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quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Assobio 2014

 



Vinho: Assobio

Casta: Touriga Nacional, Tinta Roriz e Touriga Franca

Safra: 2014

Região: Douro

País: Portugal

Produtor: Herdade do Esporão

Teor Alcoólico: 13,5%

Estágio: 20% do lote estagiou durante 6 meses em barricas de carvalho francês

Adquirido: Evento de degustação de vinhos

Valor: R$ 66,00

 

Análise:

Visual: entrega um rubi escuro, com halos granada, além de lágrimas lentas e finas.

Nariz: traz aromas intensos de frutas vermelhas, como cereja, por exemplo, notas de especiarias e um discreto toque floral, de couro e carpete.

Boca: tem um sabor concentrado, austero, elegante e macio pelo tempo, com as notas frutadas em evidência, além de taninos domados e acidez correta. Tem um final persistente.

 

Produtor:


sábado, 12 de agosto de 2023

Adega de Vila Real Reserva 2019

 

Nossa! Há quanto tempo eu não degustava um vinho de uma das mais emblemáticas regiões demarcadas do planeta: o Douro! O Douro que nasce, em termos vitivinícolas, no Rio Douro e que entrega os vinhos mais importantes do mundo: os vinhos do Porto. O último vinho que degustei foi o Socalco Reserva da safra 2016 do Grupo Quinta do Gradil, da Parras Wines.

O Douro é a região demarcada mais antiga, talvez a mais importante de Portugal, a mais badalada (embora eu ame o Alentejo) e hoje me trará a alegria e o privilégio da degustação de um vinho depois de muito, muito tempo mesmo.

E quando falamos nessa região, que abriga tantos rótulos emblemáticos, importantes, como Barca Velha, por exemplo, associamos a vinhos de alto valor, se tornando inacessível. Mas descobri que sim, podemos degustar rótulos durienses a preços módicos, atraentes.

São os famosos vinhos, para muitos, afamados, de cooperativa. São acessíveis e por que não bons? Hoje será o dia do grande teste, da prova de fogo. Vinhos cooperativados, do Douro e a um preço “camarada”? Será que esses quesitos “harmonizam”? Vejamos...

Então sem mais delongas, vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio, claro, do Douro, e se chama Adega Vila Real Reserva, um tinto com o corte típico da região, que leva Tinta Roriz, Tinta Barroca, Touriga Franca e Touriga Nacional e a safra é 2019. Para não perder o costume, vamos de história, da rica história do Douro e a sua importância para Portugal.

O Douro e os seus solos

Nas encostas escarpadas, um rio banhava margens secas e inóspitas. Nele rolavam, noutros tempos, brilhantes pedrinhas que se descobriu serem d´ouro. Daí o nome dado a este rio: Douro. Aqui nasce a vinha e se produz o vinho, desde que os romanos, continuando e ampliando a ação nativa (moldavam os declives em socalcos) aproveitavam as povoações castrejas e dinamizavam o cultivo de cereais e da vinha nos terrenos de xisto, imprestáveis para outras culturas.

Foram encontrados na região vestígios de lagares e vasilhames para vinhos do século III, chegando mesmo a estimar-se que a presença da uva na região remonta há cerca de 4 mil anos.

Ao longo da história do Vinho do Porto, diversas crises surgiram entre produtores e comerciantes, opostos pela questão do que era o genuíno Vinho do Porto. Em 1756, o Primeiro-ministro Marquês de Pombal interveio, demarcando, no território duriense, os terrenos mais propícios e as quintas mais dotadas para o plantio das castas produtoras do vinho do Douro, tendo sido esta a primeira Região demarcada do mundo, através do alvará régio de instituição da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, de 10 de setembro de 1756.

Marco Pombalino

A designação “do Porto” provém da armazenagem e comercialização, a partir do porto existente no estuário do rio Douro, entre a cidade do Porto e Vila Nova de Gaia. O vinho era transportado ao longo do rio, pelos barcos rabelos, até aos armazéns de Vila Nova de Gaia, localização privilegiada pela proximidade do Atlântico e pelas suas reduzidas amplitudes térmicas, favorecendo o longo envelhecimento dos vinhos em cave.

Mas muito antes de qualquer presidente, rei ou imperador, o Douro era uma terra sem governo, habitada por povos primitivos, os primeiros a deixar seus vestígios na região. As pinturas rupestres do Vale do Côa são do período Paleolítico, há cerca de 20 mil anos. A presença da uva no Douro remonta há 4 mil anos (século XX a.C.), tendo sido encontradas sementes de uvas carbonizadas em estações arqueológicas da região. Muitas das ruínas pré-romanas, como o Castro de Cidadelhe, em Mesão Frio, datam dessa época.

Com a chegada dos romanos, no século I d.C., a agricultura intensificou-se, algo possibilitado pela rede de estradas e pelas numerosas pontes que o Império construiu. A uva começou a adquirir maior importância, existindo vilas agrárias dedicadas exclusivamente à produção de vinho, como foi comprovado na estação arqueológica do Alto da Fonte do Milho, no Peso da Régua.

A região continuou sendo ocupada continuamente. A partir do século V as terras do Douro foram os suevos e visigodos, que acabaram por se unir e cristianizar. Seguiram-se então os muçulmanos, depois do século VIII. Isso só deixou de acontecer após a implantação do reino português, a 5 de outubro de 1143 pelo Tratado de Zamora, quando se iniciou a construção da Sé de Lamego, sob a proteção de D. Afonso Henriques (1109-1185), o primeiro rei português, responsável pela independência deste país.

No século XIII, com a prosperidade comercial e econômica e ao transporte para o Porto através do rio Douro, a produção destes néctares continuou a se desenvolver. Em seguida veio o período das descobertas marítimas (séculos XV e XVI) e houve um aumento da circulação no rio, uma vez que as viagens requeriam grandes quantidades de vinhos fortes para saciar os marinheiros.

Entre os séculos XVII e XIX, a Inglaterra passa a ser o principal consumidor dos vinhos produzidos no Douro, o que resultou na assinatura do Tratado de Methuen, em 1703. Nesse tratado, o Reino Unido concedia direitos preferenciais aos vinhos portugueses, com a contrapartida de Portugal permitir a entrada livre dos tecidos britânicos no mercado nacional.

