Esse composto, dentro garrafa, provoca o início da segunda
fermentação. É ela que gera as bolhas de dióxido de carbono, fruto da
transformação química dos açúcares em álcool mais gás carbônico.
A garrafa então é tapada com uma cápsula metálica parecida
com as de cerveja. Contudo, nessa segunda fermentação, ocorre o surgimento de
borras que deverão ser retiradas do vinho. Assim, o próximo passo é conduzir o
vinho para o período de descanso em garrafa, que pode ser de pouco mais de um
ano chegando até 10 anos, ou mais. Normalmente os Champagne safrados, ou
millésimes, permanecem mais tempo em garrafa antes de serem lançados ao
mercado.
Para retirar as borras, faz-se a remuage. O processo consiste
em dispor as garrafas em cavaletes especiais, ditos pupitres, com o gargalo
para baixo. A cada dia, as garrafas são giradas em um quarto de volta. Isso tem
como objetivo descolar as borras (resíduos) da parede da garrafa e fazê-las
descer para o gargalo. Em muitos lugares, essa prática é feita ainda
manualmente, enquanto os grandes produtores já o fazem com equipamentos
automatizados, como os giropalets.
Finalmente, para retirar o depósito de borra, é realizada a
degola (dégorgement, em francês). Para tal, congela-se o gargalo em um
preparado de salmoura a 25ºC negativos. Nesse momento, a cápsula é retirada e a
borra é expulsa pelo gás sob pressão. A pequena perda de volume de vinho é
substituída por uma mistura de vinho e açúcar, chamado licor ou vinho de
dosagem, também conhecido, principalmente na França, como liqueur d’expédition.
Normalmente, esse licor é um composto de vinho (de reserva),
açúcar e SO2, como antioxidante e antimicrobiano. Sua função, além de recompor
o volume da garrafa, é definir o estilo do espumante conforme a concentração de
açúcar. Essa quantidade de açúcar presente no licor vai determinar se o
espumante de método champenoise será Brut Nature (menos de 3 g/l), Extra-Brut
(até 6 g/l), Brut (menos de 12 g/l), Extra-Sec (entre 12 e 17 g/l), Sec (entre
17 e 32 g/l), Demi Sec (entre 32 e 50 g/l) ou Doux (mais de 50 g/l). E há
também alguns produtores que não utilizam o licor de expedição.
Nos últimos anos, muitas vinícolas passaram a produzir espumantes
do tipo Nature. Essa bebida nobre extrai o sabor mais puro das uvas e do
processo de fermentação, criando um resultado surpreendente.
Nature
O Nature passa pelo
método tradicional de produção, conhecido como champenoise. Contudo, a
diferença é que a categoria não passa pela etapa de correção de sabor – momento
em que um licor de expedição, feito a partir do próprio vinho e do açúcar, é
adicionado na bebida.
O interessante desse espumante é que ele geralmente vai ter
uma qualidade maior de ingredientes. Como não passa pela correção de sabor, é
importante que seja feito com perfeição.
Para ganhar o título de Nature,
a bebida precisa conter até 3 gramas de açúcar por litro, enquanto o Brut pode
conter entre 6 e 15 gramas por litro. Por isso, o sabor do espumante é mais
seco. O tempo de maturação do vinho também é maior, o que resulta em um volume
de boca considerável. Ou seja: é mais cremoso do que os outros estilos. Normalmente
as variedades utilizadas para esse tipo de espumante é a Chardonnay e a Pinot
Noir.
Pinto Bandeira
Primórdios
O fenômeno migratório europeu ao território americano que
caracteriza no final do século XIX e o início do século XX está ligado a
transformações sociais, políticas e econômicas da época em ambos os
continentes. No que diz respeito à imigração italiana ao sul o Brasil pode-se
afirmar que, na Itália, a população experimentava as consequências da revolução
industrial, caracterizada pelos altos impostos e pelo desemprego e, no Brasil,
mais especificamente no Rio Grande do Sul, onde a maior parte do território era
desabitada e a mão-de-obra era basicamente escrava, a imigração representava a
real possibilidade de superação de tais problemas.
O porto de Gênova, ao norte da Itália, era o local da
partida. A travessia, que durava pouco mais de um mês, era feita em navios
sobrecarregados. Chegavam ao Rio de Janeiro e, após a quarentena na Casa dos
Imigrantes, os viajantes eram transportados a vapores até Porto Alegre, numa
viagem de mais ou menos dez dias. Ao chegarem eram alojados em construções
precárias ou dormiam nas ruas e praças próximas ao porto. Da capital gaúcha
seguiam em pequenas embarcações para Montenegro, São Sebastião do Caí e Rio
Pardo. A viagem até a serra era feita em dois ou três dias, a pé, no lombo de
cavalos ou em carretas, por intermédio de estreitos caminhos abertos, por eles
mesmos, na densa mata.
