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sábado, 16 de novembro de 2024

Golden Kaan Chenin Blanc 2023

 



Vinho: Golden Kaan

Safra: 2023

Casta: Chenin Blanc

Região: Western Cape

País: África do Sul

Produtor: KWV Wines

Adquirido: Trazido para a confraria pelo amigo Paulo

Valor: ------

Teor Alcoólico: 12,5%

 

Análise:

Visual: apresenta um amarelo palha, pálido, translúcido, com reflexos esverdeados. Discretas e rápidas lágrimas finas e coloridas.

Nariz: aromas francos de frutas brancas e cítricas, com destaque para maçã-verde, melão, limão e pera. Muito frescor e leveza são percebidos logo no aspecto olfativo.

Boca: é fresco, leve, mas traz alguma personalidade e, diria, estrutura. A fruta é replicada no paladar e traz, ainda mais, a sensação de leveza, com acidez salivante e um final de média persistência.

 

Produtor:

https://kwv.co.za/


segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Laborie Merlot 2019

 




Vinho: Laborie

Safra: 2019

Casta: Merlot

Região: Western Cape

País: África do Sul

Produtor: Laborie Wines / KWV

Teor Alcoólico: 14,1%

Estágio: 8 a 10 meses em barricas de carvalho.

 

Análise:

Visual: um vermelho intenso com reflexos violáceos bem brilhante, com lágrimas finas e rápidas.

Nariz: traz aromas de frutas maduras, especiarias, como ervas finas, algo de terroso, charuto, couro molhado.

Boca: macio, elegante, suculento, de bom volume de boca, frutado, amadeirado, de cedro, baunilha, torrefação, chocolate, taninos sedosos, acidez e um final prolongado.

 

Produtor:


sexta-feira, 30 de junho de 2023

Tormentoso Cabernet Sauvignon 2016

 

Definitivamente me tornou um apaixonado pelos rótulos da África do Sul! E paixão talvez não seja a palavra ideal para definir esse sentimento, afinal, paixão é efêmera e o meu “caso” com os vinhos da terra de Mandela são de intenso amor.

O que era no passado, a cerca de 20 anos atrás, aproximadamente, um cenário de difícil acesso desses rótulos e os poucos que ofertavam no nosso mercado consumidor, eram caros, hoje o cenário é totalmente distinto e para melhor, finalmente!

Coloco a África do Sul como uma das principais regiões vitivinícolas do Novo Mundo, por conta, claro, da tipicidade de seus vinhos, e sem dúvida também por conta do atraente custo X benefício dos seus rótulos que chegam em nossas terras.

E a Pinotage se tornou a casta emblemática do país e que difunde a vitivinicultura daquele país, mas não é apenas da variedade tinta manipulada em laboratório que faz a fama da África do Sul.

Há excelentes rótulos da casta Cabernet Sauvignon e Syrah, por exemplo, entre as tintas e Chenin Blanc, Sauvignon Blanc entre as cepas brancas. Há uma diversidade de castas atualmente sendo produzidas e com tipicidade na África do Sul.

E a vez hoje é da rainha das uvas tintas, a Cabernet Sauvignon! Então sem mais delongas vamos às apresentações do vinho! Ele, como disse, é da África do Sul, da Região de Coastal, e se chama Tormentoso, da casta Cabernet Sauvignon da safra 2016! Sim! Um vinho com seus sete anos de garrafa! O que esperar?

De acordo com algumas boas experiências que tive com os rótulos sul-africanos, sim eles evoluem bem com essa idade, sobretudo aqueles que estagiam por um razoável período em barricas de carvalho e claro dependendo também das características da cada cepa.

E há ainda outro detalhe que me chamou atenção, ou melhor dizendo, me animou: a região! Costal é tida como a “pedra fundamental” da produção de vinhos na África do Sul. Então para variar falemos um pouco da região e a sua importância para a cultura vitivinícola da África do Sul que está situada em Western Cape.

Western Cape: a toda poderosa região vinícola sul africana

Localizada a sudoeste da África do Sul, tendo a Cidade do Cabo como ponto central, Western Cape é a principal região vitivinícola do país, responsável por cerca de 90% da produção vinícola do país.

Boa parte da indústria do vinho sul-africana se concentra nessa área e microrregiões como Stellenbosch e Paarl são alguns de seus principais destaques. Com terroir bastante diversificado, a combinação do clima mediterrâneo, da geografia montanhosa, das correntes de ar fresco vindas do Oceano Atlântico e da variedade de uvas permite que Western Cape seja considerada uma verdadeira potência da produção de vinhos no país.

Suas regiões vinícolas estendem-se por impressionantes 300 quilômetros a partir da Cidade do Cabo até a foz do rio Olifants ao norte, e cerca de 360 quilômetros até a Baía Mossel, a leste – para entender essa grandiosidade, vale saber que regiões vinícolas raramente se estendem por mais de 150 quilômetros.

Western Cape

O clima fresco e chuvoso também favorece o plantio e a colheita por toda a região. Entre os grandes destaques de Western Cape estão as uvas Pinotage, Cabernet Sauvignon e Shiraz, que dão origem a excelentes varietais e blends. Entre os brancos – que, por si só, têm grande reconhecimento mundial –, brilham a Chenin Blanc, uva mais cultivada do país, a Chardonnay e a Sauvignon Blanc.

As primeiras vinhas plantadas na região remetem ao século XVII, trazidas por exploradores europeus que se fixaram por lá. Durante vários séculos, fatores como o estilo rudimentar de produção, o Apartheid e a falta de investimentos mantiveram a cultura vitivinícola sul-africana limitada ao próprio país.

Somente no início do século XX, com a formação da cooperativa KWV, que a África do Sul começou a responder por todo o controle de qualidade do vinho que se produzia por lá, e seus rótulos passaram a chamar a atenção do mercado internacional, dando início a um processo de exportação que conta, inclusive, com selos de qualidade específicos para a atividade.

A proximidade da Cidade do Cabo facilita o acesso dos visitantes às inúmeras rotas vinícolas e turísticas de Western Cape, que incluem experiências como caminhadas, degustações por suas muitas bodegas, além de ótimos restaurantes e hospedagens em suas pequenas e aconchegantes cidades, a maioria em estilo europeu.

Coastal Region

A indústria vitivinícola da África do Sul tem suas origens na Coastal Region, mais especificamente nas áreas de Constantia e Stellenbosch, onde se iniciou a história vitivinícola do país.

