terça-feira, 7 de março de 2023

Ernst Loosen Dornfelder 2020

 

Quando comecei a degustar os meus primeiros vinhos, quando entrei neste vasto e apaixonante universo dos vinhos, alguns rótulos, algumas regiões, algumas castas, alguns países eu jamais pensei que fosse ter acesso.

Talvez pelo preço, talvez pela pouca oferta à época, os motivos podem ser inúmeros, mas sempre olhei para alguns rótulos com essa distância, com esses entraves, esses obstáculos.

E situações como essas fomenta, creio, a tão temida e famigerada “zona de conforto”, porque nos rendemos aos rótulos, aos produtores e as castas que tem maior incidência no mercado de vinhos. Evidente que há uma infinidade de rótulos para degustarmos e que teríamos de viver duas ou mais vidas para degustar todos, mas a zona de conforto existe e é sedutora.

De um tempo para cá, e não tem tanto tempo assim, descobri os vinhos alemães! Lembro-me que a cerca de 20, 23 anos, quando estava engatinhando nas minhas degustações pouco se tinha oferta de rótulos germânicos, na realidade não tínhamos tanto e-commerce como nos dias de hoje.

Atualmente com esse boom de sites especializados em venda de vinhos as ofertas, sobretudo de rótulos alemães, estão aparecendo com força! E são vinhos de todas as propostas, das mais simples aos mais complexos em sua característica.

O meu primeiro vinho foi degustado em 2020, há apenas três anos atrás, da casta emblemática daquele país, a Riesling, que se chamava Rebgarten da safra 2018. Foi em um dia muito agradável na casa de um nobre amigo e confrade que me recebeu e nos brindou com um belo e surpreendente Riesling alemão.

Outros foram sendo degustados, a Alemanha enfim estava, mesmo que de forma vagarosa, em termos quantitativos, sendo conhecida e a cada rótulo degustado era uma maravilhosa experiência!

Tão relevante e especial que algumas castas que nunca degustei estão abrilhantando a minha humilde e simplória adega! É o caso da Dornfelder. Nunca tinha ouvido falar dela! Claro que, quando vi sendo ofertada em um site de vendas de vinhos famoso, decidi adquirir e estava em um valor muito atrativo.

A minha curiosidade é tamanha que decidi não esperar muito tempo e degustar o quanto antes. E o momento, finalmente, chegou! A degustação não poderia mais esperar. Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da famosa região alemã de Pfalz e se chama Ernst Loosen da casta Dornfelder e a safra é 2020. E lembrar que tive uma ótima experiência anterior com esse mesmo produtor, mas com o Pinot Noir, o Ernst Loosen Pinot Noir 2017. E Para não perder o costume vamos de histórias! Vamos de Pfalz e Dornfelder.

Pfalz

Localizada no sudoeste da Alemanha e fazendo fronteira com a Alsácia, na França, Pfalz é famosa por seus vinhos. É a segunda maior das 13 regiões vinícolas do país, com mais de três mil famílias de vinicultores dedicadas à produção de vinho. Região estreita de 22.000ha, o Platinado se estende a oeste do Reno, por cerca de 80 km seguindo um eixo norte-sul. Divide-se em três setores: Mittelhaardt (Haardt média), Deutschen Weinstraße (Rota Alemã do Vinho) e Südliche Weinstrasse (Rota Sul do Vinho).

Os melhores vinhedos ladeiam as encostas a leste da Floresta do Platinado. A região é famosa pela qualidade de seus vinhos brancos, particularmente por seus Rieslings, vinhos de caráter, minerais, geralmente encorpados, mas também muito finos. A produção dos vinhos tintos é muito limitada, mas sua qualidade é geralmente excelente.

Pfalz

A região vinícola do Palatinado, denominada oficialmente de Pfalz, pode ser descoberta da melhor maneira pela Rota Alemã do Vinho (Deutschen Weinstraße). Essa rota turística de vinhos, a mais antiga do gênero no mundo, liga diversas cidades produtores de vinho, de Bockenheim, ao norte, a Schweigen, na fronteira com a França. A rota permite conhecer de maneira agradável a região vinícola entre a floresta Pfälzerwald e o Reno.

Pfalz possui uma grande variedade de solos: arenito (na maior parte da região), calcário erodido, ardósia, rocha basáltica e loess (sedimento fértil de cor amarela que só existe em algumas partes da Europa e da China), entre outros - o que permite o cultivo de amplo sortimento de castas de uvas tintas e brancas. Comparado a outras regiões alemãs, o clima de Pfalz é mais quente, porém ameno. Não há invernos rigorosos e verões de altíssimas temperaturas. A chuva acontece na medida certa e tudo isto beneficia o cultivo das uvas, influenciando diretamente na qualidade destas.

Em Pfalz são cultivadas 45 castas de uva branca e 22 de uva tinta. Aproximadamente 25% dos vinhedos do local são cultivados com a variedade Riesling, por isso, Pfalz é considerada a maior produtora destas uvas em todo o mundo. Entretanto, 40% dos vinhedos são de frutas tintas, e a região é a maior produtora de vinhos tintos do país. Além da Riesling, as uvas brancas Gewürztraminer e Scheurebe são destaque na região. Entre as tintas cultivadas em Pfalz temos Dornfelder, Portugieser, Spätburgunder (Pinot Noir) e Regent, além das mundialmente conhecidas Cabernet Sauvignon, Merlot, Tempranillo e Syrah. Em Pfalz a Pinot Noir dá os melhores resultados dentre as regiões alemãs.

O medo do desconhecido é o principal empecilho do vinho alemão. Devido aos conceitos, às expressões e ao idioma, o país possui um dos rótulos mais difíceis do mundo para compreender. Esse conteúdo vai além da safra, região de origem, teor alcoólico, uva e o nome do produtor, pois trazem dados como categoria de qualidade, número do teste de controle de qualidade, tipo e estilo do vinho. Aliás, existem alguns dados que são obrigatórios e outros que são apenas opcionais.

O vinho alemão passa por um rigoroso teste de controle de qualidade (A.P.NR.), desenvolvido pela Sociedade Alemã de Agricultura (DLG). Além disso, seus exemplares são divididos em categorias de qualidade. Essa categorização depende de dois fatores: maturidade e qualidade das uvas, e a especificidade e tipicidade da região. As categorias de qualidade podem ser consideradas um sinônimo das Denominações de Origem, por também conter regras e normas específicas como área delimitada, uvas autorizadas, entre outros.

Pirâmide de qualidade dos vinhos alemães

Deutscher Wein: São os vinhos mais simples de todas as categorias. Os vinhos podem ser produzidos com uvas colhidas em vinhedos de todo o território alemão.

Landwein: Assim como a Deutscher Wein, também possui vinhos simples, quando relacionado aos de outras categorias. Pode ser comparado aos IGP’s de outros países europeus. 85% das uvas devem ser provenientes de vinhedos de regiões reconhecidas pela categoria.

