Visual: apresenta um rubi
intenso, escuro, com reflexos violáceos. Apresenta alguma viscosidade, o que se
confirma nas lágrimas, grossas e em média intensidade, que tingem as bordas do
copo.
Nariz: Trazem aromas de frutas
vermelhas frescas, como amoras, framboesas e morango. Me remetem também a
aromas cítricos, como casca de laranja e um toque perfume de violetas.
Boca: é incrivelmente rústico
e atípico, muito saboroso, com as notas frutadas evidentes, com nuances
frescas, vivas, plenas. Reproduz também as notas cítricas que causam uma
picância. Os taninos dóceis, amáveis, com uma acidez vibrante e salivante que
estimula sempre a uma nova degustação. Final longo.
Visual:
apresenta um rubi intenso, fechado, com alguma viscosidade e lágrimas finas,
lentas e coloridas.
Nariz:
revela um aroma pronunciado de frutas negras maduras, com um fundo de
especiarias, notas terrosas, de charcutaria, de couro, em virtude da passagem
por barricas de carvalho.
Boca:
é de médio a estruturado, com bom volume de boca, alcoólico, confirmando as
notas frutadas, amadeirado, mas bem integrado, sendo tostado, com toques de
chocolate meio amargo, taninos marcados e boa acidez. Final cheio e persistente.
Eu nunca havia degustado essa casta até então! Quando
lembramos da Argentina o que nos vem à mente é sempre, claro, a Malbec, a mais
cultivada, de maior sucesso não só nas terras dos nossos Hermanos, mas no mundo
inteiro, principalmente em nosso país, onde é exportada aos cântaros.
Evidente que há uma grande quantidade de castas que são bem
cultivadas na Argentina sejam elas tintas ou brancas, que merecem a nossa
atenção e a Torrontés é uma delas, a cepa branca mais querida por aquelas
bandas. E há ainda outras tantas, como Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot etc.
Mas uma que hoje é tida como a segunda mais plantada na
Argentina eu nunca havia experimentado, bem, pelo menos até o ano de 2013 ou
2014, não me recordo o ano exato. Falo da Bonarda.
O meu primeiro contato com a Bonarda foi em grande estilo:
Com um rótulo da gigante e tradicional Nieto Senetiner, o Don Nicanor Bonarda
2015! Não havia tido, confesso, a dimensão da importância dessa degustação, mas
lembro-me do quão agradável e prazeroso foi.
Depois dessa especial degustação foi um hiato até o meu
próximo contato com outro rótulo da Bonarda. E quando isso aconteceu, em 2018,
foi de uma forma meio inusitada ou, diria, inesperada.
Recebi uma notificação, por email, de um evento de degustação
de vinhos argentinos, que seria ministrado por uma loja conhecida de vinhos no
tradicional bairro carioca da Tijuca, no Rio de Janeiro.
Bem o evento era gratuito então decidi conferir os rótulos
que seriam expostos para degustação e posterior venda aos participantes do
evento. E diante dos “Malbecs”, “Torrontés” da vida, lá estava um Bonarda! Sim,
um Bonarda! Um misto de ansiedade e curiosidade me tomou de assalto.
E finalmente quando os organizadores disponibilizaram o
rótulo para degustação, uma versão orgânica e sem passagem por barricas de
carvalho, diferente, em termos de proposta, do Don Nicanor, o vinho era ótimo!
Um vinho frutado, leve, saboroso! Assim é o Bonarda na sua essência. O vinho? Colonia Las Liebres Clasica Bonarda 2014!
Vinhos de qualidade, especiais e que, embora não tenha um
histórico de degustação, os poucos que tive experiência de degustar foram
extremamente satisfatórios! Então para não perder a Bonarda de vista resolvi ir
ao garimpo para buscar novos rótulos e não foi muito difícil encontrar um e bem
interessante de um produtor que já tive algumas boas experiências: Viña Las
Perdices.
Estava em um preço arrebatador para um Gran Reserva então não
hesitei e comprei mais um Bonarda, mas resolvi deixar por alguns anos na adega,
talvez cerca de dois ou três anos e hoje com oito anos de garrafa tenho
esperanças e acredito piamente que esteja no auge para degustação.
Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que
degustei e gostei veio da região de Mendoza, na Argentina, e se chama Partridge
Gran Reserva Bonarda da safra 2015. Já que falamos da Bonarda, vamos com a
história dessa cepa que é a segunda mais cultivada na Argentina.
Bonarda
A uva Bonarda Piemontesa, que historicamente era usada para
deixar os taninos da casta Nebbiolo mais macios e conferir mais fruta aos
vinhos mais duros do Piemonte, não tem relação com a uva Bonarda encontrada na
Argentina.
Na verdade, a casta Bonarda argentina é a uva Douce Noire,
originária da Saboia, na França. Por ter características semelhantes à Bonarda
Piemontesa, até na França se acreditava que a uva era originária do Piemonte,
mas estudos de DNA mostraram que se trata de uma variedade distinta de casta.
A uva Bonarda possui cachos bem cheios, compactos e médios.
Com cor bem escura (preto azulado), os bagos da casta possuem polpa macia e
formato de esfera. Com cor bem escura (preto azulado), os bagos da casta
possuem polpa macia e formato de esfera. A uva Bonarda, antigamente era
utilizada somente em cortes, para propiciar maior equilíbrio na acidez dos
tintos.
Bonarda
Hoje, já é possível achar varietais da casta ou bi-varietais,
sendo muito utilizada na elaboração de vinhos com a casta Malbec e a uva Syrah.
Hoje, a casta existe em minúsculas quantidades na França e nos Estados Unidos,
mas a Argentina conta com quase 19.000 hectares plantados, onde é identificada
como Bonarda.
Sabe-se que a Bonarda chegou à Argentina com os primeiros
imigrantes europeus, no final do século XIX. Lentamente, adaptou-se às
condições locais, por meio de uma seleção natural de clones no campo, ajudada
pelo fato de não ser particularmente sensível a nenhuma enfermidade.
Dos 19 mil hectares plantados da Bonarda na Argentina 9 mil são
plantados nas planícies quentes do Leste de Mendoza, nos arredores de San
Martin, Junin, Rivadavia e Santa Rosa, longe dos ventos frios da Cordilheira
dos Andes.
A uva Bonarda tem um ciclo longo de amadurecimento,
necessitando de bastante calor para conseguir amadurecer. Quando as uvas não
amadurecem o suficiente, seus vinhos têm pouca cor e corpo e, no palato, um
leve toque de ervas. Apesar disso, é muito produtiva.
Os vinhos ralos com uvas provenientes de vinhedos de grande
produção não ajudaram a boa reputação da Bonarda. Produzia vinhos medíocres e
era usada, ainda é, em cortes de uvas Malbec e até com variedades como Criolla,
nos 'vinos gruessos', vinhos baratos dos supermercados argentinos.
Alguns produtores enfrentaram o desafio de elaborar um bom
vinho de Bonarda e vem tido grandes resultados e vários desses vinhos estão
disponíveis em importadoras brasileiras. São vinhos marcados por frescor,
acidez vibrante, fruta fresca e taninos suaves. Por um preço bastante
acessível, constituem uma excelente relação entre qualidade e preço e, na
Argentina, diz-se que são um revigorante para a alma, combatendo tristezas e
saudade.
E agora finalmente o vinho!
Na taça Revela um rubi intenso, profundo, escuro, intransponível,
com halos granada, atijolado, que denotam os seus oito anos de garrafa ou pela
longa passagem por barricas de carvalho, além da viscosidade que mancha o copo.
No nariz é aromático, perfumado, complexo, com as frutas
negras maduras em grande evidência, com as notas amadeiradas também vivaz,
graças a passagem por 18 meses em barricas de carvalho, que entrega baunilha,
couro, tabaco, café torrado, torrefação, tosta alta, chocolate meio amargo e um
herbáceo ao fundo.
Na boca é seco, traz estrutura, alguma robustez, alcoólico, um
vinho gordo, volumoso, corpulento, mas o tempo se encarregou de deixa-lo macio,
elegante, mostrando equilíbrio. A fruta negra madura protagoniza, como no
aspecto olfativo, bem como a madeira, trazendo notas de baunilha, de café, de
chocolate, de torrefação, com um herbáceo e terra molhada, além de taninos
domados, comportados e acidez correta e um final cheio, persistente e de
retrogosto frutado.