E foi Simon Van Der Stel, segundo governador do Cabo, quem cultivou pela primeira vez uma fazenda vitivinícola em Constantia, além de ser o responsável por fundar a cidade de Stellenbosch em 1679.

Coastal Region é uma referência na viticultura da África do Sul, graças à diversidade de áreas vitivinícolas, à perfeita adaptação das principais variedades e às condições de cultivo.

Essa região é considerada a mais importante em termos de cultivo de vinhedo. E tem uma longa história na elaboração de grandes e prestigiados vinhos. Trata-se de uma das 6 regiões vitícolas inclusas em Western Cape. Que ao mesmo tempo se subclassifica em 7 regiões: Cape Point; Darling; Paarl; Stellenbosch; Swartland; Tulbagh e Tygerberg.

Mesmo sendo seu clima descrito como principalmente mediterrâneo, os ventos dos oceanos Atlântico e Índico, junto com a influência da montanha, combinam-se para produzir condições algo extremas em algumas áreas da região, aproximando mais sua viticultura de um modelo de clima frio, como o da Nova Zelândia ou o do norte da Europa, ampliando a gama de mesoclimas na região.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um rubi intenso, escuro, com halos atijolados denotando os sete anos de garrafa, com lágrimas grossas, lentas e em profusão.

No nariz traz aromas envolventes de frutas pretas maduras, com destaque para amoras, ameixa preta, quase em compota, com as notas amadeiradas em evidência, mas muito bem integrada, graças aos 15 meses em barricas de carvalho, que entregam chocolate, defumado, leve tosta, com o herbáceo, o pimentão, típico da Cabernet Sauvignon.

Na boca é seco, macio, elegante, graças aos sete anos de garrafa, mostrando-se redondo, mas com muita personalidade, revelando equilíbrio. As notas frutadas são perceptíveis, como no aspecto olfativo, com a madeira protagonizando, trazendo taninos amáveis e domados, mas gulosos, com acidez incrivelmente proeminente e salivante e um final de média persistência e de retrogosto frutado.

“Tormentoso” faz referência ao Cabo da Boa Esperança que, primitivamente era conhecido como “Cabo das Tormentas”, sendo batizado por Bartholomeu Dias, devido as várias tempestades (tormentas) que aconteciam e ainda, claro, acontecem nesse ponto no Sul da África do Sul. Tudo indica que a Rainha de Portugal não gostou do nome, mudando para o que conhecemos hoje. Mais uma vez a prova cabal de que a história anda de mãos dadas com o vinho, a cultura não é só da vinificação. Um vinho macio, elegante, complexo, com notas frutadas, de frutas maduras, como tem de ser os bons sul-africanos com essa característica. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a MAN Family Wines:

"Tudo começou como um plano simples: fazer um vinho que adoraríamos comprar", assim começa a história da MAN Family Wines com a missão dos irmãos Tyrrel e Philip Myburgh, além de José Conde, que começaram a fazer vinho juntos em 2001.

Eles também são apoiados por um grupo de viticultores da região de Agter-Paarl. Das primeiras 300 caixas feitas em um galpão de trator, a empresa cresceu para produzir mais de 175.000 caixas por ano e exportar para 25 países. Seus vinhos mais vendidos são Chenin blanc e Cabernet Sauvignon, mas a área também é conhecida por Shiraz e Pinotage.

Depoimentos dos fundadores:

Como jovens produtores de vinho em 2001, às vezes lutávamos para encontrar vinhos decentes que pudéssemos pagar. Meu irmão Philip e eu estávamos envolvidos com a vinícola de nossa família (Joostenberg Wines) e José estava ocupado com a dele (Stark-Condé Wines).

Não estávamos procurando garrafas de rockstar que custam uma fortuna. Mas tínhamos padrões bastante elevados (em nossa opinião) e queríamos vinhos que pudéssemos desfrutar com nossos amigos, a maioria dos quais também trabalhava na indústria do vinho.

Nós éramos geeks do vinho que precisavam de um vinho todos os dias. Vimos um nicho no mercado e começamos a trabalhar, mas primeiro tivemos que pensar em um nome para este novo projeto. Para manter a paz nas famílias, pegamos as iniciais de nossas esposas (cada um de nós tem uma esposa!) — e foi assim que explicamos a Marie, Anette e Nicky que estaríamos “ocupados” na maioria dos fins de semana. "É para você!" Nós dissemos a eles. Imediatamente começamos a trabalhar em um antigo galpão de trator e naquele primeiro ano fizemos um total de 600 caixas de Pinotage.

Tyrrel Myburgh, co-fundador.

Desde o início, nos concentramos em buscar as melhores uvas. Nunca se tratou de um equipamento novinho em folha ou de uma adega sofisticada. Tyrrel e eu costumávamos passear olhando os vinhedos todo fim de semana, conversando com os viticultores.

Na verdade, foi Tyrrel quem fez a maior parte das primeiras negociações - fiquei para trás no caminhão porque, como um americano com sotaque forte, não era a pessoa mais adequada para convencer os fazendeiros de que merecíamos suas uvas. Era importante ganhar sua confiança se quiséssemos ganhar seus melhores frutos.

Quando finalmente encontramos nosso fundamento, o projeto MAN tornou-se uma colaboração com os produtores de uva, e hoje eles são acionistas de nossa empresa. Temos muita sorte de estar em parceria com agricultores experientes que cultivam coletivamente algumas das melhores vinhas velhas de Chenin Blanc do país. Estou muito otimista sobre o potencial dos vinhos sul-africanos no mercado mundial.

José Conde, co-fundador.

Mais informações acesse:

https://manwines.com/

Referências:

“Wikipedia”: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cabo_da_Boa_Esperan%C3%A7a

“Revista Sociedade da Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2017/02/coastal-region-origem-da-viticultura-na-africa-do-sul/

“Vinho Virtual”: https://www.vinhovirtual.com.br/regioes-12-Coastal-Region

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/quais-sao-principais-areas-vinicolas-da-africa-do-sul_11990.html

“Vinho Capital”: https://vinhocapital.com/tag/wine/page/3/

“Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/western-cape-a-gigante-sul-africana/?doing_wp_cron=1611015613.7245669364929199218750#:~:text=Localizada%20a%20sudoeste%20da%20%C3%81frica,alguns%20de%20seus%20principais%20destaques.

