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quarta-feira, 15 de março de 2023

Canceddi Vermentino 2019

 

Mais um vinho da série: castas novas para mim! Como é bom ter centenas e centenas de castas que ainda não degustamos catalogadas e à disposição para todos os enófilos que decide, claro, garimpar, buscar novas experiências, novas sensações.

E essa casta de hoje, tipicamente italiana, eu já conhecia, porém nunca tinha tido a oportunidade de comprar, de degustar e um dos motivos, é claro, era o valor. Alguns “exemplares” são muito caros, talvez pela baixa oferta de alguns rótulos em nosso mercado de vinhos, um tanto quanto “escravizado” pelas castas de sempre.

Mas ela é muito popular na Itália, sobretudo no noroeste deste país, bem amplamente cultivada em algumas regiões vinícolas ao redor do Mediterrâneo, sul da França e nas ilhas vizinhas de Sardenha e Córsega.

Não precisamos dizer que ela deve trazer algo de “solar”, um frescor, leveza, mas que certamente goza de alguma personalidade. Falo da Vermentino. Não precisa dizer do quão animado e ansioso para degusta-la!

E o rótulo de hoje teve um estímulo extra para a compra. Não foi apenas pelo fato de ser de uma casta que nunca degustei, o que já é bem relevante, mas também por ter degustado um vinho de outra casta que, até então, era nova para mim: a Grilo, igualmente típica da Itália, de regiões igualmente quentes.

Quando eu degustei o Canceddi Grillo da safra 2019 e vi o vinho, do mesmo produtor e da mesma linha de rótulos, da casta Vermentino, não hesitei muito e decidi compra-lo, sem contar também que o valor estava deveras atraente.

Então sem mais delongas vamos às apresentações que já foram feitas, basicamente. O vinho que degustei e gostei veio da ótima e querida região da Sicília, no sul da Itália, e se chama Canceddi Vermentino da safra 2019. E para variar vamos de história, vamos de Sicília e da cepa Vermentino. 

Sicília

A Sicília é a maior ilha do Mediterrâneo. É uma ilha vulcânica repleta de praias lindas, paisagens espetaculares e uma arquitetura interessante. Fruto da mistura de civilizações que habitaram a ilha e da cálida hospitalidade de seu povo. A Passagem de diversos povos através durante séculos, a Sicília tornou-se um entreposto importante no Mediterrâneo. É um destino desejado para todo viajante. Mas a Sicília não é apenas conhecida pela exuberante natureza, mas também se destaca quando o assunto é vinho. E isso teve influências na sua cultura e, claro, no seu vinho.


Foram os fenícios que iniciaram o cultivo da videira e a elaboração do vinho na Sicilia, porém foram os gregos que introduziram as cepas de melhor qualidade. Alguns historiadores relatam que antigamente na região de Siracusa (província siciliana), havia um vinho chamado Pollios, em homenagem a Pollis de Agro (que foi um ditador nessa região), que se tornou famoso na Sicilia no século VIII-VII a.C.. 

Esse vinho era um varietal de Byblia, uva originária da área mais oriental do Mediterrâneo, dos montes de Biblini na Trácia (antiga região macedônica que hoje é dividida entre a Grécia, Turquia e Bulgária). O historiador Saverio Landolina Nava (1743-1814) relatou que o Moscato de Siracusa deriva desse vinho de Biblini, sendo classificado como o vinho mais antigo da Itália.

Já o vinho doce Malvasia delle Lipari (Denominação de Origem do norte da Sicilia) parece ter sua origem na época da colonização grega na Sicilia. Lipari é uma cidade que pertence ao arquipélago das ilhas Eólicas.

Durante o Império Romano, o também vinho doce Mamertino (outra Denominação de Origem) produzido no norte da Sicilia, era muito apreciado por muitos, inclusive por Júlio César e era exportado para Roma e África.

A viticultura na região sofreu uma grande redução com a queda do Império Romano, porém durante a dominação árabe foi introduzida a variedade de uva Moscatel de Alexandria na ilha Pantelleria, que mantém ainda hoje ali o nome árabe Zibibbo. Os árabes introduziram na Sicília suas técnicas de viticultura e também o processo de passificação das uvas.

