O que vem a mente quando falamos na emblemática casta
Sangiovese: a Toscana, os vinhos que mais eleva que exporta o nome da Itália
vitícola para o mundo, os Chiantis, os Brunelos de Montalcino etc.
Definitivamente a Sangiovese é uma jóia da Itália, a uva mais produzida, mais
cultivada daquele país, uma casta icônica que personifica a história, a cultura
vitivinícola da Itália. Mas não se enganem prezados leitores, não é só da
Toscana que vive a fama da velha e necessária Sangiovese. Por uma questão
geográfica a região, pouco conhecida, menos comentada em terras brasileiras, de
Emilia Romagna, mais ao sul da Itália, faz divisa com a Toscana e é tida como
uma das grandes produtoras da cepa, mas com algumas características mais
peculiares. Confesso que desconhecia a importância dessa região para com a
Sangiovese, embora a casta esteja em toda a Itália, transformando-a em uma das
mais cultivadas e adoradas entre os italianos, sendo responsável, inclusive por
10% da região vitícola do país. Então, como sempre, e isso me faz ter orgulho
de mim mesmo, pretensões à parte, decidi comprar um vinho italiano 100%
Sangiovese da região de Rubicone, localizado em Emilia Romagna. Claro que não
são os Chiantis, os Brunelos da vida, mas quem se importa? Vamos de novidades,
vamos investir em coisas pouco ortodoxas e deixar de trafegar, por um instante,
da zona de conforto dos emblemáticos.
E o ímpeto e avidez em ler sobre a Sangiovese fez com que, em
uma curiosa conexão, encontrar, em mais uma de minhas inúmeras incursões aos
supermercados, um rótulo de Sangiovese da região de Rubicone, na região de
Emilia Romagna. E resolvi degusta-lo, sem mais delongas. E não é que o vinho
surpreendeu! Então apresentemos o vinho que degustei e gostei que desembarcou
de Emilia Romagna, de Rubicone, para meu deleite, em minha taça, e se chama
Montecchio, um IGT (indicação Geográfica Típica) da casta Sangiovese, da safra
2018. Então, como toda grande e inspiradora novidade, sempre vem com doses
cavalares de informação e história, falemos de um pouco da região, Emilia
Romagna e Rubicone, da Sangiovese na região de Romagna e um pouco da magnífica
casta que é sinônimo da Itália, a Sangiovese.
Emilia Romagna
A Emília-Romanha (em italiano Emilia-Romagna; em
emiliano-romanholo Emégglia-Rumâgna) é uma região situada no Norte da Itália
com quatro milhões de habitantes e 22 124 km², cuja capital é Bolonha.[1][2][3]
Limita-se ao norte com o Vêneto e Lombardia, a oeste com o Piemonte e a
Ligúria, ao sul com a Toscana e com a República de São Marinho. Esta região é
composta da união de duas regiões históricas: a Emilia, que compreende as
províncias de Placência, Parma, Reggio, Módena, Ferrara e parte da província de
Bolonha, com a capital, e a Romanha, com as restantes províncias de Ravena, Rimini,
Forlì-Cesena e a parte oriental da província de Bolonha. A Romanha histórica
compreende também territórios das Marcas, da Toscana e da República de San
Marino. O centro da Itália nos reserva algumas fantásticas surpresas. Como são
regiões relativamente novas, a variedade é bastante grande e a qualidade
depende do pioneirismo de alguns ótimos produtores. A região Emilia-Romagna
sempre foi mais conhecida pelos populares vinhos Lambrusco, mas, atualmente
alguns talentosos produtores têm feito surgir aqui também alguns dos melhores
vinhos tintos e brancos da Itália.