Qualitätswein bestimmter Anbaugebiet (QbA): É considerada a categoria dominante no país. As uvas precisam ser autorizadas e atingir um grau mínimo exigido de maturação. As uvas devem ser permitidas pela categoria e provenientes de uma das treze regiões vitícolas específicas. Além disso, o nome da região precisa estar estampado no rótulo. Os rótulos podem conter termos que indicam o nível de doçura do vinho como:

Trocken: vinho seco.

Halbtrocken: vinho meio-seco ou ligeiramente doce.

Feinherb: um termo não oficial para descrever vinhos semelhantes ao Halbtrocken.

Liebliche: vinho doce.

Em setembro de 1994, foi permitida a criação de uma subcategoria QbA, a Qualitätswein garantierten Ursprungs (QGU). Comparada a uma Denominação de Origem Controlada e Garantida, a QGU abrange uma região, vinha ou aldeia específica, que expressa além de alta qualidade, tipicidade. Nessa categoria, os vinhos passam por rigorosas análises sensoriais e analíticas.

Landwein: Assim como a Deutscher Wein, também possui vinhos simples, quando relacionado aos de outras categorias. Pode ser comparado aos IGP’s de outros países europeus. 85% das uvas devem ser provenientes de vinhedos de regiões reconhecidas pela categoria.

Qualitätswein bestimmter Anbaugebiet (QbA): É considerada a categoria dominante no país. As uvas precisam ser autorizadas e atingir um grau mínimo exigido de maturação. As uvas devem ser permitidas pela categoria e provenientes de uma das treze regiões vitícolas específicas. Além disso, o nome da região precisa estar estampado no rótulo. Os rótulos podem conter termos que indicam o nível de doçura do vinho como:

Trocken: vinho seco.

Halbtrocken: vinho meio-seco ou ligeiramente doce.

Feinherb: um termo não oficial para descrever vinhos semelhantes ao Halbtrocken.

Liebliche: vinho doce.

Em setembro de 1994, foi permitida a criação de uma subcategoria QbA, a Qualitätswein garantierten Ursprungs (QGU). Comparada a uma Denominação de Origem Controlada e Garantida, a QGU abrange uma região, vinha ou aldeia específica, que expressa além de alta qualidade, tipicidade. Nessa categoria, os vinhos passam por rigorosas análises sensoriais e analíticas.

Qualitätswein mit Prädikat (QmP) ou Prädikatswein

As uvas devem ser permitidas pela categoria e provenientes de uma das treze regiões vitícolas específicas. Além disso, o nome da região precisa estar estampado no rótulo. As uvas devem atingir um grau específico de maturação, açúcar e teor alcoólico natural. Os rótulos precisam estampar alguns atributos específicos referentes ao nível de maturação das uvas e ao método de colheita:

Kabinett: colheita realizada com uvas completamente maduras. Gera vinhos mais leves e com baixo teor alcoólico.

Spätlese: colheita tardia, ou seja, as uvas são colhidas em um período posterior ao considerado ideal. Gera vinhos concentrados e com intenso aroma, mas não especificamente com o paladar adocicado.

Auslese: uvas colhidas muito maduras, mas apenas os cachos selecionados. Gera vinhos nobres, com intensidade tanto no aroma quanto no paladar. A doçura no paladar não é uma regra.

Eiswein: uvas sobreamadurecidas como a Beerenauslese, porém colhidas e prensadas congeladas. Gera vinhos nobres e singulares, com alta concentração.

Trockenbeerenauslese (TBA): uvas sobreamadurecidas, infectadas por Botrytis cinerea, que secam por um determinado tempo adquirindo características próximas a de uvas passas. Gera vinhos doces, ricos e nobres.

Beerenauslese (BA): uvas sobreamadurecidas, infectadas por Botrytis cinerea, com seleção criteriosa dos bagos. Essas uvas são colhidas apenas em safras excepcionais. Gera vinhos longevos, ricos e doces.

Dornfelder

Na década de 1950, August Herold cruzou duas variedades alemãs que foram criadas por ele, a Helfensteiner e a Heroldrebe, no centro de pesquisa em Baden-Württemberg, no sul da Alemanha. O cruzamento consiste em fornecer o material genético de diferentes variedades de vinha. Para conseguir um indivíduo que mostre as características que se pretende obter diante da seleção de diferentes fenótipos.

August Herold

A nova variedade não recebeu o nome do criador, porque um dos pais da Dornfelder já tinha parte do nome de Herold, então Immanuel August Ludwig Dornfeld, um dos fundadores da escola de viticultura Weinsberg, foi homenageado.

São obtidos indivíduos resistentes às condições climáticas e edafológicas do lugar onde se pretende implantar. Além de terem maior resistência a doenças e pragas. Do mesmo modo, são obtidos vinhos com as características das variedades com as quais foram realizados os cruzamentos.

Estas características supõem uma melhora substancial das variedades que os genes forneceram para conseguir o cruzamento. Não se trata de manipulação genética, mas do cruzamento de indivíduos diferentes, buscando uma seleção ou cruzamento que, entre outros valores, ajude-nos a minimizar o uso de produtos fitosanitários no cultivo do vinhedo.

A Dornfelder é uma uva tinta que possui casca grossa, fator que impulsiona a resistência à Botrytis cinerea e também é uma ótima parceira para blends, por cooperar com cor profunda. É vigorosa e possui alta produtividade, e essas características fizeram os produtores ficarem atentos ao rendimento que deve ser controlado, para resultar em uvas com boa concentração de frutas, principalmente nos vinhos destinados ao amadurecimento em barricas de carvalho.

Esta variedade é pouco exigente quanto a solos, adapta-se bem em terrenos arenosos e pedregosos. Com esta variedade, são produzidos sobretudo vinhos tintos secos e também semi-secos com algo de açúcar residual.

Estes vinhos podem ser vendidos como jovens. Onde subtraiam os intensos aromas de frutas, tais como cereja, amora e sabugueiro, ainda que seja habitual a crianza, em barris ou tinas de carvalho. Desta maneira, os vinhos criados adquirem complexidade, destacando mais os taninos e a estrutura, reduzindo os aromas a frutas. Na maioria dos casos, trata-se de vinhos saborosos, suaves e harmônicos.

A Dornfelder é fácil de identificar pela sua cor intensa e escura. Primeiramente, estes são vinhos de consumo local, que tendem a ser bebidos, em sua maioria, na mesma região onde são produzidos. Visando uma quantidade muito pequena à exportação. As características destes vinhos são grande potencial aromático e suavidade. São redondos, expressivos e encorpados.

A Alemanha autorizou a utilização oficial da Dornfelder em 1980 e prosperou muito bem durante os cinco ou seis anos seguintes, cuja área plantada cresceu exorbitantemente. Para se ter uma ideia, a área plantada passou de 124 hectares existentes no fim da década de 1970, para 7.649 em 2017, fazendo com que a Dornfelder ultrapassasse muitas castas no ranking das mais cultivadas, ficando apenas atrás da Spätburgunder (mais conhecida como Pinot Noir, com 11767 ha), entre as tintas cultivadas em solo alemão. Um dos motivos do sucesso pode ser devido ao fato de antes dela, os tintos locais terem a coloração pouco expressiva. Tanto é que no início a Dornfelder era mais utilizada nos blends justamente para corroborar com a cor do vinho e, atualmente, muitos varietais são encontrados.