No século XVIII a indústria enológica na Sicilia teve um grande avanço e começou a produzir o vinho de Marsala que conta atualmente com uma Denominação de Origem Protegida. Esse vinho se tornou conhecidíssimo no resto da Europa graças a um navegante e comerciante inglês chamado John Woodhouse, que ancorou sua embarcação no porto de Marsala para se proteger de uma tempestade. Foi quando provou o vinho local e se apaixonou, resolvendo levar alguns barris para a Inglaterra. O vinho de Marsala fez tanto sucesso por lá que Woodhouse começou a investir na Sicilia comprando vinhedos e construindo vinícolas para produzir vinho de Marsala, se tornando um empresário do setor vitivinícola de grande êxito.

Como na maioria dos vinhedos da Europa, a Phylloxera também atingiu a ilha Salinas, no norte da Sicilia, provocando uma devastação dos vinhedos que foram se recuperando gradativamente com a plantação de novos vinhedos e a criação em 1973 da Denominação de Origem Malvasia delle Lipari.

A região possui um clima e um solo que favorecem muito a viticultura e a elaboração de vinhos, sendo uma das principais atividades econômicas da ilha italiana. A topografia é variada, formada por colinas, montanhas, planícies e o majestoso vulcão Etna. Encontramos vinhedos por toda parte, que vão das colinas até a parte costeira.

Nas colinas os vinhedos são cultivados em terrazas que chegam inclusive a uma altitude de 1.300 metros, o que as videiras adoram, pois proporciona muita luminosidade e uma ótima drenagem. Encontramos vinhedos também na parte costeira da ilha.

O clima na Sicília é mediterrâneo, mais quente na área mais costeira e no interior da ilha é temperado e úmido, podendo ás vezes apresentar temperaturas bem elevadas por influência de ventos procedentes da África. Também possui uma quantidade grande de microclimas por causa da influência do mar. As chuvas são mais comuns durante o inverno com cerca de 600mm anuais. Os vinhedos sicilianos necessitam, portanto, serem regados.

O solo na ilha é muito variado e rico em nutrientes em razão das erupções vulcânicas do Etna. Encontramos solos arenosos, argilosos e de composição calcária. Em uma parte da ilha o solo é constituído de gneiss, que é um tipo de rocha metamórfica composta de granito. Em quase todas as localidades da Sicília se elaboram vinhos, e essas regiões vitivinícolas contam com várias DOC.

As principais castas tintas produzidas na Sicília são: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Syrah, Nerello Mascalese, Nerello Capuccio, Frappato, Sangiovese, Nero d’Avola e Pinot Nero. Já as brancas destacam-se: Grillo, Catarrato, Carricante, Inzolia, Moscato di Panteleria, Grecanico, Trebbiano Toscano, Malvasia, Chardonnay e Sauvignon Blanc.

Vermentino

A Vermentino é uma uva branca amplamente cultivada em diversas regiões vinícolas ao redor do Mediterrâneo, como no noroeste da Itália, sul da França e nas ilhas vizinhas de Sardenha e Córsega. A Vermentino é conhecida por diversos nomes, tais como Pigato, Favorita, Malvoisie de Corse e Rolle.

Não há consenso sobre a origem da Vermentino. De um lado, há quem acredite que ela seja originária do noroeste da Itália, possivelmente da Liguria, muito usada na elaboração dos vinhos brancos conhecidos como “Colli di Luni”, ou mesmo do Piemonte, onde é conhecida como Favorita. Por outro lado, há quem aposte que ela seja originária da Espanha, tendo chegado à Córsega na época em que a região era controlada pela Coroa espanhola.

Já em Bolgheri, região próxima a Toscana, a Vermentino produz alguns dos melhores e mais ricos vinhos italianos. Graças ao clima da Toscana, quente e com alta incidência solar, e às modernas técnicas de vinificação, essa variedade de uva dá origem a vinhos cuja complexidade aromática pode ser comparada aos elaborados com a casta Viognier.

Em outra região da Itália, na Sardenha, a uva Vermentino tornou-se ícone na produção de bons vinhos brancos. Na área, a variedade possui sua própria denominação regional, o Vermentino di Sardegna, e é utilizada na elaboração de um dos melhores vinhos italianos, o Vermentino di Gallura.