Emilia-Romagna conta com a presença de ventos frios e
delicados em suas colinas. A região italiana dá origem a um vinho tinto com a
uva Sangiovese muito apreciado pelos italianos, embora seja pouco conhecido
pelos estrangeiros. A região sofreu um sério problema de identidade com relação
aos seus vinhos na época do fascismo italiano, graças ao líder do regime no
país, Benito Mussolini, que alterou o mapa da Itália, separando a região de
Romagna da Toscana em meados de 1920. Emilia-Romagna é, na verdade, a
combinação entre duas regiões muito distintas quando o assunto se refere à
produção de vinhos. Emilia, localizada mais ao norte em direção aos Apeninos e
à Lombardia, é conhecida principalmente pelas denominações de origem para
produtos alimentícios. Romagna, situada mais ao sul, na fronteira do mar
Adriático, e cujas terras já em parte à Toscana, produz vinhos elegantes e
elaborados. Atualmente, com a consolidação de uma única região produtora,
Emilia-Romagna uniu os dois tipos de produção, tornando-se referência em vinhos
e também na elaboração de produtos alimentícios relacionados. Em 1962, foi
criado o Consórcio de Vinhos da Romagna. Sobre suas regras encontram-se 7 empresas,
87 produtores e 9 cooperativas. Através desse trabalho eles conseguiram, em
1967, que os vinhos elaborados na região italiana recebessem uma Denominação de
Origem Controlada (DOC). Estão inseridos na DOC os vinhos produzidos a partir
da uva Sangiovese cultivadas nas colinas de Imola até as plantadas na cidade de
Rimini.
A Sangiovese na Romagna
A proximidade física com a Toscana faz com que os vinhos
Sangiovese da Romagna sejam frequentemente comparados com seus vizinhos. Mas
eles têm estilo e vigor próprios. Sopra um vento frio e delicado nas suaves
colinas da Romagna. Essas terras, em algumas zonas bastante férteis e, em
outras, um pouco mais pobres, permitindo o cultivo das vinhas, produzem um
tinto da Sangiovese muito apreciado pelos italianos, embora pouco conhecido dos
estrangeiros, que faz dele o acompanhamento perfeito para a gastronomia da
região, a mais rica de toda a Itália. A Emilia-Romagna é, na verdade, a
combinação de duas regiões que se distinguem muito pelo que produzem. A Emilia,
mais ao norte e em direção dos Apeninos e da Lombardia, é conhecida pelas
denominações de origem para produtos alimentícios, e a Romagna, mais ao sul com
um território que termina no mar Adriático, é a região dos vinhos mais
elaborados e elegantes, cujas terras já pertenceram em parte à Toscana, sua
vizinha ao sul. Foi Benito Mussolini quem alterou o mapa da Itália e separou as
terras da Romagna das da Toscana, na década de 1920, criando um problema de
identidade para os vinhos da região. As uvas Sangiovese plantadas em ambas as
zonas têm uma raiz comum na região entre Florença e Bologna, mas, com o passar
dos anos, os toscanos foram fazendo seleções de clones até descobrirem os que
melhor se adaptavam ao seu território, menos fértil e mais pedregoso, e chegarem
aos especialíssimos Brunellos de Montalcino (preparados à partir da variedade
Sangiovese Grosso). Durante muito tempo os toscanos acreditavam que a variedade
usada na Romagna era inferior, mas as pesquisas dos ampelógrafos descobriram
que a variedade de grãos mais delicados (Sangiovese Piccolo) da zona mais ao
norte era ainda mais característica da cepa do que alguns clones toscanos. A
grande diferenciação de qualidade devia-se ao tratamento dado às uvas e ao
terroir onde elas estavam inseridas. Os vinhos produzidos nessas regiões seguem
regulamentos que não permitem a utilização de outras uvas além da Sangiovese em
razão superior a 15%, a produtividade máxima de 11 toneladas por hectare (que
pode ser muito menor de acordo com o estilo do vinho) e a classificação em três
tipos, o Novello (vinho jovem com, ao menos, 50% de maceração carbônica), o
Superiore e o Riserva. Em meados da década de 1960 que a Romagna começou a
levar seus vinhos mais a sério (como já faziam os vizinhos do sul) e criou, em
1962, o Consórcio dos Vinhos da Romagna. Sob suas regras estão nove
cooperativas, 87 produtores e mais sete empresas. Com esse trabalho eles
conseguiram que, em 1967, seus vinhos obtivessem uma Denominação de Origem
Controlada. Estão inseridos nela os vinhos feitos com as uvas Sangiovese
cultivadas desde as colinas de Imola, no extremo oeste, até o extremo leste, na
cidade de Rimini, que inclui as províncias de Bologna, Ravenna, Forli-Cesena e
a própria Rimini. Ao longo das décadas, mesmo com todo o controle e fiscalização
implementados pelo Consórcio, os bons vinhos da Romagna ainda não conseguiam
atingir o potencial que seus produtores sabiam que eles tinham. Assim, nasceu
em 2001 o "Convito di Romagna", uma espécie de consórcio voluntário e
auto-patrocinado que une oito produtores comprometidos com a alta qualidade dos
produtos. Os participantes são as vinícolas Calonga, Drei Donéa (Tenuta La
Palzza), Fattoria Zerbina, Stefano Ferrucci, Poderi Morini, San Patrignano, San
Valentino e Tre Monti, que entenderam que, para uma área de produção ser
valorizada, é preciso que os produtores estejam unidos com propósito comum. Da
mesma forma que o Convito di Romagna vem trabalhando para reforçar a imagem e
controlar a qualidade dos vinhos produzidos com a Sangiovese, o Consorzio Vini
di Romagna resolveu estreitar ainda mais as suas regras, e também reposicionar
a DOC, mudando-a de nome. A partir da colheita de 2011, a DOC passará a se
chamar Romagna Sangiovese.