Estimulada pela procura inglesa crescente e preços altíssimos, a produção do Douro tenta se adaptar às novas exigências do mercado. Mas, como acontece sempre que a demanda é muito grande, o negócio rivaliza interesses, suscita fraudes e abusos. A qualidade dos vinhos cai por conta de misturas inadequadas. Assim, a partir de meados do século XVIII as exportações estagnam, enquanto a produção continua a crescer. Os preços caem e os ingleses decidem não mais comprar vinhos, acusando os produtores de promover adulterações.

Esta crise comercial conduzirá, por pressão dos interesses dos grandes vinhateiros do Douro junto ao governo do futuro Marquês de Pombal, à instituição da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, em 10 de setembro de 1756. Com ela busca-se assegurar a qualidade do produto, evitando adulterações, equilibrar a produção e o comércio e estabilizar os preços.

Marquês de Pombal

Também nesta época acontece a demarcação de terras, criando-se a primeira região vinícola regulamentada do mundo. O Douro Vinhateiro é demarcado por 335 marcos de granito com a designação de Feitoria, designação que referendava o vinho da melhor qualidade, único que podia ser exportado para Inglaterra.

O século XIX, no Douro, foi marcado pelas doenças que se abateram sobre as vinhas, como o oídio e a filoxera, contribuindo para o desenvolvimento da viticultura na região, devido a inovações biológicas e químicas, como forma de evitar essas doenças. Ainda no mesmo século, iniciou-se a construção das linhas ferroviárias, que facilitaram a ligação entre o Porto e a fronteira da Espanha.

A paisagem atual da região do Douro, caracterizada pelos socalcos (plataformas cortadas nos morros), foi construída durante a década de 70, com a aplicação de novas técnicas de plantio da vinha, em patamares, com muros de xisto delimitando cada nível. Esta alteração da paisagem pela atividade humana contribuiu para que o Alto Douro Vinhateiro fosse considerado Patrimônio Mundial da Humanidade, pela UNESCO, em 2001.

DO Douro

A Região Demarcada do Douro situa-se no nordeste de Portugal, na bacia hidrográfica do Douro e sua área é de 247.420 hectares, sendo que a vinha ocupa 43.608 hectares, sendo que somente 26.000 hectares estão autorizados a produzir vinhos do Porto.

O rio que lhe deu o nome nasce no alto da Sierra de Urbion, no interior da Espanha e se estende por 640 quilómetros até o seu encontro com o oceano Atlântico, cruzando a Região do Douro de leste a oeste. As vinhas são plantadas nas encostas em declive de 35° a 70° de inclinação, erguendo-se sobre o rio Douro e seus afluentes Corgo,Tavora, Pinhão, Tua, Torto, Côa e Sabor


A serra do Marão, que se eleva a 1500 metros no extremo oeste da região, assinala a mudança dos planaltos saturados pelo ar úmido e frio do Atlântico para um clima mediterrâneo montanhoso, quente e seco.

Originando sempre produções muito pequenas, o solo também permite uma maior longevidade da vinha e uma qualidade muito elevada dos mostos devido à conservação de umidade, adquirindo as uvas um maior teor de açucares e cor.

A imensidão do xisto duriense é completada na sub-região do Douro Superior com aflorações graníticas e no Baixo Corgo, com alguns solos de aluvião, mais produtivos nesta sub-região.

Cerca de 95% de todo o Vinho do Porto é cultivado neste xisto. Como existe apenas uma camada muito fina de terra argilosa, as vinhas são plantadas partindo a pedra até uma profundidade de um metro, onde as fissuras no xisto permitem que as raízes cheguem até 21 metros em busca de água. O solo é muito ácido, devido a um nível alto de potássio, tem baixo nível de cálcio e magnésio, apresenta excesso de alumínio, o que é tóxico para as raízes.

O Terreno irregular, com altitudes, junto ao rio Douro que podem atingir entre os 60 e os 140 m, e noutras zonas atingindo mais de 1000 m e inclinações com mais de 30%, só podem ser preparadas para plantação através do nivelamento de socalcos ou terraços, com ferramentas de ferro pontiagudas ou dinamite e, mais recentemente, bulldozers e tratores.

Essas excepcionais adversidades tornam a Região Demarcada do Douro numa das regiões mais caras e difíceis de trabalhar do mundo, mas é nessa mesma adversidade que nasce um grande vinho.

O papel desempenhado pelo Homem foi fundamental na criação dos socalcos, que são uma característica de toda a região. Antes da crise filoxérica, praga que surgiu na região pela primeira vez em 1862, as plantações eram feitas em pequenos terraços irregulares (geios), com 1-2 filas de videiras, suportados por paredes de pedra. 

Os socalcos eram ‘ rasgados ‘ nas encostas, de baixo para cima, as paredes eram construídas com as pedras tiradas do terreno, a sua altura dependia da inclinação da parcela e a movimentação da terra para preparar o solo para a plantação era pequena. A densidade de plantação rondava as 3.000 – 3.500 plantas/ha. Estes pequenos terraços foram posteriormente abandonados e constituem hoje os designados “moratórios”.

Mortórios

Após a filoxera, foram feitos novos terraços, mais largos e inclinados, com ou sem paredes de suporte, permitindo maiores densidades de plantação (cerca de 6 000 plantas/ha). Surge também nesta altura a vinha plantada em declives naturais, segundo a inclinação do terreno.

Nestes sistemas a mecanização é impossível pois não existem ou são escassas as estradas de acesso às vinhas e a inclinação lateral está associada a uma forte densidade de plantação. Este facto, traduzido pelos custos elevados que implica em termos de mão-de-obra, tem conduzido ao abandono gradual deste tipo de vinhas.

Socalcos

No fim dos anos 1960 e início dos anos 1970, um novo sistema surgiu na região. Trata-se dos patamares horizontais com taludes em terra, com 1-2 linhas de videiras e com densidades de plantação baixas, na ordem de 3.000 – 3.500 plantas/ha. Dado que necessita de parcelas de grande dimensão para a sua instalação, é um sistema que não está adequado a zonas de minifúndio.