“Wine ZO”: https://wine.co.za/wine/wine.aspx?WINEID=41878

 

 

 

  




sábado, 22 de abril de 2023

Petit Plaisir Red Blend 2015

 

Lembro-me como se fosse ontem da inacessibilidade dos vinhos sul africanos aqui no Brasil. Isso deve ter pouco mais de 20 anos atrás quando não tinha sequer a quantidade de e-commerces que temos a nossa disposição atualmente.

E com esse leque de opções o nosso mercado de vinhos absorveu, tem absorvido bem os vinhos sul africanos que hoje tem um market share de respeito. O leque de opções não é apenas quantitativo, mas também qualitativo. A gama de propostas está excelente e atualmente você pode, consegue degustar vinhos mais simples aos mais complexos, encontrando-os, às vezes, em apenas um site de venda de vinhos.

E não se engane que as opções se limitam apenas na casta emblemática do país, a Pinotage. Hoje temos uma infinidade de cepas, das brancas até as tintas, mostrando que os terroirs da terra de Mandela podem cultivar cepas das mais variadas concepções.

Ainda carecem, entretanto, de vinícolas menores, com produção baixa e limitada, entrando em nosso mercado apenas as grandes indústrias vinícolas, mas vejo com bons olhos a possibilidade do mercado se expandir nesse sentido.

E hoje a degustação é, mais uma vez, especial, diria singular. Mais um sul africano de grande respeito, de imponência, austeridade, complexidade, personalidade, que inundará a minha humilde taça e já me antecipo nos predicados ao vinho, porque estou nutrindo uma grande expectativa, pois esse vinho está “adormecendo” a pelo menos três anos. Então não preciso dizer que a ansiedade domina os meus pensamentos para com este rótulo.

E o dia tão esperado chegou! O outono deu às caras, a temperatura está agradável e amena, um rótulo de pretensa complexidade pode vir à tona e ser contemplado no mais profundo detalhe e prazer, então, nada mais apropriado tirar esse vinho do seu longo sono, de sua evolução.

O vinho que degustei e gostei veio da emblemática e famosa região sul africana Western Cape e se chama Petit Plaisir composto pelas castas Syrah (64%), Cabernet Sauvignon (21%), Petit Verdot (8%) e Cabernet Franc (7%) da safra 2015.

E como somos enamorados pela história atrelada ao vinho, convém falar um pouco da “Petit Plaisir”. Estabelecido pelos huguenotes franceses em 1693 nas encostas das montanhas Simonsberg entre Paarl e Franschhoek, Plaisir de Merle é uma joia rara. Uma “peça” de destaque da Distell, esta propriedade de 974 hectares em Simondium, Paarl, ganhou aclamação internacional por seus vinhos brancos e tintos.

Cerca de 400 hectares são plantados com variedades de castas nobres como Chardonnay, Sauvignon Blanc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Petit Verdot, Cabernet Franc, Shiraz e Malbec. Uma área de apenas cerca de 80 hectares de vinhas nobres foi reservada para a adega Plaisir de Merle.

O enólogo Niel Bester, que ganhou fama na produção de vinhos de estilo clássico mais acessíveis, atribui o sucesso de seus vinhos à capacidade de trabalhar com ótimas frutas provenientes de um terreno único, bem como à valiosa contribuição de sua equipe de viticultores.

A diversidade dos solos, encostas e elevações contribuem para a qualidade das uvas Plaisir de Merle. Solos de granito bem drenados (predominantemente Tukulu e Hutton) com boa retenção de água permitem interferência mínima na irrigação com a maioria dos vinhedos sendo terra seca. As uvas foram selecionadas e colhidas a dedo em vários vinhedos. Eles estão situados entre 250m e 370m acima do nível do mar nas encostas sudeste do Simonsberg. Então depois dessa é só se permitir viajar nas mais nobres experiências sensoriais.

Western Cape: a toda poderosa região vinícola sul africana

Localizada a sudoeste da África do Sul, tendo a Cidade do Cabo como ponto central, Western Cape é a principal região vitivinícola do país, responsável por cerca de 90% da produção vinícola do país.

Boa parte da indústria do vinho sul-africana se concentra nessa área e microrregiões como Stellenbosch e Paarl são alguns de seus principais destaques. Com terroir bastante diversificado, a combinação do clima mediterrâneo, da geografia montanhosa, das correntes de ar fresco vindas do Oceano Atlântico e da variedade de uvas permite que Western Cape seja considerada uma verdadeira potência da produção de vinhos no país.

Suas regiões vinícolas estendem-se por impressionantes 300 quilômetros a partir da Cidade do Cabo até a foz do rio Olifants ao norte, e cerca de 360 quilômetros até a Baía Mossel, a leste – para entender essa grandiosidade, vale saber que regiões vinícolas raramente se estendem por mais de 150 quilômetros.

Western Cape

O clima fresco e chuvoso também favorece o plantio e a colheita por toda a região. Entre os grandes destaques de Western Cape estão as uvas Pinotage, Cabernet Sauvignon e Shiraz, que dão origem a excelentes varietais e blends. Entre os brancos – que, por si só, têm grande reconhecimento mundial –, brilham a Chenin Blanc, uva mais cultivada do país, a Chardonnay e a Sauvignon Blanc.

As primeiras vinhas plantadas na região remetem ao século XVII, trazidas por exploradores europeus que se fixaram por lá. Durante vários séculos, fatores como o estilo rudimentar de produção, o Apartheid e a falta de investimentos mantiveram a cultura vitivinícola sul-africana limitada ao próprio país.

Somente no início do século XX, com a formação da cooperativa KWV, que a África do Sul começou a responder por todo o controle de qualidade do vinho que se produzia por lá, e seus rótulos passaram a chamar a atenção do mercado internacional, dando início a um processo de exportação que conta, inclusive, com selos de qualidade específicos para a atividade.

A proximidade da Cidade do Cabo facilita o acesso dos visitantes às inúmeras rotas vinícolas e turísticas de Western Cape, que incluem experiências como caminhadas, degustações por suas muitas bodegas, além de ótimos restaurantes e hospedagens em suas pequenas e aconchegantes cidades, a maioria em estilo europeu.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um rubi intenso e escuro, com halos evidentemente atijolados, granada, denotando os 8 anos de garrafa ou a longa passagem por barricas. Tem lágrimas finas e lentas e em profusão que desenham o bojo.

No nariz traz a complexidade e a riqueza incrível de frutas pretas e vermelhas bem maduras, com destaque para cereja, ameixa, framboesa, amora e cereja preta. É amadeirado, mas muito bem integrado ao vinho, com toques de baunilha, torrefação e um distante chocolate. Há notas defumadas, de especiarias, como pimenta, terra molhada e discreto herbáceo.