Um vinho elegante, complexo, de marcante personalidade,
equilibrado. Assim é o Partridge Gran Reserva da casta Bonarda. O tempo foi
gentil com o vinho, dando-lhe tais características mencionadas. Mendoza lhe deu
a fruta, a austeridade, o bom corpo, corroborando que a Bonarda hoje não é
apenas uma alternativa de vinho barato a Malbec, mas mais um vinho de qualidade
e tipicidade atestada como a Malbec. Hoje a Bonarda é uma realidade e, com
isso, esperamos todos que o nosso mercado seja receptivo e nos brinde com
rótulos especiais como esse. Tem 14% de teor Alcoólico.
Sobre a Viña Las Perdices:
Em 1952, Juan Muñoz López decidiu deixar sua cidade natal,
Andalucia, no sul da Espanha, e ele e sua família emigraram para Mendoza, na
Argentina, a fim de buscar novos horizontes.
Em seguida, já em solo argentino, não pôde deixar de notar as
perdizes que vagavam pela terra. Com efeito, um vizinho disse a ele que essas
aves geralmente são vistas em grupos de três.
Assim sendo, com o passar dos dias, as perdizes se tornaram
as companheiras constantes de Don Juan em seus longos dias de trabalho. Assim,
ele decidiu nomear sua vinícola Partridge Vineyard: “Viña las Perdices”.
A adega hoje é uma operação familiar criada por Juan Muñoz
López, sua esposa Rosario, seus filhos Nicolas e Carlos e sua filha Estela.
A vinícola, assim, se localiza no sopé da Cordilheira dos
Andes a 1.030 metros acima do nível do mar, em Agrelo, Luján de Cuyo – a
primeira zona DOC (denominação de origem controlada) argentina. Do mesmo modo,
as uvas são provenientes de duas de suas vinhas em Agrelo em Lujan de Cuyo e
Barancas em Maipu.
Por fim, hoje Las Perdices continua a ser uma vinícola de
pequena produção e com um espírito entusiasmado em apresentar os vinhos finos
de Mendoza.
Sobre a Partridge Vineyard:
A linha Partridge foi criada em 2009 para complementar o
portfólio da Viña Las Perdices nos mercados internacionais. São vinhos de
perfil clássico e de qualidade, que ganhou a preferência dos consumidores.
A linha tem quatro divisões, que variam de acordo com o
perfil dos rótulos:Partridge Flying, Partridge Reserva, Partridge Gran Reserva
e Partridge Selección de Barricas.
A sub-linha Partridge Flying oferece vinhos fáceis de beber
que são excelentes para o dia a dia. Em Reserva, os rótulos amadurecem em
barricas de carvalho, agregando mais corpo e complexidade aos vinhos. Já na
Gran Reserva, os vinhos são sofisticados e passam no mínimo 12 meses em carvalho,
garantindo grande intensidade. E, por último, a Selección de Barricas, conta
com exemplares de alta gama.
Há quem diga que para degustar um verdadeiro Malbec é preciso
investir nos encorpados, barricados, aqueles “malbecões” corpulentos, complexos
e estruturados. Claro que tudo é questão de proposta de vinho, claro que também
é muito pertinente degustar um Malbec com essas características tão marcantes,
sem dúvida um momento especial. Mas não devemos negligenciar os vinhos dessa
cepa mais básica, frutadas, sem passagem por barricas de carvalho. Temos que
admitir também que é mais difícil encontrar rótulos com essa proposta, um que
expresse com fidelidade a essência de uma casta tão importante e necessária
para os paladares dos enófilos mais exigentes.
Mas vamos combinar que degustar um Malbec argentino o nível
de dificuldade na escolha reduz significativamente? Todas as propostas de
Malbec, independente do que eles possam entregar, o Malbec argentino, de
Mendoza, de Luján de Cuyo, que seja, traz toda a tipicidade de um terroir único
e especial. E, diante de alguns vinhos dessa cepa que eu degustei ao longo do
meu percurso um conseguiu, com maestria, unir o conceito frutado e jovem dos
vinhos básicos com a personalidade, a estrutura de um Malbec barricado. É
possível? Sim, consegui degustar um vinho frutado, um vinho delicado, com
nuances amadeiradas e alguma complexidade. E nessa miscelânea improvável e
inusitada partiu da mente emancipada de uma das mulheres mais bem sucedidas da
história da vitivinicultura argentina e mundial: Susana Balbo.
E tinha que vir das terras férteis e abençoadas da região
emblemática de Luján de Cuyo, onde a Malbec encontra os seus predicados. Então
depois de algumas informações esclarecidas e divulgadas e meio caminho andado,
nada mais pertinente do que revelar esse vinho que foi importante para a
construção da minha percepção para com a Malbec. O vinho que degustei e gostei
veio de Mendoza, mais precisamente de Luján de Cuyo, na Argentina, e se chama Crios,
que, além da Malbec, com 95%, tem também 5% de outra popular casta dos Hermanos,
Bonarda, portanto um corte com a predominância da Malbec e a safra é de 2014.
Susana Balbo: a emancipação feminina do vinho argentino
Nascida em uma família tradicional e desafiando as convenções
sociais da era Susana, ela decidiu se profissionalizar na produção de vinho.
Dessa forma, em 1981, recebeu seu Bacharelado em Enologia como a melhor
pós-graduação, tornando-se a primeira enóloga feminina na Argentina.
Susana Balbo
Em 2012, ela foi a única argentina reconhecida pela revista
Drinks Business como uma das mulheres mais influentes do mundo do vinho. Em
2015, a mesma publicação reconheceu a "Mulher do ano" (Mulher do ano
de 2015 pela The Drinks Business) e, posteriormente em 2018, a nomeou como uma
das "As 10 mulheres mais influentes do mundo da veio”. Sua experiência
começou em Cafayate, Salta, responsável pela vinícola Michel Torino Sucession,
especializada na produção de Torrontés. Depois, trabalhou em vinícolas muito
importantes, como Martins e Catena Zapata. Ao longo de mais de 30 anos de
carreira, Susana teve a oportunidade de atuar como consultora em importantes
vinícolas internacionais em várias regiões vinícolas, o que lhe permitiu estar
sempre na vanguarda das tendências do mercado e estilos de vinho. Ela também
foi Presidente da Wines of Argentina (WOFA) três vezes (2006-2008, 2008-2010 e
2014-2016) e assumiu o cargo de vice-presidente de 2010 a 2012, tornando-se um
ícone da indústria vinícola argentina e mundial.
Luján de Cuyo: o cantinho da Malbec
O departamento de Luján de Cuyo foi instituído em 11 de maio
de 1855 sob o nome de “Villa de Luján” durante o governo do General Pedro
Pascual Segura. Seu município foi criado em 1872. O povoado de Luján realizou
uma grande contribuição à história da Independência Argentina, desempenhou um
papel fundamental na formação do Exército dos Andes. Foi declarada “Cidade” a
Villa de Luján, em Outubro de 1949. Em 1964, tanto a cidade quanto o
departamento passaram a ser chamados “Luján de Cuyo”. No início, quando os
espanhóis por ordem do Governador Garcia Hurtado de Mendoza, sob o comando do
capitão Don Pedro del Castillo chegaram ao Vale de Huentota durante uma
expedição constituída por sessenta espanhóis, mil e quinhentos índios
auxiliares e um capelão, Frei Humberto de la Cueva, encontraram um precário
sistema de irrigação artificial. Esse era o qual a população local irrigava
suas plantações de batata e milho originários da América e desconhecidos até o
momento na Europa. O Capitão del Castillo nomeou o lugar Mendoza – Novo Vale de
Rioja. Era 2 de março de 1561. O nome foi uma homenagem ao Governador do Chile
Hurtado de Mendoza e à pátria natal de Castillo.
Luján de Cuyo
E agora o tão esperado vinho!
Na taça entrega um vermelho rubi intenso e brilhante com
reflexos violáceos, lágrimas finas e abundantes que teimam em se dissipar das
paredes do copo.
No nariz é intrigante, instigante mostrando aromas de frutas
negras, frutas maduras e se destacam cereja preta, groselha, a fruta, como
marcante característica da Malbec, se faz presente e evidente no aroma, muito
agradável, além de notas de especiarias e baunilha, graças a sua passagem por
barricas de carvalho por 9 meses.
