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sexta-feira, 29 de julho de 2022

Dom Bernardino Marselan

 

Já que defendo, de forma consistente e insistente, que o universo do vinho é vasto e inexplorado, vamos enaltecer tal máxima, explorando, garimpando essa vastidão de rótulos personificados em regiões, castas e tudo o mais.

E o melhor de todas essas experiências sensoriais é o contato latente com a cultura e a história de regiões, dos países e dos terroirs com os seus comportamentos que diretamente influenciam nas variedades que degustamos e que também influenciam no modo de produção, de vinificação de todos os vinhos que degustamos diariamente.

Sempre ouvi dizer que São Paulo, por exemplo, foi uma região proeminente na produção de vinhos e mais, com certo protagonismo na história vitivinícola brasileira. Mas nunca parei para pensar na dimensão dessa informação, na relevância disso tudo e consequentemente nunca me atentei para a possibilidade de degustar quaisquer vinhos das regiões contempladas pela natureza nas terras paulistas.

E de uma forma quase que despretensiosa que a região de São Roque entrou em meu caminho enófilo e que, para a minha simples e humilde realidade de degustador de vinhos, está até mais intensa com algumas degustações surpreendentes, positivamente falando.

E o mais importante de tudo: a valorização dos pequenos e médios produtores! Dos produtores artesanais que, diante de sua importância para o cenário vitivinícola brasileiro, se tornam grandes, embora pouco valorizados e boicotados pela indústria do vinho. Mas isso é outra história...

Quando descobri um site chamado Pemarcano Vinhos os rótulos de São Roque, conhecida como a “terra do vinho”, vem se tornando, razoavelmente constante, em minha realidade e, depois das primeiras experiências, tenho sido agraciado por alguns vinhos especiais pelo amigo Luciano, dono da Pemarcano, com rótulos especiais.

E um desses produtores pequenos que vem me surpreendendo é a Bella Aurora. Alguns já foram, claro, degustados e que realmente gostei. Comecei pelo Dom Bernardino Touriga Nacional 2018! Um Touriga Nacional de São Roque! Jamais esperaria que isso fosse acontecer! Claro que as uvas são oriundas do Rio Grande do Sul, porém vinificadas nas dependências da Bella Aurora.

Depois veio outra surpresa inacreditável: Dom Bernardino Riesling 2020! Um vinho leve, frutado, uma acidez salivante. Resumindo: um vinho saboroso. Então, diante disso, nada mais do que natural buscar novos rótulos ou torcer para que o amigo Luciano, no ápice de sua gentileza, me trouxesse algo novo dessa vinícola. E não é que veio?!

E veio com mais uma surpresa! Aquela que veio de forma arrebatadora. Não demorei muito a degusta-lo diante da ansiedade que me tomava de assalto. Então sem mais delongas o vinho que degustei e gostei veio, claro, de São Roque, São Paulo, e se chama Dom Bernardino da casta Marselan não safrado.

E como nas resenhas dos rótulos degustados anteriormente deste produtor, devo, preciso exaltar a nobreza histórica dessa região tão importante para a cultura vitivinícola brasileira, claro, falo de São Roque e também da casta Marselan.

São Roque: “A terra do vinho”

A cidade de São Roque foi fundada no dia 16 de agosto de 1657, mas começou como uma grande fazenda do capitão paulista Pedro Vaz de Barros, que pertencia a uma família de bandeirantes e sertanistas. Vaz de Barros também participou de diversas Bandeiras. O fundador da cidade, também conhecido como Vaz Guaçú, contava com aproximadamente 1.200 índios que trabalhavam em suas terras, onde eram cultivados trigo e uva.

Alguns anos após a morte de Vaz de Barros, seu irmão, Fernão Paes de Barros, se estabeleceu na mesma região, onde construiu uma casa e uma capela, que foram restauradas em 1945 pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a pedido do escritor Mário de Andrade, dono da propriedade.

Na região de São Roque, podem-se identificar referências à vitivinicultura desde a sua fundação, por volta do final do século XVII. Conforme informações encontradas e divulgadas pelos moradores da cidade, através da tradição oral, ou mesmo citado pelo Professor Joaquim Silveira dos Santos em seu artigo para a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, volume XXXVII, nessa época toda a região pertencia a apenas três grandes proprietários de terras: Pedro Vaz de Barros, seu irmão Fernão Paes de Barros e o padre Guilherme Pompeu de Almeida, sendo que Pedro Vaz (tido como o fundador da cidade) se estabeleceu próximo da atual igreja Matriz, seu irmão mais ao norte, onde até hoje ainda se encontra a casa grande e capela Santo Antônio, e por fim a fazenda do padre Guilherme Pompeu se encontrava na hoje atual cidade de Araçariguama que faz divisa com Santana do Parnaíba.

Portanto realmente não se podem esperar grandes referências desse período da história, afinal o Brasil era apenas uma colônia e que existiam restrições da fabricação de qualquer tipo de produto em nosso solo, ou seja, em tese tudo deveria vir de Portugal, inclusive o vinho.

Após um período difícil, o povoado originado por Pedro Vaz foi elevado à categoria de Freguesia no dia 15 de agosto de 1768, recebendo o nome de São Roque do Carambeí. No dia 10 de julho de 1832, a Freguesia foi elevada à categoria de vila, mas o progresso do local só começou em 1838, quando começaram as lavouras de milho, algodão, arroz, mandioca e farinha de mandioca, cana de açúcar e derivados, legumes e verduras.

