Eu costumo participar de eventos de degustação e festival de
vinhos. E digo-lhes o quanto é proveitoso esses momentos. Uma oportunidade
única de, não apenas degustar vinhos, o que já é excelente, diga-se de
passagem, mas também de aprender mais sobre vinhos, conversar com os produtores
e conhecer seus rótulos.
E foi dessa forma, nesse escambo de informações que só agrega
em conhecimento e estimula o prazer, ainda mais, pela nossa poesia líquida, que
conheci uma vinícola brasileira que, a cada ano vem crescendo em representatividade
mercadológica, vem ganhando credibilidade: falo da Pizzato.
Mas não recordo de uma coisa: Se à época que estive no
festival de degustação de vinhos eu levei algum rótulo. Pois é, as vezes somos
traídos pela memória, o mais importante é que conhecemos o produtor e que a
partir daí nos dá a possibilidade de buscar, de garimpar novos rótulos desse
grande produtor e não foi difícil, diga-se de passagem, que localizei.
E o vinho que degustei e gostei veio da Serra Gaúcha, a
gloriosa região vitivinícola brasileira, e se chama Fausto, um 100% Cabernet
Sauvignon, da safra 2016. E o nome que esse rótulo ostenta traz muita história,
história essa que hoje a indústria vitivinícola está colhendo, que é o
incentivo à produção de uvas vitis viníferas. Esse é o Plínio Pizzato.
Plínio Pizzato, patriarca da Família, por influência de seu
pai, Giovanni Pizzato, sempre foi entusiasta das uvas vitis vinifera (uvas
finas, no Brasil), mesmo numa região vitícola dominada quantitativamente e
economicamente por híbridas e vitis labrusca.
Ainda nos anos 60, quando se estabeleceu em Santa Lúcia –
parte do que é hoje o Vale dos Vinhedos como Indicação Geográfica – passou a
cultivar apenas vitis vinifera, com foco nas uvas italianas (barberas, trebbiano,
malvasias etc).
Nos anos 70, com a chegada de várias multinacionais à Serra
Gaúcha, e pelo fato de já ser um produtor de excelência para uvas finas, foi
provocado por técnicos vitícolas de tais empresas para se tornar produtor de
uvas francesas. Começa assim plantios de uvas francesas, com domínio para a
Merlot, Cabernet Franc e Semillon, sem deixar de cultivar algumas italianas.
Ao final dos anos 1970, implanta vinhedos com algumas uvas
‘experimentais’ para a região à época, dentre elas o Sauvignon Blanc. A partir
de nossa lembrança clara de que para determinadas situações o Sauvignon Blanc
apresentava uvas com belos resultados de sabor e sanidade, e considerando que
em plantio em espaldeiras (em contraste ao uso de latadas/pérgola da fase dos
anos 70) os resultados poderiam ter ainda mais consistência, no início dos 2010
foi implantado vinhedo de Sauvignon Blanc que vem produzindo consistentemente
desde 2015.
E continuando com a história, falemos um pouco da Serra
Gaúcha, região que tem uma forte ligação, uma simbiose com a Família Pizatto.
Serra Gaúcha
Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra
Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo
volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao
Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento
Gonçalves.
A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das
condições geo-climáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas
as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita,
período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem
ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.
A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra
Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados
ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível
de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança
e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.
O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na
Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença
de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira.
Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina
voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada
ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e
o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da
vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do
Vale.
O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a
obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em
vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a
partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos
do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma
Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da
experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.
O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao
Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado
somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais
para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos
para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O
trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da
potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação
de Origem Controlada) na região.
O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos
imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma
agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do
Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto,
logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local.
Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos
vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de
vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.
Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou
em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores
passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo
diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.
Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da
Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a
Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale).
Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não
produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de
produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos
Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e
processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um belíssimo vermelho rubi, com reflexos
violáceos que dá um reluzente brilho com uma boa concentração de lábrimas,
finas e lentas.
No nariz a predominância é das frutas vermelhas, ameixa,
cerejas, framboesas que traz a agradável sensação de frescor, além de especiarias
doces, um leve pimentão, com toques delicados de baunilha e tosta.
Na boca é frutado, intenso, complexo, estruturado, mas de uma
textura macia, tornando-o fácil de degustar. Tem taninos gulosos e marcantes, porém
domados, boa acidez, trazendo o aporte de 9 meses em barricas de carvalho, com
o toque amadeirado, o toque de chocolate meio amargo, aparecendo também as
especiarias. Tem um final prolongado e potente.
Um vinho de bom potencial de guarda, com robustez, mas
versátil, fácil de degustar, extremamente gastronômico, que harmoniza com
comidas gordurosas, churrasco, com carnes gordas a refeições mais simples e do
dia a dia. Um vinho que traz a tipicidade da região a qual foi concebido e que
faz frente a muitos Cabernets chilenos e de Bordeaux da vida, sem ufanismos. Um
vinho que personifica a história desbravadora de um homem que acreditou em
nossas terras, na sua vocação para produzir grandes e especiais vinhos. Tem 13%
de teor alcoólico.
Sobre a Pizzato Vinhas e Vinhos:
Em 1999, a Família Plínio Pizzato constitui a Pizzato Vinhas
e Vinhos para agregar a elaboração de vinhos ao já existente cultivo de
videiras, ao qual se dedica desde a imigração de Antônio Pizzato para o Brasil,
vindo do Vêneto na Itália ao final dos anos 1800. Ainda na itália, a família
cultivava vinhas e elaborava vinho em pequenas quantidades. Da chegada ao
Brasil em 1980, após o estabelecimento e a subsistência, o amor e dedicação em
trabalhar com uvas e vinhos falaram mais alto.
Assim o cultivo de parreiras em maior extensão foi levado
adiante. As atividades do imigrante Antônio Pizzato passaram para um de seus
filhos, Giovanni Pizzato, que além da ocupação principal relacionada aos
vinhedos continuou produzindo vinho, mas apenas para consumo da Família
Pizzato.
A maior parte da produção de uvas passou a ser comercializada
para vinícolas da região da serra gaúcha. A personalidade é fruto da interação
entre o objeto/ser e as transformações decorrentes de vivência, educação e
experiência; é dessa forma que sua estrutura se torna íntegra ao longo dos
vários estágios da existência, do nascimento à lembrança.
Os integrantes da Família são os responsáveis por todo o
processo que faz do vinho uma bebida de identidade única, da produção de uvas à
elaboração e comercialização dos vinhos, gerando um diferencial de entusiasmo,
dedicação, personalidade e exclusividade traduzidos em vinho.
Atualmente a Família Pizzato vê seus vinhos entre os mais
destacados em degustações e painéis de vinhos Brasileiros e Internacionais,
além de estarem presentes em restaurantes e lojas especializadas no Brasil e no
exterior.
Mais informações acesse:
Referências:
“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA
Degustado em: 2016