Por isso que sempre digo que o universo do vinho é vasto e
inexplorado. Há muito a se falar, há muito que descobrir, há muito que conhecer
e melhor: Há muito para degustar! Eu recebi do clube de vinhos que faço parte,
alguns rótulos bem interessantes, mas um me chamou verdadeiramente a atenção.
Pinot Nero era a casta estampada em um dos rótulos que recebi
e que eu confesso no ápice de minha ignorância vínica, não conhecia. Mas quando
sou “provocado” nesse sentido eu me ponho a pesquisar e quando descobri a
resposta, fui tomado por uma grata surpresa: trata-se apenas da emblemática e
maravilhosa Pinot Noir como é chamada no país da Bota, a velha e necessária
Itália.
A palavra italiana “Nero” significa “escuro” e também aparece
em castas autóctones e tradicionais da Itália como a Nero d’Avola que significa
a casta escura de Ávola, uma região italiana.
Muito prazeroso para mim, que faz questão de degustar
história, pois vinho é assim, degustar história e cultura de um país, de um
povo, de uma região, descobrir esses pequenos grandes detalhes de rótulos que
degustamos. E o que também me surpreendeu foi encontrar um Pinot Noir produzido
na Itália. Uma maravilha, principalmente levando em consideração que a casta
tão difícil para se cultivar.
E logo quando o vinho chegou não hesitei em demorar e logo me
coloquei à disposição, que não sou bobo nem nada, a degusta-lo. A tarde, com
sol brilhando e com temperatura agradável foi o pano de fundo para degustação
desse Pinot Nero e quando desarrolhei a garrafa e os primeiros sinais de fruta
e de um aroma floral começaram a se manifestar, meus sentidos logo ficaram
aguçados.
A taça inundada do líquido me animou ainda mais. As papilas
receberam o bombardeio de sabores do vinho e que maravilha! Que belo e
interessante Pinot Noir italiano. Então vamos às apresentações. O vinho que
degustei e gostei veio do Vêneto (IGT Trevenezie), na Itália e se chama Rilievo
da casta Pinot Nero, safra 2019. Antes de falar do belo vinho falemos um pouco
da importante região do Vêneto.
Vêneto
O Veneto é a terra natal de algumas das mais conhecidas
denominações italianas, como Prosecco, Valpolicella e Bardolino. Um dos maiores
vinhos italianos produzidos nesta região é o encorpadíssimo Amarone. Situada no
nordeste da Itália, a região do Veneto apresenta uma área total um pouco menor
do que as demais áreas vinícolas de Piemonte, Lombardia, Toscana, Puglia e
Sicília, no entanto, possui um volume de produção maior do que tais regiões
italianas.
Embora as regiões da Puglia e Sicília fossem, por um longo
tempo, as principais produtoras de vinho na Itália, a partir da metade do
século XX esse cenário passou por notáveis mudanças. Na década de 1990, o
Vêneto conquistou cada vez mais espaço e reconhecimento com a produção de
alguns dos melhores vinhos italianos, como os tintos Valpolicella e Amarone,
além do maravilhoso vinho branco Soave e do espumante Prosecco.
Na região do Vêneto encontra-se Valpolicella e sua sub-região
Valpatena. Tal área é a responsável pela produção de meio milhão de hectolitros
de vinho por ano e, em termos de volume, Valpolicella é a única DOC italiana
capaz de competir com a famosa DOC Chianti, na Toscana. Ao leste do Veneto
encontra-se Soave, responsável por abrigar o vinho branco seco que carrega o
mesmo nome e encontra-se entre os vinhos italianos mais apreciados.
Apesar de as uvas mais cultivadas no Vêneto serem da casta
Merlot e Prosseco, as videiras que deram origem aos vinhos com certificação de
Denominação de Origem Controlada (DOC) são, na verdade, das castas Pinot Grigio,
Riesling, Garganega, Pinot Nero, Barbera e Corvina, atualmente, as uvas de
maior importância para a produção dos vinhos do Veneto apreciados e cultuados
mundo afora.
