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sábado, 28 de novembro de 2020

Montecchio Sangiovese 2018

 

O que vem a mente quando falamos na emblemática casta Sangiovese: a Toscana, os vinhos que mais eleva que exporta o nome da Itália vitícola para o mundo, os Chiantis, os Brunelos de Montalcino etc. Definitivamente a Sangiovese é uma jóia da Itália, a uva mais produzida, mais cultivada daquele país, uma casta icônica que personifica a história, a cultura vitivinícola da Itália. Mas não se enganem prezados leitores, não é só da Toscana que vive a fama da velha e necessária Sangiovese. Por uma questão geográfica a região, pouco conhecida, menos comentada em terras brasileiras, de Emilia Romagna, mais ao sul da Itália, faz divisa com a Toscana e é tida como uma das grandes produtoras da cepa, mas com algumas características mais peculiares. Confesso que desconhecia a importância dessa região para com a Sangiovese, embora a casta esteja em toda a Itália, transformando-a em uma das mais cultivadas e adoradas entre os italianos, sendo responsável, inclusive por 10% da região vitícola do país. Então, como sempre, e isso me faz ter orgulho de mim mesmo, pretensões à parte, decidi comprar um vinho italiano 100% Sangiovese da região de Rubicone, localizado em Emilia Romagna. Claro que não são os Chiantis, os Brunelos da vida, mas quem se importa? Vamos de novidades, vamos investir em coisas pouco ortodoxas e deixar de trafegar, por um instante, da zona de conforto dos emblemáticos. 

E o ímpeto e avidez em ler sobre a Sangiovese fez com que, em uma curiosa conexão, encontrar, em mais uma de minhas inúmeras incursões aos supermercados, um rótulo de Sangiovese da região de Rubicone, na região de Emilia Romagna. E resolvi degusta-lo, sem mais delongas. E não é que o vinho surpreendeu! Então apresentemos o vinho que degustei e gostei que desembarcou de Emilia Romagna, de Rubicone, para meu deleite, em minha taça, e se chama Montecchio, um IGT (indicação Geográfica Típica) da casta Sangiovese, da safra 2018. Então, como toda grande e inspiradora novidade, sempre vem com doses cavalares de informação e história, falemos de um pouco da região, Emilia Romagna e Rubicone, da Sangiovese na região de Romagna e um pouco da magnífica casta que é sinônimo da Itália, a Sangiovese.

Emilia Romagna

A Emília-Romanha (em italiano Emilia-Romagna; em emiliano-romanholo Emégglia-Rumâgna) é uma região situada no Norte da Itália com quatro milhões de habitantes e 22 124 km², cuja capital é Bolonha.[1][2][3] Limita-se ao norte com o Vêneto e Lombardia, a oeste com o Piemonte e a Ligúria, ao sul com a Toscana e com a República de São Marinho. Esta região é composta da união de duas regiões históricas: a Emilia, que compreende as províncias de Placência, Parma, Reggio, Módena, Ferrara e parte da província de Bolonha, com a capital, e a Romanha, com as restantes províncias de Ravena, Rimini, Forlì-Cesena e a parte oriental da província de Bolonha. A Romanha histórica compreende também territórios das Marcas, da Toscana e da República de San Marino. O centro da Itália nos reserva algumas fantásticas surpresas. Como são regiões relativamente novas, a variedade é bastante grande e a qualidade depende do pioneirismo de alguns ótimos produtores. A região Emilia-Romagna sempre foi mais conhecida pelos populares vinhos Lambrusco, mas, atualmente alguns talentosos produtores têm feito surgir aqui também alguns dos melhores vinhos tintos e brancos da Itália.


Emilia Romagna e Rubicone

Emilia-Romagna conta com a presença de ventos frios e delicados em suas colinas. A região italiana dá origem a um vinho tinto com a uva Sangiovese muito apreciado pelos italianos, embora seja pouco conhecido pelos estrangeiros. A região sofreu um sério problema de identidade com relação aos seus vinhos na época do fascismo italiano, graças ao líder do regime no país, Benito Mussolini, que alterou o mapa da Itália, separando a região de Romagna da Toscana em meados de 1920. Emilia-Romagna é, na verdade, a combinação entre duas regiões muito distintas quando o assunto se refere à produção de vinhos. Emilia, localizada mais ao norte em direção aos Apeninos e à Lombardia, é conhecida principalmente pelas denominações de origem para produtos alimentícios. Romagna, situada mais ao sul, na fronteira do mar Adriático, e cujas terras já em parte à Toscana, produz vinhos elegantes e elaborados. Atualmente, com a consolidação de uma única região produtora, Emilia-Romagna uniu os dois tipos de produção, tornando-se referência em vinhos e também na elaboração de produtos alimentícios relacionados. Em 1962, foi criado o Consórcio de Vinhos da Romagna. Sobre suas regras encontram-se 7 empresas, 87 produtores e 9 cooperativas. Através desse trabalho eles conseguiram, em 1967, que os vinhos elaborados na região italiana recebessem uma Denominação de Origem Controlada (DOC). Estão inseridos na DOC os vinhos produzidos a partir da uva Sangiovese cultivadas nas colinas de Imola até as plantadas na cidade de Rimini.

A Sangiovese na Romagna

A proximidade física com a Toscana faz com que os vinhos Sangiovese da Romagna sejam frequentemente comparados com seus vizinhos. Mas eles têm estilo e vigor próprios. Sopra um vento frio e delicado nas suaves colinas da Romagna. Essas terras, em algumas zonas bastante férteis e, em outras, um pouco mais pobres, permitindo o cultivo das vinhas, produzem um tinto da Sangiovese muito apreciado pelos italianos, embora pouco conhecido dos estrangeiros, que faz dele o acompanhamento perfeito para a gastronomia da região, a mais rica de toda a Itália. A Emilia-Romagna é, na verdade, a combinação de duas regiões que se distinguem muito pelo que produzem. A Emilia, mais ao norte e em direção dos Apeninos e da Lombardia, é conhecida pelas denominações de origem para produtos alimentícios, e a Romagna, mais ao sul com um território que termina no mar Adriático, é a região dos vinhos mais elaborados e elegantes, cujas terras já pertenceram em parte à Toscana, sua vizinha ao sul. Foi Benito Mussolini quem alterou o mapa da Itália e separou as terras da Romagna das da Toscana, na década de 1920, criando um problema de identidade para os vinhos da região. As uvas Sangiovese plantadas em ambas as zonas têm uma raiz comum na região entre Florença e Bologna, mas, com o passar dos anos, os toscanos foram fazendo seleções de clones até descobrirem os que melhor se adaptavam ao seu território, menos fértil e mais pedregoso, e chegarem aos especialíssimos Brunellos de Montalcino (preparados à partir da variedade Sangiovese Grosso). Durante muito tempo os toscanos acreditavam que a variedade usada na Romagna era inferior, mas as pesquisas dos ampelógrafos descobriram que a variedade de grãos mais delicados (Sangiovese Piccolo) da zona mais ao norte era ainda mais característica da cepa do que alguns clones toscanos. A grande diferenciação de qualidade devia-se ao tratamento dado às uvas e ao terroir onde elas estavam inseridas. Os vinhos produzidos nessas regiões seguem regulamentos que não permitem a utilização de outras uvas além da Sangiovese em razão superior a 15%, a produtividade máxima de 11 toneladas por hectare (que pode ser muito menor de acordo com o estilo do vinho) e a classificação em três tipos, o Novello (vinho jovem com, ao menos, 50% de maceração carbônica), o Superiore e o Riserva. Em meados da década de 1960 que a Romagna começou a levar seus vinhos mais a sério (como já faziam os vizinhos do sul) e criou, em 1962, o Consórcio dos Vinhos da Romagna. Sob suas regras estão nove cooperativas, 87 produtores e mais sete empresas. Com esse trabalho eles conseguiram que, em 1967, seus vinhos obtivessem uma Denominação de Origem Controlada. Estão inseridos nela os vinhos feitos com as uvas Sangiovese cultivadas desde as colinas de Imola, no extremo oeste, até o extremo leste, na cidade de Rimini, que inclui as províncias de Bologna, Ravenna, Forli-Cesena e a própria Rimini. Ao longo das décadas, mesmo com todo o controle e fiscalização implementados pelo Consórcio, os bons vinhos da Romagna ainda não conseguiam atingir o potencial que seus produtores sabiam que eles tinham. Assim, nasceu em 2001 o "Convito di Romagna", uma espécie de consórcio voluntário e auto-patrocinado que une oito produtores comprometidos com a alta qualidade dos produtos. Os participantes são as vinícolas Calonga, Drei Donéa (Tenuta La Palzza), Fattoria Zerbina, Stefano Ferrucci, Poderi Morini, San Patrignano, San Valentino e Tre Monti, que entenderam que, para uma área de produção ser valorizada, é preciso que os produtores estejam unidos com propósito comum. Da mesma forma que o Convito di Romagna vem trabalhando para reforçar a imagem e controlar a qualidade dos vinhos produzidos com a Sangiovese, o Consorzio Vini di Romagna resolveu estreitar ainda mais as suas regras, e também reposicionar a DOC, mudando-a de nome. A partir da colheita de 2011, a DOC passará a se chamar Romagna Sangiovese.