Na boca é uma profusão de sabores, uma explosão complexa que
envolve, como no quesito olfativo, a fruta negra, madura que se envolve com
notas vegetais, de especiarias, um envolvente picante, toque de pimenta
explicitado no seu rótulo, com taninos robustos, mas domados, com boa e
atraente acidez, com um bom volume de boca e um final cheio, persistente e
frutado.
Um senhor vinho! Um vinho considerado básico da linha de
Susana Balbo mas que revela um vultosa personalidade, um rótulo encorpado, mas
com muito equilíbrio, sendo inclusive fácil de degustar. Um vinho gastronômico
que harmoniza com comidas picantes, massas e mais pesadas, como churrasco, por
exemplo. A linha Crios se enquadra em uma frase que costumo usar como um mantra
que diz: “Da nobreza vem a simplicidade’. Assim são os vinhos da rainha da
vitivinicultura: Susana Balbo. E aqui vale fazer um adendo, uma curiosidade sobre
o nome “Crios” para essa digna linha de vinhos. Susana Balbo decidiu, ao criar
essa linha de vinhos mais jovens da vinícola, homenagear seus filhos que na
época, eram crianças, daí o nome “crios” que significa “criança”. Vale dizer
também que tive uma experiência incrível com o Torrontés dessa linha, o Crios Torrontés 2013. Tem 14% de teor alcoólico.
Sobre a Susana Balbo Wines:
Em 1999, com quase duas décadas oferecendo seu talento ao
aconselhamento de empresas nacionais e internacionais do setor vitivinícola,
Susana Balbo decidiu realizar seu sonho de ter sua própria vinícola e foi para
que Susana Balbo Wines se enraizasse no coração de Luján de Cuyo Mendoza. Após
mais de dez anos de constante crescimento nos mercados internacionais, outro
sonho se tornou realidade: seus filhos, José, um enólogo da UC Davis
(Califórnia) e Ana, formada em Administração de Empresas pela Universidade de
Em San Andrés, eles decidiram continuar com a tradição da família e se juntar à
equipe Susana Balbo WInes. Nos últimos anos, Susana e sua equipe trabalharam
duro para atender aos mais altos padrões de qualidade em nível internacional,
demonstrando seu compromisso com os problemas mais importantes do século XXI:
segurança alimentar, sustentabilidade e responsabilidade social corporativa.
Recebi uma notificação, pelas redes sociais, de uma loja
especializada de vendas de vinhos, de uma prova de rótulos argentinos. Embora seja
uma simples prova e não uma farta degustação resolvi ir, afinal, são pequenas
oportunidades como essa que podem nos brindar, com o perdão da analogia, com
gratas surpresas. Fui com essa perspectiva! No local da prova chegando havia
poucos rótulos disponíveis, cerca de 6 rótulos argentinos, mesclados entre
tintos, rosés e brancos com as principais castas daquele país, sendo
predominante a região emblemática de Mendoza. Isso não seria um problema se os
vinhos selecionados para a prova fossem, é claro, muito bons. Comecei a prova e
um me chamou a atenção, um da casta Bonarda. A Bonarda atualmente é uma uva
muito conhecida e consumida entre os enófilos e entregam grandes vinhos nas
suas mais diversas propostas. Inclusive a minha primeira degustação da casta
foi de um vinho amadeirado, potente e muito saboroso, o Don Nicanor, da Nieto
Senetiner. Mas não se enganem, nunca foi assim, de vinhos excelentes da casta
Bonarda. No passado os vinhos produzidos com essa casta eram do tipo a granel e
de baixíssima qualidade, mas nisso falemos logo. Falemos do excelente Bonarda
que estava entre os rótulos da prova de vinhos ministrada pela loja
especializada. E que vinho!!
O vinho que degustei e gostei veio de Luján de Cuyo, Mendoza,
Argentina, e se chama Colonia Las Liebres Clasico, um 100% Bonarda, da safra
2014, feito com uvas orgânicas. Quando o degustei, o levei a boca, foi como se
fora uma revelação arrebatadora, um vinho fantástico que, na altura de sua
simplicidade nobre, entregou tudo que eu precisava e esperava de um vinho
mendocino. Mas, antes de falar deste belo vinho, vamos falar um pouco sobre a
história da Bonarda.
Bonarda
Para alguns produtores, a Bonarda plantada na Argentina é a
mesma do Norte da Itália, prima das uvas da Lombardia e da Emilia-Romagna.
Outros acham que ela é aparentada da Corbeau ou Douce Noire de Savóia, na
França. Essa região está separada da Itália pelos Alpes e, portanto, a Bonarda
deve ser também prima da Dolcetto ou da Barbera. Sabe-se que a Bonarda chegou à
Argentina com os primeiros imigrantes europeus, no final do século XIX.
Lentamente, adaptou-se às condições locais, por meio de uma seleção natural de
clones no campo, ajudada pelo fato de não ser particularmente sensível a nenhuma
enfermidade. Depois da Malbec, com 19 mil hectares de vinhas vêm a Bonarda, com
16 mil hectares, dos quais 9 mil são plantados nas planícies quentes do Leste
de Mendoza, nos arredores de San Martin, Junin, Rivadavia e Santa Rosa, longe
dos ventos frios da Cordilheira dos Andes. A uva Bonarda tem um ciclo longo de
amadurecimento, necessitando de bastante calor para conseguir amadurecer.
Quando as uvas não amadurecem o suficiente, seus vinhos têm pouca cor e corpo
e, no palato, um leve toque de ervas. Apesar disso, é muito produtiva. Os
vinhos ralos com uvas provenientes de vinhedos de grande produção não ajudaram
a boa reputação da Bonarda. Além de produzir vinhos medíocres, ela é usada em
cortes de uvas Malbec e até com variedades como Criolla, nos 'vinos gruessos',
vinhos baratos dos supermercados argentinos. São vinhos marcados por frescor,
acidez vibrante, fruta fresca e taninos suaves. Por um preço bastante
acessível, constituem uma excelente relação entre qualidade e preço e, na
Argentina, diz-se que são um revigorante para a alma, combatendo tristezas e
saudade.
E agora vamos ao vinho!
Na taça apresenta um vermelho rubi intenso e profundo, com
alguns reflexos arroxeados, com lágrimas finas e em profusão, que desenha as
paredes do copo, pois demoram a se dissipar.
No nariz traz aromas de frutas vermelhas, frutas em compota,
como cerejas e framboesas, muito floral, além de notas de especiarias, como
canela, pimentão ou algo do tipo.
Na boca é seco, tem médio corpo, mas muito redondo, elegante
e fresco, um vinho, embora da safra de 2014, revelou-se jovem e pleno, com
taninos finos e sedosos, com uma acidez agradável e equilibrada com um
retrogosto frutado e persistente.
Um senhor vinho com excelente custo X benefício, de muita
tipicidade e por não ter passagem por madeira revela a pura expressão das
características da casta. Um vinho que harmoniza bem com massas em geral,
carnes grelhadas ou podendo ser degustado sozinho. Tem 13,2% de teor alcoólico
muito bem integrado.
Sobre o “Colonia Las Liebres”:
Durante a maior parte de sua existência na Argentina, Bonarda
foi cultivada e cultivada como vinho de mistura, uma vez que poderia proporcionar
grandes rendimentos que mantinham a cor e o sabor frutado. Os enólogos
costumavam misturar este vinho com vinho a granel de baixa qualidade e, na
maioria das vezes, ignoravam Bonarda como um sério vinho varietal único. No
entanto, em 2000, Alberto Antonini e Attilio Pagli, os vinicultores da Bodega
Altos Las Hormigas, especialista em Malbec, descobriram por sorte o potencial
do cultivo de Bonarda varietal em Mendoza. Uma tempestade de granizo havia se
movido rápida e violentamente pela região, podando naturalmente o dossel das
folhas de um vinhedo de Bonarda nas proximidades. A vinha evitou grandes danos,
mas a colheita produziu apenas metade da colheita usual. Ao avaliar os danos,
os enólogos descobriram que as uvas restantes tinham uma concentração e
estrutura surpreendentes. O vinho resultante era bonito, com textura suave e
sabores persistentes. Como lembra Alberto, ele sabia naquele momento que estava
preso em Bonarda. A equipe Altos Las Hormigas acreditou no potencial e na
personalidade única de Bonarda desde o início e, em 2003, começou a explorar
suas variações nos solos e climas de Mendoza. A Colonia Las Liebres foi
estabelecida como uma marca irmã para se concentrar apenas no cultivo da uva
Bonarda. Colonia las Liebres, que significa Colônia de Hares, retrata uma lebre
selvagem. Essa imagem faz alusão à personalidade do vinho, que brota de seu
lugar de origem, como a da lebre selvagem que percorre nossas videiras,
trazendo sem esforço um senso de lugar. A primeira Colonia Las Liebres Bonarda
lançada no mercado foi a safra de 2003. Em 2005, vinte acres de videiras Estate
foram plantadas em Lujan de Cuyo. Após 10 anos produzindo e experimentando
Bonarda como um único vinho varietal, a equipe continua sendo apoiadores
dedicados e fervorosos defensores do futuro da Bonarda no mercado global.