Em março de 1846, seis anos após instalar-se na vila o destacamento da Guarda Nacional, Dom Pedro II e uma pequena comitiva permaneceram um dia na cidade de São Roque. Com a passagem de Dom Pedro II, Antonio Joaquim começou a se destacar no cenário político e, graças ao morador ilustre, São Roque foi elevada à categoria de cidade no dia 22 de abril de 1864.

Após esse longo período de estagnação, o primeiro registro oficial de plantação de uvas na região de São Roque se dá por volta de 1865, quando o Doutor Eusébio Stevaux inicia uma pequena plantação na sua fazenda em Pantojo. Pela mesma época, um colono italiano adquire uma pequena propriedade no bairro de Setúbal, alguns anos mais tarde um português na terra do então Sítio Samambaia forma um razoável vinhedo e inicia o processo de fabricação do vinho.

Dr. Eusébio Stevaux

Já em 1875 foi inaugurada a Estrada de Ferro Sorocabana, que ligou a cidade de São Paulo a São Roque e Sorocaba. Após alguns anos, em 1884, começou a grande chegada de imigrantes à cidade, fazendo com que as vinícolas aparecessem novamente e ganhassem força nos anos seguintes. Em 1924, a cidade já contava com 17.300 habitantes e foram produzidos 10 mil litros de vinho a cada ano, tendo doze produtores de vinhos, sendo cinco deles italianos.

O que possibilitou o retorno da cultura da uva e fabricação do vinho foi a importação de videiras oriundas dos Estados Unidos, pois estas eram mais resistentes ao clima brasileiro. Dentre as principais videiras trazidas estão inicialmente a “Izabel”, a “Seibel 2” (importada da França), curiosamente trazida por imigrantes italianos que se instalaram na região e posteriormente a “Niágara Branca”, oriunda da região do Alabama, EUA.

Portanto, a divisão do período da cultura vinícola de São Roque, desde a fundação da cidade até a época atual em quatro fases distintas:

1ª fase: 1657 – 1880: importação de videiras portuguesas, plantações domiciliares, sem qualquer cunho comercial, ou seja, somente para consumo próprio.

2ª fase: 1880 – 1900: Retomada da viticultura são-roquense, ainda que amadora, quase que familiar, continua voltada basicamente para o consumo e pequeno varejo. Já apresenta uma tendência a profissionalização graças às técnicas trazidas pelos imigrantes italianos e portugueses. Já se utiliza da videira americana que melhor se adaptou ao clima tropical brasileiro (talvez seja este um dos principais fatores de sucesso do cultivo da uva na região de São Roque);

3ª fase 1900 – até aproximadamente final da década de 1950: processo de industrialização e profissionalização da produção do vinho com aplicações de técnicas mais modernas permitindo assim obter resultados e desempenho melhores.

Pode-se dividir esta fase primeiramente num período de início do processo de profissionalização e logo após (a partir da década de 1920), o período em que realmente a região investiu e desenvolveu as técnicas vinicultoras, durando até aproximadamente a década de 1950, onde após a massificação da produção entra num processo de decadência.

4ª fase década de 1960 – atual: esta fase engloba o processo de decadência da viticultura são-roquense. Por motivos econômicos e climáticos e até mesmo por falta de investimentos em pesquisas, que se reduziram sensivelmente tanto a qualidade como a quantidade de vinho produzido, levando ao fechamento de diversas adegas (isso principalmente a partir da década de 1980). São Roque permanecendo hoje somente com o título de “terra do vinho”, sendo que os poucos fabricantes que restaram (aproximadamente treze adegas) fabricam seu vinho não de uvas nativas de São Roque, mas sim oriundas de outras partes do Estado ou mesmo de outros estados (exemplo: Rio Grande do Sul).

Há atualmente um movimento para tentar a reversão dessa situação, porém continua bem modesto em relação a todo o histórico e números do passado no ápice do cultivo da videira em São Roque.

Marselan

A Marselan é uma uva tinta que vem aparecendo, cada vez mais, nos rótulos na versão varietal, ganhando em notoriedade. Ela faz parte do seleto grupo das 6 uvas já aprovadas pelo INAO (Institut National de L’Origine et de La Qualité) para compor a lista das uvas em Bordeaux e Bordeaux Superiéur. Juntam a esse time as tintas Castets, Arinarnoa, Touriga Nacional, bem como as brancas Alvarinho e Liliorila.

A Marselan não surgiu naturalmente. Nasceu pelas mãos do ampelógrafo parisiense Paul Truel, criador de mais de 12 outras variedades de uvas, em 1961, no sul da França. O nome da casta foi inspirado na cidade de Marseillan próxima a Montpellier. É lá onde fica localizado o INRA – centro de pesquisa agronômica, onde ele trabalhou até se aposentar em 1985.

Paul Truel

Quando Paul idealizou a Marselan ele tinha em mente potencializar, unir e melhorar as características de duas uvas conhecidas: a Cabernet Sauvignon e a Grenache. Da Cabernet Sauvignon, Truel queria preservar a potência, com rendimentos maiores, por outro lado, da Grenache – uva que se adaptou muito bem aos climas quentes – ele queria uma uva que tivesse resistência às altas temperaturas e, claro, uma nova casta resistente às doenças.

No início, ela não ganhou destaque e não foi o sucesso esperado, devido à baixa produtividade e aos pequeninos bagos. Com o aumento da demanda por uvas resistentes às moléstias – oídio, ácaros e podridão cinzenta, por exemplo -, ela foi incluída na listagem oficial de registros quase 30 anos depois, em 1990. Atualmente, é possível encontrá-la em terroirs com características distintas e ela deixa sua marca talentosa em diversos estilos, seja em um blend ou mesmo reinando sozinha em um varietal.

Muitos a utilizaram por anos apenas em pequenas porções em vinhos de corte, até que em 2002 surgiu o primeiro vinho 100% Marselan do mercado, o francês Domaine Devereux. De lá para cá, a Marselan começou a ser exportada para diferentes países, e vem ganhando espaço na Califórnia, Brasil e até na China, onde o Chateau Lafite Rotschild implantou vinhedos de Marselan mirando o mercado interno chinês.

Falando em países produtores, a Marselan vem sendo muito cultivada no Brasil, e a cada safra que passa novos produtores lançam seus rótulos. A Marselan é muito interessante para os produtores nacionais, especialmente os da Serra Gaucha, por sua boa resistência a doenças fúngicas, que aparecem ao menor sinal de umidade. Vinificada, a uva apresenta bebidas muito agradáveis e com grande potencial de guarda.

Uma característica é o ótimo equilíbrio entre taninos e acidez, além do álcool sempre bem incorporado. Estas características fazem com que os vinhos sejam de fácil consumo tanto com um ano de garrafa quanto com 5 ou 6. O estágio em barris de carvalho deixa os vinhos de Marselan ainda mais interessantes, dando um aspecto de vinhos da Toscana – com estrutura, corpo, mas muita elegância.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi, com alguma intensidade e halos granada, com lágrimas finas e em média intensidade.

No nariz é o destaque, trazendo aromas de frutas vermelhas maduras, como groselha, cereja, morango, além de notas de especiarias que lembram ervas, com um toque de terra molhada e couro.

Na boca é seco, típico da variedade, leve para média estrutura, sedoso, aveludado, graças o equilíbrio entre acidez, média, taninos, domados e álcool, bem integrado, além do protagonismo da fruta, como no aspecto olfativo e final curto.

Degustar regiões pouco “corriqueiras” como São Roque, claro, pelo menos para esse reles enófilo que vos fala, é como se estabelecêssemos um contato com um Novo Mundo e, após esse contato, a necessidade se torna premente de garimpar, descobrir, conhecer e deleitar, como a universo inexplorado e vasto, como sempre costumo falar de forma, confesso, demasiada. Novas experiências são conquistadas! Essa é a nossa conquista! A mais especial e pacífica possível: o direito inalienável de um enófilo à degustação. Dom Bernardino Marselan é simples, mas especial, não apenas por ser de São Roque, não apenas por ser um pequeno produtor, mas pela sinceridade pela qual foi concebido. Um bom vinho! Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Bella Aurora:

Vinícola fundada na década de 1920 por Bernardino Pereira Leite imigrante português iniciou sua produção para consumo caseiro. A produção em escala comercial teve início em 1932.

Com mais de 85 anos, Vinhos Bella Aurora mantém sua tradição familiar na produção de saborosos vinhos, contando com uma excelente estrutura de atendimento aos visitantes e uma equipe de representantes comercial em todo estado de São Paulo.

A Vinícola proporciona um passeio turístico para quem busca contato com a natureza. Neste passeio poderá degustar bons vinhos e sucos, além de poder adquirir toda a linha de produtos típicos da Vinícola Bella Aurora. Para melhor atender os clientes, a cantina dos Vinhos Bella Aurora foi montada no interior de um autêntico tonel de madeira com capacidade para 120 mil litros.

Mais informações acesse:

https://www.bellaaurora.com.br/

Video institucional Bella Aurora – link:

https://www.youtube.com/watch?v=pihf88FDhUE

Referências:

“Assembleia Legislativa de São Paulo”: https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=301135

“Blog do Lullão”: http://www.lullao.com/p/historia-do-vinho-em-sao-roque.html?m=1

“Sites Google”: https://sites.google.com/site/historiadovinhodesaoroque/home/historia-do-vinho-de-sao-roque

“Tosin Consultoria”: https://tosinconsultoria.com.br/marselan-que-uva-e-essa/

“Enocultura”: https://www.enocultura.com.br/cruzamento-entre-uvas-marselan/

 

 

 

 

 

  










quarta-feira, 27 de abril de 2022

Dom Bernardino Riesling 2020

 

Continuo, a todo vapor, a me aventurar por novas experiências sensoriais, novas experiências de degustações que, cada vez mais, ampliam o meu leque de opções. Quando falo disso, e tenho comentado até de forma demasiada sobre, sempre olho para trás, olho para a minha trajetória de humilde enófilo que sou e sempre serei e me faço o seguinte comentário: estou em um momento muito alegre e satisfatório de minha caminhada.

A caminhada de desenvolvimento e que não se enganem, caros leitores: não é pautada por valores, por status, de quem está degustando rótulos caros, não é isso. Mas de vinhos cujas regiões, castas e propostas estão se aperfeiçoando, se diversificando e isso independente de status social e altos custos com compras de vinhos.

Claro que, admitamos que comprar vinhos no Brasil é uma aventura difícil, o custo Brasil, as taxas tributárias, a burocracia, impõe um revés muito grande para nós, apreciadores da poesia líquida, mas tudo é uma questão de oportunidade, não de demanda ou modismos de compra.

Mas fugindo um pouco desse assunto e falando das gratas novidades que vem a cada rótulo, surgindo em minha vida, o vinho de hoje foi, mais uma vez, um presente, uma cortesia do amigo, de São Paulo, Luciano, da loja Pemarcano Vinhos, que é oriundo da cidade de São Roque, conhecida carinhosamente pelos seus habitantes, como a “terra do vinho”, e que vem abrilhantando e inundando as minhas taças com vinhos, diria, no mínimo surpreendentes, sobretudo pela relação custo X benefício.

E de uma casta que jamais pensei que fosse degustar por estar associada aos rótulos germânicos tão caros e difícil acesso ao bolso de um assalariado enófilo brasileiro que é a Riesling. A propósito, será o meu primeiro Riesling brasileiro!

Vinhos diferentes, leves, frescos, com o DNA do clima tropical de nossas terras, mas com personalidade que poucas castas brancas podem oferecer, essa é a Riesling. Então sem mais delongas, vamos apresentar o vinho! O vinho que degustei e gostei veio, como disse da região paulista de São Roque, chamado Dom Bernardino Riesling.

Digo de antemão que o vinho é simplesmente surpreendente e valoriza o frescor, a leveza, a simplicidade sim, mas que entrega as características mais marcantes da Riesling. Características estas que, antes de descrever sobre o rótulo, falarei aqui bem como a história brilhante e repleta de riquezas e tradição de São Roque. Lembrando ainda que a minha experiência com esses vinhos, da Vinícola Bella Aurora, não é a primeira, pois degustei o também surpreendente Dom Bernardino Touriga Nacional 2018.

São Roque: “A terra do vinho”

A cidade de São Roque foi fundada no dia 16 de agosto de 1657, mas começou como uma grande fazenda do capitão paulista Pedro Vaz de Barros, que pertencia a uma família de bandeirantes e sertanistas. Vaz de Barros também participou de diversas Bandeiras. O fundador da cidade, também conhecido como Vaz Guaçú, contava com aproximadamente 1.200 índios que trabalhavam em suas terras, onde eram cultivados trigo e uva. Alguns anos após a morte de Vaz de Barros, seu irmão, Fernão Paes de Barros, se estabeleceu na mesma região, onde construiu uma casa e uma capela, que foram restauradas em 1945 pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a pedido do escritor Mário de Andrade, dono da propriedade.

Na região de São Roque, podem-se identificar referências à vitivinicultura desde a sua fundação, por volta do final do século XVII. Conforme informações encontradas e divulgadas pelos moradores da cidade, através da tradição oral, ou mesmo citado pelo Professor Joaquim Silveira dos Santos em seu artigo para a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, volume XXXVII, nessa época toda a região pertencia a apenas três grandes proprietários de terras: Pedro Vaz de Barros, seu irmão Fernão Paes de Barros e o padre Guilherme Pompeu de Almeida, sendo que Pedro Vaz (tido como o fundador da cidade) se estabeleceu próximo da atual igreja Matriz, seu irmão mais ao norte, onde até hoje ainda se encontra a casa grande e capela Santo Antônio, e por fim a fazenda do padre Guilherme Pompeu se encontrava na hoje atual cidade de Araçariguama que faz divisa com Santana do Parnaíba.

Portanto realmente não se podem esperar grandes referências desse período da história, afinal o Brasil era apenas uma colônia e que existiam restrições da fabricação de qualquer tipo de produto em nosso solo, ou seja, em tese tudo deveria vir de Portugal, inclusive o vinho.

Outro fator que pode ter influenciado e não ter feito prosperar o cultivo da videira seria a prioridade da época de então, que era a descoberta de ouro, principalmente na região das Minas Gerais. Sabemos que São Paulo até então era somente um vilarejo sem grande importância econômica para a metrópole portuguesa, e se bem analisarmos a história da agricultura brasileira a uva e o vinho nunca foram tidos como principal interesse por parte de nossos colonizadores.

Após um período difícil, o povoado originado por Pedro Vaz foi elevado à categoria de Freguesia no dia 15 de agosto de 1768, recebendo o nome de São Roque do Carambeí. No dia 10 de julho de 1832, a Freguesia foi elevada à categoria de vila, mas o progresso do local só começou em 1838, quando começaram as lavouras de milho, algodão, arroz, mandioca e farinha de mandioca, cana de açúcar e derivados, legumes e verduras. Em março de 1846, seis anos após instalar-se na vila o destacamento da Guarda Nacional, Dom Pedro II e uma pequena comitiva permaneceram um dia na cidade de São Roque. Com a passagem de Dom Pedro II, Antonio Joaquim começou a se destacar no cenário político e, graças ao morador ilustre, São Roque foi elevada à categoria de cidade no dia 22 de abril de 1864.

Após esse longo período de estagnação, o primeiro registro oficial de plantação de uvas na região de São Roque se dá por volta de 1865, quando o Doutor Eusébio Stevaux inicia uma pequena plantação na sua fazenda em Pantojo. Pela mesma época, um colono italiano adquire uma pequena propriedade no bairro de Setúbal, alguns anos mais tarde um português na terra do então Sítio Samambaia forma um razoável vinhedo e inicia o processo de fabricação do vinho.

Dr. Eusébio Stevaux

Já em 1875 foi inaugurada a Estrada de Ferro Sorocabana, que ligou a cidade de São Paulo a São Roque e Sorocaba. Após alguns anos, em 1884, começou a grande chegada de imigrantes à cidade, fazendo com que as vinícolas aparecessem novamente e ganhassem força nos anos seguintes. Em 1924, a cidade já contava com 17.300 habitantes e foram produzidos 10 mil litros de vinho a cada ano, tendo doze produtores de vinhos, sendo cinco deles italianos.

O que possibilitou o retorno da cultura da uva e fabricação do vinho foi a importação de videiras oriundas dos Estados Unidos, pois estas eram mais resistentes ao clima brasileiro. Dentre as principais videiras trazidas estão inicialmente a “Izabel”, a “Seibel 2” (importada da França), curiosamente trazida por imigrantes italianos que se instalaram na região e posteriormente a “Niágara Branca”, oriunda da região do Alabama, EUA.

Portanto, a divisão do período da cultura vinícola de São Roque, desde a fundação da cidade até a época atual em quatro fases distintas:

1ª fase: 1657 – 1880: importação de videiras portuguesas, plantações domiciliares, sem qualquer cunho comercial, ou seja, somente para consumo próprio.

2ª fase: 1880 – 1900: Retomada da viticultura são-roquense, ainda que amadora, quase que familiar, continua voltada basicamente para o consumo e pequeno varejo. Já apresenta uma tendência a profissionalização graças às técnicas trazidas pelos imigrantes italianos e portugueses. Já se utiliza da videira americana que melhor se adaptou ao clima tropical brasileiro (talvez seja este um dos principais fatores de sucesso do cultivo da uva na região de São Roque);

3ª fase 1900 – até aproximadamente final da década de 1950: processo de industrialização e profissionalização da produção do vinho com aplicações de técnicas mais modernas permitindo assim obter resultados e desempenho melhores.

Podemos dividir esta fase primeiramente num período de início do processo de profissionalização e logo após (a partir da década de 1920), o período em que realmente a região investiu e desenvolveu as técnicas vinicultoras, durando até aproximadamente a década de 1950, onde após a massificação da produção entra num processo de decadência.

4ª fase década de 1960 – atual: esta fase engloba o processo de decadência da viticultura são-roquense. Por motivos econômicos e climáticos e até mesmo por falta de investimentos em pesquisas, que se reduziram sensivelmente tanto a qualidade como a quantidade de vinho produzido, levando ao fechamento de diversas adegas (isso principalmente a partir da década de 1980). São Roque permanecendo hoje somente com o título de “terra do vinho”, sendo que os poucos fabricantes que restaram (aproximadamente treze adegas) fabricam seu vinho não de uvas nativas de São Roque, mas sim oriundas de outras partes do Estado ou mesmo de outros estados (exemplo: Rio Grande do Sul).

Roteiro do vinho em São Roque

Há atualmente um movimento para tentar a reversão dessa situação, porém continua bem modesto em relação a todo o histórico e números do passado no ápice do cultivo da videira em São Roque.

Riesling

A casta Riesling é uma das grandes uvas brancas da Alemanha e uma das melhores variedades do mundo todo, capaz de conferir ao vinho incrível elegância e complexidade e uma habilidade inigualável de expressar o terroir.

Seus cachos apresentam coloração verde amarelada com tamanho médio e delicado. Os vinhos elaborados com a casta costumam ter acidez bastante destacada e são extremamente aromáticos. Os melhores brancos da casta costumam ser os varietais. A uva Riesling possui duas variações, sendo a Renana a de maior qualidade e a Itálica a que possui menor grau de expressividade.

Com textura bastante envolvente, os vinhos elaborados a partir da casta Riesling podem ser secos, meio doces ou bem doces. O que é de conhecimento sobre o cultivo da uva, é que para originar os maravilhosos e extraordinários vinhos de sobremesa, ocorrem dois processos bastante distintos.

O primeiro processo é o ato de congelar a uva antes da colheita, sendo conhecido como “eiswen” – ou vinhos de gelo. Nele a casta Riesling permanece vários dias congeladas (enquanto madura), ainda no vinhedo, por conta das baixas temperaturas em que fica exposta. Logo após serem colhidas, as uvas passam pelo processo de prensagem, tornando o vinho muito mais concentrado, já que haverá menor quantidade de água. Nesse caso os melhores exemplares são encontrados no Canadá, graças ao seu clima frio e com bastante presença de geadas.

O outro processo é quando ocorre a podridão nobre, momento em que o fungo “Botrytis Cinerea” fura a casca da uva e alimenta-se da água da casta, deixando-a desidratada e exaltando os açúcares presentes na sua composição. As uvas são colhidas e levadas para vinificação, tornando o vinho muito mais especial.

Alguns produtores estampam “dry” (seco) ou “sweet” (doce), mas isso não é suficiente perto dos tantos níveis de doçura da Riesling. Ela pode ser “medium dry” (vinho meio seco), “medium sweet” (meio doce) e por aí vai.

A forma de identificar essas propostas de vinhos Riesling é verificar a graduação alcoólica – quanto menor for mais doce será. Isso acontece porque durante a fermentação, o açúcar natural da uva vira álcool (se a conversão não acontece, permanece doce e menos alcoólico). Qualquer Riesling com mais de 11% é seco, pois quase todo seu açúcar foi transformado em álcool.

Por possuir presença de açúcar residual e tempos de guarda diferentes, os vinhos elaborados com a casta Riesling possuem maior atenção na hora da harmonização, sendo na maioria das vezes melhores quando degustados e apreciados sem a companhia de pratos.

Seus vinhos podem ser sublimes e costumam durar muito tempo. Além da Alemanha, também produz vinhos excelentes na Áustria, Alsácia e também em alguns países do Novo Mundo, como Nova Zelândia, África do Sul e Austrália.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um lindo e brilhante amarelo palha, translúcido, com reflexos esverdeados.

No nariz explodem os aromas de frutas brancas frescas e cítricas, onde se destaca pera, maçã-verde, pêssego, abacaxi, limão, com notas minerais que traz a sensação de leveza e frescor.

Na boca seguem as percepções frutadas, como observado no aspecto olfativo, trazendo também a leveza e a refrescância que o torna despretensioso e informal, além de uma ótima acidez que saliva e um final prolongado e frutado.

Vinho não é só poesia engarrafada como dizia aquele poeta, mas história engarrafada também. Degustamos história, degustamos cultura! É muito gratificante e especial degustarmos vinhos com essa carga histórica atrelada de forma tão veemente, tão latente. A história é viva e plena, não é algo estático. Degustar o Dom Bernardino Riesling é como se estabelecêssemos contato com um novo mundo, uma nova percepção, que enaltece as nossas experiências sensoriais. Um vinho que apesar de ter as tradições lusitanas, tanto que o nome “Dom Bernardino” é em homenagem ao fundador da vinícola Bernardino Pereira Leite, português que se estabeleceu em São Roque, graças às raízes que criaram a vinícola, tem o terroir brasileiro, o fazer brasileiro, a nossa cultura, a nossa assinatura. Dom Bernardino Riesling é jovem, fresco, leve, despretensioso e que harmonizou perfeitamente com um meio de tarde outonal. Que venham mais e mais momentos especiais como esse! Como curiosidade: as uvas vieram de Caxias do Sul e foram, claro, vinificadas pela Bella Aurora. Tem 11% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Bella Aurora:

Vinícola fundada na década de 1920 por Bernardino Pereira Leite imigrante português iniciou sua produção para consumo caseiro. A produção em escala comercial teve início em 1932.

Com mais de 85 anos, Vinhos Bella Aurora mantém sua tradição familiar na produção de saborosos vinhos, contando com uma excelente estrutura de atendimento aos visitantes e uma equipe de representantes comercial em todo estado de São Paulo.

A Vinícola proporciona um passeio turístico para quem busca contato com a natureza. Neste passeio poderá degustar bons vinhos e sucos, além de poder adquirir toda a linha de produtos típicos da Vinícola Bella Aurora. Para melhor atender os clientes, a cantina dos Vinhos Bella Aurora foi montada no interior de um autêntico tonel de madeira com capacidade para 120 mil litros.

Mais informações acesse:

https://www.bellaaurora.com.br/












sábado, 31 de julho de 2021

Dom Bernardino Touriga Nacional 2018

 

Digo e não me canso de repetir sempre: O universo do vinho é vasto e inexplorado. E essa máxima reforça, corrobora o quanto estar nele, viajar nele, é fantástico. Reafirma a nossa condição de enófilo, pois nos estimula a garimpar novas regiões, novas castas, novas histórias, novas experiências sensoriais e tudo isso aliado ao contato com culturas e manifestações comportamentais que afetam diretamente na condição de vinificar os rótulos que chegam às nossas mesas.

Essa condição na altura da minha vida de simples e humilde enófilo se tornou essencial, necessário, quase que algo orgânico, que não pode faltar ao funcionamento de meu corpo. Tenho me empenhado, de forma latente, na busca de novos rótulos, de novas castas, de novos terroirs, de novas experiências.

Sempre ouvi dizer que São Paulo sempre foi uma região proeminente na produção de vinhos e mais, com certo protagonismo para a história vitivinícola brasileira. Mas nunca parei para pensar na dimensão dessa informação, na relevância disso tudo e consequentemente nunca me atentei para a possibilidade de degustar quaisquer vinhos das regiões contempladas pela natureza nas terras paulistas.

E o meu primeiro contato com os vinhos de São Paulo se deu de uma forma totalmente ocasional e despretensiosa. Estava eu acessando as minhas redes sociais e me deparei com uma publicação um tanto quanto atípica para mim e estava relacionado aos vinhos artesanais ou a vinhos produzidos por pequenas e médias vinícolas com baixa produção. Aquilo fora como se amor à primeira vista, dado o tamanho do interesse que me tomou como um arrebatamento.

Diante do tamanho do interesse decidi procurar detalhes sobre o vinho mencionado e como qualquer coisa que colocamos na grande rede para pesquisar, uma coisa vai puxando a outra, porém dentro do contexto. Até que cheguei a um site que vende vinhos de uma região famosa do interior de são Paulo conhecida como “a terra do vinho”, chamada São Roque! Havia outras regiões também, como Serra Negra, por exemplo. Além do interesse instigante de novos terroirs, a degustação de vinhos artesanais e produzidos por pequenas vinícolas me atraía de uma forma visceral e implacável. Decidi comprar três rótulos e não demorei em selecionar um para degustar o quanto antes, tamanho é o interesse para tê-los em minha taça.

Então o momento chegou e a animação virou ansiedade, estava tomado por uma exaltação salutar, precisava degustar um vinho como esse, com essa proposta. E o vinho que degustei e gostei veio da região paulistana, brasileira, de São Roque e se chama Dom Bernardino e a casta é a famosa lusitana Touriga Nacional da safra 2018. A casta veio do Sul, a região de São Roque ainda não tem clima para produzir castas vitis vinífera, mas foi vinificado sobre os preceitos, a filosofia da vinícola Bella Aurora que, apesar de pequena, goza de uma tradição de 85 anos de vida. Então antes de falarmos do vinho e da história da vinícola, falemos um pouco de São Roque.

São Roque: “A terra do vinho”

A cidade de São Roque foi fundada no dia 16 de agosto de 1657, mas começou como uma grande fazenda do capitão paulista Pedro Vaz de Barros, que pertencia a uma família de bandeirantes e sertanistas. Vaz de Barros também participou de diversas Bandeiras. O fundador da cidade, também conhecido como Vaz Guaçú, contava com aproximadamente 1.200 índios que trabalhavam em suas terras, onde eram cultivados trigo e uva. Alguns anos após a morte de Vaz de Barros, seu irmão, Fernão Paes de Barros, se estabeleceu na mesma região, onde construiu uma casa e uma capela, que foram restauradas em 1945 pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a pedido do escritor Mário de Andrade, dono da propriedade.

Na região de São Roque, podem-se identificar referências à vitivinicultura desde a sua fundação, por volta do final do século XVII. Conforme informações encontradas e divulgadas pelos moradores da cidade, através da tradição oral, ou mesmo citado pelo Professor Joaquim Silveira dos Santos em seu artigo para a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, volume XXXVII, nessa época toda a região pertencia a apenas três grandes proprietários de terras: Pedro Vaz de Barros, seu irmão Fernão Paes de Barros e o padre Guilherme Pompeu de Almeida, sendo que Pedro Vaz (tido como o fundador da cidade) se estabeleceu próximo da atual igreja Matriz, seu irmão mais ao norte, onde até hoje ainda se encontra a casa grande e capela Santo Antônio, e por fim a fazenda do padre Guilherme Pompeu se encontrava na hoje atual cidade de Araçariguama que faz divisa com Santana do Parnaíba.

Portanto realmente não se podem esperar grandes referências desse período da história, afinal o Brasil era apenas uma colônia e que existiam restrições da fabricação de qualquer tipo de produto em nosso solo, ou seja, em tese tudo deveria vir de Portugal, inclusive o vinho.

Outro fator que pode ter influenciado e não ter feito prosperar o cultivo da videira seria a prioridade da época de então, que era a descoberta de ouro, principalmente na região das Minas Gerais. Sabemos que São Paulo até então era somente um vilarejo sem grande importância econômica para a metrópole portuguesa, e se bem analisarmos a história da agricultura brasileira a uva e o vinho nunca foram tidos como principal interesse por parte de nossos colonizadores.

Após um período difícil, o povoado originado por Pedro Vaz foi elevado à categoria de Freguesia no dia 15 de agosto de 1768, recebendo o nome de São Roque do Carambeí. No dia 10 de julho de 1832, a Freguesia foi elevada à categoria de vila, mas o progresso do local só começou em 1838, quando começaram as lavouras de milho, algodão, arroz, mandioca e farinha de mandioca, cana de açúcar e derivados, legumes e verduras. Em março de 1846, seis anos após instalar-se na vila o destacamento da Guarda Nacional, Dom Pedro II e uma pequena comitiva permaneceram um dia na cidade de São Roque. Com a passagem de Dom Pedro II, Antonio Joaquim começou a se destacar no cenário político e, graças ao morador ilustre, São Roque foi elevada à categoria de cidade no dia 22 de abril de 1864.

Após esse longo período de estagnação, o primeiro registro oficial de plantação de uvas na região de São Roque se dá por volta de 1865, quando o Doutor Eusébio Stevaux inicia uma pequena plantação na sua fazenda em Pantojo. Pela mesma época, um colono italiano adquire uma pequena propriedade no bairro de Setúbal, alguns anos mais tarde um português na terra do então Sítio Samambaia forma um razoável vinhedo e inicia o processo de fabricação do vinho.

Dr. Eusébio Stevaux

Já em 1875 foi inaugurada a Estrada de Ferro Sorocabana, que ligou a cidade de São Paulo a São Roque e Sorocaba. Após alguns anos, em 1884, começou a grande chegada de imigrantes à cidade, fazendo com que as vinícolas aparecessem novamente e ganhassem força nos anos seguintes. Em 1924, a cidade já contava com 17.300 habitantes e foram produzidos 10 mil litros de vinho a cada ano, tendo doze produtores de vinhos, sendo cinco deles italianos.