Sangiovese

Pense num bom vinho tinto que lembre a Toscana. Pensou? Que rótulo veio à mente? Chianti? Carmignano? Brunello di Montalcino? Rosso di Montalcino? Pois bem, todos eles têm algo em comum, um “quê” a mais que os torna tão únicos e especiais. Este “quê” chama-se Sangiovese, uma uva nascida, criada e crescida na Itália. Fruto possivelmente do cruzamento das castas Calabrese Montenuovo e Ciliegiolo, a Sangiovese também é conhecida na Toscana, onde é ícone da vitivinicultura, com os nomes de Sangioveto, Brunello, Prugnolo Gentile ou Morellino. Algumas teorias em torno da origem da casta datam seu cultivo desde a vinicultura romana, e parte disso se dá por conta do nome dela. Sangiovese vem do latim “Sanguis Jovis”, ou seja, sangue de Júpiter. Outros garantem que ela já existia desde a civilização Etrusca, que viveu onde hoje é a Toscana entre 1.200 e 700 a.C. De qualquer maneira, o primeiro documento encontrado a respeito da uva é de 1590, na própria Toscana. Seu reconhecimento, no entanto, só aconteceu depois do século XVIII, quando passou a ser uma das castas mais plantadas da região, onde encontra condições perfeitas de crescimento. Foi na Toscana que, em meados do século XIX, o agricultor Clemente Santi isolou suas vinhas para uma prática pouco comum na época: fabricar vinhos varietais de Sangiovese, que envelheceriam por um período considerável. Em 1888, seu neto Ferruccio Biondi-Santi, um veterano soldado que lutou ao lado de Giuseppe Garibaldi, lançou a primeira versão moderna do Brunello di Montalcino, um vinho que descansou por mais de uma década em barris de madeira. O vinho agradou tanto os toscanos que, nas primeiras décadas do século XX, já era aguardado ansiosamente por críticos e consumidores locais. Ao redor de 1950, a fama do Brunello extrapolou os limites italianos e fez dele um fenômeno mundial. A uva sangiovese tem um tempo de cultivo longo, mas o fato é que pode ser produzida em diversos lugares, tendendo a se desenvolver melhor em ambientes quentes, de clima seco e de solos calcários. Além da região da Toscana, há grandes plantações de sangiovese em outras áreas da Itália como na Umbria, zona central italiana, e em Campania, no sudeste do país. Estados Unidos e Austrália também são grandes produtores de Sangiovese. Uma das características típicas da legítima Sangiovese é elevada acidez e concentração de taninos. Por isso, é muito comum que os produtores de vinho a misturem com outras uvas, como a canaiolo, mais macia e suave. Um parêntese importante: a combinação de sangiovese, canaiolo e malvasia é a composição do tradicional vinho Chianti, resultado de experimentos de um barão chamado Benito Ricasoli no final do século XIX. O fato é que outros produtores da região começaram a questionar as convenções tradicionais e passaram a experimentar outras propostas com a uva sangiovese, misturando-a especialmente com uvas de origem francesa como as da região de Bourdeaux, entre elas, a Cabernet Sauvignon. Surgia, assim, um tipo de vinho conhecido como Super Tuscan (ou Supertoscano) que, em um primeiro momento, não agradou muito os consumidores italianos, mas conquistou o mercado internacional, com grandes apreciadores mundo afora, principalmente nos Estados Unidos.