Na boca, como no aspecto olfativo, traz complexidade, tem personalidade, é gordo, cheio, austero, alcoólico, mas o tempo o tornou macio e elegante e frutado, as notas de frutas vermelhas e pretas maduras em total convergência com as notas amadeiradas, graças aos 16 meses em barricas de carvalho, que traz o chocolate, mais evidente no paladar, café torrado, torrefação e baunilha. Tem taninos generosos, domados, acidez correta e um final persistente.

Um belíssimo blend de Shiraz, Cabernet Sauvignon, Petit Verdot e Cabernet Franc amadurecido por 12 a 16 meses em carvalho francês e americano, extremamente aromático e que revestem a boca com notas doces e picantes de uma baunilha e pimenta sutil, com um final sedoso e suave. Um verdadeiro néctar que deveria vir de almofadas para se degustar ajoelhado. Mais uma vez a região de Western Cape não deixa dúvidas de sua grande representatividade mercadológica, de seu terroir, tendo em Paarl, o seu farol. Definitivamente um belíssimo vinho que sem sombra de dúvidas teria ainda alguns anos de evolução pela frente, mesmo com seus oito anos de garrafa. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Plaisir Wine Estate:

Jacob Marais, neto de Charles Marais, construiu a mansão em 1764, onde permanece até hoje como um dos primeiros e melhores exemplos da arquitetura holandesa do Cabo. Com suas empenas ornamentadas e telhado de colmo, a Manor House é um belo exemplo de esplendor e história.

O interior apresenta uma versão elegante e eclética do antigo e do novo, com uma seleção de móveis em Cape, Art Nouveau, Art Deco e estilo retrô. O resultado final é um afastamento consciente da grandeza em direção à sinceridade não afetada com refinamento clássico.

Charles Marais era um dos poucos franceses que tinha experiência em vinificação quando chegou ao Cabo e seu legado vínico vive na tradição vinícola de Plaisir de Merle. A quinta prosperou e em 1705, Claude Marais (que assumiu a gestão da quinta após o falecimento do pai) declarou 8000 vinhas e 6 léguas de vinho.

Charles Marais, um camponês huguenote de Le Plessis Marly, na região de Ile de France, queria uma vida melhor para sua família. Eles foram atormentados pela seca, fome, impostos exorbitantes e consequente pobreza. Esses fatores, juntamente com a perseguição religiosa, levaram-nos a navegar para o Cabo em 1687, onde se estabeleceram no Vale Groot Drakenstein.

Em 1693, o governador do Cabo Simon van der Stel concedeu terras à família Marais. Eles deram o nome de sua cidade natal, Le Plessis Marly. Mais tarde, nas mãos de seu neto, Jacob, a propriedade cresceu e se tornou uma das melhores da região. Foi Jacob quem construiu a mansão em 1764, que continua sendo um dos primeiros e melhores exemplos da arquitetura holandesa do Cabo hoje.

A concessão foi oficialmente assinada em 1º de dezembro de 1693. Infelizmente, Charles Marais faleceu após apenas seis meses na fazenda com uma disputa trivial, supostamente por causa de uma melancia verde, levando à sua morte prematura. A história conta que um Khoikhoi chamado Dikkop (ou Edissa) atirou uma pedra em Charles, causando uma hemorragia fatal.

Charles Marais estava bem equipado para uma vida de pioneiro na agricultura, pois a região de onde ele veio na França costumava abastecer os mercados parisienses com vinho e cereais. Charles era um dos poucos franceses que realmente tinha experiência em vinificação quando chegou ao Cabo. É um equívoco comum pensar que todos os huguenotes eram viticultores (embora tenham trazido uma cultura vinícola antiga e bem estabelecida).

Em 1729, ano em que a mãe de Claude, Catherine Taboureux, e sua esposa Susanne Gardiol faleceram, um inventário da propriedade declarou 20 léguas de vinho no valor de 25 rix-dólares cada, 10 léguas vazias de vinho, um funil e duas prensas antigas - tudo prova de que a família Marais transcendeu suas raízes camponesas para se tornar dignas proprietárias de terras.

A fazenda realmente começou a prosperar em meados do século XVIII sob a administração de Jacob Marais (e sua esposa, Maria Boeiens), neto de Charles Marais. Em 1764, ano em que foi erguido o Solar, as vinhas tinham 35.000 videiras e a adega continha 28 léguas de vinho.

Baldes de pressão, funis, prensas de vinho e “stukvate” enchiam a adega. Havia também uma sala de destilação separada com dois alambiques de aguardente e duas ligas de aguardente. Pieter Marais assumiu as rédeas de seu pai Jacob e, sob sua orientação, a fazenda também floresceu, com os vinhedos se expandindo para 55.000 videiras.

Daniel Hugo foi o próximo proprietário da fazenda depois de se casar com a terceira filha de Pieter, Rachel. Entre 1805 e 1831, a fazenda prosperou sob seus cuidados. Lá temos agora 60.000 videiras, que produziram cerca de 43 léguas de vinho. Durante este período, Daniel possuía duas adegas. O segundo estava em um pedaço de terra no adjacente Rust-en-Vrede.

Os marcos históricos de Plaisir de Merle atuam como marcos ao longo do tempo e como uma homenagem às gerações anteriores. Uma caminhada pela propriedade revela essa longa história em formas de empenas, símbolos e muito mais.

Jacob Marais (neto de Charles Marais) construiu a mansão em 1764, onde permanece até hoje como um dos primeiros e melhores exemplos da arquitetura holandesa do Cabo. No mesmo ano em que foi erguido o solar, a adega de Jacob continha 28 léguas de vinho (eram necessárias cerca de 1.000 videiras para fazer 1 légua de vinho).

Várias consolidações transformaram a propriedade no moderno Plaisir de Merle, que passou por casamento à família Hugo no século XIX. Foi quando foi construída a adega de 1831, e a quinta passou a produzir 43 léguas de vinho.

Depois de vários mandatos curtos, tornou-se propriedade da Stellenbosch Farmers' Winery (agora Distell) em 1964. Três décadas depois, uma nova adega foi encomendada com o briefing aos arquitetos para se inspirarem no patrimônio e no ambiente natural da fazenda. Incorporando madeira, água e aço inoxidável como elementos-chave, o edifício moderno foi concluído em 1993, rodeado por um fosso que resfria e isola o interior do edifício.

A casa senhorial também foi restaurada e serve como pousada e local de eventos para pequenos eventos. O interior apresenta uma versão elegante e eclética do antigo e do novo - uma estética de design que homenageia o longo legado da propriedade e seu espírito progressista e inovador.

O lynhuise ou longhouses foram erguidos por Frans de Wet (proprietário de Rust en Vrede) em 1821, embora a empena tenha a data de 1831. Outro marco histórico da propriedade é o moinho de água, uma réplica do que Jacob Marais construiu para sua esposa Maria em 1730.

A propriedade está repleta de elementos simbólicos que contam a história do artesanato, dificuldades, família e resistência. Na entrada do porão, o friso (ou brasão) criado pelo artista Jan Corewijn em 1993 presta homenagem aos primeiros pioneiros retratando visualmente sua vida e paixão.

O grifo forma uma parte importante do logotipo da Plaisir de Merle e também aparece na forma de bicas estilizadas semelhantes a gárgulas nos cantos dos porões. Meio leão e meio águia, o majestoso Gryphon é o rei dos animais e dos pássaros com a visão da águia e a força e coragem do leão. Reconhecido por seu poder e inteligência, o Grifo é considerado o guardião dos tesouros.

Mais informações acesse:

https://www.plaisir.co.za/

Referências:

“Vinho Capital”: https://vinhocapital.com/tag/wine/page/3/

“Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/western-cape-a-gigante-sul-africana/?doing_wp_cron=1611015613.7245669364929199218750#:~:text=Localizada%20a%20sudoeste%20da%20%C3%81frica,alguns%20de%20seus%20principais%20destaques.

“Wine ZO”: https://wine.co.za/wine/wine.aspx?WINEID=41878

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 



segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Nzinga Cape Red 2018

História, degustações, celebrações, experiências sensoriais... Sempre enalteço essas palavras quando penso ou falo sobre vinhos. Não há como dissociar, como falar, de forma isolada, sobre essas questões quando falamos sobre vinho. Claro que há pessoas que não ligam muito para a história do vinho, do rótulo que está degustando, tais como as castas, as regiões etc.

Respeitamos essas decisões, mas penso como enófilo, que ter acesso a história, por exemplo, de um vinho, pode ser preponderante para a decisão de compra e melhor: criar uma identidade com o tipo de vinho que gosta, ajuda a você a chegar ao vinho que gostaria de degustar no momento ou a construção de suas predileções para com determinadas propostas da poesia líquida.

Alguns vinhos confesso, me chamam a atenção pelo aspecto visual, pelo que apresenta nos seus rótulos. Algumas manifestações do marketing certamente explicam tal fenômeno, mas é deveras cuidadoso levar isso a ferro e fogo no quesito vinho. Nem todos os vinhos entregam ao degustador qualidade pelo fato de ostentar um bonito rótulo, pelo que ele necessariamente diz, mas, por outro lado, pode ser relevante para entendê-lo, daí a importância de se estudar o que o rótulo quer transmitir.

Quando vi o rótulo de um vinho sul-africano logo me chamou a atenção, me atraiu pela beleza e pelo nome que me parecia muito peculiar. Mas não fiquei restrito ao que ele dizia e logo comecei a garimpar o que ele queria traduzir no rótulo e o que poderia me proporcionar de especial. As informações, aos poucos, mesmo que limitadas, foram surgindo e isso foi atraindo a minha atenção.

E de posse de algumas informações, bem como alguns detalhes do vinho propriamente dito, tais como castas, safra etc, decidi compra-lo, afinal, nada mais importante e especial celebrar o amor ao vinho por vinhos da África do Sul tão constantes hoje em nossa realidade, o que era inviável há 20 anos, quando ainda era apenas uma distante possibilidade de tê-los em nossa adega.

E quando o vinho finalmente foi aberto, mais uma vez, não fui decepcionado. Então vos apresento o vinho que degustei e gostei e que veio da toda poderosa região de Western Cape, e se chama Nzinga Cape Red, um excelente blend composto pelas castas Cabernet Sauvignon (68%), Merlot (18%) e Syrah (14%) da safra 2018.

Ah e já que falei das “atrações” que podem gerar interesse e que estão contidas nos rótulos dos vinhos, de cara, quando o vi pela primeira vez, o nome “Nzinga” me atraiu, me interessou e o que, após, a compra, no seu contra rótulo o produtor diz que o significado da palavra é:

 “Nzinga é um nome da África Central que significa ‘beleza e coragem’”.

Mas em uma pesquisa mais aprofundada vi que “Nzinga” era um nome de uma princesa africana, a Princesa Nzinga, que foi uma forte figura que fez oposição ao lucrativo comércio de escravos no século XVII. Leia mais em: “Nzinga, a rainha negra que combateu os traficantes portugueses”.

Mas antes de falar desse vinhaço, falemos da região de onde é oriundo, da toda poderosa Western Cape, uma dos maiores produtores de vinho da África do Sul.

Western Cape: a toda poderosa região vinícola sul africana

Localizada a sudoeste da África do Sul, tendo a Cidade do Cabo como ponto central, Western Cape é a principal região vitivinícola do país, responsável por cerca de 90% da produção vinícola do país.

Boa parte da indústria do vinho sul-africana se concentra nessa área e microrregiões como Stellenbosch e Paarl são alguns de seus principais destaques. Com terroir bastante diversificado, a combinação do clima mediterrâneo, da geografia montanhosa, das correntes de ar fresco vindas do Oceano Atlântico e da variedade de uvas permite que Western Cape seja considerada uma verdadeira potência da produção de vinhos no país.

Suas regiões vinícolas estendem-se por impressionantes 300 quilômetros a partir da Cidade do Cabo até a foz do rio Olifants ao norte, e cerca de 360 quilômetros até a Baía Mossel, a leste – para entender essa grandiosidade, vale saber que regiões vinícolas raramente se estendem por mais de 150 quilômetros.

 

Western Cape

O clima fresco e chuvoso também favorece o plantio e a colheita por toda a região. Entre os grandes destaques de Western Cape estão as uvas Pinotage, Cabernet Sauvignon e Shiraz, que dão origem a excelentes varietais e blends. Entre os brancos – que, por si só, têm grande reconhecimento mundial –, brilham a Chenin Blanc, uva mais cultivada do país, a Chardonnay e a Sauvignon Blanc.

As primeiras vinhas plantadas na região remetem ao século XVII, trazidas por exploradores europeus que se fixaram por lá. Durante vários séculos, fatores como o estilo rudimentar de produção, o Apartheid e a falta de investimentos mantiveram a cultura vitivinícola sul-africana limitada ao próprio país.