No ano de 1876 instala-se em Pinto Bandeira o primeiro grupo
de italianos. De posse de seus lotes e instrumentos de trabalho, separados das
famílias vizinhas pela densa mata, era necessário enfrentar as adversidades:
iniciar o desmatamento, construir a provisória casa e realizar os primeiros
plantios. Até o ano de 1880, vários grupos chegaram ocupando terras localizadas
na Linha Jansen, na Linha Jacinto e na Linha Silva Pinto, hoje Linha Anunciata.
E com os italianos, vieram também a cultura do cultivo.
Em 1º de maio de 1902, Antônio Joaquim Marques de Carvalho
Júnior, Intendente do município de Bento Gonçalves, em conformidade com o
artigo 14 da Lei Orgânica Municipal, decretou a mudança do nome da localidade.
A partir desta data, de Silva Pinto passa a chamar-se Nova Pompeia.
O nome Nova Pompeia foi alterado para Pinto Bandeira pelo
Decreto nº 7.842, de 30 de junho de 1938, quando às vésperas da deflagração da Segunda
Guerra Mundial, foi proibida a língua italiana no país e, consequentemente,
todos os nomes de origem italiana foram abolidos. Assim, em homenagem ao
militar rio-grandense Rafael Pinto Bandeira, o distrito passa a denominar-se
Pinto Bandeira.
Pinto Bandeira foi emancipado de Bento Gonçalves em 16 de
abril de 1996 pela Lei Estadual nº 10.749/1996. As primeiras eleições ocorreram
em 1° de outubro de 2000, elegendo como prefeito Severino João Pavan. A
instalação do Município deu-se em 1º de janeiro de 2001. Em 2003, uma liminar
do STF, determinou a que Pinto Bandeira retornasse à condição de distrito de
Bento Gonçalves.
Em 30 de junho de 2010, por decisão do Supremo Tribunal
Federal (STF), a localidade recuperou novamente sua autonomia política. As
eleições municipais aconteceram em 07 de outubro de 2012. João Feliciano
Menezes Pizzio foi eleito prefeito. Em 1º de janeiro de 2013, o Município foi
reinstalado.
Outro fato histórico ocorreu em Pinto Bandeira: a Indicação
de Procedência (IP) de vinhos tranquilos e espumantes, reconhecida em 2010. O
município tem ganhado projeção nacional e internacional pela produção de
excelentes espumantes. A Indicação de Procedência garante que no mínimo 85% das
uvas devem ser produzidas na área delimitada - que compreende os municípios de
Pinto Bandeira, Farroupilha e Bento Gonçalves. Junto com a experiência e
habilidade dos produtores da região, Pinto Bandeira se destaca, no Brasil e
fora dele, pela sua produção de vinhos e espumantes.
A altitude de Pinto Bandeira, cerca de 800 metros, é
praticamente o dobro do Vale dos Vinhedos. Os terroirs também são muito
semelhantes. Há mais morros e menos regiões planas. Com isto, o sol beneficia
mais as encostas nas faces norte. Algumas vinícolas têm seus vinhedos nas faces
norte, mantêm as matas nas faces sul, tornando a região um pouco mais úmida.
As castas de uvas plantadas são as mesmas utilizadas no Vale
dos Vinhedos e toda a região. Para os tintos, as francesas Cabernet Sauvignon,
Merlot, Malbec, Tannat, Carménère e algumas italianas, Sangiovese e
Montepulciano. Para os espumantes Chardonnay e Pinot Noir. O terroir é propício
às experimentações, e alguns viticultores cultivam várias e diferentes castas.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um amarelo palha intenso e brilhante que
parece tender para o ouro, límpido com perlages finos e intensos.
No nariz tem intensos aromas de frutas brancas e cítricas,
além de aromas provenientes da maturação, com 24 meses em contato com as
leveduras antes da degola (Dégorgement) que remetem ao pão tostado, pão com
manteiga, panificação mesmo, com notas delicadas de flores, que traz uma
agradável sensação de frescor e leveza.
Na boca é seco, não faz nenhuma concessão ao dulçor, o que me
agrada, com certa austeridade e complexidade, mas que, ao mesmo tempo entrega
frescura, refrescância, com cremosidade, untuosidade que enche a boca,
conferindo-lhe textura firme, com uma acidez instigante e que saliva a boca,
com as notas frutadas e um final incrivelmente prolongado que lembra limão,
laranja e fermento.
