quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Galitos branco

 

Eu não negarei nunca, sempre gritarei aos quatro cantos do mundo que adoro os vinhos do Alentejo! Talvez esteja sendo sugestionado, influenciado por um incontido amor, mas para mim as terras alentejanas são as melhores de Portugal para o cultivo do vinho!

Eles têm uma “pegada”, um aspecto regional muito arraigado, muito intenso, muito forte. Quando se degusta um vinho do Alentejo logo se percebe, pois têm impacto no nosso palato, as nossas impressões sensoriais são definitivamente arrebatadas a um nível imensurável.

E não se engane que isso varia de acordo com as propostas dos vinhos! Todos os rótulos parecem personificar a região com força, com intensidade. Não que os demais rótulos, das demais regiões lusitanas, não expressem esse apelo regionalista, mas o Alentejo reflete as suas características de uma maneira avassaladora, diria.

O vinho que degustei e gostei é aquele de preço também avassalador. Um vinho que custa na faixa dos R$ 30, pasmem, e que confesso não esperava muito dele. Para mim, no máximo, entregaria o que contempla a sua proposta, o seu preço, mas não! O vinho entregou uma personalidade que jamais esperaria e que se tornou uma degustação agradável, surpreendente.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei é um regional alentejano e se chama Galitos, um branco que carrega as castas Rabo de Ovelha, Roupeiro e Arinto, as cepas típicas do Alentejo e uma tida como a branca mais famosa de Portugal, sem informação de safra.

E pelo amor e apreço que nutro pelo terroir alentejano nada melhor que viajar profundamente pela região com a sua rica e envolvente história. Com vocês Alentejo!

Alentejo

Situado na zona sul de Portugal, o Alentejo é uma região essencialmente plana, com alguns acidentes de relevo, não muito elevados, mas que o influenciam de forma marcante. Embora seja caracterizada por condições climáticas mediterrânicas, apresenta nessas elevações, microclimas que proporcionam condições ideais ao plantio da vinha e que conferem qualidade às massas vínicas. As temperaturas médias do ano variam de 15º a 17,5º, observando-se igualmente a existência de grandes amplitudes térmicas e a ocorrência de verões extremamente quentes e secos.

Alentejo

Mas, graças aos raios do sol, a maturação das uvas, principalmente nos meses que antecedem a vindima, sofre um acúmulo perfeito dos açúcares e materiais corantes na película dos bagos, resultando em vinhos equilibrados e com boa estrutura. Os solos caracterizam-se pela sua diversidade, variando entre os graníticos de "Portalegre", os derivados de calcários cristalinos de "Borba", os mediterrânicos pardos e vermelhos de "Évora", "Granja/Amarelega", "Moura", "Redondo", "Reguengos" e "Vidigueira". Todas estas constituem as 8 sub-regiões da DOC "Alentejo".

História (Passado, presente e futuro)

A história do vinho e da vinha no território que é hoje o Alentejo exige uma narrativa longa, com uma presença continuada no tempo e no espaço, uma gesta ininterrupta e profícua que poucos associam ao Alentejo. Uma história que decorreu imersa em enredos tumultuosos, dividida entre períodos de bonança e prosperidade, entrecortados por épocas de cataclismos e atribulações, numa flutuação permanente de vontades, com longos períodos de trevas seguidos por breves ciclos iluministas e vanguardistas.

É uma história faustosa e duradoura, como o comprovam os indícios arqueológicos presentes por todo o Alentejo, testemunhas silenciosas de um passado já distante, evidências materiais da presença ininterrupta da cultura do vinho e da vinha na paisagem tranquila alentejana. Infelizmente, por ora ainda não foi possível determinar com acuidade histórica quando e quem introduziu a cultura da videira no Alentejo.

Mas ainda assim pode-se afirmar que a história do Alentejo anda de mãos dadas com a história de Portugal e da Península Ibérica, ex-hispânicos, assim como, pertencentes a época de civilizações romana, árabe e cristãs. Em muitos lugares no Alentejo encontrar provas da civilização fenícia existente há 3.000 anos atrás.

Fenícios, celtas, romanos, todos eles deixaram um importante legado da era antes de Cristo, na região que é hoje o Alentejo. Uma terra onde a cultura e tradição caminham lado a lado. Os romanos deixaram nesta região o legado mais importante, escritos, mosaicos, cidades em ruínas, monumentos, tudo deixado pelos romanos, mas não devemos esquecer as civilizações mais antigas que passaram pela zona deixando legados como os monumentos megalíticos, como Antas.

Após os romanos e os visigodos, os árabes, chegaram a esta terra com o cheiro a jasmim, antes da reconquista, que chegaram com a construção de inúmeros castelos, alguns deles construídos sobre mesquitas muçulmanas e a construção de muralhas para proteger a cidade e as cidades que foram crescendo. Desde essa altura até hoje, o Alentejo tem continuado o seu crescimento, um crescimento baseado na agricultura, pecuária, pesca, indústria, como a cortiça e desde o último século até aos nossos dias, com o turismo com uma ampla oferta de turismo rural.

Os gregos, cuja presença é denunciada pelas centenas de ânforas catalogadas nos achados arqueológicos do sul de Portugal, sucederam aos fenícios no comércio e exploração dos vinhos do Alentejo. Por esta época, a cultura da vinha no Alentejo, apesar de incipiente, contava já com quase dois séculos de história. A persistência de uma cultura da vinha e do vinho, desde os tempos da antiguidade clássica, permite presumir, com elevado grau de convicção, que as primeiras variedades introduzidas no território nacional terão arribado a Portugal pelo Alentejo, a partir das variedades mediterrânicas.

É mesmo provável, se atendermos os registros históricos existentes, que a produção alentejana tenha proporcionado a primeira exportação de vinhos portugueses para Roma, a primeira aventura de internacionalização de vinhos portugueses! A influência romana foi tão peremptória para o desenvolvimento da viticultura alentejana que ainda hoje, dois mil anos após a anexação do território, as marcas da civilização romana continuam a estar patentes nas tarefas do dia-a-dia, visíveis através da utilização de ferramentas do quotidiano, como o Podão, instrumento utilizado intensivamente até há poucos anos. Mas foi no aproveitamento das talhas de barro, prática que os romanos divulgaram e vulgarizaram no Alentejo, que a influência romana deixou as suas marcas mais profundas e até hoje é difundida, dada a devida proporção, por alguns abnegados produtores, e claro, a sua população.

Com a emergência do cristianismo, credo disseminado quase instantaneamente por todo o império romano, e face à obrigatoriedade da presença do vinho na celebração eucarística da nova religião, abriram-se novos mercados e novas apetências para o vinho. A fé católica, ainda que indiretamente, afirmou-se como um fator de desenvolvimento e afirmação da vinha no Alentejo, estimulando o cultivo da videira na região.

Com tantas influências culturais o Alentejo sofreu com algumas crises e a primeira se deu exatamente entre os cristãos e muçulmanos. Embora os mulçumanos tenham se mostrando tolerante com os costumes dos povos conquistados, consentindo na manutenção da cultura da vinha e do vinho, sujeitando-a a duros impostos, mas autorizando a sua subsistência, logo nasceu uma intolerância crescente para com os cristãos e os seus hábitos, manifesta no cumprimento rigoroso e vigoroso das leis do Corão.

Inevitavelmente, a cultura do vinho foi sendo progressivamente negada e a vinha gradualmente abandonada, reprimida pelas autoridades zelosas das regiões ocupadas. Com a invasão muçulmana a vinha sofreu o primeiro revés sério no Alentejo. A longa reconquista cristã da península ibérica, riscada de Norte para Sul, geradora de incertezas e inseguranças, com escaramuças permanentes entre cristãos e muçulmanos, sem definição de fronteiras estáveis, maltratou ainda mais a cultura da vinha, uma espécie agrícola perene que, por forçar à fixação das populações, foi sendo progressivamente abandonada.

