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sábado, 14 de maio de 2022

Colnem Costières de Nîmes Syrah e Grenache 2017

 

Mais uma noite de degustação inundada por grandes e especiais novidades! Essas viagens que aliam novas experiências sensoriais e história de fato vêm gerando grandes harmonizações. E dessa vez tantas novidades e euforia veio da França, mais precisamente do Sul da França.

Essa região francesa tem me agradado e muito e não somente pela qualidade dos vinhos que são inquestionáveis, mas pelo custo mais do que atraente aos bolsos: o famoso custo X benefício!

Vinhos maravilhosos e que são capazes de derrubar alguns tabus importantes que vem reinando, até hoje, aqueles discursos de que degustar rótulos franceses excelentes tem de ser os caros, com valores altos. É claro que há as propostas e precisamos identifica-las, entende-las, mas defini-las como “bom” e “ruim” é no mínimo imprudente.

E o vinho de hoje vem de uma região extremamente famosa e tradicional e que poucos rótulos degustei. Lembro-me de ter degustado um rótulo há tanto tempo que já não me recordo de seus detalhes. Era preciso degustar um vinho do Vale do Rhône! Já passou da hora de tê-los em minha “litragem”.

Mas o melhor de degustar um vinho do Rhône é degustar de regiões específicas, de sub-regiões que traz a tipicidade, as nuances mais características de terroirs especiais com um forte apelo regionalista. E além de trazer o Vale do Rhône depois de alguns anos, vem junto a novidade de uma micro região que não conhecia chamada Costières de Nîmes.

E com esse turbilhão de novidades apresento o vinho que degustei e gostei que veio do Vale do Rhône, de Costières de Nîmes, na França, chamado Colnem composto pelas castas Syrah (60%) e Grenache (40%) da safra 2017. E para coroar essas novidades ainda temos o blend, o famoso blend do Sul da França, do Vale do Rhône que traz Syrah, Grenache e geralmente vem a Mourvèdre, conhecida pela sigla “GSM” que também será a minha primeira experiência. Então antes de falar do vinho vamos contar um pouco a história do Vale do Rhône e Costières de Nîmes.

Vale do Rhône

O Vale do Rhône é considerado o elo entre o clima continental e o mediterrâneo, entre as famosas regiões de Borgonha e Provence. Junto com a especificidade do clima, tem também a junção de diferentes solos. Esse conjunto permite que os produtores juntem tradição e originalidade, obtendo vinhos notáveis.

O Rhône está situado no sudeste da França. A região começa logo depois de Beaujolais, um pouco abaixo da famosa Lyon, um grande centro gastronômico do país, e os vinhedos estão situados entre os paralelos 44 e 45 norte. A produção aqui é majoritariamente de vinhos tintos, que representam 86% do total.

A região tem esse nome, pois é literalmente um vale em torno do rio Rhône, que nasce das águas do glaciário derretido no alto dos Alpes Suíços e corre em direção ao Mar Mediterrâneo. O rio desce 1.800m em uma extensão de 813 km e tem um efeito moderador sobre a temperatura da região, ajudando a suavizar as variações térmicas e diminuindo o risco de geadas durante a primavera (já que geadas nessa época podem matar os brotos de uva).

Vale do Rhône

O Rhône Norte

São cerca de 3.240 hectares de vinhedos, sendo que a maioria dos vinhos do Norte provém de denominações classificadas como Cru. Apenas 5% da produção de todo o Rhône sai daqui.

A região tem solo granítico, o que significa riqueza em granito e outros minerais, garantindo certa influência na acidez das uvas, além de maior concentração de luz solar durante o seu crescimento. Uma curiosidade da região é o lugar onde as videiras estão plantadas, perto do rio Rhône e nas encostas ou vales laterais, que proporciona melhor exposição solar apesar do vento Mistral (um vento muito forte que vem do norte), resultando em poucas uvas de altíssima qualidade. Isso acontece porque quando as condições climáticas não são favoráveis, a videira tenta se reproduzir da melhor forma possível. No entanto, devido ao declive e ao solo, é necessário que a colheita das uvas seja realizada de forma manual.

Todas essas condições tornam o norte ideal para o cultivo da casta Syrah, a única variedade tinta autorizada no norte do Rhône. No caso das uvas brancas, temos 3 variedades autorizadas: Viognier, Marsanne e Roussanne. Em algumas denominações essas uvas podem ser utilizadas para elaborar vinhos brancos e, em outras, é permitida a adição de uma pequena porcentagem de Viognier no vinho tinto como forma de aportar aromas e auxiliar na fixação de cor.

Os vinhos tintos da região são secos e bastante tânicos. Tendem a ter cor profunda e apresentar aromas que lembram frutas negras, pimenta preta e flores como violetas. Normalmente são vinhos feitos para envelhecer, e com o passar do tempo adquirem aromas de caça e couro. A maioria dos vinhos brancos da região são feitos no estilo seco também.