Patamares

Mais recentemente, e como alternativa aos patamares, aparecem as vinhas plantadas segundo as linhas de maior declive do terreno (‘ Vinha ao Alto ‘). Com uma densidade de plantação semelhante à das vinhas tradicionais, na ordem das 4.500 – 5.000 plantas/ha, este sistema apresenta uma boa adaptação para pequenas parcelas, podendo ser o trabalho mecanizado pela utilização de guinchos ou, até declives na ordem dos 40%, por tração direta, com tratores de rastos.

O micro-clima da Região Demarcada do Douro deve-se ao seu natural enquadramento, a norte com a serra do Alvão e a sul com a Serra de Montemuro, formando-se um anel com uma altitude média de 1000 m, que protegem os vinhedos dos ventos úmidos do Atlântico e frios do norte.

A alta qualidade dos vinhos da região está diretamente relacionada com as elevadas temperaturas do ar, moderada precipitação e substancial percentagem de insolação direta no solo, graças à exposição a sul das encostas: as videiras criadas junto à encosta do rio e afluentes sofrem uma incidência de raios solares propícia à boa maturação das uvas; os solos conservam menor umidade que em terrenos planos, adquirindo as uvas uma maior concentração de açucares e de cor.

A Região demarcada do Douro estende-se desde Barqueiros até Barca D Alva, quase na fronteira com Espanha, estando dividida em três sub-regiões naturalmente distintas, não só por fatores climáticos como também sócio – econômicos: a oeste o Baixo Corgo, no centro o Cima Corgo, coração da região demarcada do Douro, e a leste o Douro Superior.

O total das vinhas implantadas na Região demarcada do Douro é de 43.608 hectares, com a produção anual de 1,69 milhões de hectolitros, que corresponde a 26% da totalidade dos vinhos produzidos em Portugal.

A grande diversidade de castas existentes no Douro, adaptáveis a diferentes situações de clima, demonstra as excelentes condições para a cultura da vinha existentes na região. Portugal é um dos países do mundo com maior quantidade de castas autóctones (nativas) e, dentro de Portugal, o Douro é a região com maior diversidade.

São uvas que só se encontram em território português – pelo menos com os nomes que ali recebem. Entre as tintas, destacam-se Tinta Amarela, Tinta Barroca, Tinta Roriz, Touriga Francesa, Touriga Nacional (a uva emblemática de Portugal) e Tinto Cão. As castas brancas predominantes são Malvasia Fina, Viosinho, Donzelinho e Gouveio.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela uma cor rubi profundo, intenso, escuro com discretos halos granada, com lágrimas finas, lentas e coloridos em profusão que desenham as bordas do copo.

No nariz traz um mix de aromas de frutas vermelhas e pretas bem maduras, com destaque para jabuticabas, amoras, ameixas pretas, algo de frutas silvestres, com toques de especiarias doces, couro, tabaco, estrebaria, com o carvalho bem integrado, graças aos doze meses em barricas, com um discreto floral.

Na boca é envolvente, estruturado, mas entrega algo doce. É cheio, volumoso, quente, mas macio e redondo, fácil de degustar, apesar de sua marcante personalidade. As notas frutas, como no aspecto olfativo, ganha protagonismo em completa sinergia com as notas amadeiradas, mais evidentes no paladar, aportando baunilha e chocolate. Tem taninos nobres e domáveis, com acidez correta e um final persistente.

Um típico vinho do Douro, um vinho que traz alguma personalidade, aliada a elegância, o refinamento, a maciez e a facilidade de degusta que o rótulo prima. Um vinho redondo, versátil, gastronômico, saboroso, mas volumoso. Um vinho definitivamente equilibrado. Um caráter regional que enaltece as características mais marcantes de uma região emblemática lusitana, o Douro. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Adega Cooperativa de Vila Real:

Falar da Adega Cooperativa De Vila Real é falar de competência e desenvolvimento. Competência porque consegue oferecer aos seus associados um bom preço pelas uvas que compra, pagando a tempo e a horas. A adega soube adaptar-se aos dias de hoje, com a ajuda e conhecimento do enólogo Rui Madeira e seu presidente.

Rui Madeira tem, há algum tempo a esta parte, vindo a desenvolver projectos na zona das Beiras e Trás-os-Montes e Douro. Exemplo disso é o seu projeto em Figueira de Castelo Rodrigo, com os vinhos “Beyras”, o trabalho na CARM, e a ajuda que presta ao nível da enologia na Adega Cooperativa de Vila Real.

Fundada em 1955, com o objetivo de defender os interesses dos pequenos viticultores da Região Demarcada do Douro, a Adega Cooperativa de Vila Real viu, desde cedo, ser reconhecida a sua qualidade, pois logo na década de 1960, os seus vinhos ganharam diversos prémios em concursos nacionais e internacionais.

Durante o século XVI, no reinado de D. Sebastião, os vinhos da “vylla de Vylla Reall e de seu Termo” beneficiaram de estatuto privilegiado, em que por Alvará Régio se defendia a sua livre circulação e comercialização em todo o Reino, ainda antes da delimitação da Região Demarcada do Douro.

Aqui se insere a Adega Cooperativa de Vila Real, que desde 1955 leva até ao consumidor o melhor do Vale do Rio Corgo – o Vinho, que deve as suas características únicas à especificidade da região onde se encontram as explorações dos seus associados.

De fato, as características edafoclimáticas do agreste Vale do Corgo (um dos mais importantes afluentes do Rio Douro) permitem a obtenção de vinhos com características únicas. A prova-lo estão as medalhas de ouro, prata e bronze que, desde a sua formação, esta Adega tem arrecadado.

Como resposta à necessidade de modernização, a Adega Cooperativa de Vila Real dispõe, desde 1992, de novas instalações que permitem a obtenção de vinhos de ainda melhor qualidade. Uma cave subterrânea situado a pouco mais de 50 metros da pista de aviação, onde estão quatorze tonéis em castanho, que têm cerca de 150 pipas, com a capacidade de 550 litros. Tais tonéis são peças artesanais datadas de 1939 e foram recuperadas das suas antigas instalações, onde nasceu a Sogrape, a empresa que os estreou.

