Sabe aquela sensação de que determinados vinhos, de
determinados países, castas e regiões estão distantes de suas pretensões de
degustação? Aqueles vinhos que, quando você vê em supermercados e lojas
especializadas, pensa: Será que ainda o degustarei? Será que o terei em minha
adega? Há alguns anos atrás, talvez uns dez anos atrás, lembro-me que os vinhos
sul africanos, além de escassos no mercado brasileiro, eram caros, difícil para
os enófilos assalariados. Pois é, caros leitores, apesar da distância dos vinhos
da terra de Mandela e da pouca oferta, mantinha a chama da expectativa de
tê-los em minha taça para meu deleite, para o ritual da degustação. Mas, pelo
menos eu tinha o ávido interesse pela história vitícola desse país, a África do
Sul. Lia sobre as suas principais castas e regiões, parecia ser uma espécie de
ensaio para adentrar o universo dos vinhos do sul da África. Até que em uma das
minhas incursões aos supermercados, olhando, com muito cuidado cada canto das
gôndolas, avistei, como que por instinto, um vinho com um rótulo colorido,
chamativo, mas muito descontraído e moderno vinho branco que decidi olhar com
mais esmero, com mais cuidado. O Examinei como se fora o meu primeiro vinho e
observei que se tratava da África do Sul! Seria a minha oportunidade de
degustar um vinho desse país e logo um branco? Sim! O valor estava atraente, em
torno de R$ 39,90! Não hesitei e comprei!
Mas a ansiedade não parou por aí. De posse do meu novo rótulo
decidi degusta-lo o quanto antes, sem delongas e foi o escolhido para uma noite
agradável e fresca. Acho que a noite harmonizaria plenamente com o vinho sul
africano que escolhi. E a escolha não poderia ter sido melhor! Maravilhoso
vinho! O vinho que degustei e gostei veio de uma região chamada Stellenbosch e
se chama Obikwa e a casta era a inédita Chenin Blanc da safra 2011. E, como eu
não me atenho a degustação, o que é fantástico, preciso falar um pouco sobre
essa emblemática região da África do Sul e uma casta que se deu bem nas terras
deste país. Então falemos um pouco de cada um deles.
Stellenbosch
Stellenbosch é a segunda colónia europeia mais antiga na
África do Sul, após a Cidade do Cabo, e fica na Província do Cabo Ocidental.
Está situada a cerca de 50 km da Cidade do Cabo, e no ano 2000 contava com
cerca de 90 mil residentes com habitação formal, portanto sem contar estudantes
e outras pessoas com habitação informal. Seu nome e existência se devem ao
antigo governador do Cabo, Simon van der Stel, que estabeleceu um povoado à
beira do rio Eerste em 1679, fazendo dela a segunda cidade mais antiga da
África do Sul. Hoje, é uma linda cidade caracterizada por ruas ladeadas de
carvalhos e casas brancas, muitas das quais de origem Cape Dutch
(cabo-holandesa), e fica entre a suntuosa montanha Simonsberg e a mais modesta
Papegaaiberg (“Montanha do Papagaio”). Logo que chegaram os primeiros colonos,
particularmente os Huguenotes franceses, teve início a cultura da vinha nos
vales férteis em torno de Stellenbosch, que rapidamente se tornou o centro da
indústria vinícola sul-africana. Até há pouco tempo, a concentração de riqueza
trazida por esta indústria fez com que a área tivesse um elevado coeficiente de
Gini, embora esta situação esteja a mudar.
Stellenbosch possui uma rica história vinícola e é lar de
alguns dos vinhos mais famosos do país. Além disso, a uva Cabernet Sauvignon é
a variedade mais cultivada na região, utilizada muitas vezes ao lado da casta
Merlot. Situada a apenas 40 quilômetros ao leste da Cidade do Cabo,
Stellenbosch é separada pelas montanhas de Simonsberg e Paarl. Seus vinhedos
cobrem as colinas da região sul-africana que vão desde Helderber, no sul, até
as inclinações mais baixas de Simonsberg, no norte. Este terreno proporciona
uma grande variação nos estilos de vinho produzidos, bem como microclimas
ideais para o cultivo de inúmeras variedades encontradas entre as colinas e os
vales de Stellenbosch. Os solos da região são compostos predominantemente de
arenito e granito, onde é possível encontrar também um alto teor de argila,
responsável por garantir uma melhor retenção da água. O clima de Stellenbosch é
quente e seco, embora receba uma influência marítima do sul, proveniente de
False Bay. A refrescante brisa que as vinhas recebem à tarde e a incidência
solar pela manhã possibilita que as uvas concentrem melhor seus aromas e
sabores, dando origem a vinhos com características únicas e peculiares. Em
decorrência dessa variação de terroir, Stellenbosch é dividida em inúmeras
áreas produtoras de vinho diferentes, entre elas, Bonghoek, Papegaaiberg, Devon
Valley e Polkadraai Hills. Além disso, a região sul-africana é o segundo
assentamento mais antigo do país, ficando atrás apenas de Cape Town. As
principais variedades cultivadas em Stellenbosch são as uvas Cabernet
Sauvignon, Chenin Blanc, Sauvignon Blanc e Shiraz. Além disso, a fama da região
se deve também por ser o berço da casta Pinotage, resultado de um cruzamento
das uvas Cinsaut e Pinot Noir em 1924.
Chenin Blanc
A Chenin Blanc é uma das muitas variedades de origem
francesa, e como tal, honra o título de prata da casa: na parte central do Vale
do Loire, essa uva dá origem a diversos tipos de vinho, dos secos e ácidos até
os doces, alguns entre os melhores do mundo. A África do Sul, por sua
semelhança com o Velho Mundo, também produz rótulos de características suaves,
mas ao mesmo tempo bem elaborados. Lá, a variedade é chamada de Steen, e a
técnica nacional de fermentação fria dá ao vinho toques de pêra, que aumentam à
medida que o açúcar do vinho diminui e a bebida se torna mais seca. A acidez dessa
uva favorece o processo de envelhecimento, principalmente nos rótulos mais
secos, mas seus vinhos de sobremesa, feitos de frutos com a “podridão nobre”,
também têm grande potencial para serem guardados. Os principais aromas da
Chenin Blanc são maçã, pêra (principalmente oriundos da fermentação fria),
marmelo, nozes, mel e cevada. Os vinhos brancos elaborados com a casta Chenin
Blanc possuem corpo leve. Com crescente popularidade na África do Sul, a casta
possui variedade de sabores, sendo parte da razão disso o estilo de vinificação
por qual passa e o terroir presente na região de cultivo. Os aromas encontrados
nos vinhos elaborados com a casta Chenin Blanc possuem bastante presença de
frutas, como damasco, limão, tangerina e até mesmo maracujá. Em caso de vinhos
amadurecidos em carvalho, os sabores de noz moscada e amêndoa são bastante
evidenciados.
E agora o vinho!
Na taça tem um amarelo palha com lindos reflexos esverdeados,
muito brilhantes, reluzentes.
No nariz traz uma explosão de notas frutadas, frutas brancas
e cítricas que me remete a maçã, pera, abacaxi, limão, com muito frescor e
jovialidade, apesar do tempo de safra, com quatro anos. Não podemos
negligenciar outro destaque do vinho no aspecto olfativo, o toque floral
intenso, lembrando flores brancas.
Na boca é fresco, jovial, informal e descompromissado, mas,
ao mesmo tempo se revela um vinho expressivo, com bom volume de boca, sobretudo
por conta da fruta, percebido no quesito olfativo e na intensa acidez. Tem um
final longo, persistente e refrescante.
Essa foi a minha primeira e satisfatória experiência com meu
primeiro vinho branco sul africano com a casta Chenin Blanc. Um vinho
equilibrando, redondo e, mesmo que seja leve e fresco, tem personalidade
marcante, mostrando toda a sua versatilidade e vocação gastronômica, onde
harmoniza com pratos de entrada como frios, a refeições mais simples e carnes
brancas, frituras, é o famoso vinho para se degustar à beira da piscina e por
que não leva-lo à praia? Gostei tanto da Chenin Blanc sul africana que, quando
surgiu a oportunidade, degustei outro vinho da casta da tradicional vinícola
daquele país, a Nederburg, o 56 Hundred Chenin Blanc 2017. Tem 13% de teor
alcoólico muito bem integrados ao conjunto do vinho.
Sobre a Obikwa Winery:
A história dos vinhos Obikwa começou em 2002, em
Stellenbosch, mas todos os vinhos produzidos eram exportados. Com o aumento da
popularidade, os produtos passaram a ser vendidos também na África do Sul a
partir de 2009. Obikwa é o nome de uma das mais antigas tribos do país, para a
qual o avestruz simboliza força vital e fidelidade. Como forma de homenagear
essa tribo e toda sua história, a vinícola leva a sério seu compromisso com a
sustentabilidade ambiental e a qualidade do seu trabalho. Com a proposta de
fazer ‘vinhos de real valor a ótimo preço’, esse produtor honra suas origens
com rótulos surpreendentes. Obikwa é o primeiro vinho sul-africano a mudar para
novas garrafas verdes ultraleves de 350g, ecologicamente corretas, que são 25%
mais leves . Toda a gama OBiKWA apresenta um Selo de Sustentabilidade , emitido
pelo South African Wine & Spirit Board.
Mais informações acesse:
https://www.distell.co.za/home/
Referências de pesquisa:
Sobre Stellenbosch:
Portal Vinci, em: https://www.vinci.com.br/c/regiao/stellenbosch#:~:text=Situada%20na%20%C3%A1rea%20costeira%20do,ao%20lado%20da%20casta%20Merlot.
Portal South Africa, em: https://www.southafrica.net/br/pt/travel/article/stellenbosch-uma-das-joias-da-regi%C3%A3o-vin%C3%ADcola
Wikipedia, em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Stellenbosch
Sobre a Chenin Blanc:
Blog Sonoma, em: https://blog.sonoma.com.br/uvas/chenin-blanc-a-prata-da-casa-francesa-de-vinhos/
Portal Mistral, em: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/chenin-blanc
Degustado em: 2015