italianos
Piemonte disputa com Toscana a primazia de produzir os
melhores vinhos de seu país. Situado na porção mais ocidental da Itália,
fazendo fronteira com a França, também foram os gregos que deram início à
produção de vinhos. Absorvido mais tarde pelo Império Romano, a zona teve um
grande desenvolvimento nas atividades vitivinícolas, que só foram prejudicadas
mais tarde, já na Era Cristã, durante a invasão de povos bárbaros oriundos do
norte da Europa.
A nobreza medieval se encarregou de retomar o plantio das
uvas e a elaboração do vinho, já nessa época surgem menções a uva emblemática
da região, a Nebbiolo. Devido a forte influência francesa (a região foi, por
séculos, dominada pela Casa de Savóia), por muito tempo seu vinho se assemelhou
ao clarete, que era a moda na Europa de então.
Foi somente a partir do século XVIII, quando ocorreu um grande processo de renovação vinícola, que surgiu o Barolo, vinho de grande caráter e símbolo da região, para fazer sua fama. O Piemonte produz atualmente cerca de 300 milhões de litros de vinho por ano em sua área de 58 000 ha. plantadas de vinhedos.
Como o próprio nome indica, a região está situada ao pé da
montanha - no caso, os Alpes - sendo, portanto, uma região muito acidentada. A
maior parte de Piemonte está constituída por colinas e montanhas, mas sobram
cerca de 26% de terras planas.
Além dos Alpes, outra cordilheira, o Apenino Ligúrio, invade
também seu território. Os rios Pó e Tanaro cruzam suas terras, onde se
encontram as cidades de Torino (capital), Alba, Alessandria, Asti e Novara,
dentre outras. Seu solo é muito variado, com faixas de calcário e areia, outras
de giz e manchas de granito e argila. Ao longo dos rios há presença de solos
aluviais.
O clima é Continental, com estações bem marcadas, invernos
rigorosos e verões quentes. O índice de chuvas é de cerca de 1.000 mm/ano. As
uvas tintas representam dois terços da produção da zona. Além da Nebbiolo,
vamos também encontrar as Barbera (a variedade mais plantada em toda a Itália),
Brachetto, Dolcetto, Grignolino, Freisa e, em menor escala, algumas cepas
francesas, como a Cabernet Sauvignon.
As principais castas brancas são a Arneis, Cortese, Moscato
Bianco, Malvasia, Erbaluce a Chardonnay. O Piemonte produz cinco vinhos DOCG
(Vinhos de Denominazione di Origine Controllata e Garantita), a elite dos
vinhos italianos, são eles: Barolo, Barbaresco, Gattinara, Asti, Brachetto D'
Acqui. Além desses, também saem da região 42 vinhos DOC (Denominazione di
Origine Controllata) e vários Vini da Tavola de boa qualidade.
Monferrato
A região vinícola de Monferrato está localizada abaixo do rio
Po, no canto sudeste da região do Piemonte, no noroeste da Itália. Como Langhe,
essa área foi reconhecida como DOC em 1994.
Ela segue regras bastante relaxadas, permitindo a mistura de
castas indígenas com castas internacionais. Esses vinhos são vendidos sob os
rótulos “Monferrato Rosso” e “Monferrato Bianco”.
Também são produzidos vinhos varietais, mas essa variedade de
uva deve representar pelo menos 85%. A produção de vinho tinto é dominada por
variedades de uvas indígenas, incluindo Barbera, Freisa, Grignolino e Dolcetto.
As variedades internacionais são lideradas por Cabernet Franc, Cabernet
Sauvignon e Pinot Noir.
Grande parte do terroir é ideal para a viticultura, graças ao
clima continental e à drenagem gratuita, às terras aráveis. Este solo é
perfeito para a produção de vinhos de alta qualidade a partir de variedades
como Grignolino e Barbera. Ambos têm a clássica combinação italiana com sabores
de frutas frescas e um equilíbrio entre açúcar e ácido.
Monferrato também abriga muitas pequenas partições
diferentes, sendo certificada por DOC e DOCG. Estes incluem Barbera d’Asti,
Moscato d’Asti. Barbera del Monferrato, sua partição DOCG Superiore, Nizza
DOCG, Ruchè, Albugnano e Dolcetto di Ovado também estão localizados naquela
região.
E agora finalmente o vinho!
Na taça entrega um vermelho rubi intenso, com entornos
violáceos com reluzente brilho, além de lágrimas finas, em intensidade e lentas
que desenham as bordas do copo.
No nariz traz notas agradáveis e aromáticas de frutas vermelhas
maduras, com delicadas notas amadeiradas que aportam, graças aos 12 meses de
barricas de carvalho, um leve tostado, um abaunilhado e especiarias.
Na boca é elegante, média estrutura, que lhe confere marcante personalidade. A sinergia
entre a fruta madura e a madeira é evidente que o torna complexo e versátil.
Volumoso em boca, graças ao álcool evidente, mas sem agredir, mostra
intensidade e sabor. Tem taninos domados, redondos, média acidez, tem toques de chocolate, um envolvente defumado e um final de
média persistência.
A minha “volta” ao Piemonte foi gloriosa e recheada com
algumas novidades surpreendentes. Monferrato me foi apresentada e revelaram as
tradições piemontesas, com grande parte de suas principais e emblemáticas
castas, a Dolcetto e a Barbera. A Itália ainda se mostra nova diante dos olhos
dos enófilos, enchendo, inundando de prazer as nossas humildes taças. O Dezzani
Monferrato é intenso, marcante, mas elegante pelos seus seis anos de garrafa e
se destacam, em uma simbiose, a fruta e a madeira. Um vinho versátil, complexo,
elegante e harmonioso. Que venham mais e mais piemonteses! Tem 14% de teor
alcóolico.
Sobre a Vinícola Dezzani:
Foi em 1934 quando o avô Luigi Dezzani fundou sua histórica vinícola,
no momento em que era dedicada à produção e distribuição local de uvas.
A chave do sucesso obtido nos anos 70-80 foi o entusiasmo que
Luigi transmitiu a seu filho Romolo, que fez Dezzani conhecido não apenas no
Piemonte, mas em toda a Itália, tornando-se um dos pontos de referência da
tipicidade do Piemonte.
Seguindo de acordo com a filosofia do pai, Franca, Luigi e
Giovanni, terceira geração, espalharam a marca Dezzani nos mercados internacionais.
Foi uma escolha de qualidade voltada para a produção de
vinhos de prestígio, posteriormente reconhecidos pelos Clientes no mundo.
Hoje, enfim, essa realidade histórica é guiada pela Família
Rocca (cinco gerações no ramo do vinho) e pela Villa Rivalta (10.000 hectares e
centenas de famílias coletadas em cooperativas) que estão desenvolvendo
importantes sinergias tangíveis através de um controle sensível da cadeia de
suprimentos, tecnologias modernas e o amor de os que vivem do vinho há séculos.
Mais informações acesse:
Referências:
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/piemonte-grandiosa-regiao-italiana_8360.html