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segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Coq Licot Grenache, Syrah e Mourvèdre 2020

 

Atire a primeira pedra o enófilo que nunca degustou um vinho de mesa no Brasil, ou melhor, atire a primeira garrafa! Claro que os enófilos que nasceram abastados, os aristocratas do vinho nunca foram pobres, como eu, e sempre degustou os vinhos mais caros do mundo, as melhores “grifes”, mas aquele humilde e enófilo trabalhador assalariado dessas terras de meu Deus, aposto a minha simplória adega se já não degustou.

Os vinhos de mesa são aqueles que são produzidos pelas uvas americanas (oriundas dos EUA mesmo), os famosos “garrafões”, quem não lembra? Lembro-me, inclusive com certo ar de nostalgia, que degustava esses vinhos nos idos longínquos de 1994, 1995 e reunia, para este momento ímpar, os meus melhores amigos para celebrar, jogar conversa fora, entonar besteiras sem compromisso algum. Ah e como era bom degustar aqueles vinhos e estar com amigos, um complementava o outro.

Nunca tive nenhum tipo de visão pré-concebida com tais vinhos, afinal eram só mais do que propostas de rótulos que até hoje detém uma grande participação de mercado, apesar do crescimento, embora tímido, dos vinhos vitis viníferos.

Mas em 1999, 2000, aproximadamente, decidi enveredar para os já mencionados vitis viníferos, os vinhos produzidos com as castas finas, tais como Merlot, Malbec etc. Não porque os de mesa estavam inadequados para o meu paladar, porém eu gostaria de traçar novos caminhos na estrada do vinho, o universo do vinho é infindável e eu desejava, ansiava por novos caminhos, explorar novas possibilidades e estou até hoje e o caminho, a necessidade por percorrê-lo ainda é urgente e latente.

Mas por que raios estou relembrando isso agora? Explico! Fui convidado por um querido amigo para degustarmos alguns rótulos em sua casa e darmos continuidade a nossa pequena, mas significativa confraria e um rótulo que ele tem me chamou a atenção e praticamente sugeri que ele abrisse para nós degustarmos. Era um vinho francês, um “Vin de France”, um vinho mais simples e descontraído e que equivale a um vinho de mesa no Brasil, embora as castas não sejam as mesmas usadas em nossas terras para produção dos vinhos franceses com essa designação.

Por uma grata curiosidade, nunca degustamos um francês “Vin de France”, então era chegada a hora, mais do que pertinente, de degustar, com um grande amigo, como no passado eu fazia com outros grandes amigos, as degustações dos vinhos de mesa brasileiros.

E não é que o vinho surpreendeu? Inacreditável como o vinho entregou além do que esperávamos, tamanha a personalidade, a expressividade. O vinho que degustei e gostei, é um “Vin de France”, portanto, sem definição de uma região, e se chama Coq Licot com o clássico corte, típico do Vale de Rhône, “GSM”: Grenache (50%), Syrah (30%) e Mourvèdre (20%) ou Monastrell muito popular na Espanha e a safra é 2020. Mas antes de falarmos do vinho vou detalhar sobre o conceito de “Vin de France”.

“Vin de France” ou no passado o “Vin de Table”

É preciso lembrar que o “Vin de Table” não está relacionado com o nosso “Vinho de Mesa”, embora a tradução seja exatamente esta. Para os franceses, o Vin de Table é um nome geral dado aos vinhos para consumo imediato. Não existe uma definição precisa para o termo.

“Vin de Table” era a categoria associada a vinhos mais simples, em geral aqueles produzidos com uvas provenientes de áreas fora de denominações de origem ou indicações geográficas. Também podiam se referir a vinhos cujo produtor não aceitava as regras dos conselhos de denominação (por exemplo, elaborando vinhos com uma uva não aprovada na denominação).

Nos últimos anos, porém, a referência a vinho de mesa foi extinta. Na França, estes vinhos passaram a ser chamados, a partir de 2010, mas precisamente em 2009, com a sanção de uma lei, de Vin de France, ou seja, sem qualquer referência regional específica.

O “Vinho de Mesa” em outras partes do mundo

Vinho de mesa é um termo que parece muito simples, mas que ainda causa muita confusão. E isso ocorre porque, dependendo do local ou do contexto, ele assume um significado diferente. Na Europa ele tem um significado, assume outro nos Estados e representa um terceiro no Brasil. Mas quais são e como explicar estas diferenças?