O que possibilitou o retorno da cultura da uva e fabricação do vinho foi a importação de videiras oriundas dos Estados Unidos, pois estas eram mais resistentes ao clima brasileiro. Dentre as principais videiras trazidas estão inicialmente a “Izabel”, a “Seibel 2” (importada da França), curiosamente trazida por imigrantes italianos que se instalaram na região e posteriormente a “Niágara Branca”, oriunda da região do Alabama, EUA.

Portanto, a divisão do período da cultura vinícola de São Roque, desde a fundação da cidade até a época atual em quatro fases distintas:

1ª fase: 1657 – 1880: importação de videiras portuguesas, plantações domiciliares, sem qualquer cunho comercial, ou seja, somente para consumo próprio.

2ª fase: 1880 – 1900: Retomada da viticultura são-roquense, ainda que amadora, quase que familiar, continua voltada basicamente para o consumo e pequeno varejo. Já apresenta uma tendência a profissionalização graças às técnicas trazidas pelos imigrantes italianos e portugueses. Já se utiliza da videira americana que melhor se adaptou ao clima tropical brasileiro (talvez seja este um dos principais fatores de sucesso do cultivo da uva na região de São Roque);

3ª fase 1900 – até aproximadamente final da década de 1950: processo de industrialização e profissionalização da produção do vinho com aplicações de técnicas mais modernas permitindo assim obter resultados e desempenho melhores.

Podemos dividir esta fase primeiramente num período de início do processo de profissionalização e logo após (a partir da década de 1920), o período em que realmente a região investiu e desenvolveu as técnicas vinicultoras, durando até aproximadamente a década de 1950, onde após a massificação da produção entra num processo de decadência.

4ª fase década de 1960 – atual: esta fase engloba o processo de decadência da viticultura são-roquense. Por motivos econômicos e climáticos e até mesmo por falta de investimentos em pesquisas, que se reduziram sensivelmente tanto a qualidade como a quantidade de vinho produzido, levando ao fechamento de diversas adegas (isso principalmente a partir da década de 1980). São Roque permanecendo hoje somente com o título de “terra do vinho”, sendo que os poucos fabricantes que restaram (aproximadamente treze adegas) fabricam seu vinho não de uvas nativas de São Roque, mas sim oriundas de outras partes do Estado ou mesmo de outros estados (exemplo: Rio Grande do Sul).

Roteiro do vinho: São Roque

Há atualmente um movimento para tentar a reversão dessa situação, porém continua bem modesto em relação a todo o histórico e números do passado no ápice do cultivo da videira em São Roque.

E agora finalmente o vinho!

Na taça tem um vermelho rubi intenso, mas que realça um brilho violáceo bem bonito, com lágrimas finas, lentas e em profusão, desenhando as paredes do copo.

No nariz é que está o grande destaque deste vinho, sendo muito perfumado e floral, explodindo em frutas vermelhas maduras como amora, cereja e ameixa, com notas de especiarias doces, arriscaria, com toques delicados de baunilha e madeira, graças aos 3 meses de passagem por barricas de carvalho.

Na boca se revela um vinho de leve a médio corpo que, no início mostrou um álcool um pouco sobressalente, mas que logo se equilibrou revelando um vinho saboroso, frutado, como no aspecto olfativo, com taninos presentes, mas ao mesmo tempo domados e elegantes com uma acidez equilibrada que traz certo frescor ao vinho, além de um toque de madeira e de chocolate meio amargo. Tem final curto.

Vinho não é só poesia engarrafada como dizia aquele poeta, mas história engarrafada também. Degustamos história, degustamos cultura! É muito gratificante e especial degustarmos vinhos com essa carga histórica atrelada de forma tão veemente, tão latente. A história é viva e plena, não é algo estático. Degustar o Dom Bernardino Touriga Nacional é como se estabelecêssemos contato com um novo mundo, uma nova percepção, que enaltece as nossas experiências sensoriais. Um vinho que apesar de ter as tradições lusitanas, graças às raízes que criaram a vinícola, tem o terroir brasileiro, o fazer brasileiro, a nossa cultura, a nossa assinatura. Um vinho que nada fica atrás aos Tourigas Nacionais portugueses: intenso, encorpado, com uma personalidade marcante, com as frutas vermelhas e negras tão características da cepa. Apesar de todos os problemas que acometem as cidades do Brasil, o falso progresso e as especulações imobiliárias que são um verdadeiro entrave aos vinhedos, há de se enaltecer o espírito abnegado de alguns produtores que insistem bravamente em trazer ao mundo seus rótulos para deleite de todos nós, simples e humildes enófilos. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Bella Aurora:

Vinícola fundada na década de 1920 por Bernardino Pereira Leite imigrante português iniciou sua produção para consumo caseiro. A produção em escala comercial teve início em 1932.

Com mais de 85 anos, Vinhos Bella Aurora mantém sua tradição familiar na produção de saborosos vinhos, contando com uma excelente estrutura de atendimento aos visitantes e uma equipe de representantes comercial em todo estado de São Paulo.

A Vinícola proporciona um passeio turístico para quem busca contato com a natureza. Neste passeio poderá degustar bons vinhos e sucos, além de poder adquirir toda a linha de produtos típicos da Vinícola Bella Aurora. Para melhor atender os clientes, a cantina dos Vinhos Bella Aurora foi montada no interior de um autêntico tonel de madeira com capacidade para 120 mil litros.

Mais informações acesse:

https://www.bellaaurora.com.br/