E agora finalmente o vinho:

Na taça conta com um vermelho rubi com traços violáceos e diria um tom meio atijolado, meio marrom, com lágrimas finas e rápidas.

No nariz apresenta um discreto toque frutado, de frutas vermelhas maduras como cereja e groselha, além de notas de especiarias, algo meio apimentado.

Na boca é seco, leve, macio, um vinho fácil de degustar, com as percepções, também discretas, frutadas, com taninos leves e sedosos, mas com uma proeminente acidez que faz do vinho pouco ortodoxo e fresco, ainda jovem. Tem um final de média persistência com o álcool evidente, mas equilibrado, bem integrado ao conjunto do vinho.

Um Sangiovese com características peculiares, inerentes à sua região, mostrando o quanto é importante, essencial a tipicidade, a importância do terroir e ecoa na tradição, na cultura de um povo e esse forte apelo regionalista faz da Sangiovese emblemática no molde do DNA da história da vitivinicultura da Itália e que atualmente vem se globalizando e a casta vem ganhando rótulos produzidos em várias partes do mundo, inclusive do Brasil a Sangiovese vem tendo espaço considerável. O Montecchio me trouxe uma nova possibilidade de uma Sangiovese pouco difundida, é um vinho descomplicado, frutado, fresco, leve, tendo a jovialidade como a razão primordial de sua condição, mas que mostra a personalidade, com a sua expressividade, sendo versátil e com uma ótima vocação gastronômica. O Montecchio Sangiovese mostra e corrobora que a simplicidade pode nos entregar a nobreza do vinho, abrindo um leque diverso de percepções e experiência sensorial, além de uma gama infindável de informação, cultura e história. Que o aspecto regional ganhe o mundo e mostre a todos os rincões desse planeta a importância da tipicidade no vinho. Tem 12% de teor alcoólico.

Sobre a Bosco Viticultori:

Bosco Viticultori possui sede em Salgareda, no coração da Marca Trevigiana, terra sempre voltada para a produção de vinhos. A empresa é parte integrante do Grupo Vi.V.O. (Viticoltori Veneto Orientale) desde 2009, o mais importante grupo cooperativo para a produção de vinhos do território nordeste italiano, com outros 2.300 sócios viticultores e uma produção anual superior a 52.000.000 de quilos de uvas, dando-lhes assim uma forte ligação ao território.  Nestas terras, onde as condições ambientais e de trabalho das pessoas deram vida a uma tradição vitivinícola famosa em todo o mundo, a empresa Bosco Viticultori produz desde 1948 bons vinhos graças a presença de um moderno e amplo centro de produção. A Bosco Malera é uma das maiores produtoras de Lambruscos. A marca Montecchio é mundialmente conhecida pela ligação com a história de Romeu e Julieta. Além disso, a vinícola também produz outros vinhos no norte da Itália. A Bosco Viticultori dá vida a uma produção de vinhos que são a expressão das características e das peculiaridades próprias da terra de origem: perfume nítido, intenso, delicado e limpo. As delicadas operações de seleção e colheita, seguidas da prensagem e fermentação em temperatura controlada, permite o pleno respeito da natureza e da própria complexidade das diversas uvas cultivadas e vinificadas.

Mais informações acesse:

http://www.boscoviticultori.com/it/

Referências de pesquisa:

Sobre Emilia Romagna:

Wikipedia, em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Em%C3%ADlia-Romanha

Portal Mistral, em: https://www.mistral.com.br/regiao/emilia-romagna

Sobre a Sangiovese em Romagna:

Portal Revista Adega, em: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-romagna-do-sangiovese_3217.html

Sangiovese:

Portal Art de Caves, em: https://blog.artdescaves.com.br/uva-sangiovese-tudo-sobre-essa-joia-toscana

Portal Revista Adega, em: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/sangiovese-uva-icone-da-toscana_11856.html