O Rhône Sul

O sul começa na cidade de Montélimar e vai até Nîmes. Nessa parte, o Vale começa a alargar e o terreno fica bem mais plano quando comparado ao norte. Os vinhedos começam a se estender para longe do rio também, até cerca de 80km.

Onde se localiza 95% da produção de vinhos do Vale do Rhône, apresenta clima mediterrânico (altas temperaturas e pouca pluviosidade no verão e outono) com influência excessiva do vento Mistral. Em decorrência disso, a plantação é em cortinas de abrigo, que consiste em uma proteção com redes nas videiras contra o vento que vem do norte e arranca a planta da terra. Já o solo é majoritariamente plano e expõe enorme variedade em composição, o que torna possível os cortes complexos presentes na região, com vinhos de mais de treze castas na composição. Uma das mais famosas denominações de origem da região é Châteauneuf-du-Pape.

As videiras costumam ser plantadas sem nenhuma forma de sustentação e são podadas para ficarem baixinhas, próximas ao chão. Isso as ajuda a resistir à força dos ventos Mistral. Essas videiras também precisam que a colheita seja manual, já que a pouca distância do chão não permite o uso de máquinas. Outro fator é que as videiras são mais espaçadas para que não haja competição por água entre as raízes de cada videira.

A uva mais cultivada é a Grenache, pois precisa de muito calor e é resistente a seca e ventos fortes. O vinho produzido por essa casta apresenta sabores condensados de frutas vermelhas, com alta maturação de açúcar e teor alcoólico. A Syrah é comum em vinhedos mais frescos, dá mais força aos taninos e à cor, quando combinada à Mourvèdre.

Mesmo que pequena, também há produção de vinhos brancos no sul do Rhône, cujos melhores se destacam pela textura rica e encorpada, acidez média e alto teor alcoólico, sempre com muito aroma. As principais uvas são Clairette, Bourboulenc e Grenache Blanc.

Denominações de Origem do Rhône

A maioria dos vinhos produzidos no Vale do Rhône são feitos sob a denominação regional de Côtes du Rhône, que abrange tanto as sub-regiões do Norte como do Sul, entretanto, praticamente todo o vinho com essa classificação provém da parte Sul. Isso se deve ao fato de que a maioria dos vinhedos do Norte encontra-se em localizações de prestígio que podem ser denominadas como Crus (um nível de produção com regras mais rígidas). Os rótulos Côtes du Rhône podem ser feitos como tinto, branco ou rosé; também podem ser varietais ou corte entre uvas.

Dentro de Côtes du Rhône temos alguns villages, que são sub-regiões ainda menores. Para poder colocar o nome do Village no rótulo, 100% das uvas devem ser originárias dessa parcela específica. Atualmente, apenas 20 vilarejos são autorizados a colocar o nome no rótulo. Para, além disso, há que se seguir regras de produção mais rígidas e vinhedos com menores rendimentos. Os villages também podem ser tintos, brancos ou rosés; mas, por lei, os vinhos devem ser elaborados a partir de uma mistura de pelo menos 2 uvas, sendo a Grenache a principal tinta.

No topo da hierarquia, com regras muito mais restritas no que diz respeito a plantio e vinificação, estão as denominações classificadas como Cru. No Rhône, temos ao todo 17 denominações nesta categoria, sendo que 8 estão na parte Norte e 9 na parte Sul.

O Vale do Rhône foi alvo de uma praga (a famosa praga Filoxera) que devastou as vinícolas no fim do século XIX. Logo que a região se recuperou por volta de 1900, a produção voltou com imensa força e volume, de forma que surgiram fraudes dos vinhos mais procurados. Com isso, a comunidade vinhateira organizou a “Appelation D’origine”, que consiste em conjuntos de regras certificadas para o cultivo e produção de vinho. A Denominação de Origem obteve tanto sucesso que foi expandido, mais tarde, para o resto do país. Hoje, a França possui cerca de 20 denominações de origem.

Costières de Nîmes

Costières de Nîmes é a designação de Origem Contrôlée (AOC) para um vinho produzido na área entre a antiga cidade de Nîmes e o delta ocidental do Rhône, no departamento francês de Gard.

Anteriormente era parte da região do Languedoc, mas como os vinhos se assemelham aos do Vale do Rhône no que tange ao caráter do que os do Languedoc, agora faz parte da região vinícola do Ródano e é administrado pelo comitê do Vinho do Rhône com sede em Avignon.