Somente no início do século XX, com a formação da cooperativa KWV, que a África do Sul começou a responder por todo o controle de qualidade do vinho que se produzia por lá, e seus rótulos passaram a chamar a atenção do mercado internacional, dando início a um processo de exportação que conta, inclusive, com selos de qualidade específicos para a atividade.

A proximidade da Cidade do Cabo facilita o acesso dos visitantes às inúmeras rotas vinícolas e turísticas de Western Cape, que incluem experiências como caminhadas, degustações por suas muitas bodegas, além de ótimos restaurantes e hospedagens em suas pequenas e aconchegantes cidades, a maioria em estilo europeu.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi intenso, quase escuro, com brilhantes reflexos violáceos, com uma razoável quantidade de lágrimas finas e que logo se dissipavam das paredes do copo.

No nariz uma explosão de frutas negras como ameixa e amora e frutas vermelhas como groselha e cereja, uma compota de frutas que traz jovialidade, frescor e até personalidade ao vinho, isso graças aos 10 meses em tanques inox, privilegiando as características de cada cepa sendo evidenciado também no paladar. Notas de especiarias também são percebidas.

Na boca é saboroso, marcante, por ser muito frutado, com as nuances bem definidas das castas que compõe o blend, onde a personalidade da Cabernet Sauvignon é perceptível, bem como a maciez da Merlot e os agradáveis e discretos toques apimentados e herbáceos garantidos pela Syrah. Têm taninos sedosos, boa acidez e um final cheio e prolongado.

História, celebração, degustações, nomes que pode parecer um tanto quanto deslocado para muitos, mas que pode revelar rótulos especiais para quem tem apreço pelas taças sempre cheias. Nzinga Cape Red traz uma versão sul africana de um vinho fresco, frutado, mas especial por sua simplicidade, por ser direto, jovem, harmonioso e com uma incrível capacidade de harmonização, sendo muito versátil. A incrível capacidade dos vinhos sul africanos onde mesmo sendo jovial, frutado e direto, revela uma marcante personalidade. Personalidade esta, acredito, que já começa no seu interessante blend: A personalidade entregue pela Cabernet Sauvignon, a maciez da Merlot e as especiarias da Syrah. Um vinho que expressa toda a tipicidade da África do Sul, do terroir de Western Cape. Um vinho belo, saboroso, delicado e intenso. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Marianne Wine Estate & Guesthouse:

Originário de Bordeaux, a família possui 3 propriedades vinícolas, se aproximando da África do Sul graças as suas várias viagens pelo mundo, aportando no sul da África.

O sonho era combinar o Velho e o Novo Mundo para fazer vinhos próximos da da visão de perfeição dos produtores. Portanto, decidiram comprar a Marianne Wine Estate & Guesthouse, uma vinícola boutique de 32 hectares (incluindo 24 em vinhas) localizada no vale Simonsberg em 2004.

A colheita manual, a seleção das melhores uvas, o envelhecimento em carvalho francês e acácia, combinados com um "savoir-faire" francês do enólogo sul-africano Jos Van Wyk, irão levá-lo a explorar alguns dos melhores vinhos produzidos na região.

Mais informações acesse:

http://www.mariannewines.com/

Referências:

“Vinho Capital”: https://vinhocapital.com/tag/wine/page/3/

“Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/western-cape-a-gigante-sul-africana/?doing_wp_cron=1611015613.7245669364929199218750#:~:text=Localizada%20a%20sudoeste%20da%20%C3%81frica,alguns%20de%20seus%20principais%20destaques.

“Portal Geledés”: https://www.geledes.org.br/nzinga-a-rainha-negra-que-combateu-os-traficantes-portugueses/ 


 

domingo, 1 de agosto de 2021

Amandla! Pinotage 2019

 

Sou réu confesso! Nunca me interessei em degustar um vinho tendo como princípio um prato, uma comida. Essa sempre foi um coadjuvante diante do protagonismo do vinho e digo mais: nunca fui muito bom em harmonizar vinho com comida, embora eu acredite humildemente que a harmonização de comida com vinho é um experimento, parte de alquimia, sempre experimentando, buscando o paladar, o casamento perfeito, é basicamente aquele que te faz bem, que os teus sentidos dão um feedback positivo.

Hoje a escolha do vinho se deu por conta de uma comida que vi minha mãe preparando, um prato que adoro: carnes inundados em um feijão manteiga. Então pensei: Por que não harmonizar isso tudo com um bom vinho? Com aquele vinho mais encorpado, haja vista também que estamos passando por um inverno que, para os parâmetros cariocas, rigoroso. Parecia que tudo conspirava a favor.

Então me coloquei a observar com carinho na adega, será que eu encontraria um vinho à altura do meu súbito interesse por uma degustação hoje? Por que súbito? Não estava no roteiro uma degustação hoje. Ah e precisa de roteiro? Precisa sim do amor ao vinho e da taça cheia, na hora em que você quiser e puder.

Depois de uma criteriosa, mas rápida verificação (para os meus padrões) na adega eis que surgiu a escolha do rótulo e estava muito eufórico com essa escolha e com o seu propósito: a harmonização com o prato tão carinhosamente feito pela minha mãe: aquele típico prato dominical em família.

Trata-se um sul africano, uma proeminente região no Novo Mundo que já se tornou uma referência na produção de grandes vinhos nas suas mais diversas propostas, a tradição no Novo Mundo, por que não? E melhor, de uma região especial e que sem sombra de dúvida que foi e será a porta de entrada de muitos enófilos nos rótulos da terra de Mandela: Western Cape, a toda poderosa região vitivinícola da África do Sul.

E adivinhem a casta: Pinotage, a cepa autóctone das terras sul africanas e apesar do óbvio sempre se torna especial quando degusto um vinho da casta Pinotage. Então sem mais delongas apresento o Vinho que degustei e gostei que veio, claro, da emblemática região de Western Cape e que se chama Amandla! Pinotage da safra 2019.

Não é a primeira vez que degustei um vinho dessa linha de rótulos, tive uma ótima impressão do Amandla! Red Fusion 2019, um blend explosivo das principais cepas produzidas na África do Sul. Mas neste novo rótulo eu percebi um detalhe que me chamou a atenção: “Bush Wines”. O que é isso? Confesso que não conhecia o significado e, como sempre aprendi que temos de ler cada canto do rótulo para saber o que estamos degustando, me debrucei nas pesquisas. Falemos de “Bush Wines”, da região de Western Cape e um pouquinho da ótima casta Pinotage.