No sul da França, conhecida tradicionalmente como Rolle, a uva Vermentino foi autorizada na produção de vinhos AOC apenas nos últimos 20 anos. Anteriormente, a variedade era restrita na elaboração do Vin de Pays – IGP, em especial, os vinhos brancos Bellet, produzidos com, no mínimo, 60% da Vermentino.

Pequenos produtores nos Estados Unidos começaram a produzir vinhos Vermentino, em especial, na Califórnia. Entretanto, a variedade ainda não atingiu a popularidade desfrutada pela uva Chardonnay, Sauvignon Blanc e Pinot Grigio. O enorme prestígio das três variedades de uvas tem desempenhado um papel fundamental na crescente popularidade da casta Vermentino na Austrália, onde inúmeras adegas têm oferecido seus vinhos como uma alternativa refrescante para o dia a dia.

De forma geral, os vinhos produzidos com a Vermentino são bastante variados. Há os delicados e frescos, mas também os estruturados e potentes. Os aromas mais comuns são de pera, maçã, flores brancas, amêndoas, hortelã, erva-doce e tomilho. Aromas e sabores minerais aparecem frequentemente. Em boca, um leve amargor no final é característica marcante da casta.

Segundo dados da OIV, a área plantada de Vermentino ao redor do mundo, em 2015, era de 11.155 hectares. A grande maioria destes vinhedos (cerca de 98% da área plantada) situava-se na Itália e França. Na Itália eram 5.625 hectares (50,4%), enquanto a França contava então com 5.378 hectares (48,2%). Porém, por conta do acelerado crescimento dos vinhedos na França nos últimos cinco anos, sobretudo no Languedoc-Roussillon, a Itália deve perder a liderança quando da divulgação de estatísticas mais recentes. Na França existam cerca de 2.800 hectares de vinhedos de Vermentino em 1998, área que passou para mais de 6.300 hectares em 2018.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um lindo e reluzente amarelo ouro, um pouco mais para o claro, com discretas e rápidas lágrimas finas.

No nariz traz a sutileza e delicadeza do frescor e leveza, com aromas de frutas de polpa branca e cítricas com destaque para a maçã verde, abacaxi, pera, maracujá, com um toque floral agradável, como se estivéssemos a caminhar em um campo com flores brancas, além do herbáceo evidente, bem como a salinidade, a mineralidade.

Na boca é leve, fresco, refrescante, mas que goza de alguma personalidade, graças a uma intrigante untuosidade que o torna saboroso e volumoso no palato. Protagoniza, como no aspecto olfativo, as notas frutadas, cítricas e de polpa branca e também a salinidade, a mineralidade, com uma acidez instigante, média, que saliva, com um azedo gostoso, típico da casta e um final persistente.

É um prazer que não se cessa quando se degusta, pela primeira vez, vinhos cujas castas ou regiões não conhecia. E degustar uma casta pouquíssima conhecida em nossas terras, embora goze de popularidade em terras italianas, considero esse momento especial. Um vinho simples, com uma proposta direta, mas singular no seu momento em que envolve tantas gratas novidades. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Mandrarossa:

Criada em 1999 graças a um estudo que durou mais de 20 anos, que levou à seleção das melhores combinações variedade/terroir: os habitats ideais que permitem a cada casta expressar plenamente o seu potencial.

Depois de fundar a Marca, fruto de anos de estudos de mapeamento de solos, a pesquisa continuou a ser o fio condutor dos vinhos sicilianos inovadores. No território de Menfi, onde é criada a Mandrarossa, o comportamento de outras variedades foi monitorado em 5 campos experimentais. Intensas atividades de microvinificação foram realizadas levando à introdução de novos vinhos na linha de produtos ao longo do tempo, alguns dos quais únicos para o panorama siciliano.

A ambição de Mandrarossa é grande e, a partir de 2014, uma equipa internacional de enólogos, agrônomos e especialistas em terroir, lançou um importante estudo científico sobre os solos calcários, levando à produção de dois vinhos Contrada.

Sobre a Vinícola Settesoli:                                         

Cantine Settesoli é uma grande cooperativa vinícola siciliana que exporta um grande volume de vinhos de valor sob as classificações Sicilia DOC bem como Terre Siciliane IGT.