Foi só após a fundação do reino lusitano, concorrendo através do poder real e das novas ordens religiosas, que a cultura do vinho regressou com determinação ao Alentejo. Poucos séculos mais tarde, já em pleno século XVI, a vinha florescia como nunca no Alentejo, dando corpo aos ilustres e aclamados vinhos de Évora, aos vinhos de Peramanca, bem como aos brancos de Beja e aos palhetes do Alvito, Viana e Vila de Frades. 

Em meados do século XVII, eram os vinhos do Alentejo, a par da Beira e da Estremadura, que gozavam de maior fama e prestígio em Portugal. Desventuradamente, foi sol de pouca dura! A crise provocada pela guerra da independência, logo secundada por nova crise despertada pela criação da Real Companhia Geral de Agricultura dos Vinhos do Douro, instituída pelo Marquês de Pombal como justificação para a defesa dos vinhos do Douro em detrimento das restantes regiões, com arranques coercivos de vinhas em muitas regiões, deu matéria para a segunda grande crise do vinho alentejano, mergulhando as vinhas alentejanas no obscurantismo.

A crise foi prolongada. Foi preciso esperar até meados do século XIX para assistir à recuperação da vinha no Alentejo, com a campanha de desbravamento da charneca e a fixação à terra de novas gerações de agricultores. Nasceu então mais uma época dourada para os vinhos do Alentejo, período que infelizmente viria a revelar ser de curta duração. O entusiasmo despertou quando se soube que um vinho branco da Vidigueira, da Quinta das Relíquias, apresentado pelo Conde da Ribeira Brava, ganhou a grande medalha de honra na Exposição de Berlim de 1888, a maior distinção do certame, tendo sido igualmente apreciados e valorizados vinhos de Évora, Borba, Redondo e Reguengos.

Pouco anos mais tarde, decorria o ano de 1895, edificou-se a primeira Adega Social de Portugal, em Viana do Alentejo, pelas mãos avisadas de António Isidoro de Sousa, pioneiro do movimento associativo em Portugal. Desafortunadamente, este período de glória viria a terminar abruptamente. Duas décadas passadas, já na primeira metade do século XX, sobreveio um conjunto de acontecimentos políticos, sociais e econômicos que contribuíram decidida e decisivamente para a degradação da viticultura alentejana.

António Isidoro de Sousa

Ao embate da filoxera, somou-se a primeira das duas grandes guerras mundiais, as crises econômicas sucessivas, e, sobretudo, a campanha cerealífera do estado novo que suspendeu e reprimiu a vinha no Alentejo, apadrinhando a cultura de trigo na região que viria a apelidar como "celeiro de Portugal". A vinha foi sendo sucessivamente desterrada para as bordaduras dos campos, para os terrenos marginais em redor de montes, aldeias e vilas, para as pequenas courelas em redor das povoações, reduzindo o vinho à condição de produção doméstica para autoconsumo. Em poucos anos o vinho no Alentejo, salvo raras exceções, desapareceu enquanto empreendimento empresarial.

Foi sob o patrocínio solene da Junta Nacional do Vinho, já no final da década de 1940, que a viticultura alentejana ganhou a primeira oportunidade de recobro, ainda que de forma titubeante.

O movimento associativo foi preponderante para o ressurgimento da atividade vitícola no Alentejo. Em 1970, sob os auspícios da Comissão de Planeamento da Região Sul, foi anunciado o estudo "Potencialidades das sub-regiões alentejanas", coadjuvado dois anos mais tarde pelo estudo "Caracterização dos vinhos das cooperativas do Alentejo. Contribuição para o seu estudo", do professor Francisco Colaço do Rosário, ensaios acadêmicos determinantes para o reconhecimento regional e nacional do potencial do Alentejo. Associando várias instituições ligadas ao setor e tirando proveito das sinergias criadas, o Alentejo conseguiu estabelecer um espírito de cooperação e entreajuda entre os diversos agentes.

Com a criação do PROVA (Projeto de Viticultura do Alentejo), em 1977, foram criadas as condições técnicas para a implementação de um estatuto de qualidade no Alentejo, enquanto a ATEVA (Associação Técnica dos Viticultores do Alentejo), fundada em 1983, foi arquitetada para promover a cultura da vinha nos diferentes terroirs do Alentejo.

Em 1988 regulamentaram-se as primeiras denominações de origem alentejanas, fundamento para o estabelecimento, em 1989, da CVRA (Comissão Vitivinícola Regional Alentejana), garante da certificação e regulamentação dos vinhos do Alentejo.

Borba

Borba possui um longo passado histórico, como nome incontornável do vinho alentejano e português. As referências apontam para a existência de produção de vinho neste concelho em 1345, no entanto, é muito provável que já na época romana isso acontecesse, devido à influência marcante que este povo teve no desenvolvimento da cultura vínica alentejana.

A arquitetura tradicional reflete a cultura do vinho, com a existência de inúmeras casas de viticultores com tipologia arquitetônica característica dos séculos XVII e XVIII, constituídas por um piso superior para habitação e um piso térreo para a tradicional adega. Por outro lado, existe um riquíssimo património edificado, composto por solares e casas apalaçadas, que resultou da riqueza gerada pela produção de vinho desde o século XVIII.

Borba é a segunda maior sub-região do Alentejo (DOC – Denominação de Origem Controlada), alastrando-se ao longo do eixo que une Estremoz a Terrugem, estendendo-se por Orada, Vila Viçosa, Rio de Moinhos e Alandroal. A sub-regiões de Borba, uma das mais dinâmicas do Alentejo, detém solos únicos de mármore que marcam de forma permanente e determinante o temperamento dos vinhos. Borba possui uma área de vinha de cerca de 3500 ha e uma produção de aproximadamente 155.000 hl.

Borba

O microclima especial de Borba garante índices de pluviosidade levemente superior à média, bem como níveis de insolação ligeiramente inferiores à média alentejana, proporcionando vinhos especialmente frescos e elegantes.

Rabo de Ovelha

Casta tradicional do Alentejo, presente em quase todas as sub-regiões, onde teve grande importância no passado. Muito discutível quer quanto à produção quer quanto ao valor enológico.

Muito produtiva, mas irregular na produção. Robusta, origina vinhos ricos em ácidos não muito alcoólicos, usado por isso, com alguma vantagem, em lotes com castas de menor acidez. Deve ser vindimada precocemente de modo a manter o teor de ácidos num nível aceitável.

As principais qualidades da casta Rabo de Ovelha nos vinhos são o alto teor alcoólico, boa longevidade e elevada acidez. Os vinhos que incluem esta casta na sua composição apresentam aromas discretos, com notas florais, vegetais e até minerais.

Roupeiro

Esta casta, nativa de Portugal, conhecida como Síria, na região de Beiras, por exemplo, faz muito sucesso em seu local preferido, na borda de fronteira com a Espanha. Muito longe da influência do Atlântico. Vai assim margeando a Espanha, desde Trás-os-Montes até o Alentejo passando por Beiras Interior onde, nas partes mais altas alcança seu máximo.

Uva que precisa de tempo seco, muito sol e boas diferenças de temperatura entre dia e noite. Como não podia deixar de ser é casta de vários nomes dependendo da região. Desde Codega, Crato Branco até Roupeiro, no Alentejo onde é mais conhecida mundialmente.

Seus vinhos são para serem apreciados jovens. Nos melhores apresenta seu potencial de acidez marcante, aromas cítricos em outros casos frutados como melão e um toque floral.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um amarelo citrino, brilhante, límpido, esboçando um dourado intenso, com nuances esverdeadas e discretas e rápidas lágrimas finas.