Mais informações acesse:

http://www.adegavilareal.com/pt/#

Referências:

“Enopira”: https://enopira.com.br/douro-2/

“Viva o Vinho”: https://www.vivaovinho.com.br/mundo-do-vinho/regioes-vinicolas/douro-produzindo-vinhos-ha-mais-de-2-mil-anos/

“Clube dos Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/adega-cooperativa-de-vila-real-caves-vale-do-corgo/

“Avas Mafra Comunidades”: https://avasmafra.comunidades.net/adega-cooperativa-de-vila-real-crl

















 




 



sexta-feira, 28 de julho de 2023

Quinta de São João Reserva 2019

 

Nada melhor do que garimpar, buscar novas experiências sensoriais. Novas castas, novas regiões vitícolas. Tem sido maravilhoso viajar nessas novas percepções organolépticas e tenho feito de forma ávida, intensa, mas não podemos negligenciar os clássicos. Nunca!

Até porque os clássicos atingiram tal condição por serem exatamente especiais! A tradição e a credibilidade põem a mesa, na expressão literal da palavra. Os clássicos certamente construíram a minha predileção pela poesia líquida. 

Quem não começou a degustar um Merlot, Cabernet Sauvignon, Malbec e nunca se encantou? Quem não degustou um vinho de uma região emblemática e não gostou? Isso dada as devidas proporções, afinal nem tudo é sempre unânime.

E quando falamos de Portugal, não há como esquecer do quão tradicionais são as suas regiões! O que dizer de Alentejo, Porto, Madeira, Lisboa...? Não há como dissociar essas regiões de nosso imaginário e adega. E outra região lusitana, que eu não degustava um rótulo a exatamente um ano, volta a figurar em minha humilde taça: o Tejo.

Preciso degustar mais rótulos dessa clássica e importante região para a vitivinicultura portuguesa como o Tejo. Tenho a impressão de que a oferta de vinhos do Tejo não é tão grande, expansiva quanto regiões como Alentejo, Vinhos Verdes aqui em nossas terras, por exemplo. Mas há algumas boas dicas de rótulos e a preços competitivos, atraentes.

E esse produtor, a quem degustarei o primeiro vinho, tem um pouco do Brasil em sua história. Parte dos seus donos atuais são brasileiros e é gratificante ver apaixonados por vinhos investirem em terras lusitanas. Falo da Pinhal da Torre.

Todos os vinhos, de todas as propriedades do Pinhal da Torre são mantidos e trabalhados na Quinta de São João, uma adega histórica construída entre 1946 e 1947, sendo a única adega na região do Tejo pela sua construção moderna e estilo arquitetônico.

E o vinho que degustei e gostei carrega o nome da antiga e tradicional adega: Quinta de São João Reserva, em um blend com as castas Touriga Nacional (40%), Touriga Franca (30%), Tinta Roriz (20%) e Syrah (10%) da safra 2019. E para não perder o costume vamos de história, vamos de Tejo.

Tejo

Partilhada com vilas e olivais, a região do Tejo está localizada bem no coração de Portugal. Essencialmente ligada à produção de vinhos de elevada categoria, esta região é feita de apaixonados produtores, conhecidos por todos os cantos do país pela sua energia e determinação.

Homenageada pelo rio que marca a sua paisagem, a região foi, até 2009, conhecida como Ribatejo. Atualmente, a viticultura estabeleceu as suas raízes de vez e um conjunto de terroirs determinam a economia da região.

A história da Região do Tejo se confunde com a das suas Terras. Sob o comando do rio Tejo, influenciando economia, paisagem e clima, trata-se de uma das mais antigas regiões produtoras de vinhos de Portugal, cujo patrimônio remonta à presença Romana na antiga Lusitana.

A Região Vitivinícola do Tejo está localizada no centro de Portugal, a pouca distância de Lisboa. O rio não é o que separa, mas o que liga um território vitivinícola com 12.500 hectares de vinhas distribuídos por 21 municípios. Largo e imponente, o Tejo é o maior rio de Portugal. Como elemento primordial da paisagem, moldou a história dos que lá vivem, criam e trabalham, influenciando o clima e o terroir.

Tejo


História

A arte de produzir vinho, nesta região, remonta a 2000 a.C., quando os Tartessos iniciaram a plantação da vinha junto às margens do rio que lhe dá o nome. Reza a História que já Afonso Henriques fez referência aos vinhos da região no Foral de Santarém, datado de 1170, e que o Cartaxo teria exportado 500 navios com tonéis de vinho que, em apenas um ano, atingira o valor de 12.000 reis.

As histórias continuam pela cronologia fora, com o ano de 1765 a destacar-se pelo desaparecimento da vinha nos campos do Tejo, como consequência de uma ordem imposta por Marquês de Pombal.

O primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, tem uma ligação especial com os Vinhos do Tejo. Reza a história que o mesmo referiu estas produções na Foral de Santarém, que data de 1170. Mais tarde, no século XIII, dá-se o culminar do comércio das produções, com 30.000 pipas a serem enviadas apenas para a Inglaterra.

Muitos anos depois, em 1989, as produções passam a ser regulamentadas com as Indicações de Proveniência Regulamentada para vinhos da região e, em 1997, a Comissão Vitivinícola Regional do Ribatejo é fundada. Esta comissão é substituída, em 2008, pela Comissão Vitivinícola Regional do Tejo e seguiu-se da criação da Rota dos Vinhos do Tejo.

Muitas das quintas produtoras pertencem às famílias nobiliárquicas. Cada uma com a sua história, em comum têm o objetivo de produzir vinhos de qualidade, que expressem as caraterísticas da região. Como resultado, os vinhos incorporam tradições (o pisa pé, método de esmagar as uvas com os pés), o entusiasmo e empenho das suas gentes, a natureza que predomina nas terras ribatejanas e as mais modernas tecnologias.

