Minha adorável e querida afilhada fará 2 anos de idade! E o
tempo é um grão de areia que se esvai com facilidade por entre os nossos dedos.
Se não aproveitar a vida que temos, ela passa diante dos nossos olhos sem
pestanejar e de forma implacável. Então para comemorar esse momento maravilhoso
nada mais prudente e adequado escolher um rótulo à altura.
E para esses momentos o que vem à mente? Um vinho complexo,
estruturado, aqueles que os entendidos costumam dizer que devem ser
desarrolhados em momentos de grande e singular celebração. Confesso que
concordo e inclusive pensei em vinhos desse naipe quando passei os meus olhos
pela adega. Mas pensei e tentei, para variar, subverter a máxima, as
conveniências que rondam o universo do vinho.
Optei por um vinho como a minha adorável sobrinha: solar,
delicado, leve e agradável. E quando fiquei sabendo dos quitutes que servirão
nos festejos de seu aniversário, pensei: Que tal um vinho verde? Sim! Um vinho
verde é leve, agradável, solar e delicado e que harmoniza, penso eu,
perfeitamente com as frituras típicas de aniversários tais como aqueles salgadinhos,
tão gostosos e indispensáveis.
E escolhi um rótulo muito especial também. Um presente de um
amigo que ganhei que veio de Vila Nova de Gaia, de Portugal, quando aqui esteve
em terras brasileiras com a mala repleta de rótulos, carinho e amizade! Como é
bom ter amigos e que gosta e te presenteia com vinhos, melhor ainda!
Demorei em escolhê-lo, escolher o rótulo, talvez estivesse
esperando o melhor momento. O aniversário de 2 anos de minha adorada afilhada!
E é um vinho verde de uma casta que considero a melhor para esses vinhos que
tem a cara do nosso Brasil: a Loureiro! Vão achar que estou blasfemando! É
claro que é a Alvarinho! Talvez estejam, os defensores desta casta, com razão,
mas não posso deixar de negligenciar a importância da Loureiro por se tratar de
uma casta leve, delicada e que goza de uma vibrante acidez.
Então o vinho que degustei e gostei veio das terras dos
Vinhos Verdes, a emblemática região dos Vinhos Verdes, é pertence a um produtor
que descobri recentemente e que é um dos melhores na produção de Vinho Verde em
Portugal: Quinta da Lixa e a casta, claro, a Loureiro, da safra 2018. E já que
teci meus melhores comentários para essa tão importante região e que mais
parece ser a sucursal do Brasil em Portugal, por ter vinhos, majoritariamente
leves, frescos e delicados, nada mais interessante, para massagear também o
nosso ego cultural, falar um pouco dessa importante região chamada de Vinhos
Verdes e uma de suas principais cepas: a Loureiro.
Vinhos Verdes: Entre-Douro-e-Minho
Desde o tempo da ocupação romana, antes da era cristã, a
vinha era cultivada na margem sul do Rio Minho da forma característica e
invulgar que se mantém até hoje. Não se trata de suposição. As referências à
viticultura na região encontram-se nos escritos do naturalista Plínio, o Velho,
em sua História Natural, e do filósofo Sêneca, em seu compêndio Questões
Naturais. Está também documentada na legislação do Imperador Domiciano, entre
96 e 51 a.C.
Na Idade Média multiplicam-se as referências escritas ao
cultivo das uvas e a elaboração de vinhos no noroeste lusitano, a partir das
atividades nos mosteiros e do decisivo suporte da coroa portuguesa. O vinho
entra definitivamente, entre os séculos XIII e XIV, nos hábitos das populações
entre o Minho e o Douro ao mesmo tempo em que se dá a expansão econômica da
região e a crescente circulação da moeda. Ainda que a exportação fosse pequena,
os vinhos verdes foram, entre os vinhos portugueses, os primeiros conhecidos
fora das fronteiras, particularmente na Inglaterra.
No início do século XX, ultrapassados os problemas das
quebras de produção devido às pragas, foram tomadas medidas especiais para a
colocação dos vinhos locais e escoamento dos excedentes. Tornava-se
obrigatório, para isso, conservar a genuinidade e a qualidade dos produtos,
assegurando-se seu valor do ponto de vista cultural e econômico.
O ano de 1908 é crítico na história portuguesa: o rei Carlos
I e seu filho são assassinados, abrindo caminho para a República. Nesse mesmo
ano, a região dos vinhos verdes é demarcada oficialmente e dividida em seis
sub-regiões: Monção, Lima, Basto, Braga, Amarante e Penafiel. O limite a oeste
é o Atlântico e, ao norte, a Espanha.
A Região Demarcada dos Vinhos Verdes está dividia em nove
sub-regiões, cada uma com sua característica específica e suas castas de uva
recomendadas:
Sub-região de Monção e Melgaço: utilizam-se apenas as castas
Pedral (tinta) e Alvarinho (branca). É de lá o mais icônico Alvarinho, com
notas cítricas misturadas com nuances de aromas florais e de frutos tropicais e
paladar mineral.