No nariz traz exuberantes aromas de frutas tropicais, com destaque para um pêssego maduro e frutas cítricas, além de secas também, com um discreto toque floral e algo mineral.

Na boca revela frescor, leveza, mas com uma personalidade, com alguma estrutura, denotando também frutas tropicais bem maduras, com uma acidez média e um final persistente e retrogosto muito frutado.

O Alentejo, como sempre, vibrante, regional que globaliza, que se faz forte em tipicidade, o terroir vivo, pleno, altivo que guarda uma tradição reluzente e que se moderniza em seus rótulos cada vez mais ousados, versáteis. O Alentejo catapulta Portugal para longe e faz deste país, cada vez mais, um centro vitivinícola de suma importância para o planeta vinho. Que possamos ser atores dessa história viva e que se mostra mutável. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Adega de Borba:

Fundada em 1955, as raízes da Adega de Borba remontam a um passado ainda mais longínquo no qual Portugal não era considerado reino.

A vinha está presente no Alentejo há mais de 3.000 anos. Foi a partir do século XVIII que a produção de vinho em Borba floresceu, contribuindo para um acentuado crescimento econômico e social da região. Desde então, vários acontecimentos marcaram o setor vitivinícola: uns de forma positiva, como a implementação de técnicas mais modernas de produção, e outros de forma negativa, nomeadamente a destruição provocada pela Guerra da Restauração e Invasões Napoleônicas.

Já nessa época existia uma produção pulverizada em pequenas adegas tradicionais, com talhas, ocupando parte de inúmeras casas de habitação dispersas pelas vilas e lugares.

Era esta a realidade quando, no dia 24 de abril de 1955, um conjunto de produtores insatisfeitos com as condições que eram praticadas no mercado controlado por “intermediários” em termos de preços e margens, cientes da necessidade de ganharem escala e massa crítica para investirem em novas tecnologias e em marcas comerciais fortes, decidiu unir-se para fundar a Adega Cooperativa de Borba.

Independentemente destas oscilações, a importância da vinha em Borba nunca se dissipou e foi sempre a grande cultura agrícola da região.

Já nessa época existia uma produção pulverizada em pequenas adegas tradicionais, com talhas, ocupando parte de inúmeras casas de habitação dispersas pelas vilas e lugares. Era esta a realidade quando, no dia 24 de abril de 1955, um conjunto de produtores insatisfeitos com as condições que eram praticadas no mercado controlado por “intermediários” em termos de preços e margens, cientes da necessidade de ganharem escala e massa crítica para investirem em novas tecnologias e em marcas comerciais fortes, decidiu unir-se para fundar a Adega Cooperativa de Borba.

Cada um dos viticultores distingue-se pela oferta de um produto de qualidade, envergando na sua essência uma história que nos faz recordar as verdadeiras raízes do cultivo da vinha. É com base em cada um dos seus legados, da sua partilha de conhecimentos e da sua união que a Adega de Borba consegue hoje em dia colocar em prática o real conceito de Cooperativa.

Mais informações acesse:

https://adegaborba.pt/

Referências:

“Clube dos Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/roteiros/vinhos-da-sub-regiao-da-vidigueira-denominacao-de-origem-alentejo/

“Rota dos Vinhos de Portugal”: http://rotadosvinhosdeportugal.pt/enoturismo/alentejo-2/borba/

“Clube dos Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/roteiros/vinhos-da-sub-regiao-da-vidigueira-denominacao-de-origem-alentejo/

“Rota dos Vinhos de Portugal”: http://rotadosvinhosdeportugal.pt/enoturismo/alentejo-2/borba/

“Vinhos do Alentejo”: https://www.vinhosdoalentejo.pt/pt/vinhos/historia-dos-vinhos/

“Além do Vinho”: https://alemdovinho.wordpress.com/tag/uva-roupeiro/

“Vinho Virtual”: https://www.vinhovirtual.com.br/uvas-211-Rabo-de-Ovelha

“Vida Rural”: https://www.vidarural.pt/sem-categoria/castas-de-portugal-rabo-de-ovelha/

 

 

 











 


segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Rio Sol Syrah 2020

 

Sabe quando um vinho faz parte da nossa vida, da nossa história enquanto enófilo? Aquele vinho que nos acompanha e que nos transforma? Ah só quem degusta vinhos sabe o que estou dizendo. Alguns vinhos, alguns rótulos foram e ainda são muito importantes, por exemplo, na minha transição de vinhos suaves, aqueles doces de garrafão para os vinhos finos, aqueles produzidos com castas vitiviníferas.

Está aí um momento de suma importância para qualquer enófilo brasileiro. Atirem a primeira pedra quem não passou por esse momento na história de degustação, de um bom e fiel apreciador da poesia líquida. Posso aqui elencar alguns vinhos e produtores que foram essenciais em minha vida nesse momento: Miolo, Almadén, entre outros que foram sim, os vinhos brasileiros que me iniciaram há mais de 23 anos atrás. Parece que foi ontem!

Mas não posso esquecer-me de um produtor que praticamente vimos “nascer” para o mundo nas terras brasileiras, que praticamente foi um dos pioneiros, aqueles que desbravaram um terroir que parecia improvável cultivar cepas e fazer vinhos: o Nordeste brasileiro, o semiárido, uma região desértica, praticamente, onde há séculos, bravas gentes sofrem com a escassez de água e que são esquecidos pelo Poder Público.

Uma porção de terra que se destaca com uma vegetação plena, que belamente destoa abundantemente: Falo da Rio Sol. Apesar de estar em solo brasileiro, a Rio Sol é uma concepção da Global Wines, um conglomerado português que se instalou no Brasil com uma ideia arrojada e determinada a trazer, a edificar um novo terroir: os vinhos do Velho Chico, os vinhos do Rio São Francisco que irrigam os parreirais e que entregam, para nosso deleite, vinhos frescos, maravilhosos e, ao mesmo tempo, dotados de uma marcante personalidade em todas as suas propostas.

Fazenda Santa Maria

Mas mesmo que a Rio Sol, com seus rótulos, me traga nostalgias agradáveis, boas lembranças e experiências sensoriais, ainda há espaço para novidades, ainda há espaço para novas e impactantes experiências e essa eu já esperava por alguns anos, mas que, por alguns motivos, eu ainda não havia degustado: Um Syrah da Rio Sol, um Syrah do nordeste brasileiro que, de uns tempos para cá, vem ganhando amplitude no cenário vitivinícola brasileiro, juntamente, claro, com os Syrahs mineiros.

E depois de alguns rótulos degustados e a certificação de qualidade e prazer que me proporcionaram, lá vem mais um: o Syrah. Então sem mais delongas o vinho que degustei e gostei veio do Velho Chico, do Vale do São Francisco, e é o Rio Sol Syrah da safra 2020. Para não perder o costume vamos com as histórias da região, antes de falar do vinho.

Vale do São Francisco: os vinhos do Velho Chico

A vitivinicultura do semiárido brasileiro é uma excepcionalidade no mundo, uma vez que está localizada entre os paralelos 8º e 9o S e produz, com escalonamento produtivo, uvas o ano todo totalizando duas safras e meia em condições ambientais adversas como alta luminosidade, temperatura média anual de 26oC, pluviosidade aproximada de 500mm, a 330m de altitude, em solo pedregoso.

Cinturão dos vinhos

Seus vinhos possuem público crescente, porque são jovens “vinhos do sol”, peculiares nos aromas e sabores, considerados como fáceis de beber e apresentando boa relação comercial qualidade/preço. Aliado a essas particularidades, diretamente associadas à produção de vinhos finos, o Vale é ainda cenário de diversas belezas naturais, históricas e culturais. Estudos já publicados permitem identificar que a região conta com diversas características que comprovam o seu potencial turístico para o desenvolvimento da atividade, como é o caso da sua história, riquezas ambientais e diversificada cultura regional.