As principais regiões produtoras são Rheinhessen e Pfalz, onde os vinhos elaborados com Dornfelder costumam ter cor intensa, são macios e possuem alta acidez. Alguns outros países confiam na potencialidade da casta, como a Suíça, a Inglaterra, a República Tcheca e, mais recentemente, a Austrália. Esses países estão enxergando na Dornfelder uma bela alternativa à uva Pinot Noir, para produzir vinhos tintos com uvas cultivadas em solos de climas frios.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um rubi profundo, escuro, com tonalidades arroxeadas nas bordas, com lágrimas finas, ocasionais e rápidas.

No nariz trazem aromas intensos de frutas vermelhas frescas, com destaque para cerejas, ameixas, framboesas e morango, com notas herbáceas, ervas, diria, com toques de especiarias e minerais.

Na boca é leve, fresco, elegante, com as notas frutadas protagonizando, como no aspecto olfativo, em uma efusiva e interessante geleia de frutas, com um residual de açúcar razoável, mas que não implica na qualidade e equilíbrio do vinho, com álcool integrado, taninos delicados, acidez destacada e saborosa, com um final persistente, contínuo e de retrogosto frutado.

Um cantinho desse planeta fértil em produção vitivinícola vem, aos poucos, com paciência e deleite, sendo explorado. Cada rótulo, cada casta, cada região vem demonstrando, de forma significativa seu potencial, sua magnífica história. É um grande prazer degustar, sentir os aromas, a experiência sensorial a toda prova, adicionando, claro, o fator histórico, da cultura dessas regiões que são definitivas para as degustações e todas as impressões. Que grata surpresa descobrir a Dornfelder e que grata surpresa descobrir, a cada rótulo, a Alemanha e as suas grandes regiões produtoras de vinho! E que possamos continuar a desbravá-la! Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Ernst Loosen:

Ernst Loosen nasceu em uma grande tradição de vinificação alemã e, dessa forma, a propriedade no rio Mosel é familiar há mais de 200 anos. Em 1988, sendo assim, Ernst assumiu a frente dos negócios. Ele concluiu os estudos na renomada escola de vinificação da Alemanha em Geisenheim e, em seguida, lançou uma revisão autodirigida dos grandes vinhos do mundo.

Ele viajou para a Áustria, Borgonha e Alsácia, até a Califórnia. O que ele descobriu, portanto foi que todos compartilham uma dedicação à produção de vinhos intensos e concentrados que proclamam corajosamente sua herança.

Eles também têm uma visão mundana que lhes permite manter o respeito pela tradição, enquanto a temperam com a razão. Isso lhes dá a liberdade de reconhecer então que nem todas as tradições merecem ser observadas obstinadamente e permitem o uso criterioso das técnicas modernas de vinificação quando isso melhora a qualidade.

É essa visão de mercado global à qual Ernst atribui com entusiasmo, uma filosofia que equilibra enfim o antigo com o novo. É uma maneira de pensar que lhe permitiu ir além do fácil e familiar, do experimentado e não necessariamente tão verdadeiro, para assim fazer vinhos que se destacam como verdadeiramente distintos e de classe mundial.

Desde que Ernst Loosen assumiu o controle da propriedade, reconheceu muito potencial que não estava sendo utilizado. Seu pai e seu avô estavam mais envolvidos na política do que na produção de vinho, então nada havia sido feito para manter as vinhas ou atualizar o porão.

Ironicamente, Ernst viu que o desinteresse de seus antepassados ​​havia lhe dado exatamente o que ele precisava para produzir o tipo de vinho rico e corajoso que ele prefere.

Como seus antecessores não estavam dispostos a investir em novas vinhas para o que era essencialmente um hobby em família, Ernst herdou, pois, um bom número de vinhas com mais de 100 anos – vinhas perfeitamente adequadas ao estilo de baixo rendimento e altamente concentrado que ele queria produzir.

E a propriedade não sucumbiu às tendências dos anos 60 e 70, no momento em que muitos produtores estavam replantando suas vinhas Riesling com variedades de menor qualidade e alto rendimento. A negligência de seu pai na adega também acabou trabalhando sem dúvida alguma a favor de Ernst.

Sem nenhum equipamento de alta tecnologia para tentá-los, Ernst e seu mestre de adega não tiveram escolha a não ser fazer vinhos de maneira minimalista, com muito pouco manuseio e fermentações longas e lentas.

Desde que Ernst assumiu, os seus vinhos receberam inúmeros prêmios e críticas brilhantes na imprensa. Assim sendo, a propriedade tornou-se membro da prestigiada VDP, a associação alemã das melhores vinícolas do país, e foi nomeada uma das 10 melhores propriedades da Alemanha por quase todas as publicações de vinhos do mundo.

Ernst foi nomeado então o enólogo do ano na Alemanha na edição de 2001 do Weinguide Deutschland da Gault Millau e homem do ano da revista Decanter em 2005. Assim como foi o enólogo branco do ano do International WINE Challenge em 2005.

Anteriormente, em 1995, Ernst e seu irmão mais novo, Thomas, lançaram um segundo rótulo, Riesling, chamado “Dr. L”. Contratando produtores locais, eles podem obter frutas de alta qualidade para fazer um vinho não-embalado e com sabor muito característico da região.

Dr. L Riesling exibe os sabores de ardósia limpas e limonadas do Mosel Médio a um preço muito acessível. É uma introdução maravilhosa ao alemão Riesling e aos vinhos da propriedade Dr. Loosen.

“Ernst Loosen inseriu o vinho alemão no cenário mundial do século XXI” (Jancis Robinson).









sábado, 4 de março de 2023

Partridge Reserva Petit Verdot 2019

 

Nesses últimos anos, pelo menos para mim, Mendoza vem descortinando uma realidade que não se restringe apenas a clássica Malbec. O nosso mercado tem sido recebido e arriscaria dizer, bombardeado, com rótulos de outras castas que confesso não sabia que era cultiva na principal região vinícola dos nossos hermanos.

Claro que, além da emblemática Malbec, tem também a Bonarda que é a segunda casta mais cultivada naquelas terras, temos também a Cabernet Sauvignon, a Merlot, Syrah, mas jamais esperaria encontrar cepas como Cabernet Franc e Petit Verdot, por exemplo.

Talvez esteja imergido em uma total ignorância, mas é difícil encontrar castas na Argentina como a Petit Verdot sendo ofertado no mercado brasileiro, por exemplo e até mesmo a famosa e estabelecida Cabernet Franc, ouso dizer. Talvez eu esteja procurando nos lugares errados, mas o fato é que o cenário não é tão favorável para encontra-las até porque a “demanda” opta pelos famosos “malbecões” argentinos.

E como é fantástico a gente redescobrir, a cada degustação, regiões emblemáticas e conhecidas e que já degusta a décadas como a região argentina de Mendoza. É a comprovação de que o universo do vinho é vasto e inexplorado e não me canso de entonar isso, de gritar isso aos quatro cantos.

