Realmente o universo do vinho é interminável, é vasto, logo
inexplorável. Com o perdão da analogia são universos em expansão que, diante de
nossos simples olhos de enófilo, surgem alguns “big bangs” que se desenvolvem
em novas castas, novas regiões, novas perspectivas e percepções de degustações
e, além dessas experiências sensoriais, a cultura, o aprendizado se faz
permanente e consistente. São garrafas que explodem em história, cultura,
comportamento e principalmente o prazer da degustação. E mais um rótulo me
proporcionou tamanha experiência, tamanha, diria, alegria ao perceber o quão
maravilhoso é o universo do vinho. Estava eu em minhas incansáveis e agradáveis
incursões nos supermercados a procura de um vinho branco para compor a minha
adega neste tipo de vinho. Mas, apesar de manter a minha tradição em comprar
vinhos em supermercados, ainda há uma dificuldade no que tange a diversidade de
rótulos sobretudos os brancos, mas decidi, naquele dia, que não iria desistir
na minha escolha e aquisição. Olhei para cima, para baixo, para os lados da
gôndola e nada me interessava, tudo era trivial demais. Quando já estava
pensando em ir embora eis que, como por encanto, surgiu, diante dos meus olhos,
um vinho, de custo muito baixo, que me chamara a atenção, mas não havia, até o
momento, nada que de fato me chamasse a atenção. Já em minhas mãos, o analisei
com requintes de detalhes e percebi uma palavra de nome “Pardina” que, de
imediato, não identifiquei, logo depois “Ribera del Guadiana” que logo entendi
se tratar de uma região que desconhecia. Já me interessei! Acessei a internet,
digitando no site de buscas, a tal palavra que não conhecia e descobri que se
tratava de uma casta branca espanhola. Pronto! Foi o necessário para me
interessar e não hesitei em leva-lo para a minha adega.
Não demorei tanto tempo para degusta-lo e o que eram apenas
novidades e até dúvidas se transformou em êxtase, admiração por um vinho de
excelente custo X benefício! Então o vinho que degustei e gostei vem da região
de Ribera del Guadiana, na Extremadura espanhola, e se chama Marqués del
Camino, da casta Pardina, da safra 2017. E, diante de tantas novidades, de
universos em expansão, nada mais conveniente de explorá-lo nas suas minucias.
Então falemos um pouco da jovem DO Ribera del Guadiana e da sua popular casta
Pardina.
Ribera del Guadiana DO
Ribera del Guadiana é uma Denominación de Origen Protegida
(DOP) espanhola para vinhos localizada na região de Extremadura, na Espanha. Estende-se
por duas províncias, Cáceres no norte e Badajoz no sul. Leva o nome do rio
Guadiana, que atravessa a região de leste a oeste. A sua área vitícola nesta
jovem Denominação de Origem está dividida em seis subzonas vitivinícolas, cada
uma das quais com um caráter especial e detentora de uma tradição particular e
milenar na produção de vinho. Essas subzonas são: Cañamero e Montánchez, na
província de Cáceres e Ribera Alta, Ribera Baja, Tierra de Barros e Matanegra,
em Badajoz.
A subzona Tierra de Barros abrange 36 municípios. O solo é
argiloso com excelentes propriedades de retenção de umidade e alto teor de
calcário. A disposição do terreno é plana o que permitiu a mecanização das
atividades da vinha. A subzona de Cañamero abrange 5 municípios da cordilheira
da Sierra de Guadalupe , a leste da província de Cáceres, a uma altitude de
mais de 800 m acima do nível do mar. As vinhas são plantadas em encostas em
solo pobre sobre um estrato de ardósia. A subzona de Montánchez cobre 27 municípios
ao sul de Cáceres. O terreno compreende colinas e vales, com solo rico,
castanho e ligeiramente ácido a uma altitude de cerca de 625 m acima do nível
do mar. A subzona da Ribera Baja a oeste abrange 11 municípios e alcança a
fronteira portuguesa. Os solos são argilosos e aluviais a baixa altitude, cerca
de 250 m acima do nível do mar. A subzona Ribera Alta a leste cobre 38
municípios a uma altitude de cerca de 400 m. Os solos são arenosos e não muito
profundos. A subzona de Matanegra fica mais ao sul, cobrindo 8 municípios. Os
solos são semelhantes aos da Terra de Barros, enquanto o clima é mais fresco
devido à maior altitude de mais de 600 m acima do nível do mar. A Extremadura
tem um clima continental: verões quentes e secos quando as temperaturas podem
atingir os 40°C e invernos frios quando podem descer aos 0°C. A precipitação
varia de acordo com a subzona em questão e pode ser considerável nas áreas
montanhosas, como Cañamero. A precipitação média é de 450 mm / ano. Os
principais desafios enfrentados pelos produtores de uvas são as secas no verão
e as geadas na primavera. O Conselho Regulador do DOP autoriza o uso de 39
variedades de uvas diferentes, algumas das quais são nativas da região e não
são cultivadas no resto da Espanha. Cayetana blanca é a variedade branca mais
amplamente plantada. Tempranillo é a variedade tinta mais amplamente plantada.