Esses fatores estão relacionados à diversidade observada na região. Isso é notado, principalmente, em decorrência da sua extensão. A Bacia do São Francisco é a terceira maior bacia hidrográfica do país e a única que está totalmente inserida no território nacional. Nela estão localizados 506 municípios contando com, aproximadamente, 13 milhões de habitantes, que representa 9,6% da população brasileira.

Bem antes do Vale do São Francisco se consolidar como polo de vitivinicultura, quem já exercia esse papel no Brasil era a região Sul. No século 19, o Rio Grande do Sul, mesmo com as condições climáticas desfavoráveis, passou a ser considerado um polo crescente nesse meio – e até hoje segue inserido no ramo. Mas, a chegada de imigrantes estrangeiros no país trouxe o conhecimento técnico e a noção de mercado, o que fez com que outras regiões brasileiras também mostrassem a sua capacidade produtiva.

É na década de 1960 que o Nordeste entra em cena e o Vale do São Francisco inicia a sua trajetória na produção de uvas e vinhos, com a implantação das primeiras videiras. Nos anos de 1963 e 1964, foram instaladas duas estações experimentais, nos municípios de Petrolina, no Sertão de Pernambuco e Juazeiro, na Bahia, onde seriam implantados, respectivamente, o Projeto Piloto de Bebedouro e o Perímetro Irrigado de Mandacaru.

Vale do São Francisco

Apesar da escassez de chuva, o clima quente e seco do semiárido mostrou-se terreno fértil para a vitivinicultura e, na mesma década, outras cidades do Sertão de Pernambuco passam a fazer parte da cadeia produtiva. O pioneirismo da vitivinicultura no Nordeste é representado pelo Sertão Pernambucano, que iniciou a sua trajetória na

vitivinicultura na década de 1960, produzindo vinhos base para vermutes, na cidade de Floresta, uvas de mesa em Belém do São Francisco e em Santa Maria da Boa vista, localidade que na época se chamava Coripós.

Entre os anos 1980 e 1990, a região banhada pelo Rio São Francisco passa a ser conhecida também pela produção de vinhos finos, e em 1984 é produzido o primeiro vinho no Vale do Submédio São Francisco, com a marca Boticelli. O fortalecimento da vitivinicultura no Vale do Submédio São Francisco se deu com a instalação de vinícolas na Fazenda Milano, em Santa Maria da Boa Vista – PE e Fazenda Ouro Verde, em Casa Nova, na Bahia, que passaram a produzir vinhos finos.

Ao longo da década de 1990, ganha destaque a vitivinicultura tecnificada e a produção de uvas sem sementes. É também nessa época, que cresce o investimento de grupos empresariais na região. A instalação de uma infraestrutura física, como construção de packing houses, melhoria no sistema rodoviário e portuário, e, sobretudo, a organização dos produtores em associações e cooperativas, desempenharam um importante papel na consolidação das exportações de uvas de mesa do Vale do Submédio São Francisco.

A partir dos anos 2000, a produção se fortalece ainda mais com a implantação de outras vinícolas e vitivinícolas e também com as iniciativas públicas. Ações governamentais e de ensino, pesquisa e inovação, a partir do ano 2000, trouxeram novas tecnologias de produção e processamento de uvas e o reconhecimento de atores internacionais. É nessa época que surge a Escola do Vinho do Curso Superior de Tecnologia em Viticultura e Enologia, do Instituto Federal do Sertão Pernambucano.

IG do Vale do São Francisco

O Vale do São Francisco é a nova Indicação Geográfica (IG) do Brasil para vinhos finos, nobres, espumantes naturais e moscatel espumante. A região recebeu o selo na modalidade Indicação de Procedência (IP) e o registro foi publicado na Revista da Propriedade Industrial do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).

A nova indicação geográfica valerá para as cidades de Lagoa Grande (PE), Petrolina (PE), Santa Maria da Boa Vista (PE), Casa Nova (BA) e Curaçá (BA) e a expectativa é que traga mais olhares e investidores para a região vitivinícola.

A busca pela Indicação Geográfica na região é antiga e nasceu em 2002 com o reconhecimento do Vale dos Vinhedos, já a vitivinicultura nasceu em 1960 com a organização da produção agrícola irrigada no Vale do Rio São Francisco. A irrigação permitiu que as terras com caatinga, até então consideradas improdutivas, se tornassem áreas verdes ao longo das margens do rio.

A região do Vale do Rio São Francisco possui características únicas para a viticultura e produção de vinho. Seu clima permite duas podas e duas safras anuais e o resultado é um vinho geralmente frutado, de baixo teor alcóolico e acidez moderada. No Vale do São Francisco os espumantes predominam com três milhões de litros produzidos anualmente contra 1,5 milhão de litros dos vinhos tranquilos.

A Indicação Geográfica Vale do São Francisco autoriza a produção de vinhos tranquilos brancos, rosés ou tintos e espumantes brancos ou rosés que podem ser bruts, demi-secs ou moscatéis. A uva para a produção do vinho tem que ser 100% proveniente da região delimitada e são autorizadas 23 castas diferentes.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi com alguma intensidade, mas com brilhantes reflexos violáceos e uma grande concentração de lágrimas, finas e lentas.

No nariz o início estava um pouco tímido, fechado, mas logo se abriu e revelou-se um vinho muito frutado, frutas vermelhas e pretas maduras, com destaque para ameixas, cerejas, amora e morangos, com um agradável toque floral e notas de especiarias, algo de pimenta, típico da Syrah.

Na boca é seco, leve, macio, com uma boa textura que o torna também marcante, cheio, talvez pela presença razoável do álcool e o protagonismo das notas frutadas, como no aspecto olfativo. Tem taninos domados, boa acidez, as especiarias também aparecem, uma sensação de picância e um final persistente e retrogosto frutado.

O reconhecimento da Indicação Geográfica certifica e corrobora a qualidade dos vinhos do Vale de São Francisco, chancelando, perpetuando a sua tipicidade, enaltecendo o seu terroir e garantindo o prazer e a perspectiva de catapultar a disseminação dos rótulos do Velho Chico para todo o Brasil e o mundo. Nós, especialmente os brasileiros, precisam conhecer os rótulos da Rio Sol e de todos os seus produtores que, arduamente, há anos constrói aquele terroir que, para muitos, no início era algo improvável. O Rio Sol Syrah é um exemplo de que a região está, a cada dia, crescendo e entregando a sua cultura engarrafada. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Santa Maria:

Localizada no Vale do São Francisco com 120 hectares de área plantada, a Rio Sol produz 1,5 milhão de quilos de uva anualmente. Entre as espécies plantadas estão uvas tintas como Cabernet Sauvignon, Syrah, Aragonês, Touriga Nacional, Alicante Bouschet, Tempranillo e Merlot, além das brancas Chenin Blanc, Viognier e Moscatel. Este é o único lugar do mundo que produz, hoje, duas safras de uvas por ano, resultado das características naturais da região e do conhecimento de seus produtores.

É no mesmo local onde se situa a indústria da Rio Sol, onde toda a linha de produtos da empresa é produzida e engarrafada, seguindo os mais modernos conceitos de qualidade. A empresa conta com modernos tanques com controle de temperatura e pressão, sala de barricas para estágio dos vinhos em barris de carvalho francês e uma linha de engarrafamento e rotulagem que utiliza tecnologia importada, semelhante a utilizada nas outras vinícolas do grupo na Europa.