E dessa vez eis que me surge a Petit Verdot! A casta famosa de Bordeaux figurando nos rótulos argentinos de Mendoza! Quais são as características que entregará, além das essenciais típicas da uva? É no mínimo animador, quando as expectativas nos tomam de assalto dias antes de uma degustação como essa.

E ainda há outro ponto que merece ser ressaltado: há também poucas ofertas de rótulos 100% Petit Verdot por aí, figurando apenas em blends, em cortes. Porém de um tempo para cá temos testemunhado alguns varietais sendo produzidos na América do Sul, principalmente no Brasil.

Talvez essa realidade tem facilitado a oferta de tais rótulos em nosso mercado! O fato é que a animação é grande e decidi hoje desarrolhar um rótulo de um produtor que vem conquistando fama e reconhecimento no Brasil, como a Viña Las Perdices e a sua linha “Partridge”, de excelente custo X benefício.

Então já revelado o vinho que degustei e gostei que se chama Partridge Reserva da casta Petit Verdot (100%) da safra 2019. E já que a protagonista é a Petit Verdot nada mais justo e certeiro falar um pouco dela, da sua história.

Petit Verdot

A uva Petit Verdot é mais uma das castas que compõem o corte bordalês. Embora a Petit Verdot seja geralmente considerada proveniente do Gironde, no sudoeste da França, e de fato a primeira menção a casta foi lá em 1736, pesquisas ampelográficas apontam que a Petit Verdot se originou nos Pirineus, onde foi domesticada de videiras silvestres. Há ainda indícios de que teria sido trazida pelos romanos do Mediterrâneo.

Normalmente, é utilizada em pequenas doses nos cortes com a uva Cabernet Sauvignon para dar cor e corpo aos vinhos tintos (na região de Médoc se utiliza em torno de 1% a 5%). Dentre todas as uvas cultivadas na região de Bordeaux, a casta bordalesa Petit Verdot é uma das que mais demora para chegar à fase de maturação, contribuindo com a elaboração de vinhos tintos densos e bastante escuros. São poucos os varietais feitos com ela ao redor do mundo, mas há enólogos investindo bastante nesta casta principalmente em países como Chile e Argentina. 

Na Sicília, ilha localizada ao sul da Itália, por exemplo, a casta é responsável por vinhos tintos surpreendentes. A maior parte dos vinhedos estão localizados perto do vulcão Etna, proporcionando condições favoráveis para o cultivo da, muitas vezes incompreendida, Petit Verdot.

A casta Petit Verdot também pode aparecer em vinhos varietais, principalmente australianos e espanhóis da região de Jumilla, originando tintos intensos e vigorosos. Quando jovens, os vinhos tintos revelam aromas de bananas e madeira, e quando amadurecem, apresentam toques animais.

O nome Petit Verdot foi atribuído a casta por conta do pequeno tamanho de seu cacho e por existir em seus bagos frutos de cor escura e outros com tom esverdeado, graças a uma característica bastante predominante da cepa, o amadurecimento tardio. A tradução livre de Petit Verdot é “Pequeno Verde”. Sendo uma das castas com maior presença de flavonoides, a uva bordalesa Petit Verdot é uma das que mais trazem benefícios a saúde, contribuindo para o retardamento do envelhecimento e reduzindo os danos causados pelos radicais livres.

Petit Verdot

A Petit Verdot produz vinhos potentes, ricos, de cor profunda, tânicos, muitas vezes especiados e com bons níveis de álcool e acidez. Os vinhos desta cepa francesa harmonizam de excelente forma com alimentos que possuam bastante presença de proteína. Entretanto, os excelentes rótulos elaborados com a uva podem ser apreciados e degustados sozinhos, exaltando as características marcantes e únicas que a Petit Verdot concede ao paladar.

A evolução do Petit Verdot argentino é cativante. Não só porque conta com um nicho de fiéis seguidores, mas também porque entusiasma paladares internacionais. Sem ir muito além, em sua última visita ao país, Jancis Robinson destacou com entusiasmo: “Experimentei Petit Verdot mais consistentes que em Bordeaux”. Nesse cenário, um grupo de winemakers vem explorando o potencial da variedade em terroirs argentinos.

Como acontece com muitas variedades, pouco se sabe sobre como chegou à Argentina. Uma pista é que se encontra misturada com os vinhedos mais antigos de Malbec e, nos anos em que atinge o ponto ideal de maturação, contribui muito para a complexidade dos blends, dando cor, taninos, estrutura e acidez.

Jancis Robinson

A primeira menção em um rótulo veio justamente de um vinhedo antigo, quando Luigi Bosca lançou seu Finca Los Nobles Malbec Verdot 1995. “A Finca los Nobles é um vinhedo antigo, onde as variedades estavam misturadas desde seu plantio, e por isso quisemos transmiti-lo no rótulo e comunicá-lo como um fiel blend de Malbec e Petit Verdot”, conta Pablo Cúneo, Diretor de Enologia da Bodega Luigi Bosca.

No começo deste século, no entanto, alguns viticultores se animaram a elaborá-lo como um varietal puro. Um dos primeiros produtores em lançar um Petit Verdot argentino como varietal, e que, inclusive, o converteu no emblema da bodega graças a uma permanente consistência ano após ano, é a Finca Decero, em Agrelo, na província de Mendoza.

Pouco a pouco, foram aparecendo mais rótulos de Petit Verdot argentino no mercado. As primeiras vieram das zonas mais tradicionais de Mendoza e San Juan, inclusive alguma de La Rioja. Com o passar dos anos, enólogos e agrônomos foram se animando a plantá-lo em diferentes latitudes e altitudes. Hoje em dia, da Patagônia ao Valle Calchaquí, pode-se encontrar mais de 120 rótulos diferentes que mostram como o Petit Verdot se adaptou aos diferentes terrenos.

Segundo dados do INV (Instituto Nacional de Vitivinicultura da Argentina), existem 653 hectares plantados de Petit Verdot, dos quais 470 estão em Mendoza e praticamente não há região vitivinícola da Argentina onde não se encontra um vinhedo desta variedade.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, escuro, mas que exibe um lindo brilho, com lágrimas finas e em profusão que desenham as bordas do copo.

No nariz traz aromas vívidos de frutas negras bem maduras, quase em compota, com destaque para cerejas pretas e amoras, com notas amadeiradas, baunilha, torrefação, chocolate, tabaco, couro, algo herbáceo, ervas e pimenta preta.

Na boca é de médio corpo a encorpado, intenso, complexo, com as frutas negras maduras protagonizando, como no aspecto olfativo, em total sinergia com a madeira, muito bem integrada, graças aos 12 meses em barricas de carvalho, bem como o álcool em evidência, propiciando bom volume de boca. Tem taninos presentes e marcados, acidez equilibrada, com toque de chocolate, café torrado, baunilha e mentolado. Final persistente.

