Uma coisa é óbvia no universo dos vinhos: você precisa, deve
seguir a sua intuição quando vai escolher um rótulo, seguir seu coração! É um
leve, admitamos, para a vida em todos os seus aspectos. Claro que você deve se
abastecer de todas as informações necessárias para “construir” as suas
predileções, tais como: região produtora, proposta do vinho, casta etc. Tudo
isso ajuda na sua construção sensorial. Mas há aqueles casos, digamos raro, em
que você absorve, recebe dicas de outras pessoas ou aqueles famosos “reviews”,
as resenhas de vinhos que explodem na grande rede, inclusive esta que você lê
agora.
Pode se considerar um risco? Sim, e dos grandes! Mas como
escolher um vinho é um risco constante e como somos enófilos e como tal,
buscamos avidamente novas experiências, precisamos as vezes, assumir certos
riscos para espantar de vez a temível zona de conforto que nos limita e muito.
E o vinho que escrevo eu busquei a informação, as referências de onde menos se
deveria esperar: desses famigerados aplicativos de vinhos, com aquelas médias,
aquelas notas que faz de um vinho ser ou não cotado. Mas o que é isso? Um vinho
ser ou não cotado por frias notas? Sim! E eu fiz parte disso por algum tempo,
até me “libertar” disso para sempre!
Mas esse rótulo argentino admito, me chamou a atenção! Os comentários,
sejam eles bem elaborados ou pobres de informação, enaltecia de forma
surpreendente a sua qualidade X custo. Surpreendente pelo fato de ter visto
esse vinho em um supermercado perto de minha casa por um valor arrebatador e
atraente: R$ 22,90!
E claro o fator preço também exerce uma forte influência de
compra! Diante dos elogiosos comentários, embora oriundos de aplicativos não
muito confiáveis, precisava conferir e logo me pus pronto para ir ao
supermercado para compra-lo. Não demorou muito para tê-lo em minhas mãos e na
minha adega. E não demorou muito também para degusta-lo, a ansiedade salutar da
degustação tomava conta dos meus pensamentos.
O dia tão esperado chegou enfim. A rolha escapou da garrafa e logo inundei de expectativa a minha taça e, diante de sua simplicidade, o vinho explodiu em qualidade. Era surpreendente o que o vinho entregou! Porém antes de entrar nos pormenores do vinho, nada mais apropriado, evidente, é apresenta-lo. O vinho que degustei e gostei veio da região emblemática de Mendoza, na Argentina, um Chardonnay, a rainha das uvas brancas, e se chama Estancia Mendoza Chardonnay da safra 2017.
Esse não foi o meu primeiro Chardonnay argentino, porém mais
um que me chamou e muito a atenção. E quando tive o meu primeiro contato com um
Chardonnay dos hermanos eu não sabia, jamais esperaria que a Argentina
produzisse Chardonnays de tamanha qualidade e excelência, é a “síndrome de
Malbec”, afinal a Argentina tem muito a oferecer na viticultura. E a Chardonnay
é a segunda entre as tradicionais variedades brancas da Argentina. É muito
apreciado pela sua capacidade de amadurecer bem e produzir uma vasta gama de
vinhos, desde as bases para os espumantes aos corpulentos varietais fermentados
em barricas de carvalho, passando por vinhos frescos e elegantes sem
envelhecimento em carvalho. Seus descritores primários mais frequentes são
frutas tropicais e maçãs. E Mendoza se destaca entre as regiões argentinas na
produção de Chardonnay com cerca de incríveis 82% de produção desta cepa no
país. Diante disso cheguei a óbvia conclusão de que temos muito a explorar na
Argentina no que tange a rainha das uvas brancas.
E agora o vinho!
Na taça apresenta um amarelo palha com discretos reflexos
violáceos, de um brilho intenso e vívido.
No nariz explode um aroma frutado com destaque para frutas
brancas e tropicais, tais como melão, abacaxi, maça verde bem como frutas
cítricas que lhe conferiu um frescor e jovialidade incríveis, além de notais
florais que contribuiu para essa percepção de frescura.
Na boca é seco, vivaz, descontraído, a fruta é percebida como no aspecto olfativo, com um surpreendente volume de boca, com uma baixa acidez, como é de costume da Chardonnay, mas que não afasta o frescor do vinho, com um final alegre, persistente e um retrogosto frutado.
Um vinho que está longe daquele Chardonnay chileno, por
exemplo, que é mais encorpado, pesadão em alguns casos, sendo muito
despretensioso, mas saboroso e diria com alguma personalidade. Aquele vinho que
harmoniza com frituras e quitutes mais simples, uma refeição, carnes brancas
leves ou simplesmente com um dia de calor, na beira da piscina ou simplesmente com
uma informal conversa com bons amigos ou simplesmente sozinho em um simples dia
que, com esse belo vinho, se torna em um especial dia de celebração e ode a
nossa poesia líquida. A personalidade tem que ser parte integrante do enófilo
na escolha do vinho, mas se permitir ouvir ou ler o que o outro tem a dizer
sobre determinados vinhos também pode trazer boas e agradáveis surpresas e o
Estancia Mendoza Chardonnay, no auge da sua simplicidade, entrega o que há de
melhor do terroir de um dos países mais emblemáticos na produção de vinhos: a
Argentina, sendo contundente prova de que não é apenas o país da Malbec. Teor
alcoólico de 12,5%.
Sobre a Bodega Estancia Mendoza:
A Bodega Estância Mendoza é a divisão premium de um dos
principais grupos de vinhos na Argentina, o grupo Fecovita. Estancia Mendoza
S.A. é um estabelecimento vitivinícola localizado no Município de Tupungato,
nas terras altas de Mendoza. Nesta região, conhecida como o Vale do Uco e
reconhecida como uma das melhores vinhas do mundo é um local privilegiado para
o cultivo de vinhas e a elaboração de vinhos de alta qualidade. Localizado a
1.100 metros acima do nível do mar, possui solos pedregosos de boa drenagem,
onde as lavouras são rústicas devido ao verão rigoroso e invernos com muita
neve, e recebem a irrigação do degelo mineralizado da grande cordilheira dos
Andes.
Os dias quentes e as noites frias criam condições para que a
amplitude térmica atinja os 20ºC num dia, o que combinado com a constante
irradiação solar na primavera e verão austral, proporcionam as condições ideais
para a obtenção de excelentes uvas, matriz indiscutível para um ótimo vinho. Com
uma adega muito moderna a vinícola consegue produzir ótimos vinhos com um custo
muito competitivo. A gama de vinhos possui cinco níveis: Bivarietais,
Varietais, Roble, Reserva, Single Vineyard e a linha Los Helechos. A vinícola
também possui experiências de enoturismo com um hotel de alto luxo localizado
no meio dos vinhedos.
Mais informações acesse:
https://estanciamendoza.com.ar/pt/
Referências para pesquisa:
“Wines of Argentina”: https://www.winesofargentina.org/en/varieties/chardonnay
Degustado em:
2019