Sangiovese
Pense num bom vinho tinto que lembre a Toscana. Pensou? Que
rótulo veio à mente? Chianti? Carmignano? Brunello di Montalcino? Rosso di
Montalcino? Pois bem, todos eles têm algo em comum, um “quê” a mais que os
torna tão únicos e especiais. Este “quê” chama-se Sangiovese, uma uva nascida,
criada e crescida na Itália. Fruto possivelmente do cruzamento das castas
Calabrese Montenuovo e Ciliegiolo, a Sangiovese também é conhecida na Toscana,
onde é ícone da vitivinicultura, com os nomes de Sangioveto, Brunello, Prugnolo
Gentile ou Morellino. Algumas teorias em torno da origem da casta datam seu
cultivo desde a vinicultura romana, e parte disso se dá por conta do nome dela.
Sangiovese vem do latim “Sanguis Jovis”, ou seja, sangue de Júpiter. Outros
garantem que ela já existia desde a civilização Etrusca, que viveu onde hoje é
a Toscana entre 1.200 e 700 a.C. De qualquer maneira, o primeiro documento
encontrado a respeito da uva é de 1590, na própria Toscana. Seu reconhecimento,
no entanto, só aconteceu depois do século XVIII, quando passou a ser uma das
castas mais plantadas da região, onde encontra condições perfeitas de
crescimento. Foi na Toscana que, em meados do século XIX, o agricultor Clemente
Santi isolou suas vinhas para uma prática pouco comum na época: fabricar vinhos
varietais de Sangiovese, que envelheceriam por um período considerável. Em
1888, seu neto Ferruccio Biondi-Santi, um veterano soldado que lutou ao lado de
Giuseppe Garibaldi, lançou a primeira versão moderna do Brunello di Montalcino,
um vinho que descansou por mais de uma década em barris de madeira. O vinho
agradou tanto os toscanos que, nas primeiras décadas do século XX, já era
aguardado ansiosamente por críticos e consumidores locais. Ao redor de 1950, a
fama do Brunello extrapolou os limites italianos e fez dele um fenômeno
mundial. A uva sangiovese tem um tempo de cultivo longo, mas o fato é que pode
ser produzida em diversos lugares, tendendo a se desenvolver melhor em
ambientes quentes, de clima seco e de solos calcários. Além da região da
Toscana, há grandes plantações de sangiovese em outras áreas da Itália como na
Umbria, zona central italiana, e em Campania, no sudeste do país. Estados
Unidos e Austrália também são grandes produtores de Sangiovese. Uma das
características típicas da legítima Sangiovese é elevada acidez e concentração
de taninos. Por isso, é muito comum que os produtores de vinho a misturem com
outras uvas, como a canaiolo, mais macia e suave. Um parêntese importante: a
combinação de sangiovese, canaiolo e malvasia é a composição do tradicional vinho
Chianti, resultado de experimentos de um barão chamado Benito Ricasoli no final
do século XIX. O fato é que outros produtores da região começaram a questionar
as convenções tradicionais e passaram a experimentar outras propostas com a uva
sangiovese, misturando-a especialmente com uvas de origem francesa como as da
região de Bourdeaux, entre elas, a Cabernet Sauvignon. Surgia, assim, um tipo
de vinho conhecido como Super Tuscan (ou Supertoscano) que, em um primeiro
momento, não agradou muito os consumidores italianos, mas conquistou o mercado
internacional, com grandes apreciadores mundo afora, principalmente nos Estados
Unidos.
