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domingo, 11 de setembro de 2022

Hoya de Cadenas Crianza Cabernet Sauvignon 2017

 

A minha “viagem” pelas novidades do vinho continua e como há “conteúdo” para isso, haja vista como eu costumo dizer, até de forma demasiada, confesso, o universo do vinho e vasto e inexplorado.

E as novidades surgem onde, em tese, não traz tanta novidade assim em dias atuais. O que quero dizer com isso? Por mais que determinadas castas ou regiões, por exemplo, já seja uma realidade em nossas vidas enófilas, elas podem revelar nuances até então, novas para você.

E pensar que, em tempos remotos, nos primórdios de nossa trajetória do universo do vinho, eu jamais pensei que fosse, a cada degustação, de forma contínua, viver novas experiências sensoriais com direito a histórias como “tempero”.

Então direto ao assunto, vamos de Cabernet Sauvignon! Esse é o tema central desse texto! A Cabernet Sauvignon, tida e conhecida, como a “rainha das uvas tintas” não recebe esse título à toa. É uma variedade que se adaptou a vários terroirs, a vários climas e estruturas geológicas.

Diante disso é inevitável que qualquer enófilo que se preze já tenha degustado, em algum momento, a Cabernet Sauvignon, por mais que não goste ou não a tenha em seu rol de predileções de cepas.

A Cabernet Sauvignon, definitivamente, fez e ainda faz parte da minha vida enófila e foi responsável pelo meu caminho entre as castas tintas, juntamente com a Merlot, sendo a segunda a minha preferida por anos e anos.

Mas quando eu procurava por corpo, estrutura e robustez era na Cabernet Sauvignon que eu me realizava, sobretudo nos Cabernets chilenos, onde o termo “sauvage” que originou o nome da variedade e que, em francês, significa ‘selvagem”, encontrou a sua forma mais genuína, digamos.

Ao longo do tempo, fui diversificando as opções de castas estruturadas, mas nunca deixei de celebrar a velha Cabernet Sauvignon e, diante de um espírito desbravador que construo a cada dia no universo do vinho, fui buscando novas nuances e propostas da Cabernet Sauvignon em outros centros vitivinícolas.

Argentina, Brasil, França, Estados Unidos foram alguns países que desbravei a Cabernet Sauvignon e todas demonstraram personalidades próprias, até que a necessidade desbravadora insistia, teimava em me pegar e, claro, cedi.

E quando fazia uma busca de outros vinhos na grande rede, não me recordo ao certo o que buscava, me deparei com um rótulo espanhol de uma região que está despontando no cenário vitivinícola mundial e adivinhem, era um varietal (100%) Cabernet Sauvignon! Claro que aquilo me chamou, evidentemente, atenção, afinal nunca degustei um Cabernet Sauvignon espanhol.

O comprei, mas demorei em degusta-lo e descansou por algum tempo na adega e agora com seus cinco anos de garrafa, ainda um jovem para um Cabernet Sauvignon, achei o momento ideal para desarrolhá-lo.

Então sem mais delongas vamos às apresentações do vinho! O vinho que degustei e gostei veio, como disse de Utiel-Requena, da Espanha, e se chama Hoya de Cadenas Crianza, um 100% Cabernet Sauvignon da safra 2017. E para não perder o costume vamos de história e vale e muito a pena contar a de Utiel-Requena, região que vem me ganhando dada a qualidade de seus rótulos aliado a um custo acessível. E falarei também do termo, muito comum e importante para os rótulos espanhóis, o crianza.

Utiel-Requena

A Espanha possui a maior área cultivada de Vitis Vinifera do mundo, embora em volume de produção ocupe somente a terceira posição. Trata-se de um amplo território o qual nos presenteia, ano após ano, com vinhos exuberantes e geralmente de bastante personalidade: o emblemático Jerez fortificado da Andaluzia, tintos de Rioja, Priorat e Ribera Del Duero, brancos de Rueda, entre outros.

