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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Garibaldi Moscatel

 

É possível, em um país como o Brasil, por exemplo, degustar um belíssimo vinho, com vários prêmios conquistados pelo mundo inteiro e ainda tendo um valor muito atrativo? Pode parecer improvável e inusitado para a nossa realidade, tendo em vista o altíssimo e injusto Custo X Brasil, comerciantes gananciosos etc, mas sim é possível encontrar vinhos nessas condições. E os nossos espumantes têm protagonizado esses momentos! Mais uma vez os nossos tão adorados espumantes! Mas não se enganem que essa seja uma realidade, não é um mar de rosas. Na mesma proporção que os nossos espumantes ganham em credibilidade e prêmios os valores também, infelizmente, na mesma toada: preços altos parece ser a tônica dos espumantes no Brasil, independente da sua proposta e um produto brasileiro que ganha respeito e qualidade não chega na mesa do brasileiro, de todos os credos e distinções sociais. Enfim, como costumo dizer: só falta o Brasil e os brasileiros conhecerem os nossos vinhos. Mas, discussões econômicas à parte, que são relevantes, há sim vinhos multi premiados e com preço justo e tem um nome para eles: Garibaldi.

O vinho que degustei e gostei veio da emblemática e famosa Serra Gaúcha, do Brasil, e é o Garibaldi Moscatel, não safrado, composto pelas castas Moscato Branco e Moscato Giallo e produzido pelo método Asti. Mas afinal o que é o método Asti? Esse processo tem muito a ver com a história da produção desses tipos de espumantes. Então vamos a história!

Método Asti e os Moscatéis

O método Asti é uma variação do método Charmat, já que o processo de fermentação de ambos métodos ocorrem dentro de autoclaves. A diferença é que os espumantes com essa metodologia passam por apenas uma etapa fermentativa. O método Asti para produção de espumantes consiste em colocar o mosto (suco extraído das uvas) com as leveduras diretamente dentro de um tanque de aço inoxidável totalmente vedado. As leveduras comerão o açúcar proveniente do mosto, o transformando em álcool e gás carbônico. Este gás não é expelido das cubas e serão as borbulhas do futuro espumante. Para manter a característica frutada do espumante Moscatel, quando o teor alcoólico atinge em torno de 8º (pode ser um pouco maior ou menor dependendo da decisão do produtor), o processo é paralisado pelo resfriamento do mosto. O que acontece é que restará açúcar residual do mosto ainda não fermentado. Quanto maior o teor de álcool, menos doce será o espumante. A bebida é então filtrada para eliminar as leveduras e outros sedimentos e em seguida é engarrafada.

Moscatel

Moscatel nada mais é do que a designação dada a uma família específica de uvas, chamadas originalmente de Moscato. As frutas dessa casta podem ter cascas brancas, tintas ou rosadas, originando diferentes tipos de vinho. Entretanto, convencionou-se chamar "espumante Moscatel" todos aqueles produzidos com a uva Moscato branca e utilizando o Método Asti de fermentação. Suas características mais marcantes são: baixo nível de teor alcoólico (entre 6 e 10%), intenso sabor adocicado frescor e intensidade de aromas florais e frutados.

As origens do Moscatel

O espumante Moscatel elaborado pelo Método Asti surgiu na região de Piemonte, na Itália, de maneira rudimentar, em meados do século XVI. Conta-se que o joalheiro Giovan Battista Croce foi o pioneiro, ao produzir vinhos brancos doces, aromáticos e de baixo teor alcoólico em suas terras. Logo a bebida se tornou famosa e ficou conhecida como Moscato d'Asti, em referência à comuna de Asti, onde os vinhos eram fabricados.

Piemonte e a Comuna de Asti

Ao longo do tempo, os processos de produção foram sendo aprimorados e, em 1865, o francês Carlo Gancia incorporou técnicas de espumantização ao vinho Moscato branco, dando origem ao espumante Moscato. No Brasil, o primeiro espumante Moscatel foi produzido somente em 1978, na Serra Gaúcha. Hoje em dia, a bebida é fabricada por diversas vinícolas brasileiras, já que a uva Moscatel branca é produzida em larga escala por aqui. Entretanto, é sempre bom lembrar que a denominação Asti é de origem controlada. Ou seja, somente os espumantes fabricados em Piemonte podem trazer essa informação em seus rótulos. As bebidas elaboradas com as mesmas características, mas em outros países, recebem a denominação "Espumante Moscatel" ou "Espumante Moscatel elaborado pelo Método Asti".