A empresa foi fundada em Menfi em 1958 por um grupo de agricultores no momento em que eclodia uma crise econômica na região. Settesoli agora tem mais de 2.000 viticultores membros, com vinhedos totalizando então cerca de 6.500 hectares.

A empresa inicialmente vendia apenas a granel, mas começou a engarrafar seus próprios vinhos em 1974. Settisoli começou a se concentrar em variedades locais como Grecanico, Inzolia e Nero d’Avola, e em seguida, em meados da década de 1980, começaram a plantar variedades importadas como Cabernet Sauvignon, Syrah, Sauvignon Blanc e Chardonnay.

Settesoli é a linha principal de vinhos varietais, enquanto o rótulo Mandrarossa é a camada superior. Inycon é, de fato, a marca exclusiva para exportação da empresa, lançada em 1999.

Mais informações acesse:

https://www.mandrarossa.it/en

https://www.cantinesettesoli.it/

Referências:

“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2016/04/sicilia/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/290-sicilia-o-continente-do-vinho

“Vinhos e Castelos”: https://vinhosecastelos.com/vinhos-da-sicilia-italia/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/vermentino

“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2022/02/uva-vermentino/

“Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/sommelier-wine/serie-uvas-vermentino/

“Wine Fun”: https://winefun.com.br/vermentino-conheca-uma-das-uvas-que-mais-vem-ganhando-espaco-na-europa/

 

 








domingo, 9 de janeiro de 2022

Estate 1958 Inzolia 2019

 

Mais um vinho da série que, a cada dia ou semana, está cada vez mais emocionante, das castas e/ou regiões pouco conhecidas, raras e nem um pouco badaladas. Falo emocionante, mas degustar vinhos com essas novidades traz à tona o que vem se tornando um fato em minha caminhada de enófilo: de que o universo do vinho é vasto e pouquíssimo inexplorado.

Quem dizer por aí que muito já degustou, que domina vários conceitos do vinho ou está redondamente enganado ou goza de uma arrogância do tamanho do mencionado universo desta maravilhosa bebida.

Mas eu confesso que demorei a escolhê-lo. Não sei dizer exatamente o motivo pelo qual isso aconteceu. Talvez seja pelo fato dessas visões pré concebidas, aqueles preconceitos pequenos, mas significativos para não proporcionar potenciais momentos de alegria, prazer, de celebração.

Lembro-me que tive umas três boas oportunidades para compra-lo. Boas oportunidades que me refiro são basicamente de valores atrativos e aqueles desejáveis fretes grátis que dá aquela ajuda considerável. Mas não comprei.

Tive alguns medos, algumas preocupações, aquelas buscas por referências são essenciais, mas as vezes nos trava da possibilidade de degustar bons e surpreendentes vinhos, onde a razão sempre sobrepõe o coração e, atualmente, tento priorizar o contrário, mesmo que eu cometa alguns erros, afinal, nem sempre temos que ter aquela obrigação em acertar sempre, mas também não persistir no erro.

Mas um belo dia eu olhei para o vinho, não demorei muito para adquiri-lo, fiz uma breve leitura sobre a casta que jamais havia falar do nome e assumi o risco e comprei o vinho.

Demorei também para degusta-lo! Ficou na adega, caiu no esquecimento e com o início do verão, veio à tona o interesse em abri-lo, mais ainda, claro, pela casta em si. Então em um dia dominical quente e abafado, mesmo sem o raiar poderoso do sol, decidi desarrolha-lo.

Rolha retirada, taça inundada, vinho geladinho, pronto para o “abate”. Aquele ritual básico, que deve ser seguido, mas sem muitas delongas, afinal, estava curioso para conhecer o vinho e sua casta que para mim era novidade. Que vinho legal! Que vinho interessante e peculiar. O vinho que degustei e gostei veio de uma região italiana que adoro, a Sicília, e se chama 1958 Estate da casta Inzolia, safra 2019.

Inzolia? Até o nome soa diferente. Diferente também são algumas características dela. A começar com um tanino um pouco alto para uma cepa branca. Mas eu não vou tecer, pelo menos ainda, maiores comentários sobre o vinho, mas, para não perder o costume falarei um pouco da história dessa casta.