É natural que, entre as 13 macrorregiões a qual está dividida, existam sub-regiões as quais permaneçam relativamente ocultas do grande público, mesmo daquele consumidor habitual de vinhos. Algumas preferem manter o “anonimato”, dedicando sua produção ao consumo regional; outras, porém, dedicam esforços incansáveis no sentido de promover seu terroir, suas cepas endêmicas, a tipicidade de seus vinhos e as melhorias em seu processo produtivo. Este é o caso de Utiel-Requena.

Utiel-Requena

Recentemente, foram descobertos registros arqueológicos que comprovam que, desde o século V a.C., era praticada a vitivinicultura na região de Utiel-Requena. Sítios arqueológicos como El Molón, em Camporrobles, Las Pilillas, em Requena e Kelin, em Caudete atestam o passado vinícola da região. Quando do domínio romano sobre a região, estes introduziram novas técnicas de vinificação, propiciando a melhora dos vinhos ali produzidos. Utiel-Requena têm sua história também ligada ao período conhecido como Reconquista: a retomada, a partir do século VIII, do controle europeu dos territórios da Península Ibérica, dominados pelos árabes (mouros) desde o século VI. 

Muitas das cidades da região foram fundadas e/ou possuem grande influência islâmica em suas construções, bem como vestígios de fortalezas e construções mouras, como a cidade de Chera, por exemplo. Em 1238, a região cai sob o domínio do reino de Castela. No século seguinte, após conflitos envolvendo este reino e seu vizinho, Aragão, ocorre a união entre a rainha Isabel (Castela) e Fernando (Aragão), conhecidos como os Reis Católicos, e, após a conquista dos demais reinos ibéricos por estes (exceto Portugal), constitui-se o Reino da Espanha.

Utiel-Requena, consequentemente, torna-se domínio espanhol. Durante o século XIX, eclodem na Espanha as Guerras Carlistas, que dividem a população espanhola entre os partidários do absolutismo e do liberalismo; reflexo de outras manifestações do mesmo cunho ocorridas Europa afora. Utiel (absolutista) e Requena (liberal), assim como as demais cidades da região, assumem posições antagônicas, situação somente resolvida com a conclusão da Primeira Guerra Carlista.

Utiel-Requena localiza-se na porção leste do território espanhol, dentro da província de Valencia. Situa-se numa zona de transição entre a costa mediterrânea e os platôs da região da Mancha. Seus vinhedos localizam-se predominantemente entre os rios Turia e Cabriel. A região possui um dos climas mais severos de toda a Espanha. Os verões costumam ser longos e quentes (máximas por vezes de 40 graus), enquanto os invernos são muito frios, com ocorrência frequente de geadas e granizo (mínimas podem chegar a -10 graus).

No entanto, as vinhas encontram-se adaptadas a tais rigores e oscilações e, como atenuante, sopra do Mar Mediterrâneo o Solano, vento frio que ajuda a suavizar o efeito dos quentes verões da região. O solo possui cor escura, de natureza calcária e pobre em matéria orgânica. Utiel-Requena é uma DOP (Denominación de Origen Protegida – Denominação de Origem Protegida) pertencente a Comunidade Valenciana, a qual possui certa autonomia em relação ao governo central espanhol. Não possui sub-regiões.

Crianza

Vinho crianza é um dos termos que causa bastante confusão. Apesar do som e a escrita serem semelhantes à “criança”, em português, “crianza” em espanhol não tem relação nenhuma com juventude. Pelo contrário. A palavra quer dizer “criação”, ao pé da letra, e está diretamente relacionada ao amadurecimento do vinho produzido na Espanha.

Segundo a legislação da Espanha, para serem classificados como Vinhos Crianza, os vinhos tintos devem envelhecer por um período mínimo de 24 meses, sendo de 6 a 12 meses em barris de carvalho e o restante na garrafa.

 Já os vinhos brancos e rosés devem envelhecer por um período mínimo de dezoito meses, sendo 6 meses em barris de carvalho e o restante na garrafa.

Esse tempo de maturação foi determinado pela Ley 24/2003, de la Viña y del Vino, legislação espanhola que rege as regras de vinificação.

Rioja e Ribera del Duero, duas das mais importantes regiões produtoras de vinhos da Espanha, possuem determinações ainda mais rígidas para que um exemplar seja crianza.Por lá, a bebida deve amadurecer por dois anos também, no mínimo, e um deles deve ser em barricas de carvalho.  

Os Vinhos Crianza são rótulos frescos, de sabor vibrante e fáceis de beber. Entre seus principais aromas destacam-se notas de frutas vermelhas, como cereja, nuances de especiarias e toques de baunilha, advindos do estágio em carvalho.

E agora finalmente o vinho!

Na taça se revela um vermelho rubi intenso, quase escuro, com algumas tonalidades violáceas, com lágrimas grossas e em profusão que, lentamente, desenham o bojo.

No nariz traz aromas de frutas vermelhas maduras, onde se destacam groselha, cereja e framboesas, não se nota muito a madeira, pois passou por 7 meses em barricas de carvalho, mas se percebe, discretamente, um fundo amadeirado, com notas de especiarias e baunilha.

Na boca apresenta médio corpo, mas muito fácil de degustar, protagonizando as nuances frutadas, como no aspecto olfativo, com a madeira mais evidente, mas, harmonioso, mostra sintonia com a fruta, entregando baunilha, especiarias e um leve tostado. Tem taninos finos, elegantes, boa acidez denunciando frescor e um final de média persistência.

Na terra da Bobal, quem reinou neste belo rótulo foi a Cabernet Sauvignon! A sua nobreza é corroborada pela sua onipresença, sendo amplamente cultivada em todo o planeta. Apesar de trazer a sua habitual personalidade, uma genuína característica, o Hoya de Cadeñas Crianza entrega frescor, com uma estrutura bem integrada de taninos e acidez em um equilíbrio maravilhoso. Um vinho como ele é, levando em consideração como se descreve, em termos gerais, um belo crianza e o é mesmo, haja vista que tenho uma razoável experiência degustando alguns bons crianzas por aí. Boas descobertas simbolizam boas experiências sensórias e um pouquinho de história que não faz mal a ninguém. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Fazenda Hoya de Cadeñas:

A Herdade Hoya de Cadenas é um paraíso enológico a apenas 90 km da cidade de Valência. O fato de estar localizado nas encostas da Sierra de la Bicuerca permite-lhe albergar as mais nobres castas locais e internacionais.

A propriedade goza de um microclima particular em que as oscilações térmicas entre o dia e a noite confere à uva características próprias e facilitam a acumulação dos polifenóis altamente valorizados.

Hoya de Cadenas tem origens reais que remontam ao século XVII. A esta casa senhorial foi atribuído o "Direito de Asilo", que raramente foi atribuído a edifícios civis, sendo quase sempre concedido a estadias militares e religiosas. Para registrar esse privilégio, a frente da casa foi adornada com pesadas correntes e logo ficou conhecida como Casa das Correntes. Com o tempo, este nome foi estendido a todas as posses do Fernandez Córdova.

Foi assim que a quinta, que pertencia a esta família, adquiriu o nome de "Casa de las Cadenas" e o vale onde se encontra passou a ser conhecido como o vale das cadeias ou a Hoya de Cadenas.

A Herdade Hoya de Cadenas é o primeiro complexo de enoturismo em Espanha que integra uma sala de exposições numa adega, empenhada em promover um novo conceito de enoturismo ligado à cultura. O museu Arte en Barrica abriga a coleção de barris decorados por artistas proeminentes da Comunidade Valenciana. Até agora só haviam sido exibidos na Feira ARCO e no IVAM.

Sobre a Bodegas Vicente Gandia:

A Bodegas Vicente Gandía é uma vinícola centenária fundada em Valência em 1885. Atualmente é administrada pela 4ª geração da família Gandía.

Mantém-se fiel aos seus valores fundadores: contribuir para o progresso e bem-estar da sociedade apostando na qualidade e inovação sem esquecer a tradição vitivinícola de que é herdeira.

Sempre se caracterizou por seu desejo internacional. Este fato permitiu que, hoje, os vinhos desta adega estejam presentes em mais de 90 países nos 5 continentes.

A vinícola é considerada a maior vinícola da Comunidade Valenciana e a vinícola com melhor relação custo-benefício da Espanha, de acordo com as qualificações do Guia Peñín. Em 2014 foi premiada como a melhor adega espanhola pelo prestigiado concurso.

Mais informações acesse:

https://www.vicentegandia.es/en/

Referências:

Blog “O Mundo e o Vinho”: http://omundoeovinho.blogspot.com/2015/11/utiel-requena.html

“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2020/12/vinho-crianza/

“Divinho”: https://www.divinho.com.br/blog/vinhos-crianza-reserva-gran-reserva/

 






quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

El Miracle by Mariscal Garnacha Tintorera 2015

 

Repletos de estreias marcam essa degustação de hoje. Novas experiências sensoriais têm sido primordial para as minhas degustações ultimamente. E tenho feito isso de forma meticulosa, bem cuidadosa. Não são somente as estreias, as novidades, mas a busca incessante e urgente de fazer com que a adega seja tenha um leque de opções variado, grande, diversificado.

O risco da “zona de conforto” pode trazer a tranquilidade das suas predileções, mas podemos, por outro lado, nos tornar escravos de nossas preferências. Então nada mais prudente do que buscar novas regiões, novas castas, aquelas menos conhecidas, mais raras ou aquelas que eu simplesmente não degustei ainda, independente de sua popularidade e temos também o contato com novos produtores e isso tem me estimulado também.

E a degustação de hoje me traz o contato com uma casta que degustei em blends, geralmente para trazer cor e alguma potência ao vinho, mas terei a oportunidade e o privilégio de degusta-la em varietal. Terei também meu primeiro contato com um produtor que, após a aquisição desse rótulo, li sobre e observei que se trata de uma vinícola muito importante e tradicional que tem atuações em várias regiões emblemáticas espanholas.

Então a expectativa e ansiedade estavam na estratosfera! Não é muito comum encontrar por aí varietais de Garnacha Tintorera ou a famosa Alicante Bouschet. Garnacha Tintorera é como a cepa é conhecida em terras espanholas. O produtor, Vicente Gandia, quem produziu o rótulo e a região é Valência. Já degustei uns poucos valencianos, então será também especial degustar, depois de algum tempo, um vinho dessa região.

Sem mais delongas apresentemos o vinho! O vinho que degustei e gostei é oriundo de Valência, na Espanha, e se chama El Miracle By Mariscal e a casta, é claro, é a Garnacha Tintorera ou a mundialmente Alicante Bouschet da safra 2015. E para não perder o costume vamos de história! Falemos da Garnacha Tintorera ou Alicante Bouschet e falemos também um pouco da pouco badalada, mas importante região espanhola de Valência.

Garnacha Tintorera ou Alicante Bouschet

O palco da uva tinta Alicante Bouschet é, sem dúvidas, a região de Alentejo, em Portugal, onde esse tipo de uva faz grande sucesso. A variedade é utilizada para adicionar corpo e estrutura aos rótulos produzidos na região, bem como dar mais volume aos vinhos.

Criada em laboratório pelo Francês Henri Bouschet, no final de 1800, na região de Languedoc-Roussillon, a uva Alicante Bouschet é a união das castas Petit Bouschet e Grenache. Apesar de ter sido criada na França, esse tipo de uva é majoritariamente cultivado em Portugal, e os vinhos tintos que usam a Alicante Bouchet são rótulos frutados de bom equilíbrio.

E essa prática de cruzamento de castas vitiviníferas parecia ser rotineira na família Bouschet. Antes do filho Henri, o pai Louis Bouschet em 1824 havia criado a Petit Bouschet, uma casta que se destaca em locais quentes, tanto que um dos principais terroirs da uva é a Argélia.

Mas o nome da família na vitivinicultura mundial seria marcado pelo filho de Louis, Henri Bouschet em 1866 pegou a criação do seu pai e fez um cruzamento com a Grenache. Nascia ali a Alicante Bouschet.

Batizada com o sobrenome da família Bouschet e Alicante por ser uma das formas que a Grenache era conhecida, a uva se espalhou e chegou a ser uma das mais plantadas do mundo.

Apesar de ter sido criada na França, esse tipo de uva é majoritariamente cultivado em Portugal, e os vinhos tintos que usam a Alicante Bouchet são rótulos frutados de bom equilíbrio. A casta proporciona enorme capacidade de envelhecimento para os exemplares, de forma que os vinhos se tornem profundos, aromáticos e que se assemelhem a canela e pimenta.

O principal fator que levou a Alicante Bouschet a cair no gosto dos produtores é que se trata de uma casta tinturada. Ou seja, além da casca, a polpa também tem cor. Os vinhos assim são mais estruturados e encorpados mesmo com tempo menor de maceração.

Esse fato levou a uva a ser uma das mais utilizadas durante a Lei Seca nos Estados Unidos. Imagine que com a proibição de fabricação, transporte e vendas de bebidas alcóolicas um punhado de uvas poderia facilmente e rapidamente se transformar em vinho. E era isso o que acontecia. Os comerciantes vendiam “tijolos de Alicante Bouschet” que os “enólogos”, que eram os próprios compradores, colocavam em banheiras cheias de água e pronto, vinho. Ou quase isso...

Fato é que em meados do século 20 a Alicante Bouschet começou a ser deixada de lado. O estilo de vinho encorpado poderia ser feito com outras uvas e ali começou um declínio da casta. É aí que entra Paulo Laureano. O enólogo português é conhecido por transformar a francesa Alicante Bouschet na portuguesa Alicante Bouschet. Ou como ele gosta de dizer “a naturalizei portuguesa. E digo ainda mais, a naturalizei como alentejana”.

Muito utilizada em vinhos de corte, a Alicante Bouchet dá origem a vinhos excelentes que harmonizam de forma notável com pratos que levam carnes vermelhas. Isso se deve à sua tanicidade, que contrasta muito bem com a gordura, criando sensações memoráveis no paladar.

A uva Alicante Bouchet também é bastante utilizada na elaboração de vinhos na Espanha e Croácia, regiões nas quais recebe diferentes nomes. Na Croácia, por exemplo, a uva é conhecida como Dalmatinka ou Kambusa, enquanto na Espanha é popularmente nomeada como Garnacha Tintorera, ainda que a Organização da Vinha e do Vinho (OIV) não reconheça o sinônimo espanhol.

A primeira referência ao cultivo desta variedade na Espanha é de García de los Salmones (1914), que cita a sua presença em todas as províncias da Comunidade Valenciana, Castilla-La Mancha e Galiza, em Murcia, em várias províncias de Castilla y León e em Vizcaya, Granada e Jaén. Da mesma forma, García de los Salmones (1940) indica que Garnacha Tintorera não deve ser confundido com Tinto Fino ou Cencibel, nem com Tinto Basto ou Borrachón da região de La Mancha. Nem com o comum Tinto de Madrid. Salienta que não está claro que variedade e com que nome é cultivado, uma vez que as variedades que lhe dão muita cor tentam levar o nome do tubarão azul mais famoso: Alicante Henri Bouschet.

A dúvida se Alicante Bouschet é sinônimo de Garnacha Tintorera estendeu-se até 2003, quando foram realizados estudos em El Encín e recentemente confirmados por marcadores moleculares. Antes desses estudos, Galet e Hidalgo em 1988 disseram que "há uma variedade intimamente relacionada com Alicante Bouschet e conhecida como Garnacha Tintorera, Moratón, Alicante, Tintorera ou Tinto Velasco, é uma variedade de uva vermelha, cuja casca contém muito coloração", duvidando de que ambas as variedades fossem sinônimos. Chirivella em 1995, indicou que na França eles chamam Garnacha Tintorera como Alicante Bouschet, tentando confirmar esta sinonímia, e posteriormente Peñín, em 1997, disse que Garnacha Tintorera é uma variedade espanhola com características muito semelhantes a Alicante Bouschet . Há autores que os consideram iguais e outros não. Indica que “sua origem seria Alicante ou Albacete, e posteriormente teria passado ao noroeste da Península”. A equipe do IMIDRA confirmou em 2003, estudando o DNA, que existem três variedades de tintorera presentes na Espanha (com polpa pigmentada): Petit Bouschet, com o sinônimo Negrón de Aldán; Morrastel-Bouschet, cruzamento de Morrastel (= Graciano) x Petit Bouschet, com a sinonímia Garnacho; e Alicante Henri Bouschet, cruzamento de Alicante (= Garnacha) x Petit Bouschet. Esta última variedade é a que mais se difundiu das três e é a que conhecemos na Espanha Garnacha Tintorera.

Portanto, Garnacha Tintorera é a variedade Alicante Henri Bouschet. Henri Bouschet deu a este cruzamento o nome de Alicante Henri Bouschet por tê-lo feito usando Garnacha como mãe, na França sendo um sinônimo de Garnacha o nome Alicante. 

Valência

A produção de vinho no norte da região de Valencia – escrito València na língua local, e também conhecida pelos espanhóis como Levante ou Valenciano – é dominada por antigas áreas de plantações ao redor de Valencia, a terceira maior cidade da Espanha.

Seus vinhos incluem os tintos, rosés, brancos e os famosos vinhos para sobremesa de uvas plantadas em quatro subzonas. Para cada tipo de vinho se utiliza sua própria tradição na elaboração. Graças às exportações que duram séculos (através do porto da cidade), a produção está mais focada no mercado internacional do que no mercado interno. Um acordo formal permite que as bodegas de Valencia comprem vinho da região vizinha Utiel-Requena.

Valencia não é somente um lugar na costa do Mediterrâneo. Seu interior alberga surpresas que fazem com que suas praias sejam esquecidas. Lá se pode desfrutar de centenas de hectares de vinhedos. Zonas rurais e de uma gastronomia rica. Ideal para deixar para trás a cidade, desconectar-se totalmente e relaxar. 


Valência

O vinho, as bodegas e os viticultores converteram-se em um motor para a conservação das paisagens e para a sustentabilidade desta comarca. A viticultura é o eixo econômico, social e cultural de Fontanar dels Alforins, La Font de la Figuera e Moixent, por exemplo. Com mais de dois mil anos de história na elaboração do vinho, que hoje em dia continua sendo produzido com muito respeito e esforço. Seguindo os princípios da agricultura sustentável.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo vermelho rubi intenso, com discretas bordas violáceas, diria com tons acastanhados talvez mostrando alguma evolução, com lágrimas finas e abundantes.

No nariz entrega um aroma intenso e perfumado de frutas vermelhas maduras e pretas e se destacam a ameixa, cereja e amoras. Notam-se as notas amadeiradas, graças aos 8 meses em barricas de carvalho, e também um toque floral que potencializa a expressividade aromática.

Na boca é intenso, estruturado e envolvente, é cheio em boca, com um bom volume, mas fácil de degustar, elegante, redondo e saboroso. Tem taninos presentes, diria carnudos, porém domados, polidos, graças à madeira e os seus seis anos de safra. Acidez correta, álcool imperceptível, muito bem integrado ao vinho, com notas amadeiradas, de tabaco, tosta e chocolate. Tem final prolongado, persistente.

Um clássico! Ou diria um “novo clássico” em minha trajetória enófila! Um vinho, uma casta que carrega história e tradição que passeou e passeia por terras espanholas, portuguesas, francesas e chegou a minha mesa, que inundou a minha humilde taça e que arrebataram, de forma definitiva, as minhas humildes percepções sensoriais. A experiência foi singular, essencial e maravilhosa! Redondo, equilibrado, elegante, mas carnudo, estruturado e complexo como pede a casta, com toda a sua característica mais marcante. Sim, um vinho marcante, de personalidade, mas que com o tempo, cerca de seis anos de safra, ganhou elegância e maciez. Tem 13% de teor alcoólico.

No tocante a elaboração, que me chamou a atenção, diz o produtor em seu portal na internet:

“El Miracle By Mariscal é produzido a partir de uma seleção de uvas Grenache Tintorera colhidas manualmente e cultivadas em vinhas de 35 anos de idade treinada em gobelet, localizadas na área de produção de vinho “Valentino”. O vinho é produzido com maceração muito lenta e fermentação alcoólica até ao fim da fermentação maloláctica, altura em que o vinho é despejado em cascos de carvalho francês de segundo enchimento. Isso garante a combinação perfeita entre o caráter frutado do varietal Grenache Tintorera e a madeira”.

Sobre a Bodega Vicente Gandia:

A bodega tem mais de cem anos - viticultores desde 1885 - e agora tem um caráter decididamente mediterrâneo. No início estavam exclusivamente empenhados na produção e comercialização / distribuição dos vinhos, que ainda assim tinham algo de especial.

Pelo espírito inovador que sempre caracterizou a adega, e depois de muitos anos no setor da exportação de vinhos, deram um passo mais longe: em 1971 foram a primeira adega valenciana a comercializar vinho engarrafado da marca Castillo de Liria , que quase cinquenta anos depois ainda é uma de suas marcas icônicas.

O crescimento continuou então em 1990 a família Gandía decidiu investir na Fazenda Hoya de Cadenas. Um paraíso vitivinícola localizado em Las Cuevas de Utiel, este local idílico tem as características perfeitas para produzir as melhores uvas e assim puderam produzir excelentes vinhos na mesma propriedade. Isto significou um salto quântico na qualidade dos vinhos e desde então a procura da excelência tem sido a imagem de marca da adega.

A vinícola é atualmente administrada pela 4ª geração da família Gandía, mantendo-se fiéis aos valores dos fundadores e contribuem para o progresso e a prosperidade do negócio apostando na qualidade e na inovação, sem esquecer a tradição vitivinícola.

A abordagem mediterrânea permeia a filosofia de vinificação da bodega e espalha a sua cultura do vinho por todo o mundo é a chave para a sua identidade. Produzem vinhos de diferentes Denominações de Origem através de um cultivo sustentável, criaram safras modernas e elegantes, além de proteger e desenvolver as variedades autóctones. Contam com a mais moderna e avançada tecnologia que permite produzir vinhos de acordo com métodos tradicionais com a máxima segurança, contribuindo para a poupança de energia e cuidando do meio ambiente.

Hoje, estão em 90 países nos 5 continentes, e são a maior vinícola da Comunidade Valenciana . Além disso, em 2014 ganharam o prêmio de melhor vinícola espanhola no prestigioso concurso internacional AWC Viena. Nesse mesmo ano, a Associação Mundial de Escritores e Jornalistas de Vinhos e Bebidas espirituosas a incluiu em seu ranking das 50 melhores vinícolas do mundo. Em 2018, o Congresso Europeu das Confrarias Enogastronômicas (CEUCO) atribuiu o Prémio “Aurum Europa Excellente” a Vicente Gandía como “Melhor Adega Europeia”.

Mais informações acesse:

https://www.vicentegandia.es/en/

Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/portuguesa-com-certeza-francesa-porem-alentejana-alicante-bouschet_13332.html

“Vinho Virtual”: https://vinhovirtual.com.br/regioes-123-Valencia

“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2016/08/valencia-espanha/

https://revista.sociedadedamesa.com.br/2016/02/uva-garnacha-tintorera/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/alicante-bouchet

“Vinos Alicante DOP”: https://vinosalicantedop.org/sobre-la-alicante-bouschet/