Costières de Nîmes entre Rhône e Languedoc

Os vinhos da região são produzidos há mais de dois mil anos e consumidos pelos gregos na época pré-romana, tornando-se uma das vinhas mais antigas da Europa. A área foi habitada por veteranos da campanha de Júlio César no Egito, e a garrafa de Costières de Nîmes traz o símbolo do assentamento romano em Nîmes, um crocodilo acorrentado a uma palmeira. De acordo com as mesas da cozinha do Palais des Papes em Avignon, muitas das cidades do que hoje é a região de Costières de Nîmes eram os principais fornecedores de vinho para os papas naquela época.

Anteriormente conhecido como Costières du Gard, a VDQS, o vinho alcançou o status de AOC em 1986 e foi renomeado Costières de Nîmes em 1989. Em 1998, as organizações de agricultores (sindicatos) solicitaram que as designações fossem anexadas à região vinícola do Rhône, pois seus vinhos refletiam melhor as características da região vinícola do Rhône do que da região do Languedoc em que a região está geograficamente localizada.

A INAO, a autoridade francesa que regula as denominações do país, submete cada denominação a um comitê regional encarregado de aprovar o vinho dessa denominação. Esta lista é um texto legal publicado pelo Ministério da Agricultura francês. A transferência de Costières de Nîmes para o comitê regional do Vale do Rhône foi feita na versão de 19 de julho de 1998, que subsititui a versão de 2004, Costières de Nîmes foi atribuído ao comitê regional Languedoc-Roussillon. O AOC diretamente adjacente a Clairette de Bellegarde permanece registrado como AOC Languedoc.

Entre as baixas colinas rochosas e garrigues que marcam a fronteira do Languedoc com a Provence e as planícies arenosas do delta de Camargue Rhône, o solo é principalmente uma mistura de cascalho redondo (“galets”) semelhante a Châteauneuf-du-pape, e depósitos aluviais de xisto arenoso e vermelho. As profundidades do solo de 3 a 15 metros são as grandes responsáveis pela variação de forças nesta AOC.

O clima é mediterrâneo, semelhante ao do Vale do Rhône, mas caracterizado pela proximidade da costa e pela brisa do mar.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi intenso, brilhante, com reflexos violáceos e lágrimas finas, em média intensidade e que demoram a se dissipar.

No nariz traz aromas intensos de frutas vermelhas maduras onde se destacam morango, framboesas, cerejas, com um toque rústico, com notas de especiarias, como pimenta, além de tabaco e couro.

Na boca é seco, tem média estrutura, mas fácil de degustar. Tem taninos presentes, marcados, mas elegantes, redondos, com uma boa acidez, um agradável picante, álcool em evidência, mas bem integrado, sendo um vinho muito equilibrado, com um final longo e persistente e um retrogosto frutado.

E diante de tanta história que harmoniza com tantas novidades, as experiências sensoriais são garantidas! Todas as nuances que traduzem em terroir, em tipicidade, em apelos regionalistas chegam a nossa taça de forma singular, única. Situações geográficas, o chão, o clima, tudo conspira a favor de um rótulo saboroso, de caráter expressivo, aromático, um vinho austero, mas delicado, contemporâneo. Um vinho do Rhône, mediterrânico, mas que tem história com outra região que amo, aprecio, o Languedoc-Roussillon, que expressa a fidelidade do sul da França. Um vinho carregado de emoção, um vinho especial! Tem 13% de teor alcoólico.

Uma curiosidade sobre o nome do vinho, COLNEM: O rótulo elogia a história excepcional da Costières de Nîmes. COLNEM: Colonia Neumausensis, que em latim significa "Colônia de Nîmes" é a abreviação encontrada nas moedas romanas mais famosas da antiguidade.

Sobre a Vignobles & Compagnie:

Em 1963, graças ao espírito de federação dos viticultores, liderado por Paul Blisson, que deu origem a vinícola, originada a promover vinhos da região do Gard, do Vale de Rhône. A adega, um edifício original inspirado pelo brasileiro Oscar Niemeyer, estava e ainda está localizada em um ponto estratégico de Gard.

A família Merlout investe na organização, isso em 1969. À frente da empresa estava uma mulher, Miss Noble, um fato ousado para a época. Em 1972 a vinícola entra em uma nova era graças a modernização do local e ao grande crescimento econômico também.

Em 1990 o Grupo Taillan assumiu todas as atividades da vinícola, dando início a uma parceria importante com vários produtores locais, trazendo o conceito de regionalismo aos seus rótulos.

Mais informações acesse:

https://vignoblescompagnie.com/en/

Referências:

“Evino Blog”: https://www.evino.com.br/blog/vale-do-rhone-guia-sobre-as-regioes-e-seu-produtores/

“Blog Grand Cru”: https://blog.grandcru.com.br/vinho-sul-franca-vale-rhone-chateauneuf-du-pape-hermitage/

“Nwikiid”: https://nwikiid.cyou/wiki/Costi%C3%A8res_de_N%C3%AEmes_AOC