Inzolia

A uva branca Inzolia é nativa da Itália, onde também é conhecida como Ansonica, principalmente na região da Toscana. O prestígio desse tipo de uva está relacionado, sobretudo, à sua utilização na elaboração do vinho de corte siciliano fortificado, o vinho Marsala, juntamente com as outras castas brancas Catarratto e Grillo.

A grande quantidade de taninos presentes na Inzolia é considerada uma característica singular dessa variedade de uva, já que as demais uvas brancas não costumam apresentar taninos em quantidades elevadas. A perda de acidez da fruta no final da estação faz da Inzolia uma variedade que requer cuidados especiais, de forma que tenha sua qualidade assegurada.

Não há um consenso quanto à origem da uva Inzolia, a teoria mais aceita é que ela seja originária da ilha da Sicília. Entretanto, alguns estudiosos acreditam que sua terra natal, na verdade, seja a Grécia. O fato é que a Inzolia é uma das uvas brancas mais expressivas na Sicília, sendo, também, cultivada na Toscana.

Os principais varietais elaborados com esta casta são vinhos brancos secos, enquanto os vinho de corte tem êxito na combinação com as uvas Catarrallo e Grillo. Na região da Toscana, a uva Vermentino é considerada um excelente par para compor bons vinhos de corte com a Inzolia.

Os vinhos criados com a uva Inzolia apresentam coloração dourada com reflexos esverdeados, e ostentam aromas expressivos e grande equilíbrio, além de demonstrarem boa capacidade de envelhecimento. Os aromas mais comuns são os de amêndoa, ervas frescas, frutas cítricas e tropicais.

Sicília

A Sicília é a maior ilha do Mediterrâneo. É uma ilha vulcânica repleta de praias lindas, paisagens espetaculares e uma arquitetura interessante. Fruto da mistura de civilizações que habitaram a ilha e da cálida hospitalidade de seu povo. A Passagem de diversos povos através durante séculos, a Sicília tornou-se um entreposto importante no Mediterrâneo. É um destino desejado para todo viajante. Mas a Sicília não é apenas conhecida pela exuberante natureza, mas também se destaca quando o assunto é vinho. E isso teve influências na sua cultura e, claro, no seu vinho.


Foram os fenícios que iniciaram o cultivo da videira e a elaboração do vinho na Sicilia, porém foram os gregos que introduziram as cepas de melhor qualidade. Alguns historiadores relatam que antigamente na região de Siracusa (província siciliana), havia um vinho chamado Pollios, em homenagem a Pollis de Agro (que foi um ditador nessa região), que se tornou famoso na Sicilia no século VIII-VII a.C..

Esse vinho era um varietal de Byblia, uva originária da área mais oriental do Mediterrâneo, dos montes de Biblini na Trácia (antiga região macedônica que hoje é dividida entre a Grécia, Turquia e Bulgária). O historiador Saverio Landolina Nava (1743-1814) relatou que o Moscato de Siracusa deriva desse vinho de Biblini, sendo classificado como o vinho mais antigo da Itália.

Já o vinho doce Malvasia delle Lipari (Denominação de Origem do norte da Sicilia) parece ter sua origem na época da colonização grega na Sicilia. Lipari é uma cidade que pertence ao arquipélago das ilhas Eólicas.

Durante o Império Romano, o também vinho doce Mamertino (outra Denominação de Origem) produzido no norte da Sicilia, era muito apreciado por muitos, inclusive por Júlio César e era exportado para Roma e África

A viticultura na região sofreu uma grande redução com a queda do Império Romano, porém durante a dominação árabe foi introduzida a variedade de uva Moscatel de Alexandria na ilha Pantelleria, que mantém ainda hoje ali o nome árabe Zibibbo. Os árabes introduziram na Sicília suas técnicas de viticultura e também o processo de passificação das uvas.

No século XVIII a indústria enológica na Sicilia teve um grande avanço e começou a produzir o vinho de Marsala que conta atualmente com uma Denominação de Origem Protegida. Esse vinho se tornou conhecidíssimo no resto da Europa graças a um navegante e comerciante inglês chamado John Woodhouse, que ancorou sua embarcação no porto de Marsala para se proteger de uma tempestade. Foi quando provou o vinho local e se apaixonou, resolvendo levar alguns barris para a Inglaterra. O vinho de Marsala fez tanto sucesso por lá que Woodhouse começou a investir na Sicilia comprando vinhedos e construindo vinícolas para produzir vinho de Marsala, se tornando um empresário do setor vitivinícola de grande êxito.