Sub-região de Amarante: as castas brancas são Azal e Avesso e
originam vinhos com aromas frutados e com o maior teor alcoólico da Região. Mas
é dos tintos que vem a fama da sub-região. Elaborados com Amaral, Vinhão e
Espadeiro, são vinhos com cor carregada e muito viva.
Sub-região de Baião: também tem muita notoriedade na produção
dos brancos, a partir da casta Avesso.
Sub-região de Basto: a casta Azal atinge o seu máximo
potencial e resulta vinhos com aroma de limão e maçã verde muito frescos, de
alta acidez.
Sub-região do Cávado: tem vinhos brancos das castas Arinto,
Loureiro e Trajadura com acidez moderada e notas de frutos cítricos e de pomar.
Os vinhos tintos são na maioria cortes de Vinhão e Borraçal, cor intensa
vermelho granada e aromas de frutos frescos.
Sub-região do Lima: Os vinhos brancos mais famosos são
produzidos a partir da casta Loureiro. Os aromas são finos e elegantes e vão
desde de limão até rosas.
Sub-região de Paiva: produz alguns dos tintos mais
prestigiados de toda a Regiãoa a partir de Amaral e Vinhão.
Sub-região do Sousa: utiliza a casta Espadeiro,
principalmente para a produção de rosés, sendo alguns dos mais destacados da
Região.
Sub-região do Ave: Arinto e Loureiro Trajadura juntas compõem
um blend perfeito com frescura viva e notas florais e de frutas cítricas.
O uso indiscriminado dos termos “Vinhos Verdes” ou “Vinho
Verde” gera muita confusão. Pode parecer uma questão simplesmente ligada ao
plural, mas não é. Os termos se referem à Região dos Vinhos Verdes (plural),
uma das 14 regiões demarcadas de Portugal e à Denominação de Origem Controlada
(DOC) Vinho Verde (singular). Para receber o selo de Denominação de Origem
Vinho Verde, os vinhos devem respeitar as normas estabelecidas pela lei. Não há
restrição de área de cultivo, toda a produção realizada dentro da Região dos
Vinhos Verdes pode receber o selo se respeitarem as diretrizes da DOC.
A legislação permite a elaboração de vinhos brancos, rosés e
tintos dos tipos tranquilo e espumante. Os tranquilos devem ter um volume
alcoólico entre 8,5% e 14% e os espumantes entre 10% a 15% de álcool. Todos são
elaborados exclusivamente com castas autóctones da região, são elas: as brancas
Alvarinho, Arinto, Avesso, Loureiro, Azal, Batoca, Trajadura, e as tintas
Vinhão, Alvarelhão, Amaral, Borraçal, Espadeiro, Padeiro, Pedral e Rabo de
Anho. É permitida a criação de varietais e blends. Contanto, varietais de
Alvarinho só recebem a certificação DOC Vinhos Verdes quando elaborados na
sub-região de Monção e Melgaço. Exemplares de qualquer outra sub-região recebe
a certificação de Vinho Regional do Minho.
Em 1926 foi criada a Comissão de Viticultura da Região dos
Vinhos Verdes (CVRVV), responsável por controlar e certificar os produtos
elaborados na região. Quando a amostra apresentada à CVRVV não cumpre com os
requisitos legais para ser certificada como DOC, o exemplar recebe o selo IG
Minho. Isso não quer dizer que o vinho é de pior qualidade, apenas que não se
enquadra legalmente aos parâmetros pré-definidos. A IG Minho permite a
utilização de maior variedade de castas, incluindo uvas internacionais, e
regras distintas de vinificação. Na maioria dos casos, os produtores não estão
buscando necessariamente a tipicidade do vinho, mas a produção de vinhos
inovadores. É comum encontrar vinhos IG Minho mais caros que os DOC Vinhos
Verdes. Alguns produtores optam de forma intencional por rotular seus vinhos
como Regional do Minho, até mesmo por questões de marketing e posicionamento de
mercado.
A região dos Vinhos Verdes tem influência atlântica,
reforçada pela orientação dos vales dos principais rios, que correndo de
nascente para poente facilitam a penetração dos ventos marítimos. É observada
elevada pluviosidade, temperatura amena, pequena amplitude térmica e solo
majoritariamente granítico e localmente xistoso. Mas algumas regiões, por conta
do microclima, apresentam características de terroir distintas. O que influencia
diretamente no vinho.
Por que vinho verde?
Evidentemente, a cor do Vinho Verde não é verde. Então, por
que esse nome? Duas são as versões mais conhecidas. O Vinho Verde leva esse
nome porque as uvas da região, mesmo quando maduras, têm elevado teor de
acidez, produzindo líquido cujas características lhes dão a aparência de vir de
uvas colhidas antes da correta maturação. A outra explicação diz que
"Vinho Verde" significa "vinho de uma região verde", ou
seja, a denominação deriva da belíssima paisagem local, onde o verde das terras
cultivadas se perde no horizonte.
Loureiro
A uva Loureiro é uma variedade branca amplamente cultivada no
norte de Portugal, famosa por fazer parte na composição do tradicional Vinho
Verde, elaborado na região do Minho. Além disso, a Loureiro também é cultivada
em pequenas quantidades na Galícia, comunidade autônoma espanhola, ao noroeste
da península ibérica.
Originária do Vale do rio Lima, a uva Loureiro é uma
variedade extremamente fértil e com rendimentos generosos e que, apenas
recentemente, assumiu o papel de uma casta nobre. Em regiões espanholas, essa
variedade é conhecida também como Loureira, dando origem a excelentes vinhos
brancos em Rías Baijas e, muitas vezes, sendo misturada com a casta mais
tradicional e emblemática do país, a uva Albariño.
O nome Loureiro vem de “louros” que, no dialeto espanhol, é
como eram chamadas às folhas da vinha por causa do seu perfume muito
característico. Além das folhas, a flor da uva Loureiro tem também qualidades
aromáticas marcantes por conta da sua personalidade floral, com ênfase nos
aromas de flor de acácia, tília e laranjeira.
Os vinhos produzidos a partir da uva Loureiro apresentam
excelentes aromas, notável acidez e baixos índices alcoólicos, visto que os
varietais estão se tornando cada vez mais populares entre consumidores e
críticos. No entanto, os famosos Vinhos Verdes, sempre foram historicamente
elaborados com as uvas Trajadura e Arinto – conhecida também como Perdenã na
região do Minho.
E agora finalmente falemos do vinho!
Na taça apresenta um amarelo dourado com reflexos esverdeados
com um lindo e intenso brilho, além daquele pitoresco gaseificado.
No nariz uma explosão de frutas cítricas e brancas como
abacaxi, limão, pera, maça verde, entregando certa complexidade, além de um
agradável e delicado toque floral, lembrando flores brancas.
Na boca é seco, muito fresco e jovial que enaltece o seu
caráter frutado, com uma incrível acidez muito típica da casta com um final
prolongado e um retrogosto frutado.
Ah minha querida, idolatrada e adorável sobrinha Gabriela seu
aniversário, seu momento simbólico de mais um ano de vida foi celebrado por
todos a sua volta que te ama, que te quer bem e esse belíssimo e desconcertante
vinho verde da também adorável e delicada casta Loureiro soube representar, de
forma indelével, esse momento especial de sua e nossas vidas. Um vinho como
você: solar, agradável, delicado, floral, perfumado. Um vinho simples, como
todo vinho verde que se preze, mas com a nobreza da celebração que personifica
esse vinho que parece ter o DNA de todos nós brasileiros e que os nossos
patrícios nos presenteou, presenteou o mundo. É o mundo que você merece minha
adorável Gabriela, que tenhas uma vida longa e próspera e que eu possa, a cada
celebração de um ano de sua vida, degustar um grande rótulo para brindar. Tem
11% de teor alcoólico.
Ah e por curiosidade, o “Pingo doce”, estampado no rótulo no
vinho, se trata de um famoso e popular supermercado de Portugal, onde este
vinho é exclusivo para venda. Mais um motivo para celebrar, pois se está
degustando um vinho exclusivo para venda em Portugal, apenas! Saúde!
Sobre a Quinta da Lixa:
A Quinta da Lixa é o testemunho vivo da paixão que a Família
Meireles sempre teve pelos Vinhos Verdes. Presente em diversas áreas do mundo
empresarial, esta família que já era proprietária de vinhedos localizados em
redor da pequena Vila da Lixa, decide em 1986 criar uma pequena empresa que se
viria a tornar naquela que é hoje a Quinta da Lixa - Sociedade Agrícola, Ltda.
O vinho produzido era inicialmente vendido a granel, mas rapidamente se
percebeu que a sua qualidade e aceitação eram tais que o engarrafamento na
propriedade era imperativo. Devido ao aumento de produção, torna-se necessário
a construção de novas instalações que viessem substituir a primitiva adega onde
já não era possível a manutenção do padrão de qualidade que caracterizava os
vinhos da Empresa. O desenvolvimento contínuo da empresa só é possível graças à
satisfação dos Clientes em todos os serviços prestados. Faz parte da política
de qualidade da Quinta da Lixa promover a satisfação de todas as partes
interessadas, tais como Clientes, Fornecedores, Colaboradores e Sociedade em
geral; cumprir os requisitos dos Clientes, bem como Normativos e Legais aplicáveis;
estabelecer permanentemente práticas de melhoria continua, atingindo níveis de
rentabilidade que garantam o crescimento sustentado da empresa e a eficácia do
SGQ, fazendo desta forma que a Quinta da Lixa mereça a certificação ISO
9001:2015.
Mais informações acesse:
https://www.quintadalixa.pt/index.php
Referências:
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinho-verde-bebida-portuguesa-do-verao_8317.html
https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-paisagem-que-deu-nome-ao-vinho_2744.html
“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/loureiro