A região do Tejo, nos dias de hoje, constitui cerca de 17 mil hectares de terreno, representando uma produção anual de 650 mil hectolitros, 10% da produção no país. Destes valores, 110 mil hectolitros são alvo de certificação, 90% dos mesmos estando distinguidos com a Indicação Geográfica Protegida (IGP), enquanto que 10% têm Denominação de Origem Controlada (DOC).

O Tejo tem alguns dos mais vibrantes e acessíveis vinhos de Portugal, oferecendo uma gama diversificada e diferenciada de estilos, para todos os gostos, orçamentos e ocasiões. A produção anual, que cresce safra após safra, atingiu, no último ano, 2021, cerca de 23,3 milhões de litros.

Características do terroir

Pelo clima moderado e a versatilidade dos solos, os terroirs do Tejo possuem um alto grau de adaptabilidade. Se por um lado os solos xistosos e as areias na margem esquerda do rio sofrem de fraca produtividade, os solos de aluvião e os argilo-calcários vieram salvar este panorama.

Devido às planícies que, periodicamente, são inundadas pelo rio, os solos de aluvião são extremamente férteis. Por outro lado, é nos solos argilo-calcários que se reúne a maior parte das vinhas e olivais da região devido à irregularidade dos campos, fruto da alternância entre montanhas e planícies.

Vamos tornar o assunto ainda mais interessante ao lhe confidenciar que a região se divide em três zonas dedicadas a diferentes tipos de produção: a Charneca, o Bairro e o Campo.

Charneca

Apesar desta zona não ser a mais produtiva, devido às características secas do seu solo e às temperaturas elevadas, estes terrenos ainda têm potencial na produção de vinhos brancos e tintos.

Localizados na margem esquerda do Tejo, com direção a sul estendendo-se até ao Alentejo, os solos são essencialmente arenosos, o que se reflete na complexidade das uvas e, consequentemente, dos vinhos.

Bairro

Este terroir distingue-se no cultivo de castas tintas e localiza-se a norte do rio Tejo. Pela sua divisão em solos argilo-calcários e xistosos, as videiras são capazes de estabelecer as suas raízes no terreno a um nível mais profundo.

Para além disso, as terras são consideradas altas, compostas tanto por colinas como por vastas planícies, o que confere uma riqueza inigualável aos solos que as constituem.

Campo

Exatamente nas margens do rio Tejo, estes terroirs são alvo de um clima mais marítimo que influencia na frescura e na acidez dos vinhos aqui produzidos. Porém, o que mais caracteriza estes solos são as inundações periódicas que lhes conferem um alto índice de fertilidade. Ideal para a produção de vinhos brancos, estes terrenos em planície exigem uma viticultura extremamente precisa.

As principais castas

Na Região do Tejo, a legislação permite a utilização de diversas castas, tanto nacionais como internacionais. As brancas mais comuns são Chardonnay e Sauvignon Blanc. Entre as tintas destacam-se as Cabernet Sauvignon e Merlot.

As castas tintas nativas do Tejo incluem a Touriga Nacional, a casta portuguesa por excelência, bem como a Trincadeira, Castelão e Aragonês. O aromático Fernão Pires e o Arinto produzem alguns dos vinhos brancos mais refrescantes da região.

Estas castas autóctones prosperaram em climas quentes e solos complexos da Região do Tejo, mantendo a elevada acidez natural, para produzir vinhos equilibrados com características de frutas ricas.

A Região dos Vinhos do Tejo é composta por um total de 17 mil hectares de terreno vinícola, que produzem anualmente cerca de 650 mil hectolitros, o que representa cerca de 10% do total de vinho produzido em Portugal. Destes cerca de 110 mil hectolitros são certificados, dos quais 90% são vinhos com Indicação Geográfica Protegida (IGP) e 10% são vinhos com Denominação de Origem Controlada (DOC).

E agora finalmente o vinho!

Na taça traz um rubi vivo, intenso, praticamente escuro, mas com um incomum brilho, além de uma viscosidade que mancha a taça, bem como lágrimas finas, lenta e em profusão, denotando personalidade e estrutura.

No nariz inicialmente se mostrou tímido, mas com o tempo foi evoluindo para frutas vermelhas e pretas maduras, com destaque para ameixas, amoras, framboesas, cerejas, com fortes notas de especiarias como noz-moscada, cravo, pimenta, além de um floral, cortesia da Touriga Nacional, bem como a madeira presente, mas bem integrada, graças a passagem de doze meses em barricas de carvalho.

Na boca se revelou complexo, como no olfato, entregando personalidade e alguma estrutura, bem como frutado, a fruta protagoniza também no paladar, fazendo do vinho saboroso e volumoso, cheio, com as notas amadeiradas mais presentes, trazendo algo de chocolate, caramelo, baunilha. As especiarias aparecem também e os taninos ainda presentes, vivos, consistentes, assim segue a acidez que goza de plenitude. Tem final persistente, longo.

Novidades, garimpos, propostas arrojadas, moderno e clássico. Todos os quesitos são consistentes quando falamos em vinho! Tudo é válido para quem ama a poesia líquida! Um vinho de traços modernos, mas que respeita o terroir do Tejo, trazendo o inquestionável quesito da tradição que construiu e ainda constrói a história dessa emblemática região. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Pinhal da Torre:

A exaltação da vinha e do vinho define as origens da Pinhal da Torre, uma empresa familiar detida pela família Saturnino Cunha, que há várias gerações se dedica exclusivamente à criação de vinhos exigentes e sofisticados.

A Pinhal da Torre é uma produtora de vinhos premium, de alta qualidade, caráter distintivo e artesanal. A paixão pelo vinho e a experiência adquirida ao longo de várias gerações, conduziu-nos à compreensão da singularidade de cada casta e do nosso terroir.

A Pinhal da Torre, tem, por isso, conquistado o reconhecimento internacional das suas marcas e alavancado a sua expansão global em cumprimento com os seus valores fundamentais:

1-      Compromisso da mais alta qualidade;

2-      Cumprimento de rigorosas práticas vitícolas e procedimentos de vinificação sustentáveis;

3-      Seleção exigente de fornecedores e distribuidores;

4-      Design e inovação no packaging, com utilização da linguagem Braille nos seus rótulos;

5-      Promoção de uma cultura de responsabilidade social corporativa.

Mais informações acesse:

https://pinhaldatorre.com/

Referências:

“Viva o Vinho”: https://www.vivaovinho.com.br/mundo-do-vinho/regioes-vinicolas/regiao-do-tejo-terra-de-vinhos-e-tradicao/

“Comissão Vitivinícola Regional do Tejo”: https://www.cvrtejo.pt/historia-do-vinho-e-da-regiao

“Conceito Português”: https://www.conceitoportugues.com.br/artigo/regiao-do-tejo

“Wines of Portugal”: https://winesofportugal.com/pt/descobrir/regioes-vitivinicolas/tejo/

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 




sábado, 27 de maio de 2023

Monte da Vigia Colheita Selecionada 2020

 

Não é uma grande novidade dizer que os vinhos da gigante e emblemática Alentejo é a minha preferida em Portugal. Não é novidade dizer também que, quando tive os primeiros contatos com os rótulos portugueses, foi com o Alentejo que a cortina da vitivinicultura lusitana se abriu.

O carinho e a predileção não são apenas com a região, com os seus vinhos e tipicidade, com o seu terroir, mas criou-se um vínculo afetivo, até por ter sido os primeiros a inundar as minhas humildes taças.

Evidente que a participação de mercado dos alentejanos no Brasil é grande e a possibilidade de um primeiro contato com esses vinhos é grande, porém, a continuidade das degustações configura-se em predileção, em carinho para com a ensolarada região alentejana.

E o que dizer do caráter de regionalidade? O apelo regional dos seus vinhos é imenso e os produtores parecem fazer questão de evidenciar isso, principalmente pelo fato de ter seus rótulos exportados para todo o mundo. São vinhos locais que ganharam o mundo e não tenha dúvida de que uma condição acarreta na outra.

E já que mencionei o caráter da regionalidade nada mais propício do que falar do vinho que degustei e gostei que se chama Monte da Vigia Colheita Selecionada com o corte de Alicante Bouschet e Touriga Franca, castas típicas do Alentejo, da safra 2020.

E como sempre costumo fazer antes de falar do vinho, é trazer histórias e já que falei também do caráter regional, nada mais propício falar da essência do nome “Monte da Vigia”.

Em 2015, o Grupo Parras Wines, que atua em diversas regiões vitivinícolas de Portugal, incluindo, claro, o Alentejo, expandiu seus vinhedos ao adquirir 230 hectares circundantes à Barragem da Vigia. Lá, em solos de xisto e com disponibilidade de água (fator determinante no Alentejo que é uma região bem seca e quente), foi implementado um vinhedo exclusivamente com castas tintas clássicas do Alentejo.

Trata-se de um projeto da vinícola Herdade da Candeeira, uma das mais tradicionais e importante da Parras Wines. Foi daí que surgiu a linha de rótulos da “Monte da Vigia”. Na região “Monte” é o nome que se dá a uma propriedade rural e suas instalações, com a proposta de elaborar vinhos de castas antigas com uma reinterpretação moderna. E na sequência das histórias vamos agora com o Alentejo.

Alentejo

Situado na zona sul de Portugal, o Alentejo é uma região essencialmente plana, com alguns acidentes de relevo, não muito elevados, mas que o influenciam de forma marcante. Embora seja caracterizada por condições climáticas mediterrânicas, apresenta nessas elevações, microclimas que proporcionam condições ideais ao plantio da vinha e que conferem qualidade às massas vínicas.

As temperaturas médias do ano variam de 15º a 17,5º, observando-se igualmente a existência de grandes amplitudes térmicas e a ocorrência de verões extremamente quentes e secos.

Alentejo

Mas, graças aos raios do sol, a maturação das uvas, principalmente nos meses que antecedem a vindima, sofre um acúmulo perfeito dos açúcares e materiais corantes na película dos bagos, resultando em vinhos equilibrados e com boa estrutura.

Os solos caracterizam-se pela sua diversidade, variando entre os graníticos de "Portalegre", os derivados de calcários cristalinos de "Borba", os mediterrânicos pardos e vermelhos de "Évora", "Granja/Amareleja", "Moura", "Redondo", "Reguengos" e "Vidigueira". Todas estas constituem as 8 sub-regiões da DOC "Alentejo".

História (Passado, presente e futuro)

A história do vinho e da vinha no território que é hoje o Alentejo exige uma narrativa longa, com uma presença continuada no tempo e no espaço, uma gesta ininterrupta e profícua que poucos associam ao Alentejo. Uma história que decorreu imersa em enredos tumultuosos, dividida entre períodos de bonança e prosperidade, entrecortados por épocas de cataclismos e atribulações, numa flutuação permanente de vontades, com longos períodos de trevas seguidos por breves ciclos iluministas e vanguardistas.

É uma história faustosa e duradoura, como o comprovam os indícios arqueológicos presentes por todo o Alentejo, testemunhas silenciosas de um passado já distante, evidências materiais da presença ininterrupta da cultura do vinho e da vinha na paisagem tranquila alentejana. Infelizmente, por ora ainda não foi possível determinar com acuidade histórica quando e quem introduziu a cultura da videira no Alentejo.

Mas ainda assim pode-se afirmar que a história do Alentejo anda de mãos dadas com a história de Portugal e da Península Ibérica, ex-hispânicos, assim como, pertencentes a época de civilizações romana, árabe e cristãs. Em muitos lugares no Alentejo encontrar provas da civilização fenícia existente há 3.000 anos.

Fenícios, celtas, romanos, todos eles deixaram um importante legado da era antes de Cristo, na região que é hoje o Alentejo. Uma terra onde a cultura e tradição caminham lado a lado. Os romanos deixaram nesta região o legado mais importante, escritos, mosaicos, cidades em ruínas, monumentos, tudo deixado pelos romanos, mas não devemos esquecer as civilizações mais antigas que passaram pela zona deixando legados como os monumentos megalíticos, como Antas.