Falamos de terroir demasiadamente, de tipicidade, um assunto, um tema tão complexo, tão deliciosamente interminável, com os seus solos, “microclimas” dentro de uma região que parece mesmo diante de nossa imensa capacidade enciclopédica acerca do assunto, parece que quando degustamos vinhos como o Partridge Reserva Petit Verdot este entrega com fidelidade tipicidade, olha a palavra aí de novo. Essas impressões, as experiências sensoriais se tornam tão aguçadas que quando, às vezes, falta a questão técnica sobre o entendimento do terroir, nos sobra os sentidos, o que já é, claro, relevante. Percebi que uma das filosofias da Viña Las Perdices, produtor responsável pela linha “Partridge”, é de que os vinhos têm de maturar em barricas de carvalho, tendo o aporte da madeira, sendo incorporados ao vinho, conferindo-lhe estrutura e complexidade, mas nunca mascarando as características essenciais da Petit Verdot. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Viña Las Perdices:

Em 1952, Juan Muñoz López decidiu deixar sua cidade natal, Andalucia, no sul da Espanha, e ele e sua família emigraram para Mendoza, na Argentina, a fim de buscar novos horizontes.

Em seguida, já em solo argentino, não pôde deixar de notar as perdizes que vagavam pela terra. Com efeito, um vizinho disse a ele que essas aves geralmente são vistas em grupos de três.

Assim sendo, com o passar dos dias, as perdizes se tornaram as companheiras constantes de Don Juan em seus longos dias de trabalho. Assim, ele decidiu nomear sua vinícola Partridge Vineyard: “Viña las Perdices”.

A adega hoje é uma operação familiar criada por Juan Muñoz López, sua esposa Rosario, seus filhos Nicolas e Carlos e sua filha Estela.

A vinícola, assim, se localiza no sopé da Cordilheira dos Andes a 1.030 metros acima do nível do mar, em Agrelo, Luján de Cuyo – a primeira zona DOC (denominação de origem controlada) argentina. Do mesmo modo, as uvas são provenientes de duas de suas vinhas em Agrelo em Lujan de Cuyo e Barancas em Maipu.

Por fim, hoje Las Perdices continua a ser uma vinícola de pequena produção e com um espírito entusiasmado em apresentar os vinhos finos de Mendoza.

Sobre a Partridge Vineyard:

A linha Partridge foi criada em 2009 para complementar o portfólio da Viña Las Perdices nos mercados internacionais. São vinhos de perfil clássico e de qualidade, que ganhou a preferência dos consumidores.

A linha tem quatro divisões, que variam de acordo com o perfil dos rótulos:Partridge Flying, Partridge Reserva, Partridge Gran Reserva e Partridge Selección de Barricas.

A sub-linha Partridge Flying oferece vinhos fáceis de beber que são excelentes para o dia a dia. Em Reserva, os rótulos amadurecem em barricas de carvalho, agregando mais corpo e complexidade aos vinhos. Já na Gran Reserva, os vinhos são sofisticados e passam no mínimo 12 meses em carvalho, garantindo grande intensidade. E, por último, a Selección de Barricas, conta com exemplares de alta gama.

Mais informações acesse:

https://www.lasperdices.com/index.php

Referências:

“Blog Wines of Argentina”: https://blog.winesofargentina.com/pt-pt/breaking-pt/petit-verdot-argentino/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/conheca-bordalesa-petit-verdot-e-dicas-de-vinhos-para-amar-casta_13628.html

“Blog Famiglia Valduga”: https://blog.famigliavalduga.com.br/petit-verdot-conheca-as-particularidades-desta-casta-francesa/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/petit-verdot

 



 




sexta-feira, 3 de março de 2023

Prahova Valley Feteasca Alba 2020

 

É sabido que os vinhos que tem maior sucesso, logo maior fatia do nosso mercado, entre os consumidores tupiniquins são os chilenos e argentinos. Claro que é até, de certa forma, normal, haja vista que a questão logística favorece, são países vizinhos que estimula a tráfego de tais vinhos em nossas terras.

Claro que também a força do marketing mesclado, em alguns casos, com a relação custo X benefício de alguns! Os vinhos amadeirados, potentes têm um peso preponderante para a escolha dos brasileiros por esses vinhos que, evidente, são ótimos! Como não se render aos belíssimos Malbecs amadeirados, encorpados de Mendoza, na Argentina? O que dizer dos envolventes Cabernet Sauvignon do Chile?

Não podemos deixar que essa percepção nos contamine, essa percepção de que os amadeirados e encorpados são sinônimos de qualidade de vinho! São propostas de vinhos apenas e todas elas precisam ser levadas em consideração e todas essas propostas podem, sim, trazer qualidade e prazer ao enófilo. Claro que há a predileção e que precisa ser respeitada, mas nunca pode ser o amadeirado e encorpado ser sempre melhor que os que não passam por madeira e leves. Não há sentido!

Mas como estou naquela levada tão profunda de desbravar o vasto e desconhecido universo do vinho com as suas regiões, com as suas castas e, evidentemente, propostas de vinhos, experimentar o diferente e pouco usual torna-se algo quase que necessário e urgente. Afinal, sair da famigerada e perigosa “zona de conforto” no universo do vinho, é algo quase que obrigatório.

E hoje estou enveredando para os países exóticos, para os pouco populares, mas que goza de uma tradição centenária. Falo da Romênia! Não se enganem a Romênia não é apenas as terras que eternizaram o Conde Drácula, mas entregam vinhos bem interessantes com apelos regionais bem evidentes com suas castas autóctones e que somente lá são cultivadas.

E o vinho que degustei e gostei veio de uma famosa região produtora de vinhos romeno chamada Dealurile Munteniei e o nome do vinho é Prahova Valley da casta branca Feteasca Alba e a safra é 2020. Eu já tive uma ótima experiência com essa mesma linha de rótulos, porém a “versão” tinta, o Prahova Valley da casta Feteasca Neagra da safra 2018 e que maravilha, que grata surpresa! Antes de falar da “versão” branca, vamos de história, vamos de Dealurile Munteniei e da casta Feteasca Alba.

Dealurile Munteniei

Dealurile Munteniei é uma região romena famosa e conhecida por ser a “terra do vinho tinto”, que, aliás, é marcada por outonos longos.

Dealurile Munteniei (em inglês: “Muntenia's Hill s”) GI é uma região vinícola localizada na parte sul da Romênia nos condados de Buzău, Prahova, Argeş, Dâmboviţa e Olt . A região pertence à área de Subcarpaţii de Curbură e as plantações de videiras estão localizadas nas encostas e depressões das colinas.

Além disso, a região é famosa pelos notáveis ​​vinhos tintos, e também tem muito bom potencial para o plantio de variedades brancas aromáticas, como Muscat Ottonel ou Tămâioasă Românească.

A origem da viticultura na área de Dealurile Munteniei é muito antiga, prova disso são os achados arqueológicos, peças cerâmicas e toponímia. Uma das primeiras menções data do século IV, quando o rei visigodo Athanaric enterrou o seu famoso tesouro conhecido como “Cloşca cu puii de aur ” (“A Galinha com Pintos Dourados”) ou “Tezaurul de la Pietroasa” (“ The Piertroasele Thesaurus”).