Como na maioria dos vinhedos da Europa, a Phylloxera também atingiu a ilha Salinas, no norte da Sicilia, provocando uma devastação dos vinhedos que foram se recuperando gradativamente com a plantação de novos vinhedos e a criação em 1973 da Denominação de Origem Malvasia delle Lipari.

A região possui um clima e um solo que favorecem muito a viticultura e a elaboração de vinhos, sendo uma das principais atividades econômicas da ilha italiana. A topografia é variada, formada por colinas, montanhas, planícies e o majestoso vulcão Etna. Encontramos vinhedos por toda parte, que vão das colinas até a parte costeira.

Nas colinas os vinhedos são cultivados em terrazas que chegam inclusive a uma altitude de 1.300 metros, o que as videiras adoram, pois proporciona muita luminosidade e uma ótima drenagem. Encontramos vinhedos também na parte costeira da ilha.

O clima na Sicília é mediterrâneo, mais quente na área mais costeira e no interior da ilha é temperado e úmido, podendo ás vezes apresentar temperaturas bem elevadas por influência de ventos procedentes da África. Também possui uma quantidade grande de microclimas por causa da influência do mar. As chuvas são mais comuns durante o inverno com cerca de 600mm anuais. Os vinhedos sicilianos necessitam, portanto serem regados.

O solo na ilha é muito variado e rico em nutrientes em razão das erupções vulcânicas do Etna. Encontramos solos arenosos, argilosos e de composição calcária. Em uma parte da ilha o solo é constituído de gneiss, que é um tipo de rocha metamórfica composta de granito. Em quase todas as localidades da Sicília se elaboram vinhos, e essas regiões vitivinícolas contam com várias DOC.

As principais castas tintas produzidas na Sicília são: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Syrah, Nerello Mascalese, Nerello Capuccio, Frappato, Sangiovese, Nero d’Avola e Pinot Nero. Já as brancas destacam-se: Grillo, Catarrato, Carricante, Inzolia, Moscato di Panteleria, Grecanico, Trebbiano Toscano, Malvasia, Chardonnay e Sauvignon Blanc.

E agora o vinho!

Na taça revela um amarelo levemente dourado com reflexos esverdeados com um reluzente brilho e discretas e rápidas lágrimas.

No nariz as frutas têm o protagonismo, frutas de polpa branca, algo de cítrico também e frutas tropicais, com notas florais, de flores brancas bem delicadas.

Na boca é fresco, refrescante, saboroso, com as notas frutadas em grande evidência como no aspecto olfativo, com taninos também um pouco mais evidente para uma casta branca, acidez muito boa, que faz salivar e um final de média persistência e frutada.

Mais uma grata descoberta! O garimpo do vinho nos revela riqueza à alma, nos entrega o que há de mais significativos em seu vasto e inexplorado universo. Tudo conspirou a favor nesta degustação: a casta, a região, adoro os vinhos da Sicília e a suas formas despretensiosas de degustação, o novo contato com este produtor etc. o 1958 Estate se revelou um vinho fresco, harmonioso, com alguma estrutura sim, graças aos seus inusitados taninos um pouco mais evidentes, mas leve, jovem, despretensioso, como todo siciliano tem de ser, o que muito me atrai e me cativa. Um frescor que me faz viagem, sem sair de casa, até os mares que banham a Sicília, que me projeta uma degustação com evidente apelo regionalista à beira mar, provando suas cepas autóctones. Tem 12,5% de teor alcoólico. Ah o nome do vinho, “1958 Estate” é em virtude da ano de fundação da vinícola, exatamente em 1958.

Sobre a Cantine Settesoli:

A Cantine Settesoli é cooperativa vinícola siciliana de 2.000 produtores que desde 1958 acredita no valor da comunidade, na qualidade dos vinhos que produz e no bem-estar econômico, social e ambiental gerado pelo trabalho em equipe. Cultivam a maior variedade de uvas da Sicília: mais de 30 cultivares diferentes em 6.000 hectares de terra, que representam mais de 7% dos vinhedos da ilha.

