Um dos encantos que o mundo do vinho pode nos proporcionar,
simples mortais enófilos, além da degustação em si, é claro, são as grandes
novidades, novas experiências. Novos rótulos, novas vinícolas, novas cepas nos
faz viajar a regiões diferentes, até então por nós desconhecidas, abrangendo o
nosso leque de opções, nos faz fugir da sedutora, mas pouco salutar zona de
conforto. E hoje o vinho suscitou uma boa aula de geografia e de tradição e
cultura vitivinífera, personificado em doses generosas de degustação, com as
taças cheias. Mas como todo bom apreciador de vinho, não me limito a deixar o
vinho tomar o nosso tempo no momento em que o degustamos, nós respiramos essa
bebida nobre o tempo inteiro, lemos, buscamos a informação, tornando-o tangível
em conhecimento. E foi assim que descobri a curiosa história da casta branca,
autóctone da Espanha: Airén. Ela se materializou em minhas leituras por acaso e
fui a busca de vinhos com essa casta. Contudo antes de apresentar e falar sobre
o rótulo que escolhi, vamos falar sobre a Airén.
Sobre a Airén:
Essa uva, dominante na região central da Espanha, mais
precisamente nas áridas áreas de La mancha e Valdepeñas, região esta que veio
meu vinho e que logo falarei também, tem grande resistência ao clima seco e
quente e lida bem com os solos pobres da região. Trata-se de uma cepa bem
antiga, que também é conhecida como Lairén, nome este usado até hoje na região
de Córdoba. Ela aparece em uma obra intitulada Agricultura General, escrita em
1513 pelo agrônomo Gabriel Alonso de Herrera (1470-1539). A Airén não goza de
muita credibilidade, mas foi a uva vinífera mais plantada no mundo, até 1990.
Isso porque ela é muito utilizada na produção de destilados na Espanha, bem
como na produção de vinhos, é claro. Então por que é tão difícil ouvir falar na
Airén e por que também é difícil encontrar rótulos da mesma no Brasil, por
exemplo? Porque, além dos destilados, os espanhóis a utilizam mais para a
produção de baratos vinhos de mesa, que não se enquadram em nenhuma denominação
de origem, e que visam o consumo local, não sendo objeto de exportação. E
também porque a Airén era a mais cultivada em termos de área ocupada, e não em
número de videiras. Ou seja, Airén era a variedade que ocupava mais espaço no
mundo, mas nem por isso era a uva mais colhida do mundo! Mas lendo algumas
descrições de vinícolas que produzem rótulos com a Airén, pude observar que as
mesmas investem em tecnologia, sobretudo nos processos de vinificação
entregando vinhos de qualidade e muitos deles ostentam a DO (Denominação de
Origem) da região de Valdepeñas. Fonte: “Tintos & Tantos” (http://www.tintosetantos.com/index.php/escolhendo/cepas/1049-airen) e “Vinho Perfeito” (http://vinhoperfeito.com/2017/02/01/airen-branca-numero-1/).
Sobre a Denominação de Origem (DO) de Valdepeñas:
A região demarcada de Valdepeñas localiza-se no sul da
comunidade autônoma de Castilla-La Mancha, que fica no centro da Espanha.Trata-se de uma região muito propícia para o cultivo da
vinha, com um clima continental de baixo índice pluviométrico, e que registra
temperaturas extremas, com máximas que superam os 40°C, e mínimas que podem ser
inferiores a -10°C. Os solos, pobres em matéria orgânica e de baixa
fertilidade, obrigam as raízes das videiras a se desenvolverem, a se
aprofundarem e a se fortalecerem. Nesse cenário, cultivam-se uvas que alcançam
boa maturação, e que são capazes de produzir vinhos muito estruturados,
complexos, aromáticos e de coloração muito profunda. Anualmente, são produzidos
cerca de 57 milhões de litros de vinho rotulados com a denominação Valdepeñas,
sendo que quase 40% da produção é destinada à exportação da Espanha para outros
países. A grande maioria dos vinhos de Valdepeñas, cerca de 77% deles, são
tintos. Os brancos representam cerca de 18%, e os rosés de Valdepeñas,
tradicionalmente famosos, representam apenas 5%. A variedade mais importante de
Valdepeñas é sem dúvida, a Tempranillo, que também é conhecida nessa região
como Cencibel. Outras uvas autorizadas para cultivo em Valdepeñas são as tintas
Garnacha, Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah e Petit Verdot, além das brancas
Airén, Macabeo, Chardonnay, Sauvignon Blanc, Moscatel de Grano Menudo e
Verdejo. Fonte: Tintos & Tantos, em: http://www.tintosetantos.com/index.php/denominando/804-valdepenas.