Práticas naturais, sustentáveis, quase rústicas reverberam a
necessidade de originalidade, de expressão máxima de terroir, trazendo
novidades calcadas em preceitos antigos, ancestrais. O nosso espumante
definitivamente se firmou como uma bebida nossa, com tipicidade e mesmo que
tragam métodos de vinificação da França, berço da vitivinicultura mundial, o
Brasil, no que tange aos seus borbulhantes, vem se destacando como um dos melhores
produtores deste vinho no planeta. E a Don Giovanni, com a sua veia
tradicional, o seu know how e respeito ao terroir de Pinto Bandeira, revela,
sintetiza essa grata realidade que, um dia, espero, que se mostre a todos os
brasileiros, indistintamente, difundindo a cultura do nosso mais emblemático
vinho. Tem 12,6% de teor alcoólico.
Sobre a Vinícola Don Giovanni:
Em 1827 chegou ao Brasil o imigrante italiano Karl Dreher. Um
de seus filhos, Carlos Dreher Filho, em 1910 iniciou no porão de sua casa, em
Bento Gonçalves, a produção de vinhos tintos. Depois de uma viagem à Europa,
com conhecimentos adquiridos, iniciou e tornou-se um dos pioneiros na produção
do vinho branco na região.
Em 1950 surgiu o famoso Conhaque Dreher, produzido a partir
da destilação do vinho. Foi um grande sucesso e logo passou a ser consumido em
todo Brasil. Em 1970 a transmissão pela TV da Copa do Mundo do México, em que o
Brasil se sagrou Tricampeão do Mundo, teve o patrocínio do Conhaque Dreher –
“De pai para filho, desde 1910! ”
Em 1973, já com a proibição de utilização da denominação de
origem controlada Cognac, a empresa foi vendida para a americana Heublin, que
comprou também na mesma época a Drury’s e a Old Eight. O local onde hoje está
instalada a Don Giovanni era um centro de experimentação e desenvolvimento de
uvas viníferas e vinificação.
Em 1980 Beatriz Dreher Giovannini e seu marido Ayrton
Giovannini recompraram a propriedade e transformaram em um lugar de veraneio.
Estavam ali lembranças de sua infância.
Algum tempo depois decidiram voltar a produzir vinhos.
Reformaram toda a propriedade e transformaram a casa principal em uma pousada. No
entorno da casa estão ainda os vinhedos de 60 anos, de uvas americanas,
utilizadas na produção do Conhaque Dreher.
Beatriz recuperou a receita antiga de família, e voltou a
produzir com as mesmas uvas, um brandy
excepcional, que pode ser degustado na visita à vinícola. Com mais de 50
hectares, sendo 14 de vinhedos, na sua maioria Pinot Noir e Chardonnay.
A elaboração de espumantes representa 80% da produção da
vinícola. Os espumantes são elaborados pelos métodos tradicional (champenoise)
e Asti. O foco da vinícola está nos espumantes produzidos pelo método
tradicional, que maturam por diferentes tempos. A produção anual gira em torno
de 100.000 garrafas.
A cave foi transformada em enoteca, onde são guardados vinhos
desde a safra de 1990. Atualmente, a Vinícola Don Giovanni conta com 5
degustações, algumas realizadas dentro da cave, um local cheio de história.
Além das experiências de degustação a vinícola conta com experiências
gastronômicas no Restaurante Nature Vinho e Gastronomia.
Mais informações acesse:
https://www.dongiovanni.com.br/
Referências:
Blog do Milton: http://www.blogdomilton.com.br/post/br/2017-12-viagens-vinhos-historia-pinto-bandeira-rio-grande-do-sul
Revista Adega: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/champenoise-tradicional-ou-classico-os-metodos-de-fazer-champagne_11987.html
Site da Prefeitura Municipal de Pinto Bandeira: https://www.pintobandeira.rs.gov.br/secao.php?id=2
Site Vinho Brasileiro: https://vinhobrasileiro.org/enoturismo/ip-regiao-de-pinto-bandeira
Embrapa: https://www.embrapa.br/uva-e-vinho/indicacoes-geograficas-de-vinhos-do-brasil/ig-registrada/ip-pinto-bandeira
Portal bom Vivant: https://www.portalbonvivant.com.br/post/2018/12/12/espumante-nature-apresentamos-quatro-sugest%C3%B5es-que-vale-a-pena-voc%C3%AA-provar
Gaúcha ZH: https://gauchazh.clicrbs.com.br/destemperados/bebidas/noticia/2017/10/nature-um-espumante-puro-ckboenhcu004dmmslca2k2gtc.html