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terça-feira, 19 de maio de 2020

Os formatos das garrafas


A produção de vinho é desde sempre entrelaçada com a necessidade de conservar o ‘‘sagrado néctar’’ num recipiente adequado que seja capaz de mantê-lo em boas condições e também de permitir e facilitar seu transporte. Depois de várias tentativas, a história acabou escolhendo a garrafa de vidro como padrão internacional. Ela teria tido origem nos meados do século XVII, mas foi somente um século depois que a garrafa começou a tomar a aparência atual; e mesmo tendo seus detratores (os adeptos do bag-em-box, os das latas, e até aqueles que querem substituir o vidro com plásticos ou em fibras tecnológicas), hoje em dia a garrafa de vidro continua sendo considerado o recipiente ideal para armazenamento e afinamento do vinho.

As partes das garrafas

O formato das garrafas é modelado para que suas características físicas sejam apropriadas para armazenagem e serviço do vinho. Cada garrafa é formada pelas seguintes partes: gargalo, pescoço, ombro, bojo e base.



A base é obviamente o apoio da garrafa. Ela possui frequentemente uma concavidade inferior (de diferentes volumes, dependendo do caso) que tem uma função útil, sobretudo para a decantação de vinhos maduros sujeitos a formação de sedimentos (borra). Com a garrafa em posição vertical os sedimentos irão se depositar ao longo do círculo criado pela concavidade e dificilmente poderão voltar em suspensão.

O clima é importante para a produção de boas uvas. Enquanto o calor é dos mais agastantes, o inverno é frio e chuvoso. O clima, com toda essa variação, traz as condições perfeitas para o plantio dos vinhedos e a produção de vinhos excepcionais.

O bojo é o corpo principal da garrafa, praticamente o local onde propriamente pegamos a garrafa para começar o serviço.

Os ombros também são importantes para o serviço e decantação do vinho. Eles servem como barreira contra os sedimentos acima citados durante o serviço. Quanto mais acentuados os ombros, mais a borra irá se esbarrar contra o vidro e mais dificilmente os depósitos sairão da garrafa.

O pescoço é logicamente a parte da garrafa que a partir dos ombros vai se estreitando, aquela que favorece o escorrimento do liquido de maneira mais fluida e rápida.

O gargalo é a parte final da garrafa, ficando bem acima do pescoço (seria a cabeça) e tem uma dupla utilidade. A primeira é que seu formato cilíndrico protuberante funciona como bloqueio de segurança, evitando que a garrafa escorregue da mão. A segunda é de dar maior força e estrutura no local onde é colocada a rolha. Ademais, no caso dos espumantes, ajuda a manter firme a gaiola metálica que segura a rolha.

A partir destas ‘’regras’’ existem garrafas de vinho de diferentes formas e podemos perceber que elas variam, muitas vezes, em função da região produtora, tipologia de vinho e variedade de uva utilizada.

Formatos das garrafas clássicas




Garrafas tipo Bordeaux (01), possuem corpo reto, com ombros definidos. Podem ser verdes ou transparentes no caso de vinhos brancos. Um dos tipos de garrafas de vinho mais tradicionais possui bojo cilíndrico, ombros bastante acentuados e pescoço não muito comprido. Serve tanto os vinhos tintos quanto os brancos, mas principalmente Cabernet Sauvignon e Merlot, originários da região de Bordeaux. A coloração pode ser verde ou transparente.

Vinhos do Loire (França) são envazados em garrafas tipo Borgonha (02). Possuem ombros mais suaves e atenuados, com bojo mais largo. Usado mundialmente para sinalizar uvas típicas de Borgonha, como a Pinot Noir e Chardonnay. A cor predominantemente é o verde.

Garrafas Alsácia (03) é típica da região Alsácia na França. Não possui ombros e são bem compridas. Os vinhos alemães seguem este formato também, podendo ser apresentados nas cores verde, preto, caramelo e azul.

Garrafas do tipo Champagne (04) são típicas de Epernay e Reims na França, mas são utilizadas para acondicionar praticamente todos os tipos de espumantes produzidos ao redor do mundo. Muito semelhante à Borgonhesa, mas com ombros mais baixos e longo pescoço. Possui vidro mais espesso para conter a pressão interna.

Garrafas Francônia (05) são típicas de Franken na Alemanha. Daí a origem do nome Francônia. Além de vinhos alemães, essas garrafas são utilizadas também em diversos vinhos portugueses, incluindo vinhos verdes produzidos na região do Minho.

Vinhos Madeira ou Jerez da Espanha, tipicamente possuem formatos de garrafas conforme a garrafa 06 (ver figura). Muitas regiões na Espanha, utilizam garrafas parecidas com as Bordeaux, porém mais longas e com leve inclinação no bojo (07). Os vinhos do Porto, produzidos em Portugal, possuem formatos parecidos com as garrafas de vinhos Jerez e Madeira, sendo que são um pouco menores e seus formatos variam um pouco de produtor para produtor (08 e 09).

Garrafas Contemporâneas:

Muitos formatos são inventados por produtores para promover seus produtos. A garrafa, no entanto, definitivamente não indica a qualidade de um vinho. Há garrafas típicas de vinhos populares na França (13) ou garrafas com desenhos, como o vinho Italiano chamado PesceVino, que possui a garrafa com formato de peixe.