São uma empresa global que aposta nas novas gerações, que cultiva o futuro, que se preocupa com a vinha respeitando o meio ambiente e que sempre foi pioneira na investigação, tecnologia e qualidade, para garantir valor às uvas, remuneração aos associados e vinhos excelentes para os consumidores.

São o motor do desenvolvimento econômico de todo o território, que desde Menfi se estende além de Montevago, Condessa Entellina e Santa Margherita di Belìce e abrange três províncias. Envolvemos 70% das famílias que vivem nesta parte do sudoeste da Sicília, em um caminho de cooperação que reúne pequenos vinicultores em um grande vinhedo.

Nascida em 1958 em Menfi, no mesmo ano em que foi publicado "Il Gattopardo" de Tomasi di Lampedusa, romance histórico siciliano que menciona um feudo denominado Settesoli. Herança importante, tanto que foi concedida como dote por Dom Calogero Sedara à sua filha Angélica para o casamento com Tancredi, neto do Príncipe de Salina: o mesmo feudo do qual tiram o nome da vinícola, as mesmas terras que o constituem. O pano de fundo do livro é o olhar diário da Cantine Settesoli. Lá, revive uma história antiga que remonta aos sicanos e passou desde os antigos gregos: os vinhedos ainda emolduram Selinunte, o maior parque arqueológico da Europa, e o apoiaram com uma arrecadação de fundos que visa torná-lo mais conhecido e utilizável.

Os viticultores apostam na vinha e juntos apostam na organização, que na Sicília é uma escolha de inovação: fazer com que o mundo do vinho passe de uma conotação puramente agrícola e sedentária a uma visão de empresa global, confiada a gestores preparados e atentos ao desenvolvimento de jovens que viajaram o mundo e depois voltaram para casa, para valorizar a comunidade.

Optaram por seguir o caminho da qualidade: existe uma relação constante entre agrónomos e sócios, que se orientam durante todas as fases do seu trabalho no campo, para tirar o melhor partido das nossas uvas, dos nossos solos e das características pedoclimáticas dos vinhedos. Isso protege os viticultores, o vinho que produzem e o território em que vivem. Foram a primeira vinícola na Itália a certificar a rastreabilidade de toda a cadeia produtiva, desde a vinha (em que todas as fases são monitoradas, para a proteção do meio ambiente e da qualidade do produto) às adegas (onde se concentram na eficiência energética e tem um dos maiores sistemas fotovoltaicos do setor vitivinícola italiano).

A sustentabilidade está no DNA da vinícola. São pioneiros na investigação: o patrimônio vitícola assenta nas vinhas tradicionais da zona mediterrânica e nas mais recentes castas importadas, com um olhar sempre atento às novidades. Sempre investiram em tecnologias e colaboramos com prestigiosas universidades e investigadores de todo o mundo, para melhorar a qualidade das uvas e produzir vinhos únicos e distintos no território. Por exemplo, todos os anos efetuam a vindima noturna geo-localizada das mais delicadas uvas brancas para preservar intactas as suas qualidades e aromas.

A qualidade dos vinhos é atestada pelos inúmeros prémios recebidos ao longo dos anos: o de "Adega do Ano" pela excelente relação qualidade / preço; o “Prêmio Sodalitas”, pelo compromisso com a responsabilidade social em prol do território; “Tre Bicchieri” de Gambero Rosso em Mandrarossa Cartagho e Timperosse, só para citar alguns.

Oss vinhos são distribuídos na Itália e no exterior sob as marcas Settesoli, Mandrarossa e Inycon e são obtidos a partir de uvas selecionadas, vinificadas na área de origem, integrando a cultura local, métodos tradicionais e inovação tecnológica. Também Colaboram com grandes varejistas internacionais, sempre produzindo os melhores e comercializando vinhos de qualidade, com marcas exclusivas e próprias em todo o mundo. 

Mais informações acesse:

https://cantinesettesoli.it/it

Referências:

“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2016/04/sicilia/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/290-sicilia-o-continente-do-vinho

“Vinhos e Castelos”: https://vinhosecastelos.com/vinhos-da-sicilia-italia/

“Vinho Perfeito”: http://vinhoperfeito.com/2017/02/22/inzolia/

“Divinho”: https://www.divinho.com.br/uva/inzolia/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/inzolia