Visual:
apresenta um amarelo intensamente fechado e dourado, denotando seus seis anos
de garrafa, com incrível profusão de lágrimas finas e lentas.
Nariz:
traz notas de frutas brancas de caroço, de frutas maduras, de aromas de
amêndoas, mel e algo de fermento.
Boca:
tem médio corpo, complexo, seco, com as notas de frutas maduras e secas em
evidência, como no aspecto olfativo, algo discreto de frutas cítricas, notas
herbais, acidez discreta e um final persistente.
Estágio:
Parte do vinho estagiou 6 meses em barris sobre as borras finas.
Análise:
Visual:
apresenta amarelo com reflexos esverdeados, porém com tendências douradas, com
muito brilho, além de uma pequena manifestação de lágrimas finas e rápidas.
Nariz:
é aromático, com alguma complexidade, trazendo as notas frutadas, de frutas
maduras e de caroço, como pêssego, pera, maça-verde, com discreto e delicado
floral, mineralidade e toque herbáceo, trazendo a sensação de grama cortada.
Muito frescor e vivacidade apesar dos seus cinco anos de garrafa.
Boca:
percebe-se o frescor e a leveza, mas também personalidade garantida pela
passagem por barricas de carvalho e as lias, garantindo-lhe certa untuosidade.
As notas frutadas são igualmente observadas, como no aspecto olfativo, além de
uma acidez média, correta e um final cheio e persistente. Trata-se de um vinho
de médio corpo, mas com muito frescor, revelando-se equilibrado.
A vida é construída por elos emocionais. Embora soe um tanto
quanto passional, a realidade é essa e, convenhamos, mais do que necessária!
São nossos “carimbos históricos”, que conta um pouco do nosso percurso, da
nossa vida com algo ou alguém. Um dos momentos emblemáticos da minha vida, como
enófilo, sobretudo naquela transição de que todo brasileiro apreciador de vinho
passa, que é do vinho de mesa para as uvas vitis vinífera, foi ter degustado
alguns rótulos da vinícola Miolo. A Miolo, com seus rótulos, foram os primeiros
vinhos nacionais que eu degustei quando as minhas estruturas sensoriais estavam
sendo construídas para o vinho, fizeram e fazem parte da minha história. Mas,
há muito tempo eu não degustava um vinho desse produtor que hoje é líder de
mercado neste segmento e que ganhou o mundo graças a sua expertise e sua grande
capacidade de saber fazer, com qualidade, grandes rótulos, de muita tipicidade
expressando grandemente o nosso terroir. Eu havia deixado, meio lado, os seus
rótulos nesses últimos anos, a adega estava vazia da Miolo. Não sei dizer o
motivo, exatamente, talvez os valores altos, uma oportunidade, não sei. Não
quero especular o que de fato não importa muito, porque, depois de muito tempo
eis que surge em minha adega, em minhas mãos, em minha taça um vinho da Miolo,
para rememorar os bons tempos de outrora nos dias de hoje.
E o vinho que degustei e gostei não poderia ser melhor: um
espumante brasileiro! Um grande espumante que veio de terras inusitadas para o
cultivo do vinho que hoje, é uma grata realidade, de terras banhadas pelas
águas de nosso patrimônio natural: o Vale São Francisco, o Velho Chico, no Vale
são Francisco, na Bahia: É o Terranova brut, produzido pelo método charmat, não
safrado, com um blend composto pelas castas: Chenin Blanc, Sauvignon Blanc e
Verdejo, um “Blanc des Blancs”, um corte bem interessante que faz do vinho
muito especial, a assinatura da Miolo para a produção dos melhores espumantes
brasileiros. E com esse rótulo, vem também as histórias para contar, as informações
que, agregados a nossa vida, se transforma em conhecimento adquirido. O que
significa “Blanc des Blancs”? O Vale são Francisco e sua história...Muito para
se contar!
Branco dos brancos
O termo “blanc de blancs” encontrado nas garrafas e
publicidades de espumantes, é um termo bastante utilizado na região de
Champagne na França e posteriormente estendeu-se a diversas outras regiões do
mundo, incluindo o Brasil. Mas o que significa “blanc de blancs”? Blanc de
blancs significa: espumante branco elaborado somente de uvas brancas.