Garrafas para vinhos de sobremesa: 

Muitos vinhos de sobremesa são envazados em garrafas com 375 ml (15) e 500 ml (16). Geralmente são vinhos de colheita tardia, ou feitos a partir de uvas botritizadas. Alguns vinhos do Porto, Jerez, Tokaji e Marsala também podem vir em garrafas como estas. Muitas vezes os vinhos de sobremesa são apresentados em garrafas menores, porque são geralmente vinhos mais alcoólicos, que devem ser ingeridos em menor quantidade. Como estes vinhos são elaborados com uvas especiais e apenas em algumas safras, outro fator que contribui para a redução do conteúdo, é o preço.

Tamanhos especiais:

Hoje em dia, é comum encontrarmos garrafas com menor capacidade, para serem consumidas por uma ou no máximo duas pessoas. A vantagem é que não há desperdício de vinho, que oxida rapidamente após sua abertura. Garrafas com capacidade de 375 ml são chamadas de meia garrafa (17 e 18). Garrafas com 187,5 ml são chamadas de quarto de garrafa (19).  

Qual a diferença entre garrafas brancas e verdes?

Embora a maioria das garrafas de vinhos tintos seja verde e as de vinho branco e rosé seja transparente, a cor pode variar de acordo com as tradições de cada região (as do Reno, região da Alemanha, por exemplo, são marrons). Mas isso é exceção. Verde porque impede o contato direto da luz com o vinho (manter a distância da iluminação, natural ou artificial, é um dos princípios do bom acondicionamento da bebida se quiser preservar a qualidade dela por anos). Os vinhos acondicionados em garrafas transparentes – brancos e em rosés, em sua maioria – são feitos para consumo rápido, por isso a questão do contato com a luz não é tão relevante. É comum encontrar alguns brancos em garrafas verdes, e isso pode ser um indicativo sobre o potencial de guarda do vinho.

Por que o tamanho padrão de garrafas de vinho é 750 ml, e não um litro?

A gigantesca maioria das garrafas de vinho é fabricada no tamanho padrão de 750 ml – não nos outros 13 tamanhos existentes. Mas acredite, elas podem variar de 187 ml até 30 litros. Existem muitas lendas sobre o porquê do padrão ser 750 ml, mas o mais aceito é que o tamanho foi definido numa época em que os vinhos de Bordeaux eram comercializados pelos ingleses na própria barrica (ainda não eram vendidos na garrafa!). Além de eles não utilizarem o mesmo sistema métrico da França (um galão correspondia a 4,5 L), as barricas bordalesas tinham desde aquela época 225 litros, o que resulta em um total de 300 garrafas de 750 ml.


Para que serve o buraco no fundo das garrafas de vinho?

O buraco no fundo da garrafa, definitivamente, não deveria ser utilizado para ajudar na hora de servir o vinho em taça. Apesar de muitos o utilizarem com essa finalidade, foi criado para ajudar a empilhar as garrafas em um contêiner e facilitar o transporte da bebida por longas distâncias.

Existem garrafas de 30 litros de vinho? Quais são todos os tamanhos de garrafas de vinho?

Sim, existem garrafas de vinho com 30 litros de capacidade. E elas são raríssimas. A maioria das garrafas é feita em tamanho de 750 ml. Em outros tamanhos, é mais comum encontrar 375 ml ou 1,5 L. Os tamanhos menores surgiram para evitar a oxidação de um vinho para consumidores que não vão acabar com uma garrafa. Já as de tamanhos grandes são mais comuns em festas e celebrações (não à toa, é mais comum encontrar Champanhes em tamanhos maiores do que vinhos de outras regiões).

Confira abaixo uma lista com os diferentes tamanhos de garrafas de vinho (e quantas taças de vinho cada garrafa serve!):

Um quarto: 187 mL (serve 1,25 taça)
Meia garrafa: 375 mL (serve 2,5 taças)
Sobremesa: 500 mL (serve 3,3 taças)
Garrafa: 750 mL (serve 5 taças)
Magnum: 1,5 L (serve 10 taças)
Jeroboam (Jeroboão): 3 L (serve cerca 20 taças)
Réhobam (Roboão): 4,5 L (serve 30 taças)
Imperial ou Matusalém: 6 L (serve 40 taças)
Salmanazar ou Mordecai: 9 L (serve 60 taças)
Baltazar: 12 L (serve 80 taças)
Nebuchodonosur: 16 L (serve 100 taças)
Melchior: 18 L (serve 120 taças)
Salomão: 20 L (serve 133 taças)
Melquisedeque: 30 L (serve 200 taças)

Certamente, os formatos das garrafas contribuem para a beleza e apresentação do vinho, em conjunto com seus rótulos, rolhas, etiquetas e cápsulas, mas devemos tomar muito cuidado para que não sejamos induzidos a beber um vinho de baixa qualidade só porque foi envazado em uma garrafa bonita. Lembre-se: Não beba rótulo. Beba vinho!

Basicamente, as formas das garrafas de vinhos variam em função da região produtora, tipologia de vinho e variedade de uva utilizada. Reconhecê-las permite dizer muito sobre os conteúdos, sem sequer a leitura do rótulo. Um bom exercício para quem está começando a se inteirar dos mistérios do mundo dos vinhos, não acha?