Mais tarde nos arquivos, há várias menções do século XV sobre os locais onde se praticava a viticultura e a vinificação como Bucov, Valea Călugărească, Ceptura, Urlaţi e Tohani.

Um momento que ajudou no desenvolvimento de Dealurile Munteniei foi a proximidade com cidades como Bucareste, Ploieşti e Buzău, que atraiu muitas personalidades e famílias nobres do século XVII para investir em adegas e adegas. Um exemplo bem conhecido é o de Constantin Brâncoveanu (1688-1714), que construiu em Tohani uma adega, uma mansão e uma igreja como ponto de paragem a caminho da Moldávia.

A viticultura é há muito tempo a principal atividade dos moradores de Dealurile Munteniei IG, razão pela qual em 1893 foi criada a Fazenda Vitícola Pietroasa, para recuperar o vinhedo após a invasão da filoxera. Mais tarde, em 1924, junto à Quinta, foi fundada a Estância Vitícola e Enológica Pietroasa, uma estreia na Romênia.

A região de Dealurile Munteniei é famosa por suas excelentes condições naturais (terroir) no cultivo de videiras:

1 - Um clima temperado-continental com verões quentes, outonos longos e secos e invernos curtos;

2 - Solos castanho-avermelhados juntamente com porções ricas em argila vermelha, marga e calcário em algumas áreas, abundantes em óxido de ferro e carbonato de cálcio;

3 - Altitude variando entre 137 e 550 metros;

4 - A exposição da vinha é predominantemente sul, sudeste e sudoeste;

5 - Ótima exposição solar e precipitação.

Em Dealurile Munteniei os vinhos brancos apresentam aromas intensos, corpo cheio, bom equilíbrio e boa acidez. E os vinhos tintos podem ser descritos como extrativos, aromáticos e de cor rubi intensa.

Nos últimos anos, muitas vinícolas de alto padrão como Serve, Davino, Aurelia Vişinescu ou Viile Metamorfosis foram estabelecidas. Isso realmente criou um verdadeiro renascimento dos vinhos de assinatura. Entre as castas que contribuíram para a reputação da região, podemos citar Fetească Albă, Tămâioasă Românească, Chardonnay, Muscat Ottonel, Merlot, Cabernet Sauvignon ou Fetească Neagră.

Feteasca Alba

Feteasca Alba é uma variedade romena cultivada principalmente nas regiões da Moldávia e Transilvânia, bem como na bem como na região vinícola húngara de Eger.

Na Moldávia, utiliza a maior área plantada entre as variedades locais, com cerca de 900 hectares (2.200 acres). Esta uva é muito utilizada para a produção de espumante, mas também para vinhos varietais tranquilos. Seus bagos atingem altos teores de açúcar e muitos componentes aromáticos, mas é necessário cuidado para reter uma boa acidez.

A Feteasca Alba, conhecida como “donzela branca”, carrega mais de 2000 anos de história e é cultivada desde o Império Romano. Hoje, é uma uva branca muito popular na Romênia, e dessa forma conta 23 mil hectares de vinhedos somente destinados a ela.

A Fetească Albă também é conhecida sob os sinônimos Baratik, Bulgarien Feteasca, Devcenco Hrozno, Devicii Belii, Dievcenske Hrozno, Dievcie Hrozno, Divci Hrozen, Fehér Leányka, Feniaska Belaii, Fetiasca Alba, Fetiasca Belii, Fetiaska Alba, Fetisoara, Fetjaska Belaja, Fetyaska, Fetyaska Belaya, Fetyaska Koroleva, Fetysare, Janyszölde, Jányszőlő, Kanigl Weiss, Lányszőlő, Leanicazea, Leanika, Leánka, Leány Szőlő, Leányka, Leanyszölde, Leányszőlő, Lyan Szölö, Mädchentraube, Medhentraube, Paparyaska, Parsaryaska, Pasareasca Alba, Pasarjaska, Peseryaska, Poama Fetei, Poama Fetei Alba, Poama Pasareasca, Roszas Leányka, Feteasca, Fetjaska, Leanyka e Varatik.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vívido e brilhante amarelo palha, bem claro com reflexos esverdeados e um frisante bem discreto que denuncia o frescor e leveza.

No nariz traz aromas intensos de frutas amarelas, de polpa branca e cítrica com destaque para pêssego em calda, abacaxi, limão, lichia, abacaxi e pera e um floral que entrega delicadeza e muito frescor.

Na boca confirma o frescor, a leveza e refrescância percebida nos aspectos visual e olfativo, mas traz alguma untuosidade talvez por conta de um residual de açúcar, um dulçor discreto que não compromete que lembra mel, com notas frutadas bem definidas, além de um toque herbáceo, algo que remete a grama cortada, acidez correta e um final de média persistência e frutado.

Mágica a experiência! Não pelo simples fato de ser diferente ou pouco usual, mas também pelo que o rótulo e a sua região e variedade apresentaram, proporcionaram a este humilde e reles enófilo. A esse humilde e reles enófilo que, modéstia à parte, está promovendo uma verdadeira viagem pelo universo tão rico e vasto e tão inexplorado do vinho dada a sua diversidade, pluralidade. Como nos render a zona de conforto quando se tem uma infinidade de terroirs disponíveis para inundar as nossas taças literalmente? Estou feliz, me sinto um privilegiado por ser agraciado em degustar rótulos desse naipe. E que venha a Romênia a te proporcionar grandes e arrebatadoras surpresas com seus rótulos! Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a The Iconic State:

The Iconic Estate, membro do Alexandrion Group, é um fabricante, exportador e importador seletivo de vinhos tranquilos bem como espumantes. A empresa possui então instalações de produção e armazenagem, linhas de engarrafamento, armazém com temperatura controlada e caves subterrâneas.

A vinícola em Tohani, Gura Vadului, é uma das maiores adegas da região de Dealu Mare, pois possui capacidade de processamento de 5.000 toneladas por ano, sendo produzida cerca de 3,6 milhões de litros por ano e cerca de 5 milhões de garrafas por ano.

A Iconic Estate possui mais de 255 hectares de vinhedos, a maioria deles em uma das regiões vinícolas mais férteis da Romênia, Dealu Mare – uma região que fornece uma parte significativa das uvas usadas para obter vinhos excepcionais, semelhantes de fato a duas famosas regiões vinícolas europeias: Piemonte na Itália e Bordeaux na França.

A qualidade dos vinhos, o valor, o requinte e a sua distinção fazem de The Iconic Estate sem dúvida um dos melhores produtores de vinho romenos, que têm explorado o potencial e a diversidade vinícola do país através dos seus próprios vinhos: Rhein Extra, Hyperion, Neptunus, Kronos, Rhea, Theia, Colina Piatra Albă, Bizâncio, Vale Prahova, Floare de Lună, Floarea Soarelui, La Umbra, La Crama e outros.

Ao longo dos anos, as marcas do portfólio de The Iconic Estate foram premiadas em importantes competições nacionais assim como internacionais, tais como: International Wine Contest Bucareste, Concours Mondial de Bruxelles, International Wine Challenge ou Decanter World Wine Awards.