Formado pelas sub-regiões de Veneza, Belluno, Verona e
Rovido, o Veneto extrai a maior parte de sua produção de Verona, contabilizando
anualmente cerca de dois milhões de hectolitros de vinhos italianos. O destaque
dessa sub-região vai além do volume de produção local, Verona é o berço dos
reverenciados, famosos e cultuados exemplares de Bardolino e Valpolicella.
Uma
curiosidade a respeito do Vêneto é sua forte ligação com a vinicultura do
Brasil, que recebeu muitos imigrantes italianos desta região na Serra Gaúcha,
hoje a melhor área de elaboração de vinhos do nosso país. Não por acaso, a maioria
das vinícolas de sucesso do Vale dos Vinhedos, na Serra Gaúcha, pertence a
famílias de descendentes desses imigrantes de Vêneto, no nordeste da Itália.
E agora o vinho!
Na taça tem um vermelho rubi com reflexos violáceos muito
brilhantes, com curtas e rápidas lágrimas finas.
No nariz o destaque são os aromas frutados, de frutas vermelhas
como morango, cereja e groselha, algo de geleia em compota, sem soar enjoativo,
um toque floral bem delicado, além de notas de especiarias tais como cravo,
canela.
Na boca é seco, equilibrado, harmonioso, elegante e fresco. A
fruta também tem destaque, mas não tanto quanto no aspecto olfativo. É
levemente tânico, percebe-se alguma adstringência, porém nada que desagrade ou
incomode, com uma incrível acidez que entrega o frescor tão típico da Pinot
Noir (Pinot Nero). Tem um final curto.
Um belo Pinot Nero, um Pinot Nero da Itália, de uma região
emblemática italiana, o Vêneto. Um vinho fresco, extremamente frutado, mas sem
ser enjoativo, com toques de especiarias, diria terroso, aroma delicado, um
floral elegante, típico da casta. O nome pode se revelar diferente para com o
resto do mundo, mas entrega o que há de melhor das essenciais características
da Pinot Noir. Um vinho versátil, aquele que podemos degustar com pratos leves,
mais condimentados, uma refeição simples ou sozinho, sem acompanhamentos. Um
vinho de personalidade, com alguma expressão, de bom volume de boca, acidez
marcante para um tinto, também típica da casta. Uma grata surpresa, sem contar
que o aspecto visual também deixa o seu recado, que linda garrafa! Que o
universo continue a conspirar a nosso favor e que revele grandes e novas
experiências. Tem 12% de teor alcoólico.
Sobre a Vinícola Botter:
A vinícola Botter foi fundada por Carlo Botter e sua esposa
Maria em 1928 em Fossalta di Piave, uma pequena cidade perto de Veneza. Começou
como um pequeno negócio de venda de vinhos locais em barricas e garrafões.
Na década de 60 os dois filhos, Arnaldo e Enzo, ingressaram
na Companhia e passaram a comercializar vinhos em garrafas. Aumentaram a
presença da Empresa no mercado italiano e - o mais importante - deram vida a um
processo gradual de expansão para outros países, que se tornaria a principal
fonte de receitas da Empresa.
Na década de 70, a Botter conseguiu acompanhar o crescimento
do mercado internacional e expandir sua variedade. Alguns de seus vinhos do
Veneto vieram dos vinhedos da família, localizados perto de Treviso.
Nos anos 80, graças a várias colaborações estreitas com
produtores locais, Botter começou a fornecer novos vinhos de Abruzzo, Campânia,
Puglia e Sicília, oferecendo uma ampla gama de produtos feitos com uvas de vinhas
nativas; este foi apenas o ponto de partida da abordagem multiterritorial de
Botter que mais tarde se desenvolveria e se espalharia por todo o país, do
norte ao sul da Itália.
No final dos anos 90, a terceira geração - Annalisa,
Alessandro e Luca - entrou na Companhia e Botter passou a testemunhar uma nova
evolução. Foi adotado um modelo de negócio totalmente novo, mais adequado às
necessidades de um mercado dinâmico e global.
Hoje, Botter é um dos maiores produtores e exportadores de
vinhos italianos:1 em cada 35 garrafas de vinho italiano exportadas para o
mundo é produzida por Botter.
Mais informações acesse:
Referências:
“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/regiao/veneto
“Blog Sonoma”: https://blog.sonoma.com.br/regioes/veneto-entre-amores-e-vinhos/
“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/veneto