Sobre a vinícola Altos Las Hormigas:
Em 1995, Alberto Antonini, um conhecido enólogo da Toscana, e
Antonio Morescalchi, um jovem empresário, fizeram uma viagem para visitar as
florescentes áreas vinícolas da América do Sul. Foi preciso apenas uma parada
para encontrar o que eles estavam procurando. Eles ficaram imediatamente
impressionados com as vinhas que prosperavam na alta altitude e no clima seco
de Mendoza, e foram cativados pelas tradições sussurradas e pela mistura de
culturas. Eles retornaram à Toscana impressionantemente impressionados não
apenas pela região, mas também pelo potencial inexplorado de Malbec, uma uva
que tinha uma forte tradição local, mas foi amplamente ignorada e mal
compreendida. Enquanto o resto do mundo do vinho viu Mendoza lutando para
derramar sua imagem de vinho em massa, os dois jovens italianos viam Mendoza
como um lugar onde os valores vitivinícolas tradicionais e as terras imaculadas
podiam ser revigorados com uma abordagem moderna de vinificação e experiência internacional.
Em vez de plantar Cabernet Sauvignon e Merlot, como muitos outros fizeram nos
anos 90, a equipe decidiu investir sua confiança no Malbec. Hoje, Malbec é a
varietal pela qual a Argentina é mais conhecida. Contra todas as
probabilidades, eles consolidaram sua visão de se tornarem especialistas em
Terroir. Logo depois, dois amigos e parceiros de negócios, também entusiasmados
com a idéia, se juntaram ao empreendimento: Attilio Pagli, um renomado enólogo
da Toscana com dois vinhos com pontuação de 100 pontos em seu recorde pessoal e
Carlos Vazquez, um engenheiro agrônomo argentino, que trabalha há 20 anos com o
grupo Catena, plantando novas variedades, desenvolvendo vinhedos desconhecidos
e contribuindo muito para a mudança qualitativa da viticultura argentina desde
o início.
Uma vez eu disse: só comprarei espumantes brasileiros. Faz
sentido e é justo, levando-se em conta que os nossos espumantes, a meu ver, são
os melhores, ainda tendo uma diversidade de propostas e preços. Portanto não
fui, com essa opinião, ufanista. É uma ideia acertada, mas hoje, penso que não
deve ser definitiva, apenas prioritária, para não cair na contradição. Digo
isso, pois, em meus passeios pelos supermercados da vida, me deparei com um
espumante argentino, da região emblemática de Mendoza que, admito, foi pelo
preço: R$ 19,90! Infelizmente, por melhor que os nossos espumantes sejam,
encontrar um por 19,90, de qualidade, é uma árdua missão. Fiquei curioso e
comecei com meu “primeiro contato” de identificação do vinho, acessando o site
do produtor, lendo e interpretando as informações contidas no rótulo etc. E a
primeira coisa que me chamou a atenção foi o blend. Embora as castas sejam
típicas na Argentina, o corte, pelo menos para mim é atípico, com Chardonnay,
Chenin Blanc e Bonarda. Foi definitivo para a minha decisão de compra.