Anualmente são produzidas, aproximadamente, 2 milhões de garrafas, entre vinhos e espumantes, distribuídos para todo o Brasil. Toda essa produção é acompanhada de perto pela equipe de qualidade da Rio Sol, que atua tendo como foco a melhoria contínua da qualidade e a adequação dos produtos às tendências de mercado, sempre visando a sustentabilidade e a segurança do processo. A Rio Sol possui certificação internacional ISO 9001, que atesta os rigorosos controles de qualidade da produção de uvas e elaboração de vinhos.

Sobre a Global Wines:

O Grupo Global Wines nasceu em 1990 no Dão, com o nome Dão Sul. A sua missão era ser a maior empresa da mais antiga região de vinhos tranquilos de Portugal, o Dão. Quando o objetivo foi atingido, partiram para outros sonhos, outras aventuras, outras regiões e outros países. Ainda são a empresa de vinhos líder do Dão. Mas também são uma empresa de vinhos da Bairrada, do Alentejo, de Portugal e até o Brasil.

Tem atualmente 5 Espaços de Enoturismo, 3 dos quais com restaurante, onde procuram conjugar o vinho e a gastronomia, despertando como as melhores sensações, na experiência perfeita. Recebem, diariamente, pessoas de todas as partes do mundo, a quem procuram dar a melhor experiência de vinho e gastronomia. Atualmente estão presentes nos 5 continentes e as suas marcas chegam a mais de 40 países.

Mais informações acessem:

https://www.vinhosriosol.com.br/principal/

https://www.globalwines.pt/#globalwines

Referências:

“O Globo”: https://oglobo.globo.com/blogs/saideira/post/2022/11/vinhos-do-vale-do-sao-francisco-terao-indicacao-de-procedencia-entenda-a-conquista-e-conheca-rotulos-da-regiao.ghtml

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vale-do-sao-francisco-recebe-selo-de-indicacao-geografica.html













sábado, 26 de novembro de 2022

Dory Winemaker Choice Touriga Nacional 2017

 

Merecemos o que há de melhor na vida! Isso é fato! E na realidade dos vinhos, no universo vasto e inexplorado do vinho não foge à regra. Nós que trafegamos, viajamos na nave da enofilia, busca, garimpa, ler tudo sobre o vinho e não é meramente por interesse, um estímulo à leitura e o conhecimento, mas a busca incessante pelo prazer da degustação.

Mas não se enganem esses aspectos se complementam, se relacionam, se harmonizam. A leitura, a busca pelo conhecimento pode sim melhorar a qualidade na nossa degustação, abrir um leque imenso de possibilidades.

E em um momento de minha humilde, mas adorável trajetória de enófilo decidi uma coisa na vida: Degustar um varietal português! Hoje pode parecer um tolo sonho, um tolo projeto ou aspiração, afinal temos uma quantidade razoável de opções de varietais lusitanos à disposição, sobretudo das principais cepas daquele abundante país.

Mas quando tracei esse propósito para mim, as opções de compras e logo de rótulos eram um tanto quanto escassos ou os meus caminhos de compras eram escassos, não sei dizer ao certo. O fato é que, há cerca de 10, 15 anos atrás, o “e-commerce” não era tão atuante como nos dias de hoje.

Enfim, tracei esse propósito em minha enófila vida! E há de se comentar também que os rótulos portugueses são dominados pelos blends, pelos cortes, pelas “misturas” como o seu povo costuma dizer e por conta disso, acredito, o estímulo nasceu.

Alguns rótulos surgiram ainda poucos, mas castas importantes, emblemáticas de Portugal, tais como: Castelão e Touriga Nacional e até mesmo as francesas que rendem bem naqueles terroirs como a Syrah, por exemplo.

Entretanto o rótulo de hoje é especial! Primeiro porque é a casta exportação de Portugal, Touriga Nacional, um 100%, e segundo é da região de Lisboa! Sim! Lisboa, uma das minhas mais novas preferidas regiões lusitanas! Não tão nova assim, pois já figuraram alguns especiais e surpreendentes rótulos em minhas taças.

Será o meu primeiro Touriga Nacional de Lisboa, mais precisamente da sub-região de Alenquer, umas das mais proeminentes regiões de Lisboa para o cultivo da vinha e do vinho. Não preciso dizer que estou animado para degustar esse rótulo e ainda tem outro ponto mais do que animador: É da AdegaMãe! Precisa dizer algo mais?

Ele, quando o comprei, um verdadeiro achado e por um preço surpreendente, guardei por um tempo na adega, pensei em até deixa-lo por mais alguns anos, mas a ansiedade falou mais alto e o momento de degusta-lo chegou!

E que vinho senhores! Que vinho complexo, estruturado, mas macio e elegante como tem de ser a Touriga Nacional, mas com as expressões marítimas lisboetas. Então sem mais delongas o vinho que degustei e gostei veio de Alenquer, Lisboa, em Portugal e se chama Dory Winemaker Choice, um 100% Touriga Nacional da safra 2017. Para manter a tradição, antes de tecer detalhados comentários acerca do vinho, vamos às histórias.

Lisboa

A costa de Portugal é muito privilegiada para a produção vitivinícola graças à sua posição em relação ao Oceano Atlântico, à incidência de ventos, ao solo e ao relevo que constituem o local. Entre as principais áreas produtoras podemos citar a região dos vinhos de Lisboa, antigamente conhecida como Estremadura, famosa tanto por tintos encorpados como por brancos leves e aromáticos.

Lisboa

Tem mais de 30 hectares de cultivo com mais de 9 mil aptas à produção de Vinho Regional de Lisboa e Vinho com Denominação de Origem Controlada. O nome passou em 2009 para Lisboa de forma a diferenciar da região de mesmo nome na Espanha, também produtora de vinhos.

O litoral da IGP Lisboa corre para o sul de Beiras a partir da capital de Portugal, onde o rio Tejo encontra o Oceano Atlântico. Suas características geográficas proporcionam certa complexidade à região, pois está situada climaticamente em zona de transição dos ventos úmidos e estios, com solo de idades variadas, secos, encostas e maciços montanhosos se contrapõem a várzeas e terras de aluvião. Ainda sofre influencia direta da capital do país localizada em um extremo da região. Uma de suas características determinantes é a grande variedade de solos, como terras de aluvião (sedimentar), calcário secundário, várzeas e maciços montanhosos, muitas vezes misturados. Cada um desses terrenos pode proporcionar às uvas características completamente diferentes.

Lisboa

Esta região possui boas condições para produzir vinhos de qualidade, todavia há cerca de quinze anos atrás a região de Lisboa era essencialmente conhecida por produzir vinho em elevada quantidade e de pouca qualidade. Assim, iniciou-se um processo de reestruturação nas vinhas e adegas. Provavelmente a reestruturação mais importante realizou-se nas vinhas, uma vez que as novas castas plantadas foram escolhidas em função da sua produção em qualidade e não em quantidade. Hoje, os vinhos da Região de Lisboa são conhecidos pela sua boa relação qualidade/preço.

A região concentrou-se na plantação das mais nobres castas portuguesas e estrangeiras e em 1993 foi criada a categoria “Vinho Regional da Estremadura”, hoje "Vinho Regional Lisboa". A nova categoria incentivou os produtores a estudar as potencialidades de diferentes castas e, neste momento, a maior parte dos vinhos produzidos na região de Lisboa são regionais (a lei de vinhos DOC é muito restritiva na utilização de castas).

Entre as principais uvas cultivadas podemos citar as brancas Arinto, Fernão Pires (ambas naturais de Portugal) e Malvasia, e as tintas, Alicante Bouschet, Castelão, Touriga Nacional e Aragonez (como é chamada a Tempranillo na região).

Acredita-se que a elaboração de vinhos seja uma atividade desde o século 12, quando os monges da Ordem de Cister se estabeleceram na região. Uma de suas principais funções era justamente a produção da bebida para a celebração de missas.