Pardina
É uma casta espanhola de uva branca relativamente neutra, de
maturação precoce e baixa produção, com um interessante índice de glicerol que
confere maciez aos vinhos em que participa. É uma das principais variedades
cultivadas em Badajoz, sendo as suas características muito semelhantes às da
Airen , cultivada em La Mancha. Tem sido cultivada no DO Almansa, nas Ilhas
Canárias em quase todas as suas denominações, Manchuela, Ribera de Duero , La
Rioja , Toro, Txacolí de Vizcaya e Vinos de Madrid . Fora da Espanha, é difícil
encontrá-lo. É uma casta vigorosa, muito fértil desde os primeiros botões dos
rebentos, pelo que se adapta à poda curta. A planta é de maturação precoce o
que a torna especialmente sensível às geadas primaveris, vigorosa, bastante
resistente a doenças e com baixa produção. Os vinhos são de qualidade,
alcoólicos, saborosos, encorpados, de cor amarelo ouro e aroma poderoso, com um
sabor ligeiramente adocicado. No nariz é penetrante. Como casta, oferece bons
vinhos da Ribera del Duero , embora sejam excelentes para misturar com outras
castas devido ao seu elevado teor alcoólico e poder aromático. Apesar de ter
sido utilizado para a produção a granel, está a ser descoberto o seu potencial
para a produção de vinhos com aromas a ervas silvestres e frutos maduros. É a
casta mais abundante da Extremadura, embora também esteja presente na
Andaluzia.
E agora finalmente o vinho!
Na taça tem um lindo amarelo dourado com tons reluzentes,
brilhantes.
No nariz traz um toque frutado bem generoso, de frutas
brancas, cítricas, como pera, abacaxi, limão, o frescor e a leveza estão
presentes também.
Na boca é seco, as notas frutadas se reproduzem no paladar e
o destaque fica para a acidez: intensa, presente, proeminente, que faz do vinho
fresco, refrescante, com alguma complexidade, diria, apesar de ser um vinho
muito fácil de degustar. E talvez esteja falando uma bobagem,
mas, dada a sua acidez diria que esse vinho apresente alguma rusticidade, algo
indomado, selvagem, pouco trivial, mas muito interessante. Tem um final curto,
mas com a fruta perceptível.
Marqués del Camino me proporcionou novas perspectivas, novas
experiências, mostrando, corroborando a minha tese de que o universo de vinho é
vasto, infinito, um verdadeiro estímulo ao prazer da degustação, da
aprendizado, do acesso à novas culturas. Assim é o vinho, esse também é um dos
conceitos de terroir, da cultura e do comportamento de um povo. Um vinho
fresco, leve, com personalidade, com um apelo visual interessante, com o seu
amarelo dourado e toque frutado e de boa acidez que denuncia o seu frescor e
leveza. Um belo vinho que, no auge dos seus apenas R$ 29,90 surpreendeu pela
sua qualidade, correção e honestidade, entregando além do que valeu. Tem 12% de
teor alcoólico.
Sobre a Viña Oliva Sociedad Cooperativa:
Viñaoliva é uma cooperativa de segundo nível fundada em
Almendralejo em 1998. É composta por 25 cooperativas de primeiro nível. A
Viñaoliva fabrica e comercializa produtos resultantes do trabalho consciente e
profissional de 8.300 famílias de agricultores que cultivam azeitonas e uvas em
mais de 78.000 hectares de terras. As 15 adegas das cooperativas, 9 lagares de
azeite e 12 fábricas de processamento de azeitonas de mesa proporcionam a
Viñaoliva toda uma gama de instalações de produção, que também complementa com a
sua própria adega experimental e linha de engarrafamento, um lagar de azeite e
linha de engarrafamento, uma planta de concentrado de mosto de uva, uma
destilaria e dois laboratórios que possuem tecnologia de ponta. Tudo isso na
sede da Viñaoliva, em Almendralejo, em pleno bairro da Terra de Barros. Estas
instalações permitem à Viñaoliva oferecer produtos engarrafados por medida e
também a granel. A Viñaoliva Sociedad Cooperativa controla um total de 38.000
hectares de vinhedos. Isso representa 50% da produção da Estremadura e,
portanto, 5% de toda a produção nacional da Espanha. O foco está na exportação.
Os vinhos das cooperativas membros são vendidos a granel e como produtos de
marca própria engarrafados para múltiplos e supermercados. Já os vinhos próprios
da Viñaoliva são produzidos na sua adega experimental, inaugurada em 2008, com
linha de engarrafamento própria e homologação BRC. É onde os vinhos Zaleo são
feitos em pequenos tanques e com temperatura controlada. Os vinhos Zaleo
exprimem o terroir da Estremadura, extraindo todo o potencial das castas da
Estremadura e da Espanha. O foco da fruta e os taninos suaves combinam-se para
criar produtos encorpados, mas fáceis de beber.
Mais informações acesse:
http://www.vinaoliva.com/inicio_eng.html
Referências de pesquisa:
Sobre Ribera del Guadiana:
Wikipedia, em: https://en.wikipedia.org/wiki/Ribera_del_Guadiana
Portal Ribera del Guadiana, em: https://www.riberadelguadiana.eu/
Portal Diccionario del Vino, em: http://www.diccionariodelvino.com/index.php/ribera-del-guadiana-denominacion-de-origen-/
Sobre Pardina:
Portal PlantVid, em: https://www.plantvid.com/es/uva-de-vinificacion-blanca/pardina
Portal La Pagina de Bedri: https://www.bedri.es/Comer_y_beber/Vino/Variedades_de_uvas/Blancas/Pardina.htm