Um espumante pode ser branco e ser elaborado de uvas tintas,
como classicamente da uva Pinot Noir ou de uvas brancas, como por exemplo, da
uva Chardonnay. Pode também ser elaborado de uma mistura (assemblage, corte ou
blend) de uvas brancas e tintas, mesmo sendo um vinho espumante branco. A
indicação “blanc de blancs” serve para que o consumidor saiba, que aquele
espumante, ou aquele champagne, se for oriundo da região de Champagne na
França, foi elaborado apenas com uvas brancas.
Vale São Francisco: Os vinhos do sol
A vitivinicultura do semiárido brasileiro é uma
excepcionalidade no mundo, uma vez que está localizada entre os paralelos 8º e
9o S e produz, com escalonamento produtivo, uvas o ano todo totalizando duas
safras e meia em condições ambientais adversas como alta luminosidade,
temperatura média anual de 26oC, pluviosidade aproximada de 500mm, a 330m de
altitude, em solo pedregoso.
Cinturão dos vinhos
Seus vinhos possuem público crescente, porque são jovens
“vinhos do sol”, peculiares nos aromas e sabores, considerados como fáceis de
beber e apresentando boa relação comercial qualidade/preço. Aliado a essas
particularidades, diretamente associadas à produção de vinhos finos, o Vale é
ainda cenário de diversas belezas naturais, históricas e culturais. Estudos já
publicados permitem identificar que a região conta com diversas características
que comprovam o seu potencial turístico para o desenvolvimento da atividade,
como é o caso da sua história, riquezas ambientais e diversificada cultura regional.
Esses fatores estão relacionados à diversidade observada na região. Isso é notado,
principalmente, em decorrência da sua extensão. A Bacia do São Francisco é a
terceira maior bacia hidrográfica do país e a única que está totalmente inserida
no território nacional. Nela estão localizados 506 municípios contando com, aproximadamente,
13 milhões de habitantes, que representa 9,6% da população brasileira.
Bem antes do Vale do São Francisco se consolidar como polo de
vitivinicultura, quem já exercia esse papel no Brasil era a região Sul. No
século 19, o Rio Grande do Sul, mesmo com as condições climáticas
desfavoráveis, passou a ser considerado um polo crescente nesse meio – e até
hoje segue inserido no ramo. Mas, a chegada de imigrantes estrangeiros no país
trouxe o conhecimento técnico e a noção de mercado, o que fez com que outras
regiões brasileiras também mostrassem a sua capacidade produtiva. É na década
de 1960 que o Nordeste entra em cena e o Vale do São Francisco inicia a sua
trajetória na produção de uvas e vinhos, com a implantação das primeiras
videiras. Nos anos de 1963 e 1964, foram instaladas duas estações
experimentais, nos municípios de Petrolina, no Sertão de Pernambuco e Juazeiro,
na Bahia, onde seriam implantados, respectivamente, o Projeto Piloto de
Bebedouro e o Perímetro Irrigado de Mandacaru.