“Bush Wines”

O termo em inglês, “Bush Vines” ou “Bush Wines”, pode parecer distante para muita gente, até mesmo entre especialistas e enófilos, mas, traduzindo-o, “Vinhas Arbustivas” ou “Vinhos de Arbusto”, o termo pode parecer mais familiar, contudo, ainda assim, é um conceito distante, sobretudo para os brasileiros, apesar de termos e palavras populares no dicionário dos apreciadores da nobre bebida. Mas afinal de contas o que de fato significa “Vinhas Arbustivas”?

Dependendo do clima, do estilo do vinho, do solo e de outros fatores, a videira é podada de forma específica e adquire uma formação especial. A videira arbustiva é, portanto, um estilo de poda que, como o próprio nome indica, é em forma de arbusto e é um dos estilos de poda mais antigos do mundo. Geralmente tem um tronco curto e o topo é um tanto irregular e não como as vinhas de Bordeaux, por exemplo, que têm esse formato em "T" (cientificamente chamado Double Fuyot).

Vinhas de Bordeaux (Double Fuyot)

Mas por que alguém escolheria? Pois bem, com este formato a videira passa a ter quantas folhas forem necessárias para a sombra, para que o fruto não queime enquanto ajuda no amadurecimento gradual e adequado das uvas. Também ajuda a ventilar a videira evitando doenças como o bolor. Diante disso entende-se que as vinhas de arbusto são ideais para áreas com clima quente e muito sol, como o Ródano, África do Sul, Austrália e Grécia. Ao mesmo tempo, as raízes das vinhas arbustivas têm a capacidade de atingir até 20 metros de profundidade em busca de água. Isso os torna ideais para climas secos, bem como para áreas onde a irrigação é difícil ou proibida.

Vinhas arbustivas

Por outro lado, as vinhas arbustivas também apresentam algumas desvantagens. O mais importante deles é a incapacidade de realizar a colheita mecânica. Como resultado, é preciso muito mais trabalho (e dinheiro) e tempo para colher as uvas. Além disso, apresentam rendimentos mais baixos, o que em combinação com o anterior conduz a uma perda de dinheiro para o produtor (a menos que consiga vender os seus vinhos a um preço superior).

E de acordo com essa desvantagem o cenário das videiras arbustivas tem declinado nas regiões de Stellenbosch, Malmesbury e Paarl, regiões emblemáticas de produção de vinhos na África do Sul, segundo dados apresentados em 1991, por Archer, do Departamento de Viticultura e Enologia da Universidade de Stellenbosch. Na área de Stellenbosch, a porcentagem de videiras sendo cultivadas como videiras arbustivas diminuíram de 59% em 1971 para 38% em 1979 e 30% em 1987. De acordo com os dados de bloco SAWIS de 2012, 23% (excluindo blocos de um ano de idade) da superfície plantada com videiras em Stellenbosch foi cultivada como vinhas. Estima-se que 80 a 90% das uvas para vinho no distrito de Malmesbury (Swartland) eram cultivadas como vinhas no final da década de 1980 (Archer, 1991). Os dados de bloco SAWIS mais recentes mostram que 47% das videiras nesta área não são gradeadas.

Um dos motivos para o afastamento das vinhas de arbusto é provavelmente o objetivo de maiores produções viabilizado por sistemas de treliça, em conjunto com a maior disponibilidade de água para irrigação. Além disso, o foco na mecanização é cada vez maior e o fato de os processos de poda e colheita em cipós não poder ser mecanizado, impacta nas considerações dos produtores no momento do estabelecimento.

O cultivo de uvas para vinho como vinhas de arbustos diminuiu e espera-se que diminua ainda mais como resultado da crescente pressão para mecanizar. Os produtores também devem buscar uma alta produção unitária, o que só é possível por meio de sistemas de treliça maiores (superfície foliar).

No entanto, as trepadeiras arbustivas continuam a ser uma opção em terrenos de menor rendimento (por exemplo, terras secas com teor de umidade do solo suficiente), onde um sistema caro de treliça não garante necessariamente produções mais altas. Muitas vezes, esse terreno permite videiras equilibradas com crescimento e produção moderados, a partir dos quais vinhos concentrados e de alta qualidade podem ser feitos. O desafio é, portanto, encontrar valor para esses vinhos nos mercados. Só então a icônica videira do mato será capaz de permanecer uma parte sustentável de nossa paisagem de vinhedos.

Alguns ligam as vinhas de arbusto ao cultivo biodinâmico e a vinhos de qualidade. Esta ligação não foi cientificamente comprovada, mas foi demonstrado que as vinhas são menos suscetíveis no Botrytis cinereal ou, em outras palavras, podridão cinza. Isso significa uma planta mais saudável sem a necessidade de usar muitos produtos químicos e é provavelmente por isso que ela é escolhida pelos defensores do cultivo biodinâmico. Leia Mais em: "Bush Wines".

Western Cape: a toda poderosa região vinícola sul africana

Localizada a sudoeste da África do Sul, tendo a Cidade do Cabo como ponto central, Western Cape é a principal região vitivinícola do país, responsável por cerca de 90% da produção vinícola do país. Boa parte da indústria do vinho sul-africana se concentra nessa área e microrregiões como Stellenbosch e Paarl são alguns de seus principais destaques. Com terroir bastante diversificado, a combinação do clima mediterrâneo, da geografia montanhosa, das correntes de ar fresco vindas do Oceano Atlântico e da variedade de uvas permite que Western Cape seja considerada uma verdadeira potência da produção de vinhos no país. Suas regiões vinícolas estendem-se por impressionantes 300 quilômetros a partir da Cidade do Cabo até a foz do rio Olifants ao norte, e cerca de 360 quilômetros até a Baía Mossel, a leste – para entender essa grandiosidade, vale saber que regiões vinícolas raramente se estendem por mais de 150 quilômetros.