As Caves Rhein & CIE Azuga, integrantes de The Iconic Estate, são o local mais antigo onde se produz, sem interrupção desde que quando foi criada a vinícola, em 1892. Os vinhos espumantes são elaborados de acordo com o método tradicional da França.

A Royal House of Romania aprecia os vinhos das adegas da vinícola pela sua qualidade superior, nomeando, portanto The Iconic Estate o fornecedor oficial dos vinhos tranquilos e espumantes.

Mais informações acesse:

https://dar1892.com/

Referências:

“Premium Wines of Romania”: https://premiumwinesofromania.com/ig-dealurile-munteniei/

“Center Gourmet”: https://centergourmet.com.br/la-crama-merlot/       e https://centergourmet.com.br/tanarve-traditional-feteasca-alba-2018/

“Blog Sobre Vinhos e Afins”: http://www.sobrevinhoseafins.com.br/2015/12/artisan-feteasca-alba-barrique-2012.html

“Wikipedia”: https://en.wikipedia.org/wiki/Feteasc%C4%83_alb%C4%83

 

 

 

 











domingo, 26 de fevereiro de 2023

Rio Sol Chenin Blanc e Viognier 2022

 

Alguns produtores definitivamente fazem parte da nossa vida afetiva, de nossa história enófila e as vezes fazem parte de nossa vida e história sem se quer lembrarmos de sua existência. Costumamos valorizar ou lembrar deles quando degustamos seus vinhos em profusão. Lamentavelmente, pelo menos para mim, as pessoas não se atentam aos detalhes como esse, por exemplo.

Mas no caso do Rio Sol, vinícola gigante instalada na região do Vale São Francisco, no nordeste brasileiro, sempre esteve em minha vida e história enófila e detalhe essencial: sempre soube da vinícola, da região onde estava instalada e da sua importância para o nordeste brasileiro que, há mais de vinte anos, pelo menos em minha vida, vem desbravando e privilegiando um terroir tão particular quanto do Vale São Francisco.

E é particular mesmo, pois a cada ano há inúmeras safras, o sol, o sistema de irrigação, a cultura que se estabeleceu por lá, tudo influencia nas especificidades da vinícola e, claro, no processo de vinificação.

Vinhos de ótima relação preço x qualidade desde sempre, com uma região que conquistou a sua Indicação Geográfica (IG) e que, a cada dia, vem atingindo o status de relevância entre os mais importantes e significativos terroirs do Brasil.

E quando falamos em desbravar, é no sentido literal da palavra, haja vista que um clima árido quase desértico e que hoje tem inúmeras safras. É definitivamente um trabalho admirável da Vinícola Rio Sol e todas as outras que estão na região.

Apesar de estar em solo brasileiro, a Rio Sol é uma concepção da Global Wines, um conglomerado português que se instalou no Brasil com uma ideia arrojada e determinada a trazer, a edificar um novo terroir: os vinhos do Velho Chico, os vinhos do Rio São Francisco que irrigam os parreirais e que entregam, para nosso deleite, vinhos frescos, maravilhosos e, ao mesmo tempo, dotados de uma marcante personalidade em todas as suas propostas.

Mas mesmo que a Rio Sol, com seus rótulos, me traga nostalgias agradáveis, boas lembranças e experiências sensoriais, ainda há espaço para novidades, ainda há espaço para novas e impactantes experiências e essa eu já esperava por alguns anos, mas que, por alguns motivos, eu ainda não havia degustado: O Rio Sol Viognier e Chenin Blanc da safra 2022.

Então sem mais delongas o vinho que degustei e gostei veio do Vale São Francisco, no nordeste brasileiro, é o Rio Sol composto pelas castas Viognier e Chenin Blanc da safra 2022. Para não perder o costume vamos de história, vamos do Vale São Francisco.

Vale do São Francisco: os vinhos do Velho Chico

A vitivinicultura do semiárido brasileiro é uma excepcionalidade no mundo, uma vez que está localizada entre os paralelos 8º e 9o S e produz, com escalonamento produtivo, uvas o ano todo totalizando duas safras e meia em condições ambientais adversas como alta luminosidade, temperatura média anual de 26oC, pluviosidade aproximada de 500mm, a 330m de altitude, em solo pedregoso.

Cinturão dos vinhos

Seus vinhos possuem público crescente, porque são jovens “vinhos do sol”, peculiares nos aromas e sabores, considerados como fáceis de beber e apresentando boa relação comercial qualidade/preço. Aliado a essas particularidades, diretamente associadas à produção de vinhos finos, o Vale é ainda cenário de diversas belezas naturais, históricas e culturais. Estudos já publicados permitem identificar que a região conta com diversas características que comprovam o seu potencial turístico para o desenvolvimento da atividade, como é o caso da sua história, riquezas ambientais e diversificada cultura regional.

Esses fatores estão relacionados à diversidade observada na região. Isso é notado, principalmente, em decorrência da sua extensão. A Bacia do São Francisco é a terceira maior bacia hidrográfica do país e a única que está totalmente inserida no território nacional. Nela estão localizados 506 municípios contando com, aproximadamente, 13 milhões de habitantes, que representa 9,6% da população brasileira.

Bem antes do Vale do São Francisco se consolidar como polo de vitivinicultura, quem já exercia esse papel no Brasil era a região Sul. No século 19, o Rio Grande do Sul, mesmo com as condições climáticas desfavoráveis, passou a ser considerado um polo crescente nesse meio – e até hoje segue inserido no ramo. Mas, a chegada de imigrantes estrangeiros no país trouxe o conhecimento técnico e a noção de mercado, o que fez com que outras regiões brasileiras também mostrassem a sua capacidade produtiva.

É na década de 1960 que o Nordeste entra em cena e o Vale do São Francisco inicia a sua trajetória na produção de uvas e vinhos, com a implantação das primeiras videiras. Nos anos de 1963 e 1964, foram instaladas duas estações experimentais, nos municípios de Petrolina, no Sertão de Pernambuco e Juazeiro, na Bahia, onde seriam implantados, respectivamente, o Projeto Piloto de Bebedouro e o Perímetro Irrigado de Mandacaru.

Vale do São Francisco

Apesar da escassez de chuva, o clima quente e seco do semiárido mostrou-se terreno fértil para a vitivinicultura e, na mesma década, outras cidades do Sertão de Pernambuco passam a fazer parte da cadeia produtiva. O pioneirismo da vitivinicultura no Nordeste é representado pelo Sertão Pernambucano, que iniciou a sua trajetória na vitivinicultura na década de 1960, produzindo vinhos base para vermutes, na cidade de Floresta, uvas de mesa em Belém do São Francisco e em Santa Maria da Boa vista, localidade que na época se chamava Coripós.

Entre os anos 1980 e 1990, a região banhada pelo Rio São Francisco passa a ser conhecida também pela produção de vinhos finos, e em 1984 é produzido o primeiro vinho no Vale do Submédio São Francisco, com a marca Boticelli. O fortalecimento da vitivinicultura no Vale do Submédio São Francisco se deu com a instalação de vinícolas na Fazenda Milano, em Santa Maria da Boa Vista – PE e Fazenda Ouro Verde, em Casa Nova, na Bahia, que passaram a produzir vinhos finos.