Após os romanos e os visigodos, os árabes, chegaram a esta terra com o cheiro a jasmim, antes da reconquista, que chegaram com a construção de inúmeros castelos, alguns deles construídos sobre mesquitas muçulmanas e a construção de muralhas para proteger a cidade e as cidades que foram crescendo. Desde essa altura até hoje, o Alentejo tem continuado o seu crescimento, um crescimento baseado na agricultura, pecuária, pesca, indústria, como a cortiça e desde o último século até aos nossos dias, com o turismo com uma ampla oferta de turismo rural.

Os gregos, cuja presença é denunciada pelas centenas de ânforas catalogadas nos achados arqueológicos do sul de Portugal, sucederam aos fenícios no comércio e exploração dos vinhos do Alentejo. Por esta época, a cultura da vinha no Alentejo, apesar de incipiente, contava já com quase dois séculos de história.

A persistência de uma cultura da vinha e do vinho, desde os tempos da antiguidade clássica, permite presumir, com elevado grau de convicção, que as primeiras variedades introduzidas no território nacional terão arribado a Portugal pelo Alentejo, a partir das variedades mediterrânicas.

É mesmo provável, se atendermos os registros históricos existentes, que a produção alentejana tenha proporcionado a primeira exportação de vinhos portugueses para Roma, a primeira aventura de internacionalização de vinhos portugueses!

A influência romana foi tão peremptória para o desenvolvimento da viticultura alentejana que ainda hoje, dois mil anos após a anexação do território, as marcas da civilização romana continuam a estar patentes nas tarefas do dia-a-dia, visíveis através da utilização de ferramentas do quotidiano, como o Podão, instrumento utilizado intensivamente até a poucos anos.

Mas foi no aproveitamento das talhas de barro, prática que os romanos divulgaram e vulgarizaram no Alentejo, que a influência romana deixou as suas marcas mais profundas e até hoje é difundida, dada a devida proporção, por alguns abnegados produtores, e claro, a sua população.

Com a emergência do cristianismo, credo disseminado quase instantaneamente por todo o império romano, e face à obrigatoriedade da presença do vinho na celebração eucarística da nova religião, abriram-se novos mercados e novas apetências para o vinho. A fé católica, ainda que indiretamente, afirmou-se como um fator de desenvolvimento e afirmação da vinha no Alentejo, estimulando o cultivo da videira na região.

Com tantas influências culturais o Alentejo sofreu com algumas crises e a primeira se deu exatamente entre os cristãos e muçulmanos. Embora os mulçumanos tenham se mostrando tolerante com os costumes dos povos conquistados, consentindo na manutenção da cultura da vinha e do vinho, sujeitando-a a duros impostos, mas autorizando a sua subsistência, logo nasceu uma intolerância crescente para com os cristãos e os seus hábitos, manifesta no cumprimento rigoroso e vigoroso das leis do Corão.

Inevitavelmente, a cultura do vinho foi sendo progressivamente negada e a vinha gradualmente abandonada, reprimida pelas autoridades zelosas das regiões ocupadas. Com a invasão muçulmana a vinha sofreu o primeiro revés sério no Alentejo. A longa reconquista cristã da península ibérica, riscada de Norte para Sul, geradora de incertezas e inseguranças, com escaramuças permanentes entre cristãos e muçulmanos, sem definição de fronteiras estáveis, maltratou ainda mais a cultura da vinha, uma espécie agrícola perene que, por forçar à fixação das populações, foi sendo progressivamente abandonada.

Foi só após a fundação do reino lusitano, concorrendo através do poder real e das novas ordens religiosas, que a cultura do vinho regressou com determinação ao Alentejo. Poucos séculos mais tarde, já em pleno século XVI, a vinha florescia como nunca no Alentejo, dando corpo aos ilustres e aclamados vinhos de Évora, aos vinhos de Peramanca, bem como aos brancos de Beja e aos palhetes do Alvito, Viana e Vila de Frades.

Em meados do século XVII, eram os vinhos do Alentejo, a par da Beira e da Estremadura, que gozavam de maior fama e prestígio em Portugal. Desventuradamente foi sol de pouca dura! A crise provocada pela guerra da independência, logo secundada por nova crise despertada pela criação da Real Companhia Geral de Agricultura dos Vinhos do Douro, instituída pelo Marquês de Pombal como justificação para a defesa dos vinhos do Douro em detrimento das restantes regiões, com arranques coercivos de vinhas em muitas regiões, deu matéria para a segunda grande crise do vinho alentejano, mergulhando as vinhas alentejanas no obscurantismo.

A crise foi prolongada. Foi preciso esperar até meados do século XIX para assistir à recuperação da vinha no Alentejo, com a campanha de desbravamento da charneca e a fixação à terra de novas gerações de agricultores. Nasceu então mais uma época dourada para os vinhos do Alentejo, período que infelizmente viria a revelar ser de curta duração. O entusiasmo despertou quando se soube que um vinho branco da Vidigueira, da Quinta das Relíquias, apresentado pelo Conde da Ribeira Brava, ganhou a grande medalha de honra na Exposição de Berlim de 1888, a maior distinção do certame, tendo sido igualmente apreciados e valorizados vinhos de Évora, Borba, Redondo e Reguengos.

Pouco anos mais tarde, decorria o ano de 1895, edificou-se a primeira Adega Social de Portugal, em Viana do Alentejo, pelas mãos avisadas de António Isidoro de Sousa, pioneiro do movimento associativo em Portugal. Desafortunadamente, este período de glória viria a terminar abruptamente. Duas décadas passadas, já na primeira metade do século XX, sobreveio um conjunto de acontecimentos políticos, sociais e econômicos que contribuíram decidida e decisivamente para a degradação da viticultura alentejana.

António Isidoro de Sousa

Ao embate da filoxera, somou-se a primeira das duas grandes guerras mundiais, as crises econômicas sucessivas, e, sobretudo, a campanha cerealífera do estado novo que suspendeu e reprimiu a vinha no Alentejo, apadrinhando a cultura de trigo na região que viria a apelidar como "celeiro de Portugal". A vinha foi sendo sucessivamente desterrada para as bordaduras dos campos, para os terrenos marginais em redor de montes, aldeias e vilas, para as pequenas courelas em redor das povoações, reduzindo o vinho à condição de produção doméstica para autoconsumo. Em poucos anos o vinho no Alentejo, salvo raras exceções, desapareceu enquanto empreendimento empresarial.