E agora o vinho!

Na taça tem um amarelo palha com reflexos esverdeados com um aspecto límpido e muito brilhante com uma bela formação de perlages, bem finas.

No nariz traz aromas agradáveis e intensos de frutas brancas e tropicais e cítricas tais como melão, maçã verde, pera, abacaxi, com um incrível toque floral, de flores brancas e o famoso toque adocicado, mas nem tanto, mostrando-se bem equilibrado, nesse sentido.

Na boca é leve, fresco, com um discreto, mas agradável toque de cremosidade, com uma boa acidez que corrobora a sua jovialidade e refrescância. Um final persistente, com retrogosto frutado.

Um grande espumante moscatel com a tipicidade e o DNA do terroir brasileiro, da Serra Gaúcha. O Brasil, a cada dia, a cada rótulo que surge, vem se especializando na produção e cultivo dos espumantes, das cepas que constroem os nossos moscatéis. O moscatel da Garibaldi se destaca, pelo preço competitivo, pela qualidade e pelos prêmios que ostenta e vem ostentando ao longo do tempo. Em 2014 o Garibaldi Moscatel ficou entre os 100 melhores vinhos do mundo e por duas vezes! Essa lista é elaborada pela Associação Mundial de Jornalistas e Escritores de Vinhos e Licores classifica os rótulos baseada em resultados de respeitados concursos internacionais, como os famosos Concours Mundial de Bruxelles e o International Wine Challenge. Tem uma vocação gastronômica e harmoniza com frituras, canapés e refeições mais simples. Tem 7,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Garibaldi:

Situada em Garibaldi (120 Km de Porto Alegre) no coração da Serra Gaúcha, a maior região vitivinícola do Brasil, a  empresa nasceu como Cooperativa Agrícola Garibaldi na quinta-feira, 22 de janeiro de 1931, na sede do Club Borges de Medeiros. Naquele dia, Monteiro de Barros reuniu representantes de 73 famílias para criar uma das mais importantes cooperativas da região. O sucesso da empreitada foi tanto que, em 1935, o grupo já contava com 416 associados.

A prosperidade, contudo, estancou no começo dos anos 1970. Em 1973, a empresa sofreu uma intervenção que durou cinco anos. O processo, porém, deu resultado e, no começo dos anos 1980, a Garibaldi passou a se modernizar. No entanto, o grande passo só seria dado no início dos anos 2000. No passado, a cooperativa trabalhava muito com vinho de mesa e até a granel, e isso não rentabilizava o produto. Era uma commodity. Então, teve a necessidade de agregar valor. Desde 2004, investiu-se fortemente na elaboração de espumantes para dar essa guinada, rentabilizar os produtos e remunerar a uva dos associados. Foi feito um intenso trabalho no campo de reconversão, tecnologia em produto, para chegar a esse reconhecimento de mercado que a vinícola tem hoje, como referência na produção de espumante. A cooperativa tem hoje 400 famílias associadas, que juntas formam um total de 900 hectares em 12 municípios diferentes do Rio Grande do Sul. Gerenciar tudo isso é um trabalho complexo. O departamento técnico visita todas as propriedades pelo menos três vezes ao ano. Tem um contato direto como produtor tanto na orientação técnica quanto reconversões, conforme os interesses da cooperativa. As 380 famílias são responsáveis pela produção da uva. Elas elegem um conselho para cuidar do negócio e cada área tem um responsável, um profissional contratado para gerir. É cooperativa, mas tem que ser profissional no que faz. Em 2010, a Garibaldi adquiriu os direitos de produção e comercialização da marca Granja União, que estava sob domínio da Vinícola Cordelier. Mais recentemente, lançou a linha Acordes. A vinícola hoje apresenta índices de crescimento superiores aos da média nacional. Resultado de uma história de investimentos, de profissionalização, de união e de uma trajetória que carrega em sua bagagem o trabalho e a vida de milhares de pessoas. O investimento é permanente em manutenção e melhoria dos processos produtivos e na qualidade dos produtos. Com uma área de 32 mil metros quadrados de construção e capacidade de processamento que ultrapassa os 20 milhões de quilos, utilizando tecnologia e equipamentos europeus para a elaboração de nossos vinhos e espumantes. Uma identidade marcante, personalidade e características próprias, aliadas ao terroir da Serra Gaúcha, fez com que os seus espumantes acumulassem uma série de premiações em concursos no Brasil e no exterior.