Ao longo da década de 1990, ganha destaque a vitivinicultura tecnificada e a produção de uvas sem sementes. É também nessa época, que cresce o investimento de grupos empresariais na região. A instalação de uma infraestrutura física, como construção de packing houses, melhoria no sistema rodoviário e portuário, e, sobretudo, a organização dos produtores em associações e cooperativas, desempenharam um importante papel na consolidação das exportações de uvas de mesa do Vale do Submédio São Francisco.

A partir dos anos 2000, a produção se fortalece ainda mais com a implantação de outras vinícolas e vitivinícolas e também com as iniciativas públicas. Ações governamentais e de ensino, pesquisa e inovação, a partir do ano 2000, trouxeram novas tecnologias de produção e processamento de uvas e o reconhecimento de atores internacionais. É nessa época que surge a Escola do Vinho do Curso Superior de Tecnologia em Viticultura e Enologia, do Instituto Federal do Sertão Pernambucano.

IG do Vale do São Francisco

O Vale do São Francisco é a nova Indicação Geográfica (IG) do Brasil para vinhos finos, nobres, espumantes naturais e moscatel espumante. A região recebeu o selo na modalidade Indicação de Procedência (IP) e o registro foi publicado na Revista da Propriedade Industrial do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).

A nova indicação geográfica valerá para as cidades de Lagoa Grande (PE), Petrolina (PE), Santa Maria da Boa Vista (PE), Casa Nova (BA) e Curaçá (BA) e a expectativa é que traga mais olhares e investidores para a região vitivinícola.

A busca pela Indicação Geográfica na região é antiga e nasceu em 2002 com o reconhecimento do Vale dos Vinhedos, já a vitivinicultura nasceu em 1960 com a organização da produção agrícola irrigada no Vale do Rio São Francisco. A irrigação permitiu que as terras com caatinga, até então consideradas improdutivas, se tornassem áreas verdes ao longo das margens do rio.

Selo IG (Indicação Geográfica)

A região do Vale do Rio São Francisco possui características únicas para a viticultura e produção de vinho. Seu clima permite duas podas e duas safras anuais e o resultado é um vinho geralmente frutado, de baixo teor alcóolico e acidez moderada. No Vale do São Francisco os espumantes predominam com três milhões de litros produzidos anualmente contra 1,5 milhão de litros dos vinhos tranquilos.

A Indicação Geográfica Vale do São Francisco autoriza a produção de vinhos tranquilos brancos, rosés ou tintos e espumantes brancos ou rosés que podem ser bruts, demi-secs ou moscatéis. A uva para a produção do vinho tem que ser 100% proveniente da região delimitada e são autorizadas 23 castas diferentes.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um amarelo bem claro, límpido, cristalino, brilhante com um leve reflexo esverdeado.

No nariz traz aromas intensos de frutas de polpa branca, frutas cítricas, com destaques para lichia, pêssego, pera, abacaxi e maçã-verde, além de uma incrível mineralidade e toque floral, de flores brancas.

Na boca é leve, fresco e delicado com as notas frutadas e mineral protagonizando como no aspecto olfativo, além de gostosa e salivante acidez que corrobora a sua leveza, com um final de média persistência.

O reconhecimento da Indicação Geográfica certifica e corrobora a qualidade dos vinhos do Vale de São Francisco, chancelando, perpetuando a sua tipicidade, enaltecendo o seu terroir e garantindo o prazer e a perspectiva de catapultar a disseminação dos rótulos do Velho Chico para todo o Brasil e o mundo. Nós, especialmente os brasileiros, precisam conhecer os rótulos da Rio Sol e de todos os seus produtores que, arduamente, há anos constrói aquele terroir que, para muitos, no início era algo improvável. O Rio Sol Viognier e Chenin Blanc é um exemplo de que a região está, a cada dia, crescendo e entregando a sua cultura engarrafada. Tem 12% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Santa Maria:

Localizada no Vale do São Francisco com 120 hectares de área plantada, a Rio Sol produz 1,5 milhão de quilos de uva anualmente. Entre as espécies plantadas estão uvas tintas como Cabernet Sauvignon, Syrah, Aragonês, Touriga Nacional, Alicante Bouschet, Tempranillo e Merlot, além das brancas Chenin Blanc, Viognier e Moscatel. Este é o único lugar do mundo que produz, hoje, duas safras de uvas por ano, resultado das características naturais da região e do conhecimento de seus produtores.

É no mesmo local onde se situa a indústria da Rio Sol, onde toda a linha de produtos da empresa é produzida e engarrafada, seguindo os mais modernos conceitos de qualidade. A empresa conta com modernos tanques com controle de temperatura e pressão, sala de barricas para estágio dos vinhos em barris de carvalho francês e uma linha de engarrafamento e rotulagem que utiliza tecnologia importada, semelhante a utilizada nas outras vinícolas do grupo na Europa.

Anualmente são produzidas, aproximadamente, 2 milhões de garrafas, entre vinhos e espumantes, distribuídos para todo o Brasil. Toda essa produção é acompanhada de perto pela equipe de qualidade da Rio Sol, que atua tendo como foco a melhoria contínua da qualidade e a adequação dos produtos às tendências de mercado, sempre visando a sustentabilidade e a segurança do processo. A Rio Sol possui certificação internacional ISO 9001, que atesta os rigorosos controles de qualidade da produção de uvas e elaboração de vinhos.

Sobre a Global Wines:

O Grupo Global Wines nasceu em 1990 no Dão, com o nome Dão Sul. A sua missão era ser a maior empresa da mais antiga região de vinhos tranquilos de Portugal, o Dão. Quando o objetivo foi atingido, partiram para outros sonhos, outras aventuras, outras regiões e outros países. Ainda são a empresa de vinhos líder do Dão. Mas também são uma empresa de vinhos da Bairrada, do Alentejo, de Portugal e até o Brasil.

Tem atualmente 5 Espaços de Enoturismo, 3 dos quais com restaurante, onde procuram conjugar o vinho e a gastronomia, despertando como as melhores sensações, na experiência perfeita. Recebem, diariamente, pessoas de todas as partes do mundo, a quem procuram dar a melhor experiência de vinho e gastronomia. Atualmente estão presentes nos 5 continentes e as suas marcas chegam a mais de 40 países.

Mais informações acessem:

https://www.vinhosriosol.com.br/principal/

https://www.globalwines.pt/#globalwines

Referências:

“O Globo”: https://oglobo.globo.com/blogs/saideira/post/2022/11/vinhos-do-vale-do-sao-francisco-terao-indicacao-de-procedencia-entenda-a-conquista-e-conheca-rotulos-da-regiao.ghtml

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vale-do-sao-francisco-recebe-selo-de-indicacao-geografica.html

Vídeo institucional da Rio Sol:

https://www.youtube.com/watch?v=u8ZCJX7SGfY