Estas diferenças são significativas, já que se referem a conceitos distintos. Na Europa, o termo é geralmente associado a uma questão de qualidade e hierarquia, sobretudo dentro do contexto de denominações de origem. Já nos Estados Unidos, o termo é usado para diferenciar estilos de vinificação. No Brasil, por sua vez, é uma forma de diferenciar os vinhos de acordo com a uva com a qual foram elaborados.

Até as mudanças mais recentes no sistema de classificação de vinhos na maioria dos países europeus, falar de vinho de mesa era se referir a um vinho simples. No topo da pirâmide de qualidade dos vinhos europeus estão aqueles que pertencem às denominações de origem. Por outro lado, a parte mais larga da pirâmide é composta por aqueles que não estão dentro destas denominações ou mesmo que tenham uma indicação geográfica mais específica, como o caso já mencionado da França.

Já nos Estados Unidos, a definição de vinho de mesa (table wine) não tem nada a ver com hierarquia ou qualidade. Ele se refere ao que chamamos no Brasil de vinho tranquilo, ou seja, um vinho que não é espumante ou tenha sido fortificado. Deste modo, se refere ao estilo de elaboração do vinho. Por exemplo, qualquer tipo de espumante, seja qual método adotar, não pode ser chamado de table wine.

O mesmo vale para vinhos como Madeira, Porto ou outros onde ocorre a adição de aguardente vínica ou outras formas de álcool durante seu processo de elaboração. Existe, inclusive, uma regra nos Estados Unidos que define que, para poder ser chamado de “table wine”, o vinho não pode ter um teor alcóolico acima de 14%.

O Brasil mostra uma peculiaridade nos vinhos. Nosso mercado de vinhos é dominado por variedades americanas ou híbridas, e isso acaba se refletindo no uso do termo vinho de mesa. Assim, um vinho elaborado a partir destas uvas, mesmo que contenha uma proporção de vitis vinifera, é classificado como vinho de mesa.

Caso o vinho seja elaborado exclusivamente a partir de espécies da Vitis vinífera e com o uso de processo tecnológicos adequados, pode receber a designação de vinho fino. Deste modo, o termo vinho de mesa ganha uma conotação distinta no Brasil, com referência explícita às uvas utilizadas para sua elaboração.

E agora falemos do vinho!

Na taça um vermelho rubi intenso, mas com reflexos violáceos, diria que apresenta um lindo tom roxo que imprime um brilho a cor, com lágrimas finas e em média intensidade.

No nariz entrega um aroma intenso e agradável de frutas vermelhas onde se destacam morango, groselha e cereja. Há um toque floral que traz certo frescor muito agradável.

Na boca é saboroso, redondo e macio, com as notas frutadas bem intensas, com um toque adocicado, mas sem ser enjoativo, além de especiarias, como pimenta, com taninos macios e uma boa acidez, que colabora para a sua boa persistência. Tem um final longo e retrogosto frutado.

Um vinho suculento! Um vinho saboroso, descomplicado de degustar, mas que revelam marcante personalidade típico do corte de castas tão voluptuosas e altivas como a Grenache, Syrah e Mourvèdre. Um vinho que me trouxe grandes momentos do meu passado enófilo, de reuniões com amigos quando eu apenas engatinhava no universo vasto e instigante dos vinhos e hoje cá estou com um grande amigo e companheiro de taça em uma estabelecida e significativa confraria compartilhando esse rótulo, esse vinho que foge um pouco da austeridade dos franceses caros e de grife e que abrilhanta um momento de muita alegria e celebração, com a descontração que merecemos, sem contar que o rótulo personifica isso também, talvez tenha uma intenção de marketing, arrisco. Um vinho que embora não tenha uma região estabelecida traz à tona todas as características das castas que compõe esse blend tão importante para a história vitícola da França. Brindemos ao vinho, a vida, a celebração da amizade, da pura e genuína amizade. Tem 14% de teor alcoólico muito bem integrado ao conjunto do vinho.

Sobre a Vignobles & Compagnie:

Em 1963, graças ao espírito de federação dos viticultores, liderado por Paul Blisson, que deu origem a vinícola, originada a promover vinhos da região do Gard, do Vale de Rhône. A adega, um edifício original inspirado pelo brasileiro Oscar Niemeyer, estava e ainda está localizada em um ponto estratégico de Gard.