Western Cape

O clima fresco e chuvoso também favorece o plantio e a colheita por toda a região. Entre os grandes destaques de Western Cape estão as uvas Pinotage, Cabernet Sauvignon e Shiraz, que dão origem a excelentes varietais e blends. Entre os brancos – que, por si só, têm grande reconhecimento mundial –, brilham a Chenin Blanc, uva mais cultivada do país, a Chardonnay e a Sauvignon Blanc. As primeiras vinhas plantadas na região remetem ao século XVII, trazidas por exploradores europeus que se fixaram por lá. Durante vários séculos, fatores como o estilo rudimentar de produção, o Apartheid e a falta de investimentos mantiveram a cultura vitivinícola sul-africana limitada ao próprio país. Somente no início do século XX, com a formação da cooperativa KWV, que a África do Sul começou a responder por todo o controle de qualidade do vinho que se produzia por lá, e seus rótulos passaram a chamar a atenção do mercado internacional, dando início a um processo de exportação que conta, inclusive, com selos de qualidade específicos para a atividade. A proximidade da Cidade do Cabo facilita o acesso dos visitantes às inúmeras rotas vinícolas e turísticas de Western Cape, que incluem experiências como caminhadas, degustações por suas muitas bodegas, além de ótimos restaurantes e hospedagens em suas pequenas e aconchegantes cidades, a maioria em estilo europeu.

Pinotage

A Pinotage foi criada pelo Prof. Abraham Izak Perold, em 1925, cruzando um clone de Pinot Noir com a uva tinta chamada Cinsault (também conhecida como Hermitage). Seu nome vem da união dos dois nomes de origem: Pinot + Hermitage = Pinotage.

Abraham Izak Perold

A uva entrou em evidência a primeira vez, quando em 1959 um vinho produzido com esta cepa foi campeão no Concurso Cape Young Wine Show na Cidade do Cabo. Em 1991, outro vinho produzido somente com Pinotage foi eleito o melhor tinto no Concurso Internacional “Wine & Spirits” em Londres, reforçando a sua imagem de qualidade.

A uva Pinotage produz vinhos tintos com aromas ricos e exóticos, bem diferentes e quase “selvagens”, algumas vezes lembrando borracha. Há exemplares macios e frutados, destacando-se a framboesa e o mirtillo com presença de alcaçuz e leve nuance de fumaça, enquanto outros são densos, estruturados e concentrados, feitos para um longo envelhecimento. Os vinhos da casta Pinotage que possuem corpo mediano são ideais para serem harmonizados com risoto ao funghi e carnes vermelhas, já os encorpados, podem ser acompanhados de queijos maduros e carnes assadas.

A Pinotage é sem dúvida a uva tinta mais emblemática da África do Sul. No entanto, o que muitos não sabem é que atualmente não é ela a uva tinta mais plantada no país, e sim a, tão conhecida, Cabernet Sauvignon. Os vinhedos de Cabernet quase dobraram de tamanho ao longo da última década, chegando a aproximadamente 10% de todas as uvas tintas plantadas no país. Já a Pinotage manteve-se estável, com uma área de aproximadamente 6%. Isto ocorre, principalmente, pelo fato desta cepa não se adaptar em qualquer “terroir” e também por não ser uma uva fácil de domar.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta uma lindíssima cor vermelha com predominâncias violetas que traz contornos brilhantes, reluzentes com uma profusão de lágrimas finas e lentas desenhando as paredes do copo.

No nariz traz uma explosão de frutas vermelhas, tais como cereja, morango, framboesa, amoras, com uma nota de flores vermelhas, com um inusitado toque discreto de baunilha.

Na boca é macio, redondo, extremamente frutado, as frutas vermelhas realçam como nas impressões olfativas, mas tem uma persistência em boca, um bom volume que faz com que o vinho tenha certa personalidade típica da casta. Tem um curioso toque de madeira, defumado e tabaco, mas não passa por barricas de carvalho, passa sim 10 meses em tanques de aço inoxidável, para privilegiar as características da cepa, mas fugindo do conceito mais robusto da Pinotage. Taninos macios e acidez na medida, com um final elegante e frutado.

“Amandla!” significa poder nas línguas locais da África Sulista. É normalmente usado para criar um sentimento de unidade e união. O produtor afirma que o vinho traz a lembrança de que a força e a unidade são criadas quando se trabalha junto, simbolizando todas as mãos envolvidas na produção desta garrafa de vinho. Quando falamos, até de forma demasiada, em tipicidade, em terroir, traz a luz quando as mãos que criaram, que conceberam esse vinho, que vem com a cultura de um povo, o amor e o respeito a terra de onde se faz a vindima, todo o detalhe constrói o conceito e a proposta do vinho.

Agora vem a pergunta que não quer calar: Como foi a harmonização das carnes banhadas no feijão manteiga com o Amandla! Pinotage 2019? Digo que, apesar do meu amadorismo nas harmonizações, foi maravilhoso! Uma comida gordurosa, com algum peso para um vinho de médio corpo, com alguma personalidade, típico de toda Pinotage. Mas apesar disso degustei um belo vinho, macio, redondo, como sugere um vinho produzido em vinhas arbustivas que trouxe um Pinotage que fugiu um pouco do peso atribuído a essas castas, com taninos presentes, mas domados, frutados e com uma acidez equilibrada que limpou a boca, clamando por mais e mais garfadas do prato que carinhosamente minha mãe preparou para aglutinar a família e reforçar a necessidade do clamor do vinho pela comida e vice versa. Que possamos nos permitir experimentar, sem visões pré-concebidas e sem ruídos externos desses formadores de opinião que na realidade apenas quer impor o que pensa. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Marianne Wine Estate & Guesthouse:

Originário de Bordeaux, a família possui 3 propriedades vinícolas, se aproximando da África do Sul graças as suas várias viagens pelo mundo, aportando no sul da África.

O sonho era combinar o Velho e o Novo Mundo para fazer vinhos próximos da da visão de perfeição dos produtores. Portanto, decidiram comprar a Marianne Wine Estate & Guesthouse, uma vinícola boutique de 32 hectares (incluindo 24 em vinhas) localizada no vale Simonsberg em 2004.

A colheita manual, a seleção das melhores uvas, o envelhecimento em carvalho francês e acácia, combinados com um "savoir-faire" francês do enólogo sul-africano Jos Van Wyk, irão levá-lo a explorar alguns dos melhores vinhos produzidos na região.

Mais informações acesse:

http://www.mariannewines.com/

Referências:

“Vinho Capital”: https://vinhocapital.com/tag/wine/page/3/

“Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/western-cape-a-gigante-sul-africana/?doing_wp_cron=1611015613.7245669364929199218750#:~:text=Localizada%20a%20sudoeste%20da%20%C3%81frica,alguns%20de%20seus%20principais%20destaques.

“WineLand”: https://www.wineland.co.za/cultivation-of-bush-vines-in-south-africa-the-current-situation/

“Blog Botilia”: https://blog.botilia.gr/en/bush-vines-en/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/pinotage

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/quase-indomavel-pinotage/