Foi sob o patrocínio solene da Junta Nacional do Vinho, já no final da década de 1940, que a viticultura alentejana ganhou a primeira oportunidade de recobro, ainda que de forma titubeante.

O movimento associativo foi preponderante para o ressurgimento da atividade vitícola no Alentejo. Em 1970, sob os auspícios da Comissão de Planeamento da Região Sul, foi anunciado o estudo "Potencialidades das sub-regiões alentejanas", coadjuvado dois anos mais tarde pelo estudo "Caracterização dos vinhos das cooperativas do Alentejo. Contribuição para o seu estudo", do professor Francisco Colaço do Rosário, ensaios acadêmicos determinantes para o reconhecimento regional e nacional do potencial do Alentejo. Associando várias instituições ligadas ao setor e tirando proveito das sinergias criadas, o Alentejo conseguiu estabelecer um espírito de cooperação e entreajuda entre os diversos agentes.

Com a criação do PROVA (Projeto de Viticultura do Alentejo), em 1977, foram criadas as condições técnicas para a implementação de um estatuto de qualidade no Alentejo, enquanto a ATEVA (Associação Técnica dos Viticultores do Alentejo), fundada em 1983, foi arquitetada para promover a cultura da vinha nos diferentes terroirs do Alentejo.

Em 1988 regulamentaram-se as primeiras denominações de origem alentejanas, fundamento para o estabelecimento, em 1989, da CVRA (Comissão Vitivinícola Regional Alentejana), garante da certificação e regulamentação dos vinhos do Alentejo.

E agora finalmente o vinho!

Na taça um lindo e envolvente rubi intenso, escuro, fechado, com algum brilho e halos violáceos, com alguma viscosidade. Tem lágrimas finas e lentas, com profusão.

No nariz um pouco tímido, porém, ainda assim, se percebeu, ao abri-lo as notas de frutas pretas bem maduras, com destaque para ameixa, amora, groselha e cereja, com a proeminência de toques de especiarias, algo de herbáceo, diria e um amadeirado com alguma evidência, graças aos seis meses de passagem em barricas de carvalho, entregando um discreto tostado ao fundo, carvalho e talvez baunilha.

Na boca é seco, estruturado, corpo médio, com ótimo volume de boca, o álcool evidente certamente colabora para a sua untuosidade em boca. As frutas pretas maduras também protagonizam, como no aspecto olfativo, com taninos marcados, presentes e com alguma adstringência, talvez pela sua jovialidade, com acidez viva, salivante e um final cheio, gordo, amadeirado e persistente.

A Herdade da Candeeira é uma das mais antigas propriedades da zona da Serra d’Ossa, no Concelho de Redondo, no Alentejo. São terras que têm larga tradição na produção de uvas e de vinho, como prova a parcela de vinha mais antiga da vinícola, plantada em 1938. O ano de 2020 foi de produção elevada no Alentejo. A vinha da Vigia viveu um inverno seco e um verão com calor intenso, fazendo desse Monte da Vigia Colheita Selecionada um vinho aromático, expressivo e marcante, porém muito fazer de degustar pela sua elegância e equilíbrio. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Quinta do Gradil (Parras Wines):

A Parras Vinhos de Luís Vieira nasce no ano de 2010, atualmente com sede em Alcobaça, onde também está instalada a unidade de engarrafamento do grupo. Cinco anos depois, com a empresa consolidada e voltada para o mercado internacional, surge a necessidade de se fazer um reposicionamento de marca e “vesti-la” de outra forma, mais atual. É assim que no início de 2016 aparece a Parras Wines, mais jovem, mais flexível, e numa linguagem universal para que possa ser facilmente compreendida por todos, mesmo os que estão além-fronteiras.

Descendente de um pai e de um avô que sempre trabalharam com vinho, Luís Vieira é o único dono deste projeto. Aos cinco anos caiu num depósito de vinho e quase morreu afogado, não fosse um colaborador do avô na altura, que atualmente é seu, tê-lo salvo. Hoje, recorda com graça esse episódio e diz mesmo que simboliza o seu “batismo nestas andanças do vinho”. A empresa começa então a formar-se com terra própria na Região Vitivinícola de Lisboa, mais exatamente na freguesia do Vilar, Cadaval, com duzentos hectares de propriedade em extensão, sendo que 120 são hoje de vinha plantada.

Na mesma região do país, um bocadinho mais acima, na zona de Óbidos, a Parras Wines é também responsável pela exploração de 20 hectares de vinha que dão origem aos vinhos Casa das Gaeiras. Com sede em Alcobaça, nas antigas instalações de uma fábrica de faianças, deu-se início a uma nova área de negócio – uma Unidade de Engarrafamento de Bebidas, que hoje serve também de sede à Parras Wines e que se chama Goanvi. Cinco anos mais tarde, em 2010, constitui-se então a Parras Vinhos, hoje Parras Wines. Para além de terra na Região de Lisboa, o grupo começou paralelamente a produzir vinhos de outras regiões do país. Através de parcerias com produtores locais, a empresa consegue assim dar resposta às necessidades globais que iam surgindo do mercado, produzindo vinhos do Douro, Vinhos Verdes, Dão, Lisboa, Tejo, Península de Setúbal e Alentejo.

Mais informações acesse:

https://www.parras.wine/pt/

Referências:

“Clube dos Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/roteiros/vinhos-da-sub-regiao-da-vidigueira-denominacao-de-origem-alentejo/

“Rota dos Vinhos de Portugal”: http://rotadosvinhosdeportugal.pt/enoturismo/alentejo-2/borba/

“Clube dos Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/roteiros/vinhos-da-sub-regiao-da-vidigueira-denominacao-de-origem-alentejo/

“Rota dos Vinhos de Portugal”: http://rotadosvinhosdeportugal.pt/enoturismo/alentejo-2/borba/

“Vinhos do Alentejo”: https://www.vinhosdoalentejo.pt/pt/vinhos/historia-dos-vinhos/