A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).

A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).

As regiões de Colares, Carcavelos e Bucelas outrora muito importantes, hoje têm praticamente um interesse histórico. A proximidade da capital e a necessidade de urbanizar terrenos quase levaram à extinção das vinhas nestas Denominações de Origem.

A Denominação de Origem de Bucelas apenas produz vinhos brancos e foi demarcada em 1911. Os seus vinhos, essencialmente elaborados a partir da casta Arinto, foram muito apreciados no estrangeiro, especialmente pela corte inglesa. Os vinhos brancos de Bucelas apresentam acidez equilibrada, aromas florais e são capazes de conservar as suas qualidades durante anos.

Colares é uma Denominação de Origem que se situa na zona sul da região de Lisboa. É muito próxima do mar e as suas vinhas são instaladas em solos calcários ou assentes em areia. Os vinhos são essencialmente elaborados a partir da casta Ramisco, todavia a produção desta região raramente atinge as 10 mil garrafas.

A zona central da região de Lisboa (Óbidos, Arruda, Torres Vedras e Alenquer) recebeu a maioria dos investimentos na região: procedeu-se à modernização das vinhas e apostou-se na plantação de novas castas. Hoje em dia, os melhores vinhos DOC desta zona provêm de castas tintas como, por exemplo, a casta Castelão, a Aragonez (Tinta Roriz), a Touriga Nacional, a Tinta Miúda e a Trincadeira que por vezes são lotadas com a Alicante Bouschet, a Touriga Franca, a Cabernet Sauvignon e a Syrah, entre outras. Os vinhos brancos são normalmente elaborados com as castas Arinto, Fernão Pires, Seara-Nova e Vital, apesar da Chardonnay também ser cultivada em algumas zonas.

A região de Alenquer produz alguns dos mais prestigiados vinhos DOC da região de Lisboa (tintos e brancos). Nesta zona as vinhas são protegidas dos ventos atlânticos, favorecendo a maturação das uvas e a produção de vinhos mais concentrados. Noutras zonas da região de Lisboa, os vinhos tintos são aromáticos, elegantes, ricos em taninos e capazes de envelhecer alguns anos em garrafa. Os vinhos brancos caracterizam-se pela sua frescura e carácter citrino.

A maior Denominação de Origem da região, Encostas d’Aire, foi a última a sofrer as consequências da modernização. Apostou-se na plantação de novas castas como a Baga ou Castelão e castas brancas como Arinto, Malvasia, Fernão Pires, que partilham as terras com outras castas portuguesas e internacionais, como por exemplo, a Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Aragonez, Touriga Nacional ou Trincadeira. O perfil dos vinhos começou a alterar-se: ganharam mais cor, corpo e intensidade.

Alenquer

Alenquer é uma vila portuguesa pertencente ao Distrito de Lisboa, região Centro e sub-região do Oeste, com perto de 9 000 habitantes. É banhada pelo rio do mesmo nome. É sede de um município com 304,22 km² de área e 43 267 habitantes (2011), subdividido em 11 freguesias. O município é limitado a norte pelo município do Cadaval, a leste pela Azambuja, a sudeste por Vila Franca de Xira, a sul por Arruda dos Vinhos, a sudoeste por Sobral de Monte Agraço e a oeste por Torres Vedras.

Alenquer de "Alen Ker" significa "A vontade de Alão". O Cão alano, uma raça conhecida pelas suas qualidades na caça e combate, continua a proteger a vila de Alenquer no seu brasão. Alenquer foi fundada por muçulmanos e conquistada por D. Afonso Henriques. Recebeu foral em 1212 da infanta D. Sancha, filha de Sancho I de Portugal, esta é uma das versões outras autores preferem referir sobre a etimologia de Alenquer referir que a vila de origem romana, dizendo que então se chamara Jerabrica, querem outros que fosse fundação dos alanos, no ano de Cristo de 418, e que estes a denominaram Alan Kerke, na sua língua “Templo dos Alanos”.

O concelho divide-se em 11 Freguesias e Uniões de Freguesia: União de Freguesias de Abrigada e Cabanas de Torres, União de Freguesias Aldeia Galega da Merceana e Aldeia Gavinha, União de Freguesias de Alenquer, União de Freguesias Carregado e Cadafais, União de Freguesias de Ribafria e Pereiro de Palhacana e Freguesias de Carnota, Meca, Olhalvo, Ota, Ventosa e Vila Verde dos Francos.

A tradição do cultivo da vinha e da produção do vinho em Alenquer é antiga, por isso o vinho aqui produzido tem uma Denominação de Origem Controlada (DOC). Alenquer tornou-se uma das mais influentes zonas produtoras de vinho da região de Lisboa. Produz mais de metade do vinho certificado pela Comissão Vitivinícola da região de Lisboa e tem mais de 40 produtores de vinhos certificados. Esses vinhos ocupam o 1º lugar na lista internacional de produtores premiados! O sucesso dos vinhos de Alenquer resulta da combinação do saber e do trabalho dos homens, com o terroir, ou seja, as características naturais da região.

A Serra de Montejunto protege as vinhas de Alenquer dos ventos fortes, garantindo uma temperatura ideal para o seu desenvolvimento. No caso dos vinhos brancos, a distância ao mar dá-lhes uma frescura ligeiramente salgada, e a brisa da manhã seca o orvalho da noite. Para os vinhos tintos, estas condições garantem um bom amadurecimento e desenvolvimento das uvas.

A variedade de vinhos resulta das castas, isto é, dos diferentes tipos de uva e da maneira como são produzidas e combinadas entre si. Na história do vinho existe mais variedade de uva de vinho tinto do que de vinho branco. Os vinhos tintos de Alenquer são ricos em taninos, uma substância natural responsável, por exemplo, pela cor, aroma e estrutura dos vinhos. São vinhos muito aromáticos. Diz-se por isso que são vinhos “elegantes”! Estes vinhos são capazes de envelhecer, ou seja, ser guardados, alguns anos em garrafa.

Os melhores vinhos tintos DOC produzidos nesta zona usam as castas Castelão, Aragonez, Tinta Roriz, Touriga Nacional, Tinta Miúda e Trincadeira, às vezes misturadas com outras variedades, como a Alicante Bouschet, a Touriga Franca, a Cabernet Sauvignon e a Syrah.

Os vinhos brancos são frescos e cítricos, isto é, têm sabor a limão e a outras frutas dessa categoria. Normalmente os vinhos brancos usam as castas Arinto, Fernão Pires, Seara-Nova e Vital.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, quase escuro, com halos granada, um tanto quanto caudaloso, com lágrimas finas e em abundância que tingem as bordas do copo.

No nariz aromas de frutas pretas maduras em profusão, como amora, cereja preta, mas que divide o protagonismo com as notas amadeiradas, graças aos 11 meses em barricas de carvalho, que entrega algo como baunilha, menta, estrebaria, talvez. Traz também toques florais e de terra molhada.

Na boca é seco, de marcante personalidade, de média estrutura, mas macio e elegante, mostrando versatilidade e equilíbrio. É cheio, volumoso, alcoólico, mas sem ser agressivo, com as notas frutadas que o frescor do atlântico dos vinhos lisboetas, com taninos presentes, mas finos, com acidez média, que o torna saboroso, com a madeira em evidência, sobressaindo ao paladar café, torrefação, couro, tabaco. As especiarias conferem toques de pimentão e o final é de persistência agradável e frutada.

Mais um apoteótico momento de degustação! E muitos motivos foram responsáveis por uma sinergia mais do que especial: A casta Touriga Nacional, emblemática, talvez a mais importante cepa lusitana, um varietal desta casta e de um produtor que, a cada rótulo degustado, vem me cativando, a AdegaMãe, jovem, mas significativa na produção de seus vinhos que expressam de forma veemente o terroir de Lisboa, que é outro grande motivo de encarar este rótulo como especial. A “escolha do enólogo” (Winemaker Choice) que dá nome ao vinho, também se tornou a minha escolha para hoje. Fantástico. Tem 14% de teor alcoólico.

Ah aqui vale uma curiosidade sobre o significado do termo “Dory”:

Ao entrar na vinícola, que é um exuberante projeto de arquitetura, uma edificação muito bonita e moderna, e foi construída de forma gravitacional e com acessibilidade em todas as áreas (cadeiras de rodas e carrinhos de bebê, portanto, são bem-vindos), com equipamentos e tecnologia de ponta, tem de cara uma embarcação de pesca de bacalhau chamada “Dóri” (pertencente ao bacalhoeiro NTM Creoula, hoje navio escola da Marinha Portuguesa, e outrora pertencente à família Bensaúde) que deu nome aos principais rótulos da vinícola, Dory.

A AdegaMãe tem essa relação com o mar e com a pesca, produzindo, vinificando seus produtos, seus vinhos com o intuito de harmonizar com o bacalhau que é uma iguaria típica e tradicional, em todas as suas propostas, com o povo português.

Sobre a AdegaMãe:

 A AdegaMãe pertence ao grupo Riberalves, empresa familiar portuguesa, que é a maior produtora de bacalhau do mundo – 30 mil toneladas por ano, o equivalente a 10% de todo o bacalhau pescado no mundo! É uma homenagem da família à sua matriarca, Manuela Alves.

Em 2009, investindo na paixão pelo vinho, a família inaugurou a vinícola, que fica próxima da sede da empresa.  A vinícola fica em Torres Vedras, que faz parte da CVR Lisboa (Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa), antiga Estremadura, zona com grande influência atlântica, devido à proximidade com o oceano, com solos calcários, terroir propício para a produção de vinhos bastante minerais e com acidez marcante.

A AdegaMãe tem um projeto lindíssimo e Diogo, juntamente com Anselmo Mendes, enólogo consultor, entrou desde o começo da concepção da adega, no projeto das vinhas, de forma a definir as melhores variedades para a região, tanto que as vinhas velhas que ali estavam foram arrancadas, pois não eram boas o suficiente para os vinhos que pretendiam fazer. Mas é possível ver a vinha mãe da adega exposta como obra de arte, em uma das paredes da vinícola.

A Norte de Lisboa e a um passo da costa oceânica, a AdegaMãe potencia um terroir  fortemente influenciado pelas brisas marítimas predominantes, destacando-se pelos seus vinhos de inspiração atlântica, plenos de carácter, frescos e minerais, premiados a nível nacional e internacional. Referida pela arquitetura exclusiva, e pela forma como se harmoniza com a fantástica paisagem envolvente, a AdegaMãe foi desenhada de raiz para integrar a melhor experiência de visita, assumindo-se como uma referência no enoturismo da Região de Vinhos de Lisboa.




 










quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Aurora Reserva Merlot Rosé 2022

 

Há uma frase, um tanto quanto machista e depreciadora, de que vinhos rosés é para mulheres! Homem que é homem não pode degustar vinhos rosés. Uma coisa é não se identificar com determinados vinhos, isso é natural, mas deixar de degustar um vinho por mero preconceito, é no mínimo inaceitável.

Confesso que não sou um degustador assíduo de rosés, mas atualmente tenho investido nesses vinhos, sobretudo nos dias de sol, de verão, onde são a pedida mais do que ideal. E é nisso que temos de apostar: harmonizar com o momento!

Vinho não pede apenas alimento, mas mantém uma sinergia extremamente agradável com o dia, com o tempo. Nada como degustar um bom espumante, um bom vinho verde, um bom branco, um bom rosé em dias de sol, dias quentes, em uma praia, sim!

Mas desta vez o investimento não veio de meu bolso, mas um convite de um grande e velho amigo que decidiu retomar a nossa simples, mas significativa confraria e nos presenteou com um rótulo de um rosé brasileiro, da Serra Gaúcha, mais precisamente falando.

E de um produto a quem tenho um profundo respeito e carinho, de degustações especiais e arrebatadoras: A Aurora! Tida como uma das vinícolas mais premiadas no Brasil e no mundo, conseguem, com maestria, aliar qualidade, reverência e bom preço, um preço justo e acessível para todos, indistintamente.

E ainda tinha mais uma grata novidade, pelo menos para mim. Além de ser um rótulo da Aurora e um rosé, trazia a casta Merlot. Um Merlot rosé que eu nunca havia degustado. Então será uma degustação com algumas novidades sensoriais.

Eu já havia degustado a “versão” tinta do Aurora Merlot, das safras 20152017 e, claro, estavam exuberantes, mostrando a força do cultivo e produção dessa cepa em nossos terroirs, que vem despontando como um dos grandes centros e que vem crescendo a olhos vistos.

Então sem mais delongas vamos às formais apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da Serra Gaúcha, no Sul do Brasil, e se chama Aurora Merlot Rosé e a safra é do ano atual, de 2022!

E antes de falar do vinho, para não perder o costume falemos um pouco da Serra Gaúcha, talvez uma das principais regiões brasileiras da produção de vinhos, sobretudos dos bons e maravilhosos Merlots.

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira. Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do Vale.

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

Bento Gonçalves

Em 1875 inicia a imigração italiana na Encosta Superior do Nordeste, originando as colônias de Dona Isabel, Conde D’Eu e Nova Palmira. A colônia de Dona Isabel originou a cidade de Bento Gonçalves. Conde D’Eu originou a cidade de Garibaldi. Nova Palmira se tornou a cidade de Caxias do Sul.

A Colônia Dona Isabel (Bento Gonçalves), criada em 1870, já era conhecida como “Região da Cruzinha” devido a uma cruz rústica cravada sobre a sepultura de um possível tropeiro ou traçador de lotes coloniais. Era época do escambo, da troca de mercadoria por mercadoria. A Colônia Dona Isabel sediava um pequeno comércio, no qual os tropeiros faziam paradas para descanso.

Bento Gonçalves

Em 24 de dezembro de 1875, os núcleos do Planalto começaram a receber novos imigrantes. Em março de 1876, o Presidente do Estado José Antonio de Azevedo Castro anunciava a existência de 348 lotes medidos e demarcados e uma população de 790 pessoas, sendo 729 italianos. Os pioneiros, vindos do Tirol Austríaco e Vêneto chegaram à esplanada onde hoje está situada a Igreja Matriz Cristo Rei.

A troca, compra e venda de produtos era feita na sede da colônia, após longas caminhadas por estreitas picadas (trilhas abertas no meio da mata) demarcadas pelos próprios imigrantes. Entre os imigrantes havia ferreiros, sapateiros, marceneiros, alfaiates, carpinteiros, entre outros profissionais que estabeleceram seus negócios dentro de suas especialidades, atendendo às necessidades locais.

O surgimento das construções das casas, os instrumentos de trabalho e o mercado foram acompanhando o desenvolvimento de Colônia Dona Isabel e também as exigências que se apresentavam. Frente ao desenvolvimento, as condições das estradas foram melhorando e surgiram as primeiras carretas. Em cinco anos, houve um acréscimo de quatro mil habitantes, entre nascimentos e novos imigrantes.

Em 1881, inicia a abertura da primeira estrada de rodagem, ligando a Colônia Dona Isabel a São João de Montenegro (hoje Montenegro). O início do povoamento foi marcado por inúmeras dificuldades. Em 1877 a Colônia Dona Isabel sediava três casas comerciais, duas padarias, uma fábrica de chapéus e um total de 40 casas comerciais, que ofereciam serviços e produtos diversos em todo o território da colônia.

