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quarta-feira, 12 de agosto de 2020

O gosto amargo do vinho


Quando decidimos abrir uma garrafa de vinho, normalmente o fazemos através de um ritual agradável e sistemático. Deve ser um momento prazeroso, pelo menos para quem se dedica um pouco mais sobre o mundo cultural do vinho. Sistemático, pela escolha, porque nem sempre estamos no clima de bebermos algo mais complexo, por aquele varietal mais ácido ou mesmo um vinho excessivamente equilibrado… enfim, decidimos pelo momento, companhia, meditação ou algo que iremos harmonizar. Esse momento agradável deveria ser perfeito, entretanto, não rara às vezes, temos surpresas desagradáveis, como é o caso de vinhos com forte sensação de amargor.

Para alguns especialistas, o gosto amargo no vinho não é bem vindo, nem para os que o produzem e muito menos para aqueles que o consomem. É tarefa do enólogo (quem produz o vinho) tentar evitar o amargor no vinho.

A sensação do sabor amargo no vinho deve ser imperceptível para vinhos brancos e tintos jovens e frutados. No entanto, em determinados tintos envelhecidos pode aparecer ao paladar um discreto fundo "amargo". Isso ocorre devido a oxidação dos taninos ao longo do tempo.

Nesses casos o que acaba disfarçando essa sensação de amargor é o álcool. É por isso que geralmente vinhos com teor alcoólico acima de 12,5% envelhecem bem.


Mas em outros casos, o gosto amargo pode ser um "defeito do vinho". Vamos para alguns exemplos:

1 - Defeito de elaboração: onde acaba ocorrendo um inicio precoce da fermentação por ferimento das uvas no transporte entre o vinhedo e a cantina;

2 - Outro caso, é quando por questões econômicas, acaba-se aproveitando (ainda que parcialmente) os cachos de uvas que apodreceram. Nesse caso, há formação de fungos e bolores, os quais acabam destruindo as substâncias aromáticas e transmitindo ao vinho o sabor amargo.

Amargor é normal?

Há quem diga que o amargor não é um defeito do vinho, pelo menos em determinados vinhos e propostas. Como é o caso do afamado Amarone italiano, um vinho estiloso e caro, elaborado na maioria das vezes com três castas especiais: corvina, rondinella e molinara, negrara às vezes. Essa sensação de amargor é, principalmente sentida, durante o retrogosto e considerada normal. Tudo é cabível, desde que não haja exageros. Também poderá acontecer da adstringência de um vinho muito jovem ou mal elaborado se confundir com o amargor, e isso é igualmente comum. Já os vinhos envelhecidos, do mesmo modo, poderão exibir leve amargor diante dos taninos oxidados, conforme já mencionado no texto.

Amargor e adstringência

Ao degustarmos um vinho, o sabor amargo e a sensação de adstringência se misturam. E, em linhas gerais, ambos são produzidos pelos polifenóis da uva, os taninos. Um vinho tânico tem consistência, estrutura e continuidade. Porém, taninos demais o vinho fica duro e grosseiro.

Vinhos brancos, por exemplo, com menos taninos, são menos amargos. Mas, mesmo sem amargor, podem ser também adstringentes, pois a adstringência vem mais dos taninos dos cabos e das sementes do que das cascas das uvas, que costumam ser descartadas rapidamente durante o processo de vinificação.

A impressão de secura na boca, causada pelos taninos, acontece porque eles têm a capacidade precipitar as proteínas, e nossa saliva é rica em compostos proteicos. Precipitando as proteínas da saliva, ficamos com a adstringente sensação de rugosidade na língua.

Questão de equilíbrio?

Além dos taninos, que têm sabor amargo, o vinho também é composto de ácidos, açúcares e sais, cada um com seu gosto específico. O sabor do vinho é uma espécie de soma desses sabores individuais. Os ácidos ajudam a equilibrar o amargor do vinho. Quanto menor a acidez de um vinho, mais os taninos se destaca. Os açúcares mascaram o amargor e adstringência, retardando a nossa impressão sobre eles. E os sais atenuam os sabores amargos.

Pois é, há algumas divergências quanto ao quesito “amargor” no vinho, se é um “defeito” ou um processo natural das uvas. O fato é que temos de ter essa percepção, exercitando a nossa capacidade de análise dos vinhos e principalmente escolher os vinhos que a gente mais se identifica. Saúde!

Fontes: