Sabe quando um vinho faz parte da nossa vida, da nossa
história enquanto enófilo? Aquele vinho que nos acompanha e que nos transforma?
Ah só quem degusta vinhos sabe o que estou dizendo. Alguns vinhos, alguns
rótulos foram e ainda são muito importantes, por exemplo, na minha transição de
vinhos suaves, aqueles doces de garrafão para os vinhos finos, aqueles produzidos
com castas vitiviníferas.
Está aí um momento de suma importância para qualquer enófilo
brasileiro. Atirem a primeira pedra quem não passou por esse momento na
história de degustação, de um bom e fiel apreciador da poesia líquida. Posso
aqui elencar alguns vinhos e produtores que foram essenciais em minha vida
nesse momento: Miolo, Almadén, entre outros que foram sim, os vinhos
brasileiros que me iniciaram há mais de 23 anos atrás. Parece que foi ontem!
Mas não posso esquecer-me de um produtor que praticamente
vimos “nascer” para o mundo nas terras brasileiras, que praticamente foi um dos
pioneiros, aqueles que desbravaram um terroir que parecia improvável cultivar
cepas e fazer vinhos: o Nordeste brasileiro, o semiárido, uma região desértica,
praticamente, onde há séculos, bravas gentes sofrem com a escassez de água e
que são esquecidos pelo Poder Público.
Uma porção de terra que se destaca com uma vegetação plena,
que belamente destoa abundantemente: Falo da Rio Sol. Apesar de estar em solo
brasileiro, a Rio Sol é uma concepção da Global Wines, um conglomerado
português que se instalou no Brasil com uma ideia arrojada e determinada a
trazer, a edificar um novo terroir: os vinhos do Velho Chico, os vinhos do Rio
São Francisco que irrigam os parreirais e que entregam, para nosso deleite,
vinhos frescos, maravilhosos e, ao mesmo tempo, dotados de uma marcante
personalidade em todas as suas propostas.
Mas mesmo que a Rio Sol, com seus rótulos, me traga
nostalgias agradáveis, boas lembranças e experiências sensoriais, ainda há
espaço para novidades, ainda há espaço para novas e impactantes experiências e
essa eu já esperava por alguns anos, mas que, por alguns motivos, eu ainda não
havia degustado: Um Syrah da Rio Sol, um Syrah do nordeste brasileiro que, de
uns tempos para cá, vem ganhando amplitude no cenário vitivinícola brasileiro,
juntamente, claro, com os Syrahs mineiros.
E depois de alguns rótulos degustados e a certificação de
qualidade e prazer que me proporcionaram, lá vem mais um: o Syrah. Então sem
mais delongas o vinho que degustei e gostei veio do Velho Chico, do Vale do São
Francisco, e é o Rio Sol Syrah da safra 2020. Para não perder o costume vamos
com as histórias da região, antes de falar do vinho.
Vale do São Francisco: os vinhos do Velho Chico
A vitivinicultura do semiárido brasileiro é uma
excepcionalidade no mundo, uma vez que está localizada entre os paralelos 8º e
9o S e produz, com escalonamento produtivo, uvas o ano todo totalizando duas
safras e meia em condições ambientais adversas como alta luminosidade,
temperatura média anual de 26oC, pluviosidade aproximada de 500mm, a 330m de
altitude, em solo pedregoso.
Seus vinhos possuem público crescente, porque são jovens
“vinhos do sol”, peculiares nos aromas e sabores, considerados como fáceis de
beber e apresentando boa relação comercial qualidade/preço. Aliado a essas
particularidades, diretamente associadas à produção de vinhos finos, o Vale é
ainda cenário de diversas belezas naturais, históricas e culturais. Estudos já
publicados permitem identificar que a região conta com diversas características
que comprovam o seu potencial turístico para o desenvolvimento da atividade,
como é o caso da sua história, riquezas ambientais e diversificada cultura
regional.
Esses fatores estão relacionados à diversidade observada na
região. Isso é notado, principalmente, em decorrência da sua extensão. A Bacia
do São Francisco é a terceira maior bacia hidrográfica do país e a única que
está totalmente inserida no território nacional. Nela estão localizados 506
municípios contando com, aproximadamente, 13 milhões de habitantes, que
representa 9,6% da população brasileira.
Bem antes do Vale do São Francisco se consolidar como polo de
vitivinicultura, quem já exercia esse papel no Brasil era a região Sul. No
século 19, o Rio Grande do Sul, mesmo com as condições climáticas
desfavoráveis, passou a ser considerado um polo crescente nesse meio – e até
hoje segue inserido no ramo. Mas, a chegada de imigrantes estrangeiros no país
trouxe o conhecimento técnico e a noção de mercado, o que fez com que outras
regiões brasileiras também mostrassem a sua capacidade produtiva.
É na década de 1960 que o Nordeste entra em cena e o Vale do
São Francisco inicia a sua trajetória na produção de uvas e vinhos, com a
implantação das primeiras videiras. Nos anos de 1963 e 1964, foram instaladas
duas estações experimentais, nos municípios de Petrolina, no Sertão de
Pernambuco e Juazeiro, na Bahia, onde seriam implantados, respectivamente, o
Projeto Piloto de Bebedouro e o Perímetro Irrigado de Mandacaru.
Apesar da escassez de chuva, o clima quente e seco do
semiárido mostrou-se terreno fértil para a vitivinicultura e, na mesma década,
outras cidades do Sertão de Pernambuco passam a fazer parte da cadeia
produtiva. O pioneirismo da vitivinicultura no Nordeste é representado pelo
Sertão Pernambucano, que iniciou a sua trajetória na
vitivinicultura na década de 1960, produzindo vinhos base
para vermutes, na cidade de Floresta, uvas de mesa em Belém do São Francisco e
em Santa Maria da Boa vista, localidade que na época se chamava Coripós.
Entre os anos 1980 e 1990, a região banhada pelo Rio São
Francisco passa a ser conhecida também pela produção de vinhos finos, e em 1984
é produzido o primeiro vinho no Vale do Submédio São Francisco, com a marca
Boticelli. O fortalecimento da vitivinicultura no Vale do Submédio São
Francisco se deu com a instalação de vinícolas na Fazenda Milano, em Santa
Maria da Boa Vista – PE e Fazenda Ouro Verde, em Casa Nova, na Bahia, que passaram
a produzir vinhos finos.
Ao longo da década de 1990, ganha destaque a vitivinicultura
tecnificada e a produção de uvas sem sementes. É também nessa época, que cresce
o investimento de grupos empresariais na região. A instalação de uma
infraestrutura física, como construção de packing houses, melhoria no sistema
rodoviário e portuário, e, sobretudo, a organização dos produtores em
associações e cooperativas, desempenharam um importante papel na consolidação
das exportações de uvas de mesa do Vale do Submédio São Francisco.
A partir dos anos 2000, a produção se fortalece ainda mais
com a implantação de outras vinícolas e vitivinícolas e também com as
iniciativas públicas. Ações governamentais e de ensino, pesquisa e inovação, a
partir do ano 2000, trouxeram novas tecnologias de produção e processamento de
uvas e o reconhecimento de atores internacionais. É nessa época que surge a
Escola do Vinho do Curso Superior de Tecnologia em Viticultura e Enologia, do
Instituto Federal do Sertão Pernambucano.
IG do Vale do São Francisco
O Vale do São Francisco é a nova Indicação Geográfica (IG) do
Brasil para vinhos finos, nobres, espumantes naturais e moscatel espumante. A
região recebeu o selo na modalidade Indicação de Procedência (IP) e o registro
foi publicado na Revista da Propriedade Industrial do Instituto Nacional da
Propriedade Industrial (INPI).
A nova indicação geográfica valerá para as cidades de Lagoa
Grande (PE), Petrolina (PE), Santa Maria da Boa Vista (PE), Casa Nova (BA) e
Curaçá (BA) e a expectativa é que traga mais olhares e investidores para a
região vitivinícola.
A busca pela Indicação Geográfica na região é antiga e nasceu
em 2002 com o reconhecimento do Vale dos Vinhedos, já a vitivinicultura nasceu
em 1960 com a organização da produção agrícola irrigada no Vale do Rio São
Francisco. A irrigação permitiu que as terras com caatinga, até então
consideradas improdutivas, se tornassem áreas verdes ao longo das margens do
rio.
A região do Vale do Rio São Francisco possui características
únicas para a viticultura e produção de vinho. Seu clima permite duas podas e
duas safras anuais e o resultado é um vinho geralmente frutado, de baixo teor
alcóolico e acidez moderada. No Vale do São Francisco os espumantes predominam
com três milhões de litros produzidos anualmente contra 1,5 milhão de litros
dos vinhos tranquilos.
A Indicação
Geográfica Vale do São Francisco autoriza a produção de vinhos tranquilos
brancos, rosés ou tintos e espumantes brancos ou rosés que podem ser bruts,
demi-secs ou moscatéis. A uva para a produção do vinho tem que ser 100%
proveniente da região delimitada e são autorizadas 23 castas diferentes.
E agora finalmente o vinho!
Na taça apresenta um vermelho rubi com alguma intensidade,
mas com brilhantes reflexos violáceos e uma grande concentração de lágrimas,
finas e lentas.
No nariz o início estava um pouco tímido, fechado, mas logo
se abriu e revelou-se um vinho muito frutado, frutas vermelhas e pretas
maduras, com destaque para ameixas, cerejas, amora e morangos, com um agradável
toque floral e notas de especiarias, algo de pimenta, típico da Syrah.
Na boca é seco, leve, macio, com uma boa textura que o torna
também marcante, cheio, talvez pela presença razoável do álcool e o
protagonismo das notas frutadas, como no aspecto olfativo. Tem taninos domados,
boa acidez, as especiarias também aparecem, uma sensação de picância e um final
persistente e retrogosto frutado.
O reconhecimento da Indicação Geográfica certifica e
corrobora a qualidade dos vinhos do Vale de São Francisco, chancelando,
perpetuando a sua tipicidade, enaltecendo o seu terroir e garantindo o prazer e
a perspectiva de catapultar a disseminação dos rótulos do Velho Chico para todo
o Brasil e o mundo. Nós, especialmente os brasileiros, precisam conhecer os
rótulos da Rio Sol e de todos os seus produtores que, arduamente, há anos
constrói aquele terroir que, para muitos, no início era algo improvável. O Rio
Sol Syrah é um exemplo de que a região está, a cada dia, crescendo e entregando
a sua cultura engarrafada. Tem 13% de teor alcoólico.
Sobre a Vinícola Santa Maria:
Localizada no Vale do São Francisco com 120 hectares de área
plantada, a Rio Sol produz 1,5 milhão de quilos de uva anualmente. Entre as
espécies plantadas estão uvas tintas como Cabernet Sauvignon, Syrah, Aragonês,
Touriga Nacional, Alicante Bouschet, Tempranillo e Merlot, além das brancas
Chenin Blanc, Viognier e Moscatel. Este é o único lugar do mundo que produz,
hoje, duas safras de uvas por ano, resultado das características naturais da
região e do conhecimento de seus produtores.
É no mesmo local onde se situa a indústria da Rio Sol, onde
toda a linha de produtos da empresa é produzida e engarrafada, seguindo os mais
modernos conceitos de qualidade. A empresa conta com modernos tanques com
controle de temperatura e pressão, sala de barricas para estágio dos vinhos em
barris de carvalho francês e uma linha de engarrafamento e rotulagem que
utiliza tecnologia importada, semelhante a utilizada nas outras vinícolas do
grupo na Europa.
Anualmente são produzidas, aproximadamente, 2 milhões de
garrafas, entre vinhos e espumantes, distribuídos para todo o Brasil. Toda essa
produção é acompanhada de perto pela equipe de qualidade da Rio Sol, que atua
tendo como foco a melhoria contínua da qualidade e a adequação dos produtos às
tendências de mercado, sempre visando a sustentabilidade e a segurança do
processo. A Rio Sol possui certificação internacional ISO 9001, que atesta os
rigorosos controles de qualidade da produção de uvas e elaboração de vinhos.
Sobre a Global Wines:
O Grupo Global Wines nasceu em 1990 no Dão, com o nome Dão
Sul. A sua missão era ser a maior empresa da mais antiga região de vinhos
tranquilos de Portugal, o Dão. Quando o objetivo foi atingido, partiram para
outros sonhos, outras aventuras, outras regiões e outros países. Ainda são a
empresa de vinhos líder do Dão. Mas também são uma empresa de vinhos da
Bairrada, do Alentejo, de Portugal e até o Brasil.
Tem atualmente 5 Espaços de Enoturismo, 3 dos quais com
restaurante, onde procuram conjugar o vinho e a gastronomia, despertando como
as melhores sensações, na experiência perfeita. Recebem, diariamente, pessoas
de todas as partes do mundo, a quem procuram dar a melhor experiência de vinho
e gastronomia. Atualmente estão presentes nos 5 continentes e as suas marcas
chegam a mais de 40 países.
Mais informações acessem:
https://www.vinhosriosol.com.br/principal/
https://www.globalwines.pt/#globalwines
Referências:
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vale-do-sao-francisco-recebe-selo-de-indicacao-geografica.html
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