Vale do São Francisco
Apesar da escassez de chuva, o clima quente e seco do
semiárido mostrou-se terreno fértil para a vitivinicultura e, na mesma década,
outras cidades do Sertão de Pernambuco passam a fazer parte da cadeia
produtiva. O pioneirismo da vitivinicultura no Nordeste é representado pelo
Sertão Pernambucano, que iniciou a sua trajetória na vitivinicultura na década
de 1960, produzindo vinhos base para vermutes, na cidade de Floresta, uvas de mesa
em Belém do São Francisco e em Santa Maria da Boa vista, localidade que na
época se chamava Coripós. Entre os anos 80 e 90, a região banhada pelo Rio São
Francisco passa a ser conhecida também pela produção de vinhos finos, e em 1984
é produzido o primeiro vinho no Vale do Submédio São Francisco, com a marca
Boticelli. O fortalecimento da vitivinicultura no Vale do Submédio São
Francisco se deu com a instalação de vinícolas na Fazenda Milano, em Santa
Maria da Boa Vista – PE e Fazenda Ouro Verde, em Casa Nova, na Bahia, que
passaram a produzir vinhos finos. Ao longo da década de 1990, ganha destaque a
vitivinicultura tecnificada e a produção de uvas sem sementes. É também nessa
época, que cresce o investimento de grupos empresariais na região. A instalação
de uma infraestrutura física, como construção de packing houses, melhoria no sistema rodoviário e portuário, e,
sobretudo, a organização dos produtores em associações e cooperativas,
desempenharam um importante papel na consolidação das exportações de uvas de
mesa do Vale do Submédio São Francisco. A partir dos anos 2000, a produção se
fortalece ainda mais com a implantação de outras vinícolas e vitivinícolas e
também com as iniciativas públicas. Ações governamentais e de ensino, pesquisa
e inovação, a partir do ano 2000, trouxeram novas tecnologias de produção e
processamento de uvas e o reconhecimento de atores internacionais. É nessa
época que surge a Escola do Vinho do Curso Superior de Tecnologia em
Viticultura e Enologia, do Instituto Federal do Sertão Pernambucano.
Estruturação de IG (Indicação Geográfica)
A estruturação da Indicação de Procedência Vale do São
Francisco para vinhos está vinculada a projeto financiado pelo MCT/Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tenológico - CNPq. A ação do projeto,
voltada para a estruturação da IG, tem as seguintes instituições de CT&I
como executoras: Embrapa Uva e Vinho (coordenação) em parceria com a Embrapa
Semiárido, Embrapa Clima Temperado, UCS, UFLA, UFP e IF Sertão. O setor
vitivinícola da região é representado pelo “Instituto do Vinho do Vale do São
Francisco” (Vinhovasf). O projeto conta, ainda, com outras instituições que
participam em diversas pesquisas para apoiar o desenvolvimento tecnológico da
vitivinicultura da região do Vale do São Francisco. Os produtos IP Vale do São
Francisco incluem os vinhos finos tranquilos brancos, rosados e tintos, o
espumante fino e o moscatel espumante.
E agora finalmente o vinho!
Na taça apresenta um amarelo palha, bem claro, mas com
reflexos esverdeados e reluzentes, brilhantes. Tem perlage em profusão e bem
finas.
No nariz tem um caráter frutado, frutas brancas e cítricas,
tais como abacaxi, limão siciliano, maracujá, pera e melão e agradável e delicado
toque floral, graças à Chenin Blanc, ressaltados graças a opção da taça: um pouco
mais bojuda que privilegia, que ressalta os aromas.
Na boca tem um ótimo frescor e jovialidade graças a sua boa
acidez, que acredito seja cortesia da Sauvignon Blanc, com um ótimo equilíbrio
e leveza, além de um final frutado e retrogosto persistente.
Um espumante excepcional, que expressa, com veemência, as
características mais marcantes de um terroir improvável, mas que, com expertise
e arrojo por parte de empreendedores do vinho, fizeram acontecer, entregando
aos enófilos vinhos frescos, jovens, mas vibrantes. E, depois de tantas
histórias, conceitos e conhecimentos agregados, a minha história com a Miolo
foi restabelecida, com um caminho longo, mas prazeroso, a se percorrer! Há de
se ter mais vinhos, porque sou merecedor deles, como um enófilo, como um
apreciador de vinhos. E por falar em merecimento e qualidade, esse Terranova
brut é digno de sua história, de seu DNA: um vinho fresco, jovem, direto, mas
com a personalidade de uma região que, a cada dia cresce, em estrutura e
qualidade. Castas típicas da Espanha, França encontraram em terras brasileiras
um cultivo ideal entregando, para nosso deleite, vinhos sensacionais, e que
esse Terranova entrega maravilhosamente! Teor alcoólico de 12%.
Terranova Brut harmonizado com um belo queijo Gruyere
Sobre a Vinícola Terranova:
O Grupo Miolo, além de sua presença forte no Rio Grande do
Sul, é dona também da Vinícola Terranova, em Casa Nova, na Bahia. Eles
adquiriram a Fazenda Ouro Verde, onde hoje está a Vinícola Terranova, no ano
2000. Na época, já existia uma pequena vinícola em funcionamento no local, que
foi totalmente restaurada e ampliada. A construção da nova vinícola começou em
2002 e levou dez anos para ser totalmente concluída. Hoje 10% da produção é
destinada ao mercado internacional. Desde sua abertura para o público, eles
recebem cerca de 2.500 visitantes por mês. São 683 hectares, área que
compreenderia uma cidade de 30 mil habitantes. Desses, 200 hectares são
dedicados ao plantio das uvas. É horizonte de parreiras a perder de vista.
Vinícola Terranova
Diferentemente da maioria dos vinhedos, a Terranova conta com
até duas safras e meia de uvas por ano devido ao controle que faz do ciclo das
parreiras. Ou seja, o ciclo normal que leva um ano na maior parte do mundo, ali
leva apenas 4 meses. De um lado elas estão verdejantes e carregadas de uvas, do
outro lado elas estão nascendo ou ainda na fase de poda. Esta é a região mais
seca do Brasil. Anualmente contam com 3.100 horas de sol e apenas 400mm de
chuvas anuais. O inverno nunca chega diferentemente da maioria das vinícolas ao
redor do mundo (incluindo as brasileiras). O que causa tal milagre é a irrigação
contínua e localizada por sistema de gotejamento do Rio São Francisco. A
plantação é dedicada à uva perfeita para espumantes, vinhos jovens e frutados,
e também do melhor suco de uva integral que você encontrará no mercado.
Sobre a Vinícola Miolo:
A história da família Miolo no Brasil começa em 1897. Entre
os milhares de imigrantes italianos que vieram ao país em busca de
oportunidades, estava Giuseppe Miolo, um jovem que já tinha nas veias a paixão
pela uva e pelo vinho, vindo da localidade de Piombino Dese, no Vêneto. Ao
chegar ao Brasil, Giuseppe foi para Bento Gonçalves, município recém-formado
por imigrantes italianos. Entregou suas economias em troca de um pedaço de
terra no vale dos vinhedos, chamado Lote 43. Já em 1897, o imigrante começou a
plantar uvas, dando início a tradição vitícola da família no Brasil.
Na década de 70, a família foi pioneira no plantio de uvas
finas, fazendo com que os netos de Giuseppe Miolo, Darcy, Antônio e Paulo,
ficassem muito conhecidos na região pela qualidade de suas uvas. No final da
década de 80, uma crise atingiu as cantinas dificultando a comercialização de
uvas finas e forçando a família Miolo, a partir de 1989, a produzir o seu
próprio vinho para a venda a granel para outras vinícolas. Surge a Vinícola
Miolo, com apenas 30 hectares de vinhedos. Em 1992 a primeira garrafa assinada
pela família foi um Merlot safra 1990, que na partida inicial teve 8 mil
garrafas produzidas. Em 1994 é lançado o Miolo Seleção, que logo se torna o
vinho mais distribuído da Miolo.
A paixão pela vitivinicultura e o desejo de levar mundo afora
o vinho fino brasileiro foi o que inspirou a família Miolo a tomar a decisão de
expandir o negócio. Inicia-se em 1998 o Projeto Qualidade. Desde então o
crescimento da empresa foi significativo: com investimentos constantes na
terra, tecnologia, recursos humanos e no próprio consumidor, iniciou-se também
o Projeto de Expressão do terroir brasileiro.
Instalado na Estância Fortaleza do Seival, localizada no Sul
do Brasil, no município de Candiota, próximo à divisa com o Uruguai, o “Projeto
Seival”, nos anos 2000. Em 2001 a Família Miolo juntamente com a família
Benedetti (Lovara) iniciam o projeto Terranova no Vale do São Francisco,
adquirindo a antiga propriedade do Sr. Mamoro Yamamoto chamada Fazenda Ouro
Verde. Em 2009 a Família Miolo, juntamente com a família Benedetti e a família
Randon, adquirem a Vinícola Almadén pertencente a Pernod Ricard. Sendo também uma
das mais importantes do segmento de vinhos no mercado nacional, introduzindo a
colheita mecânica, pioneira no Brasil.