E agora finalmente o vinho:
Na taça conta com um vermelho rubi com traços violáceos e
diria um tom meio atijolado, meio marrom, com lágrimas finas e rápidas.
No nariz apresenta um discreto toque frutado, de frutas
vermelhas maduras como cereja e groselha, além de notas de especiarias, algo
meio apimentado.
Na boca é seco, leve, macio, um vinho fácil de degustar, com
as percepções, também discretas, frutadas, com taninos leves e sedosos, mas com
uma proeminente acidez que faz do vinho pouco ortodoxo e fresco, ainda jovem.
Tem um final de média persistência com o álcool evidente, mas equilibrado, bem
integrado ao conjunto do vinho.
Um Sangiovese com características peculiares, inerentes à sua
região, mostrando o quanto é importante, essencial a tipicidade, a importância
do terroir e ecoa na tradição, na cultura de um povo e esse forte apelo
regionalista faz da Sangiovese emblemática no molde do DNA da história da
vitivinicultura da Itália e que atualmente vem se globalizando e a casta vem
ganhando rótulos produzidos em várias partes do mundo, inclusive do Brasil a
Sangiovese vem tendo espaço considerável. O Montecchio me trouxe uma nova
possibilidade de uma Sangiovese pouco difundida, é um vinho descomplicado,
frutado, fresco, leve, tendo a jovialidade como a razão primordial de sua
condição, mas que mostra a personalidade, com a sua expressividade, sendo
versátil e com uma ótima vocação gastronômica. O Montecchio Sangiovese mostra e
corrobora que a simplicidade pode nos entregar a nobreza do vinho, abrindo um
leque diverso de percepções e experiência sensorial, além de uma gama
infindável de informação, cultura e história. Que o aspecto regional ganhe o
mundo e mostre a todos os rincões desse planeta a importância da tipicidade no
vinho. Tem 12% de teor alcoólico.
Sobre a Bosco Viticultori:
Bosco Viticultori possui sede em Salgareda, no coração da
Marca Trevigiana, terra sempre voltada para a produção de vinhos. A empresa é
parte integrante do Grupo Vi.V.O. (Viticoltori Veneto Orientale) desde 2009, o
mais importante grupo cooperativo para a produção de vinhos do território
nordeste italiano, com outros 2.300 sócios viticultores e uma produção anual
superior a 52.000.000 de quilos de uvas, dando-lhes assim uma forte ligação ao
território. Nestas terras, onde as
condições ambientais e de trabalho das pessoas deram vida a uma tradição
vitivinícola famosa em todo o mundo, a empresa Bosco Viticultori produz desde
1948 bons vinhos graças a presença de um moderno e amplo centro de produção. A
Bosco Malera é uma das maiores produtoras de Lambruscos. A marca Montecchio é
mundialmente conhecida pela ligação com a história de Romeu e Julieta. Além
disso, a vinícola também produz outros vinhos no norte da Itália. A Bosco Viticultori
dá vida a uma produção de vinhos que são a expressão das características e das
peculiaridades próprias da terra de origem: perfume nítido, intenso, delicado e
limpo. As delicadas operações de seleção e colheita, seguidas da prensagem e
fermentação em temperatura controlada, permite o pleno respeito da natureza e
da própria complexidade das diversas uvas cultivadas e vinificadas.
Mais informações acesse:
http://www.boscoviticultori.com/it/
Referências de pesquisa:
Sobre Emilia Romagna:
Wikipedia, em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Em%C3%ADlia-Romanha
Portal Mistral, em: https://www.mistral.com.br/regiao/emilia-romagna
Sobre a Sangiovese em Romagna:
Portal Revista Adega, em: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-romagna-do-sangiovese_3217.html
Sangiovese:
Portal Art de Caves, em: https://blog.artdescaves.com.br/uva-sangiovese-tudo-sobre-essa-joia-toscana
Portal Revista Adega, em: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/sangiovese-uva-icone-da-toscana_11856.html