O desmembramento da Colônia Dona Isabel do município de Montenegro foi oficializado pelo ‘Acto’ 474, de 11 de outubro de 1890, assinado por Cândido Costa, o que constituiu o município de Bento Gonçalves. O nome foi dado em homenagem ao general Bento Gonçalves da Silva, chefe da Revolução Farroupilha, ocorrida no Rio Grande do Sul de 1835 a 1845.

Bento Gonçalves deu seu primeiro impulso de progresso com a vinda da agência do Banco Nacional do Comércio e Banco de Pelotas. Entre os anos de 1919 e 1927, foi feita a instalação da luz elétrica e da estação transformadora e da rede de distribuição. Na foto a raça Walter Galassi em 1922, quando era chamada de Praça Centenário. O local foi inaugurado durante as comemorações do centenário da independência do Brasil.

E 1924 foi fundado o Hospital Dr. Bartholomeu Tacchini. Na época o Dr. Barthomoleu Tacchini, médico vindo da Itália, era um dos principais médicos do Estado, com enorme prestígio especialmente junto à população de origem italiana. Em 1950, a população era de 22.600 habitantes. As principais atividades econômicas eram as do setor agrícola. Contudo, começaram a surgir várias indústrias, como de acordeões, laticínios, móveis, curtume, fábrica de sulfato e vinícolas.

Em 1967 Bento Gonçalves passa por uma grande transformação, considerada um marco histórico. Com a colaboração de dinâmicas lideranças e a ajuda de toda a comunidade, surge a I Fenavinho, a Festa Nacional do Vinho. O município foi visitado pela primeira vez por um Presidente da República, o Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco visitou Bento Gonçalves e a I Fenavinho no dia 25 de fevereiro de 1967. O principal produto e a força da economia de Bento Gonçalves foram divulgados em todo o Brasil, tornando a cidade conhecida nacional e internacionalmente. O município descobre a sua vocação para o turismo de negócios e começa a sediar eventos de grande porte.

A cidade de Bento Gonçalves é conhecida como a ‘Capital Brasileira da Uva e do Vinho’, é reconhecida pela força de sua economia e como um importante pólo industrial e turístico do sul do Brasil.

Além de ser uma cidade com perfil empreendedor e povo trabalhador, a cidade se destaca na área turístia. Atividades ligadas à área do enoturismo, turismo de negócios e de eventos oferece cada vez mais opções ao visitante. A cidade oferece uma diversidade de rotas turísticas. Os indicadores de desenvolvimento e renda da cidade colocam Bento Gonçalves em destaque no Estado e no país quanto à qualidade de vida.

A cidade de Bento Gonçalves é um polo moveleiro e vitivinícola conhecido nacional e internacionalmente. Dentro do segmento indústria, o setor moveleiro é a grande força da economia. No segmento turístico são inúmeros os atrativos ligados à uva e ao vinho, o que torna Bento Gonçalves uma cidade de visita obrigatória na conhecida Região Turística “Uva e Vinho” situado na Serra Gaúcha.

Bento Gonçalves é pioneira no Brasil no desenvolvimento do Enoturismo. A cada ano Bento Gonçalves vem se consolidando como destino turístico nacional. O Vale dos Vinhedos é o principal destino enoturístico do Brasil, sendo o roteiro mais visitado desde 2008. Foi a primeira região do país reconhecida como Indicação Geográfica, obtendo para seus produtos a Indicação de Procedência, e a seguir a Denominação de Origem ‘Vale dos Vinhedos’ para os vinhos e espumantes ali produzidos. O Vale dos Vinhedos integra oficialmente o patrimônio histórico e cultural do Estado do Rio Grande do Sul desde 29 de junho de 2012 (Projeto de Lei 44/2012).

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo e envolvente rosado salmão, com tons brilhantes e de incrível intensidade, denotando quase um vermelho rubi.

No nariz a predominância é de um delicado floral com notas agradáveis de frutas vermelhas frescas como morango e framboesa, além de um leve e discreto adocicado, mas sem ser enjoativo.

Na boca traz a jovialidade, a fruta e o frescor típico de um rosé que é corroborado com uma bela acidez acentuando toda essa leveza e refrescância. Apesar de ser delicado no palato traz alguma personalidade, tem certo volume de boca, com um final de boca persistente e um retrogosto frutado.

O vinho se torna especial quando harmonizado com o momento, com um bom alimento que ressalte ambos, claro. Contudo o momento com os amigos, reforçado pela confraria torna qualquer rótulo único e especial e este Aurora Merlot Rosé harmonizou perfeitamente com queijos leves que degustamos e uma agradável tarde de sol que brilhou neste momento especial de degustar um delicado, fresco e leve rosé brasileiro. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Cooperativa Aurora:

A Vinícola Aurora é um sonho compartilhado por imigrantes que enfrentaram os mais diversos problemas quando chegaram ao Rio Grande do Sul. Com a veia colaborativa, a empresa cresceu e se tornou um dos expoentes do vinho gaúcho. A história da cooperativa começou em 1931, quando famílias de produtores de uvas do município de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, com pouco dinheiro, mas com muita vontade de prosperar, reuniram-se para lançar a pedra fundamental da empresa.

Na primeira colheita, foram contabilizados 317 mil quilos de uva. Hoje, quase 85 anos depois, a empresa processa mais 60 toneladas da fruta e tem 1.100 famílias associadas. A biografia da Aurora, desde as suas raízes, é permeada por números de sucesso. No cerne da vinícola há solidariedade entre os pares, se no início do século os imigrantes italianos se uniram para produzir com maior força e formar uma rede de ajuda mútua, hoje, não é diferente. É nesse universo, da produção em sociedade, que a Revista Sabores adentra para desmitificar as oito décadas da empresa.

No Centro de Bento Gonçalves, local que abriga a histórica Cantina da empresa. De longe é possível ver a grande movimentação, não só de trabalhadores de vinícola, mas, principalmente, de turistas. Pioneira em abrir as portas aos visitantes, a cada ano, a Aurora recebe 150 mil pessoas em suas instalações. É uma multidão de curiosos querendo saber como são produzidos os 232 rótulos da empresa.

Ao percorrer os corredores da vinícola, o visitante conhece em detalhes todas as etapas para a elaboração de um vinho. Desde as esteiras que recebem as uvas na época de colheita, até as pipas gigantes com mais de 50 anos de uso. Não só os produtos alcoólicos que movimentam a cooperativa. A linha de produção ainda tem coolers e suco de uvas. O suco da marca Casa de Bento, produzido pela vinícola, é um dos mais vendidos da empresa. Do total de uvas processadas, 60% viram suco.

Hoje, bem no coração de Bento Gonçalves, a Vinícola Aurora é a maior do Brasil. Mais de 1.100 famílias se associaram à cooperativa, sendo a produção orientada por técnicos que, diariamente, estão em contato com o produtor – fornecendo toda a assistência necessária. A equipe técnica se responsabiliza pelo acompanhamento permanente do processo industrial e pela qualidade final dos produtos, sempre com a atenção voltada para o desenvolvimento de uma tecnologia de ponta.

A conquista da posição que ocupa há mais de duas décadas foi possível graças à constante modernização de seu parque industrial, à alta tecnologia de suas unidades e aos rigorosos padrões exigidos nos processos de produção. O cuidado extremo com a rotina produtiva, observado a partir da plantação das mudas ao engarrafamento do produto, faz parte da receita de crescimento constante do empreendimento durante todos esses anos.

Mais informações acesse:

http://www.vinicolaaurora.com.br/br

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/os-segredos-da-merlot-cepa-mais-consistente-da-serra-gaucha_10653.html

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA

“Bento Tur”: https://bento.tur.br/nossa-historia-bento-goncalves/