Então finalmente vamos ao vinho que surpreendeu
positivamente, que entregou bem a que se propôs: Señorio de
los Llanos, da casta branca Airén, da tradicional espanhola Bodegas Los Llanos,
da região de Valdepeñas, não safrado.
Na taça apresenta um amarelo palha, bem claro, diria
translúcido, brilhante.
No nariz tem notas evidentes e agradáveis florais, de flores
brancas, sendo também muito frutado, um prenúncio de muito frescor.
Na boca é seco, toques generosos de frutas brancas como melão
e abacaxi, acidez moderada, com um retrogosto frutado, sendo muito delicado e
equilibrado.
Um vinho fresco, jovem e despretensioso, que carrega a
expressão de um terroir com todas as suas características, mesclada a cultura e
tradição de vinificação e os recursos tecnológicos que faz desse vinho simples,
mas honesto, correto entregando mais do que valeu. Um vinho de excepcional
custo X benefício. Pasmem, custou R$ 24,90. Arrisquem, se permitam descobrir
novas experiências. Tem 11% de teor alcoólico. Harmonizou muito bem com umas
fatias de pizza bem gordurosa e depois um prato com bacalhau e batata.
Sobre a J García Carrión:
Na escuridão de um barril de vinho, começou a história de uma
família burguesa que desde 1875 produzia vinho em suas adegas em Valdepeñas. A
"Bodega Carabantes" conhecia todos os segredos e possibilidades
oferecidas pelas uvas que cresciam nessa área. Esse conhecimento tornou-se
propriedade da "Cosecheros Abastecedores" quando esta empresa moderna
adquiriu a empresa familiar de Valdepeñas, denominada Bodega Los Llanos. A
sabedoria de ambos, unida e anos depois, deram frutos com o lançamento de
algumas marcas no mercado que agrupavam vinhos sofisticados, com potencial de envelhecimento,
os reservas e gran reservas e que continuam a obter sucesso hoje: “Señorío de
los Llanos” e” Pata Negra”. Hoje, a primitiva Bodega de 1875 é um dos museus de
vinho mais prestigiados da Espanha. Em 2008, a Família García Carrión adquiriu
a Bodega Los Llanos que detém hoje o posto de maior produtor europeu em volume
(e quarto maior do mundo). Atualmente, Bodegas los Llanos tem uma capacidade de
embalagem de 100 milhões de litros e uma capacidade de fabricação de 60 milhões
de quilos. Está equipado com as mais avançadas técnicas enológicas para
elaborar, produzir e engarrafar vinhos de alta qualidade. As vinícolas possuem
uma das maiores cavernas subterrâneas do país, com capacidade para 30.000
barris, onde os vinhos atingem sua plenitude com doze metros de profundidade em
carvalho, para garantir as melhores condições nesse processo delicado. A Bodega
los Llanos, também chamada de Grupo de Bodegas Vinartis, mantém viva a tradição
artesanal dos excelentes vinhos Valdepeñas em seus produtos, tais como: Señorío
de los Llanos, Pata Negra, Armonioso, Torneo e Don Opas. Por muitos
especialistas são sinônimo dos melhores padrões desta Denominação de Origem.
Seus vinhos foram premiados em reconhecidas competições nacionais e
internacionais de vinhos.
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