E o vinho que degustei e gostei, que me surpreendeu de forma
positiva, é o Noveento Rosado, composto pelas castas Chardonnay (50%), Chenin
Blanc (40%) e Bonarda (10%) da safra 2017 e feito pelo méodo charmat Se quiser saber sobre o método de vinificação acesse: Diferenças entre os métodos Champenoise e Charmat. O curioso
e que vale mencionar é que as uvas vieram de regiões ou sub-regiões diferentes
de Mendoza: o Chardonnay veio da zona alta de Lujan de Cuyo, o Chenin Blanc das
vinhas velhas na Zona Central e a Bonarda da região de Santa Rosa. E, segundo a
informação que consta no site do produtor é de que são solos diferentes, de
barro pedregoso de profundidade,solos arenosos profundos, boa amplitude térmica, excelente
iluminação etc. Enfim, sendo determinante, claro, para o vinho final. Mas isso
falarei agora.
Na taça apresenta um rosa casca de cebola, meio acobreado,
bem bonito, com perlages finos e abundantes, muito elegantes explodindo no
copo.
No nariz traz aromas de frutas vermelhas, como morango e
cereja, aromas esses agradáveis prenunciando a jovialidade e frescura do vinho.
Na boca reproduz as impressões olfativas, com certa
untuosidade, bom volume de boca, descortinado pelo toque adocicado que, embora
seja evidente, não se torna enjoativo. Baixa acidez, afinal as castas que
compõe o corte, não tem tal característica, com um final persistente e
agradável.
Um vinho, apesar da safra (2017), e talvez seja
exclusivamente por ela, tenha barateado o vinho, se revelou fresco, jovem,
delicado, equilibrado, ideal para ser degustado em dias quentes e ensolarados
ou simplesmente para dias ou noites agradáveis, sendo extremamente informal. O
posto nobre dos espumantes brasileiros em minha adega estará sempre guardado,
mas a flexibilidade de garimpar novos borbulhantes espalhados pelo mundo não
estará fora de minhas pretensões. Um belo espumante dos hermanos. Com 11,5% de
teor alcoólico.
Sobre a Bodega Dante Robino:
A Dante Robino é conhecida por ser uma vinícola argentina com
espírito italiano. Com quase 200 anos de tradição, foi uma das primeiras a
cultivar a uva Malbec no país e, portanto, a história desta casta na Argentina
tem episódios importantes que passam pela adega. Conhecida tanto por seus
vinhos tranquilos quanto pelos com borbulhas, a Bodega Dante Robino é o
principal produtor de espumantes
argentinos. Nascido em uma comunidade de vinicultores do Piemonte, no noroeste
da Itália, Dante Robino mudou a história da sua família ao se mudar para a
Argentina, em 1920. Chegando em Mendoza, o italiano logo começou a estruturar
uma vinícola que levaria seu nome, e onde ele escolheu cultivar as mudas de
Malbec e Bonarda que trouxe consigo na bagagem. Foi a partir de 1982, no
entanto, que a tradicional vinícola deu um passo rumo à modernidade com a
chegada da família Squassini ao comando do empreendimento. Somando às técnicas
tradicionais piemontesas de Dante com equipamentos de tecnologia de ponta, a
nova gerência iniciou então a produção de seus vinhos espumantes, que
rapidamente teriam sua qualidade reconhecida pelos cinco continentes do mundo. A
vinícola trabalha com vinhas plantadas na década de 1990, ou seja, com
aproximadamente 20 anos. A idade da vinha é muito importante, uma vez que
determina o quanto as raízes estão profundamente embrenhadas na terra. Uma
vinha nova (de até quatro anos) ainda está desenvolvendo as suas raízes, o que
significa que sua maior fonte de água ainda é a chuva. Já uma vinha velha
possui raízes bastante arraigadas e, dessa forma, consegue alcançar água em
níveis mais profundos do solo. A vinícola possui dois vinhedos, um em Lujan de
Cuyo e outro em Tupungato. Ambas as áreas tem uma temperatura média bastante
favorável para a viticultura. O vinhedo de Tupungato encontra-se a 1.100 metros
de altitude, enquanto o de Lujan de Cuyo está a 980 metros, ambos com excelente
exposição. Atualmente a vinícola tem uma produção estimada em 9 milhões dos
quais metade é de espumantes ou vinho base para espumantes – que além de ser
usado na própria vinícola é também vendido a terceiros -, sendo o Novecento, um
espumante produzido por método tanque e de preço bastante acessível –
principalmente no mercado interno, ocupa a maior fatia.