A família Merlout investe na organização, isso em 1969. À frente da empresa estava uma mulher, Miss Noble, um fato ousado para a época. Em 1972 a vinícola entra em uma nova era graças a modernização do local e ao grande crescimento econômico também. Em 1990 o Grupo Taillan assumiu todas as atividades da vinícola, dando início a uma parceria importante com vários produtores locais, trazendo o conceito de regionalismo aos seus rótulos.

Mais informações acesse:

https://vignoblescompagnie.com/en/

Referências:

“Vem da Uva”: https://www.vemdauva.com.br/o-que-e-vin-de-pays/

“Wine Fun”: https://winefun.com.br/vinho-de-mesa-um-conceito-com-diferentes-significados-ao-redor-do-mundo/



sábado, 14 de março de 2020

Inception Deep Layered Red 2016




Dizem que comemos e bebemos com os olhos. Faz sentido e é até normal esse fenômeno, haja vista que é com o olhar que temos o primeiro contato com o alimento, embora acredite que não possamos julgar “o livro pela capa”. Acredito que, como tudo na vida, temos que dosar, ponderar e, para o vinho, e falo que adquiri como essencial para mim nas minhas escolhas de vinho, procurar saber e se informar sobre a sua potencial compra de vinho, unindo também a proposta que você procura, é claro. Mas confesso que com este vinho fui atraído pela estética, pela imagem. O rótulo me chamou a atenção e, como um imã, me dirigi até ele e fiquei mesmerizado. Claro que, levando em consideração o fenômeno de comer e olhar com os olhos, as vinícolas se apropriam e fazem um trabalho de arrebatamento das pessoas com os seus rótulos e comigo funcionou. Parece ter sido algo pecaminoso, mas cedi. E logo direi por que usei o termo pecaminoso, embora, ao olhar o rótulo, isso se denuncie.

Mas não vou ater, principalmente agora, a estética, e vou detalhar as minhas impressões sobre este belo e surpreendente vinho da África do Sul que degustei e gostei, cuja região é a emblemática Western Cape, e que se chama Inception Deep Layered Red que, em tradução livre significa “Mistura vermelha profunda em camadas” e parece fazer sentido, pois se trata de um blend bem interessante das castas Syrah (65%), Petit Verdot (33%) e Mourvėdre (2%), da safra 2016.

No aspecto visual conta com um vermelho rubi intenso com entornos violáceos, lágrimas finas, abundantes e que logo se dissipa.

No nariz tem uma explosão aromática de frutas vermelhas, como amora, ameixa e cereja.

Na boca se repete as impressões olfativas, de corpo leve para médio, tem taninos domados e sedosos, com baixa acidez, com um toque apimentado característico da Syrah, predominante neste blend, especiarias, com notas deliciosas de chocolate que se prolonga até o seu final, fazendo-o persistente e agradável.

Um vinho de personalidade marcante, elegante, redondinho e harmonioso em seu conjunto, apesar de, no início o álcool estava um pouco em evidência, em desequilíbrio, mas que na segunda taça dissipou. Tem 13,5% de teor alcoólico. Apesar das notas de chocolate, o vinho, em minha opinião, não passou por barricas de carvalho, sendo uma característica inerente ao vinho. Após uma árdua pesquisa, não encontrei nenhuma referência, tanto na internet, como no site do produtor, de que este rótulo passou por madeira. Ah, lembra-se do pecado? Ele não só mora ao lado (perdão da minha “licença poética”), mas se degusta também: o rótulo nos remete ao retrato da tentação, a mulher desnuda com a maçã, a árvore levando o fato às sombras e o homem, na sua fraqueza sucumbindo ao pecado, faz do vinho um instrumento de heresia, mas essencial a se entregar e se deixar levar ao ritual da degustação, esse é o cerne do pecado por aqui.

Sobre a Distell:

A Distell é uma empresa global com raízes na África do Sul, produz e comercializa um portfólio diversificado de marcas alcoólicas premiadas, criadas por pessoas extraordinárias em todo o mundo. Algumas dessas marcas incluem Amarula, Savanna, Hunter's Dry, Durbanville Hills e Nederburg.

Mais informações acesse: